Mais de 100 entidades repudiam a militarização das escolas de São Paulo e a violência Estudantil

Escolas militares acirram desigualdades educacionais, coíbem a expressão da diversidade de gênero e sexualidade e incentivam abusos por parte dos militares

A Articulação Contra o Ultraconservadorismo na Educação, ao lado de mais de 100 organizações que atuam na defesa dos direitos humanos e pelo direito à educação de qualidade, lançou na última sexta-feira (24) uma carta de repúdio ao Projeto de Lei Complementar 9/2024, que institui o Programa de Escola Cívico-Militar, promovido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Essa coalização também condena a violência policial contra estudantes na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ocorrida recentemente, que impediu o diálogo e a participação da população no debate. Ação Educativa, Geledés – Instituto da Mulher Negra e Campanha Nacional pelo Direito à Educação são algumas das organizações que assinam a carta.

No dia 21 de maio, durante uma manifestação pacífica contra a militarização das escolas, estudantes foram alvo de violência policial nos corredores da ALESP. Essa ação não apenas feriu os princípios democráticos de livre expressão e participação da sociedade civil, mas também mostrou o risco iminente de intensificação da repressão nas instituições de ensino, caso aconteça a militarização das escolas.


A Ação Educativa acredita que a militarização das escolas públicas fere os princípios de uma educação democrática e inclusiva. “As escolas devem ser espaços de aprendizado e desenvolvimento humano, onde o diálogo, a diversidade e o respeito aos direitos humanos sejam prioridades”, afirma Claudia Bandeira, assessora da área de educação da Ação Educativa e coordenadora da iniciativa De Olho nos Planos.


O Programa de Escola Cívico-Militar, promovido pelo governo estadual, propõe um modelo de gestão militarizado que vai na contramão dessas diretrizes. Em vez de promover um ambiente educacional participativo, esse modelo reforça a disciplina autoritária e a hierarquia militar, desconsiderando as especificidades do processo educativo e a autonomia pedagógica das escolas.


Segundo o documento, o projeto amplia a desvalorização da escola pública e de professores. “Militares terão adicionais de R$ 284,62 para cada jornada de oito horas, o que significa um total de cerca de R$ 5.700 mensais em caso de jornadas semanais de 40 horas. Para professores da educação básica, o salário inicial para a jornada de 40 horas é de R$ 4.505”, relatam as entidades na carta.


As organizações detalham as preocupações com o impacto desse modelo na formação dos estudantes e na gestão escolar. Entre os principais pontos do documento, estão:

  • a militarização fere princípios constitucionais do ensino, como a liberdade de aprender e ensinar e o pluralismo de ideias;
  • os programas de militarização não estão amparados em nenhuma das diretrizes do Plano Nacional de Educação;
  • há diversas denúncias de situações de abusos e assédios moral, físico, psicológico e sexual por agentes militares;
  • programas de militarização promovem desigualdades educacionais, inclusive pela cobrança de taxas em algumas das unidades e exigências de uniformes próprios;
  • escolas militarizadas reforçam estereótipos em relação aos papéis masculinos e femininos, coíbem a expressão da diversidade de gênero e sexualidade, principalmente, de jovens LGBTQIA+. Além disso, elas também reproduzem o racismo estrutural e institucional, impondo padrões estéticos baseados na branquitude e violam a liberdade de crença.

    A Ação Educativa e as demais organizações conclamam a sociedade a se unir contra a militarização das escolas e a violência estudantil, e a lutar por um modelo de educação que realmente promova a cidadania e a inclusão.

    Para acessar a carta completa e apoiar a causa, visite: https://bit.ly/4dSFJqd

Liberdade para Ensinar e Aprender Pesquisa Nacional Analisa Violências Sofridas por Educadores/as no Brasil

O Observatório Nacional da Violência contra Educadoras/es (ONVE), sediado na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e criado em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação (MEC), está conduzindo a pesquisa A violência contra educadores como ameaça à educação democrática: […]

O Observatório Nacional da Violência contra Educadoras/es (ONVE), sediado na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e criado em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação (MEC), está conduzindo a pesquisa A violência contra educadores como ameaça à educação democrática: um estudo sobre a perseguição de educadores no Brasil. O estudo tem caráter nacional e é dedicado a investigar as diversas formas de violência contra as liberdades de aprender e de ensinar enfrentadas por profissionais da educação no Brasil.

Com abrangência em todos os níveis de ensino e em todas as regiões do país, essa pesquisa busca mapear a situação atual por meio de um questionário online visando contribuir para a formulação de políticas públicas e estratégias de apoio concretas.

A participação nesta pesquisa é voluntária e os resultados esperados incluem, a partir da criação de um banco de dados seguro e confiável, um diagnóstico da violência contra educadoras/es em nosso país e a elaboração, pelo Observatório, de protocolos de acolhimento para educadoras/es que enfrentam situações de violência no exercício de suas funções.

Acesse o site oficial do ONVE para participar e fazer parte dessa importante iniciativa em prol dos direitos e da segurança dos educadores/as.

Sobre o ONVE:

O Observatório Nacional da Violência contra Educadoras/es (ONVE) é um projeto de extensão vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), que congrega pesquisadores/as de diversas instituições de ensino e pesquisa, bem como estudantes de graduação e pós-graduação. Nosso foco está na promoção da educação democrática e no enfrentamento às diversas formas de violência que afetam as/os educadoras/es no Brasil.

Em parceria com o Ministério da Educação (MEC), o ONVE tem um caráter interinstitucional e realiza essa pesquisa nacional em parceria com o Núcleo de Estudos em Educação Democrática (NEED/UFF).

Contamos ainda com uma rede de parceiros/as que inclui associações científicas, movimentos sociais, entidades de representação sindical e diversas instituições de ensino e pesquisa do ensino superior e da educação básica. Todos/as compartilhamos a convicção de que a liberdade de ensinar e de aprender são fundamentais para o pleno exercício do direito à educação e, consequentemente, para a consolidação da democracia.

Para mais informações, entrar em contato com:
Fernanda Moura, fernandapoura@gmail.com
Renata Aquino
renatacaqs@gmail.com
Matheus Freitas,
Comunicação – (21) 96691-5253

Edital Igualdade de Gênero: conheça novas propostas adicionadas ao banco de planos do projeto Gênero e Educação

A terceira edição do Edital aprovou 40 propostas e relatos de experiência. As novas atividades estão disponíveis no Banco de Planos Igualdade de Gênero em 2024

Imagem de detaque da matéria Edital Igualdade de Gênero: conheça novas propostas adicionadas ao banco de planos do projeto Gênero e Educação, na imagem há Lélia Gonzales Carolina de Jesus e Cida Bento na foto em comemoração aos 20 anos da lei 10639

Em celebração ao dia 28 de abril, Dia Mundial da Educação, o projeto Gênero e Educação da Ação Educativa acrescentou 30 propostas e relatos de experiências aprovadas no Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica 2023.  As autorias das propostas receberão um certificado de aprovação neste semestre.

No ano passado, o projeto Gênero e Educação, com o comitê de seleção da terceira edição do edital, aprovou 40 inscrições. Dentre elas, dez propostas foram avaliadas como as mais criativas e engajadoras do edital de 2023. Suas autorias (individuais e coletivas) receberam uma declaração de reconhecimento público e um cupom de R$ 600 em livros da Livraria Africanidades. 

Sobre o Edital Igualdade de Gênero

Com o tema “enfrentando o sexismo, racismo e a LGBTQIAfobia na escola”, a terceira edição do edital teve como propósito fortalecer a abordagem interseccional de gênero e raça nas escolas..

A iniciativa se juntou ao “Ciclo comemorativo – 20 anos da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) pela Lei 10.639”, que marcou duas décadas da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira. O selo propunha refletir os avanços e desafios na implementação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento do racismo. 

A primeira edição do Edital ocorreuem 2020 e, desde então, já recebeu 470 inscrições e reuniu mais de 180 propostas de atividades pedagógicas sobre gênero, raça e sexualidade no Banco de Planos Igualdade de Gênero. Além disso, o edital é co-promovido por 50 entidades de direitos humanos, como Geledés – Instituto da Mulher Negra, Associação Nacional de Pós-Graduação e de Pesquisa em Educação (Anped) e Cladem Brasil.

A cada ano, o Edital busca reconhecer os acúmulos de profissionais da educação, das comunidades escolares, inspirar novas experiências e combater a censura e autocensura promovida pelo ultraconservadorismo.

Sobre as propostas aprovadas

A partir de diferentes contextos, as propostas aprovadas abrangem uma ampla gama de temas relacionados a gênero e raça, na educação – seja pela necessidade de ensinar e reconhecer a história das mulheres negras e dos povos originários, destacando os papéis fundamentais dessas populações na construção da sociedade brasileira, seja explorando dimensões como coletividade, afetos e leitura crítica de discursos.

As propostas enfatizam a importância de abordar a questão de gênero e suas intersecções com raça e sexualidade – da educação infantil ao ensino médio. Atividades como “Trabalhando a Transexualidade e a Não-Binariedade usando a Literatura Infantil” e “Versos empenhados contra a violência à mulher” lidam com tópicos como identidade de gênero e combate à discriminações e a violência contra as mulheres. 

Além disso, as propostas exploram a dimensão do esporte e do cinema. Em “Futsal feminino, gênero e espaço de fala: desmistificando mitos” e “Vamos ao Cinema? O Cinema Negro como recurso didático e conhecimento histórico” propõem meios para além da sala de aula para debater questões de gênero e raça

Confira nova lista de propostas aprovadas do Edital 2023:

Narrativas dos povos originários sobre a Terra e o tempoMarcela Bianca Guedes Lopes
Emanuelle Souza Pacheco
Júlia Souza
João Vitor Frutuoso
As mulheres negras na história do BrasilDébora Lopes Alves Duarte
O cotidiano de trabalhadores negros em NatalÁrison Rodrigo de Brito
Cultura afro-brasileira e indígena na educação infantilAna Paula Rocha de Azevedo
Wakanda para sempreElizangila Sousa de Jesus
Oficinas de autonomia leitora e relações étnico-raciais da PedagopretaMarília Farias Xavier
Clube das Cartas SecretasClaudia Naoum
De Kemet a WakandaAndreia Ribeiro de Souza
Florescência literária: Proposta de ensino de literatura afro-brasileiraGabriela Rodrigues Vicente
Transformando a educação: Mentoria para combater racismo, sexismo e a LGBTQIAfobiaIsitys Lorhanne Gomes Calçado
Versos empenhados contra a violência à mulherFrancisca Valeria Silva de Almeida
Ana Célia Pereira Damasceno de Macedo, Francigelda Ribeiro
Vamos ao Cinema? O Cinema negro como recurso didático e conhecimento históricoAntônio Barros de Aguiar
Vida Maria: Marias e suas vidas.Juliana Kummer Perinazzo Ferreira
Uma experiência interdisciplinar para o ensino da cultura africanaLaina Caroline dos Santos SousaMaria Rosane Costa Torres
Luciano Ribeiro Ferreira Garcia
Trabalhando a transexualidade e a não-binariedade usando a literatura infantil.Rodrigo Chandohá da CruzCintia Metzner de Sousa
Raízes afroancestraisAloisio Sousa Castro Junior
Luís Fellipe da Fonseca Lima Soares
Relato de experiência “Sete Mulheres”Déborah Goulart Silveira
Rafael da Silva Cezar e
Monica Melo
Futsal feminino, gênero e espaço de fala: Desmistificando mitosCláudia Santos Pereira
Entre algumas outras tecnologiasMaria Cláudia Gorges
Ana Maria Rivera Fellner
África em nós: práticas de alfabetização e letramento racialSamara da Rosa Costa
Senhoras, sagradas, co(n)sa(n)gradas!Elisângela Cristina Siqueira de Melo
Por uma educação antirracista: discutindo o racismo linguísticoLarissa Scotta
A Escola de samba visita a escola formalRosana de Souza Pereira Carvalho
Reescrevendo contos de fada: Preta de Ébano e Branca de NeveAlexandra Eugênia Araújo
Regina Célia do Couto
Katharina Jahmile Rodrigues Araújo
Efetivando o Direito à EducaçãoLara Lemos Raulino de Souza
Conhecendo minha identidade africanaHelen Regina Fernandes Nascimento
Histórias do meu lugar: Trajetórias de mulheres que inspiram a nunca pararMarileide Silva França
Carla Santos Pinheiro
Ensino por narrativas: Diversidade sexual e de gêneroGabriel Santinelli Felipe Godoy
Vozes da África: Uma experiência literária, gastronômica e sensorialEliana Cristo de Oliveira
Descoloniza aí, EREMI!Suemys Luize Pansani Tavares

Dúvidas e Informações

generoeeducacao@acaoeducativa.org.br

Juventudes no #8M: Ação Educativa realiza encontro no Dia Internacional das Mulheres

Evento reuniu jovens e integrantes da Ação Educativa para preparar cartazes para Marcha das Mulheres em São Paulo e levantar demandas para a educação, cultura e orçamento.

O dia 8 de março da Ação Educativa foi marcado pela presença da juventude em seu prédio. Antes de ir até o ato do Dia Internacional das Mulheres de São Paulo, na Avenida Paulista, jovens e integrantes da Ação Educativa organizaram uma roda de conversa sobre suas perspectivas em torno do feminismo antirracista e sobre demandas para a educação, cultura, orçamento e para as políticas de juventude. 

A atividade fez parte da campanha Gênero nos Planos, que tem como objetivo ecoar que a igualdade de gênero esteja no novo Plano Nacional de Educação, para o decênio de 2024-2034. O encontro foi realizado pelos projetos Gênero e Educação, Iniciativa De Olho nos Planos, Tô no Rumo e Mude com Elas. 

O que rolou no encontro

Durante o encontro, foi destacada a importância da participação da juventude para a construção das políticas educacionais, como ocorreu durante a Conferência Livre de Educação realizada com jovens pela Ação Educativa em outubro de 2023, como parte do processo da Conferência Nacional de Educação (Conae). Os levantamentos dos jovens foram encaminhados para a etapa municipal de São Paulo da CONAE. As etapas da Conae foram organizadas com o objetivo de elaborar o novo Plano Nacional de Educação (PNE), principal instrumento da política educacional brasileira, que terá vigência de 2024 a 2034. 

Pensando nesse momento político para a política educacional brasileira, Bárbara Lopes, coordenadora do projeto Gênero e Educação da Ação Educativa, explica que a participação da juventude é crucial para o desenvolvimento da qualidade da educação. “Existe um mito de que a juventude de hoje é apática e desinteressada. Mas quando temos espaços efetivos de participação e diálogo, vemos jovens atuantes pela melhoria da educação, que demandam o debate sobre questões de gênero, raça e sexualidade nas escolas. São temas que se ligam ao enfrentamento das violências e das desigualdades, que são parte de uma relação de pertencimento e acolhimento nos espaços educativos” afirma Lopes.

Ida até a Marcha das Mulheres

Após a roda de conversa, os participantes se organizaram para confeccionar cartazes para o ato das mulheres. De imagens de Lélia Gonzalez a frases que marcaram a história, como “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, de Angela Davis, era nítida a presença da trajetória de mulheres negras nas mensagens dos materiais produzidos após o bate-papo de abertura do encontro.

Segundo Vanessa Cândida, assistente das áreas de Educação e Juventude da Ação Educativa, a juventude tem colocado cada vez mais a necessidade de repensar e aprofundar as pautas do movimento feminista. “A presença das juventudes negras e periféricas, nesses e em outros espaços de mobilização, provocam a necessidade de se considerar as vozes de jovens, mulheres, pessoas pretas, que foram historicamente apartadas dos processos de participação e decisão nesse país e que, através da organização coletiva nos movimentos sociais, têm lutado para a mudança desse cenário, seja a nível local, regional ou nacional”, descreve Cândida.

Baixe aqui a facilitação gráfica do evento

Acesse os materiais da campanha #FiqueDeOlho: Gênero nos Planos Já

Ação Educativa na CONAE 2024: confira aqui o que rolou!

Durante a Conferência Nacional de Educação 2024, a Ação Educativa disseminou a campanha “#FiqueDeOlho: para combater a violência, Gênero nos Planos Já!” e materiais sobre a promoção de direitos humanos nas escolas

Ação Educativa na CONAE 2024: confira aqui o que rolou!

Uma educação de qualidade é aquela que consegue incluir, acolher e proteger todas as pessoas. Foi com essa bandeira que a Ação Educativa participou da Conferência Nacional de Educação 2024 (Conae), que ocorreu em Brasília, durante os dias 28 a 30 de janeiro. A Conae teve o objetivo de elaborar o novo Plano Nacional de Educação, principal instrumento da política educacional brasileira, que terá vigência de 2024 a 2034.

Visando garantir igualdade de gênero no novo PNE, a Ação Educativa levou à Conferência a campanha “#FiqueDeOlho: para combater a violência, Gênero nos Planos Já”, que reúne uma série de materiais que buscam ampliar o debate acerca do enfrentamento das desigualdades de gênero e raça, da proteção de estudantes e educadoras/es contra violências e abusos e da valorização da diversidade. A Campanha tem por objetivo garantir igualdade de gênero no novo PNE e para isso reúne uma série de materiais que reafirmam o dever dos governos em implementar políticas públicas e que desmistificam a desinformação sobre a abordagem de gênero, promovidas por movimentos ultraconservadores. A campanha foi idealizada pela Iniciativa De Olho nos Planos e pelo projeto Gênero e Educação.

“Leis que visavam proibir a abordagem de gênero foram consideradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020. Na época, o Supremo concluiu que é dever dos governos garantir a educação para a igualdade de gênero nas escolas, mas o efeito de perseguição e autocensura continua sendo sentido. Censurar o debate é acirrar ainda mais a violência, o preconceito, a segregação, o racismo, o sexismo e a LGBTQIAP+fobia.

Acesse a cartilha da campanha

O que rolou na CONAE 2024?

Concluída na última quarta-feira (30), a CONAE aprovou seu texto final, que será a referência para o projeto de lei do Plano Nacional de Educação de 2024 a 2034. O documento propõe a revogação do Novo Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o fim do modelo de escolas cívico-militares e a adoção de metas para a igualdade de gênero e raça no PNE.

Em estande compartilhado com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e o CEERT, a Ação Educativa disseminou materiais, dialogou com estudantes, professores e entidades da sociedade civil, convidando o público também para responder uma enquete sobre o fenômeno da censura e perseguição contra docentes e estudantes que desenvolvem projetos para combater o racismo, o sexismo e a LGBT+fobia nas escolas. 

Segundo Claudia Bandeira, assessora da área de educação da Ação Educativa e da iniciativa De Olho nos Planos, combater o racismo, sexismo e a LGBTfobia está integralmente ligado ao fortalecimento da democracia no país e nas escolas. “A qualidade na educação está diretamente relacionada com a participação de populações historicamente excluídas dos processos de construção das políticas públicas educacionais garantindo que o direito a uma escola pública de qualidade e o acesso às universidades públicas sejam para toda a população brasileira, sem exclusão e discriminação” afirma.

Ver mais: Os desafios para efetivar gestão democrática em conferências de educação no Brasil– via De Olho nos Planos

Durante a CONAE, a Ação Educativa, além de contribuir para garantir no Documento Referência da Conferência agendas como igualdade de gênero e raça, revogação do NEM, a autoavaliação participativa da escola articulada ao SINAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e a garantia da EJA em prisões; aprovou junto com a Articulação contra o Ultraconservadorismo na Educação 4 moções: 1) a importância de combater a educação domiciliar; 2) a desmilitarização da educação; 3) por uma política de promoção da igualdade de gênero, raça e diversidade sexual na educação e; 4) a garantia da participação da sociedade civil e movimentos sociais como segmento na próxima CONAE desde a etapa municipal. 

Em paralelo a CONAE, a equipe de comunicação da campanha “#FiqueDeOlho: Gênero nos Planos Já” registrou e entrevistou pessoas durante a 1ª Marsha Trans Brasil, que acontecia em frente ao planalto do Congresso Nacional no dia 29 de janeiro, data que comemora o Dia Nacional da Visibilidade Trans.

O evento da Marsha celebrou o marco dos 20 anos da visibilidade Trans no país e veio para reafirmar a luta histórica da população trans e travesti por garantia de direitos e de políticas públicas que acolham e protejam toda a comunidade.

Materiais de referência buscam ampliar o debate

Na página da campanha, estão disponíveis cartilhas e publicações, como  o guia “Por que discutir gênero nas escolas” e duas edições da coleção Indicadores de Qualidade na Educação, voltadas para discutir o ensino médio e as relações raciais na escola. 

O Guia sobre gênero é resultado do processo formativo de jovens realizado pela Ação Educativa e é voltado para o ensino médio. Ao trabalhar a partir de experiências e situações sexistas e racistas no cotidiano escolar, o guia aponta caminhos para combater violências e ampliar o acolhimento e a autoestima de estudantes. O material reafirma o dever da escola no combate às desigualdades e o seu papel em fortalecer o desenvolvimento crítico de estudantes.

Realizada com apoio da Unicef, a coleção Indicadores de Qualidade na Educação é composta por materiais que apresentam uma metodologia de autoavaliação participativa a partir de um conjunto de indicadores educacionais qualitativos. Cada edição possui uma metodologia voltada para o contexto de cada etapa de ensino, demonstrando como o envolvimento de toda uma comunidade escolar pode contribuir em processos que visam a melhoria da qualidade da educação.Na página da campanha, que já conta com mais de 1,7 mil acessos, é possível acessar outros materiais, que abordam uma perspectiva de defesa da democracia, dos direitos humanos e do fortalecimento da escola como espaço de acolhimento e cidadania. Para saber mais, acesse a página


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Ação Educativa busca ampliar debate sobre gênero durante CONAE 2024

A organização defende a inclusão de políticas de igualdade de gênero na elaboração do Plano Nacional de Educação, foco da Conferência de 28 a 30 de janeiro

A Ação Educativa estará presente na Conferência Nacional Extraordinária de Educação (CONAE 2024), levando a campanha #FiqueDeOlho: para combater a violência, Gênero nos Planos já! A iniciativa tem como centralidade impulsionar o debate de gênero no novo Plano Nacional de Educação (PNE), que irá nortear a educação brasileira nos próximos 10 anos. A CONAE ocorre entre os dias 28 a 30 de janeiro, em Brasília, onde reunirá diferentes grupos da sociedade civil para discutir e avaliar o Plano Nacional de Educação 2024-2034. 

“Diante do cenário marcado pela perseguição contra docentes e estudantes, fomentado pelo ultraconservadorismo, comunidades escolares são as mais prejudicadas pelo atravessamento da cultura de ódio e pelo sentimento de autocensura. E os estudantes são os que mais sentem a necessidade da discussão de gênero e raça nas escolas”, afirma Bárbara Lopes, coordenadora do projeto Gênero e Educação da Ação Educativa e integrante da Articulação contra o Ultraconservadorismo na Educação.

A campanha disseminada pela Ação Educativa também ecoa a necessidade de fortalecer a escola como um ambiente acolhedor e o direito de estudantes a uma educação de qualidade: com Planos de Educação que garantam a participação juvenil, que promovam a reflexão crítica sobre as desigualdades e discriminações e que combatam violências. 

O que é a CONAE e por que Gênero nos Planos?

A Conferência Nacional de Educação tem por objetivo reunir sociedade civil, estudantes e profissionais da educação para discutir e avaliar o Plano Nacional de Educação. Organizada em três dias, a  Conferência, convocada de maneira extraordinária pelo Decreto 11.697/23, tem como tema central “Plano Nacional de Educação 2024-2034: Política de Estado para garantir a educação como um direito humano com justiça social e desenvolvimento socioambiental sustentável”.

A CONAE surge como espaço importante tanto para fortalecer controle social e a gestão democrática em torno dos processos de planejamento das políticas públicas, como para contribuir na elaboração do próximo PNE, principal instrumento da política educacional que direciona a educação brasileira durante dez anos. 

Há dez anos, quando tramitava no Congresso Nacional, o PNE de 2014-2024 teve todas as menções de “gênero” suprimidas no texto com a diluição proposital da dimensão de gênero. Os principais atores responsáveis pela retirada dos termos relacionados à promoção da igualdade racial, de gênero e de orientação sexual foram grupos conservadores, fundamentalistas e inspirados no movimento Escola sem Partido.

“Nós passamos por um longo período de apagão tanto na participação social como nas políticas de promoção da diversidade na educação. Nesse vácuo, o ultraconservadorismo cresceu. Ter uma conferência para debater o que queremos das políticas educacionais nos próximos dez anos é fundamental para retomar políticas que foram interrompidas e para avançar, para demonstrar que a sociedade brasileira demanda uma educação que supere nossas profundas e históricas desigualdades”, explica Bárbara.

Histórico

A campanha “#FiqueDeOlho: para combater a violência, gênero nos Planos Já!” iniciou em setembro de 2023. A iniciativa envolve várias ações, como disponibilizar materiais online, promover o debate e a mobilização nas etapas municipais e estaduais das discussões em torno do Plano Nacional de Educação.  

Em 21 de outubro, uma conferência livre foi realizada no prédio da Ação Educativa, em São Paulo, reunindo jovens de 16 a 24 anos para discutir participação popular, construir diagnósticos e propostas para a melhoria da qualidade da educação. Os levantamentos dos jovens foram encaminhados para a etapa municipal de São Paulo da CONAE, que aconteceu nos dias 27 e 28 de outubro do ano passado. 

“Essas demandas contribuíram para a elaboração de emendas para a construção do novo Plano. Dentre elas, era possível visualizar a necessidade de maior participação juvenil, valorização da educação pública e políticas públicas que visassem acolhimento e saúde mental em articulação com as reflexões sobre como as desigualdades de raça, gênero, sexualidade e o capacitismo impactam no cotidiano da juventude”, destaca Cláudia Bandeira, coordenadora da Iniciativa De Olho nos Planos.

Crianças e adolescentes têm sido as mais prejudicadas pela ausência do debate nas escolas. Segundo Bárbara Lopes, a abordagem de raça e gênero têm sido uma demanda constantemente pautada pelas juventudes, seja na escola ou em outros espaços, contudo, ainda há desafios a serem enfrentados: “A falta de apoio institucional, de políticas de formação docente e de materiais de apoio e a censura a essas temáticas têm contribuído para esvaziar a dimensão cidadã da escola e seu compromisso com a superação das desigualdades. Mais do que isso, aumentam a violência e a exclusão escolar, negando o direito à educação para parcelas importantes da juventude brasileira”.

Como se mobilizar?

É fundamental que escolas, movimentos sociais e toda a sociedade civil acompanhem os debates que serão realizados durante a Conferência Nacional Extraordinária de Educação 2024 e as próximas etapas de aprovação do novo Plano Nacional de Educação. A fim de fortalecer a discussão, a Ação Educativa reuniu diversos materiais relacionados à importância de se trabalhar gênero nas escolas, em formato de cards, folders, vídeos e outros. Os materiais podem ser acessados pelo site da campanha: https://generoeeducacao.org.br/mude-sua-escola/campanha-fiquedeolho-para-combater-a-violencia-genero-nos-planos-ja/ .

Uma maneira de ampliar a divulgação, é utilizar o material em rodas de conversas, seminários, assembleias, grêmios e encontros de discussão e mobilização popular. Durante a CONAE, no estande da Ação Educativa e da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, também serão disponibilizados outros materiais inéditos, com lançamento previsto para ocorrer durante o encontro.

Informações à Imprensa – Agência Pauta Social

Adriana Silva (11) 98264-2364 | adriana@agenciapautasocial.com.br
Camila Aranha (11) 98995-0732 | camila@agenciapautasocial.com.br

Igualdade de gênero nos planos de educação: uma tarefa urgente

As agendas de “gênero” e “raça” devem se articular a todos os Eixos do Documento Referência da CONAE, como: financiamento, gestão democrática, valorização profissional e qualidade na educação.

Igualdade de gênero nos planos de educação: uma tarefa urgente

A educação e a sociedade brasileira sentiram os efeitos, na última década, da retirada do “gênero” no texto do atual Plano Nacional de Educação (PNE). A exclusão dessa garantia no mais importante documento de planejamento educacional do país ajudou a fomentar um clima de censura e perseguição nas escolas, impactando discussões sobre gênero, raça e outras formas de discriminação junto às comunidades escolares. Às vésperas da tramitação do novo PNE e da Conferência Nacional de Educação (CONAE), onde será construída uma proposta para o novo Plano,  a sociedade civil agora age para garantir um PNE sem retrocessos, com ousadia e que reafirme o direito de profissionais da educação e estudantes discutirem gênero, raça e sexualidade na escola. 

Nesse contexto, a Ação Educativa lançou a campanha #FiqueDeOlho: para combater a violência, gênero nos Planos já!, reforçando que garantir igualdade de gênero nos Planos é se comprometer com a melhoria da qualidade na educação, já que educação de qualidade é a que consegue incluir e acolher todas as pessoas. É preciso criar espaços de acolhimento e solidariedade nas escolas; prevenir e combater o assédio, abuso sexual e violência doméstica; discutir as desigualdades entre homens e mulheres; promover o direito das pessoas viverem livremente sua sexualidade, entre outras ações. Esses são alguns aspectos que a equipe, por meio da Campanha, tem discutido no processo da CONAE, inclusive com escuta e encaminhamento de demandas de jovens a partir de uma Conferência Livre realizada na Ação Educativa durante a etapa municipal de São Paulo.   

A incorporação da igualdade de Gênero nos Planos para que o novo PNE avance no combate à violência e na redução das desigualdades educacionais significa, entre outras ações: 

  • Incorporar a laicidade na educação pública como princípio do PNE e incluir no texto o enfrentamento às desigualdades e discriminações de gênero, raça e sexualidade. 
  • Defender a implementação da LDB alterada pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 como instrumento essencial para a construção de uma educação antirracista. 
  • Garantir a manutenção de escolas quilombolas e indígenas em seus territórios. 
  • Defender as políticas de ações afirmativas com recorte racial e social nas instituições de educação superior. 
  • Atuar por um financiamento adequado com distribuição equitativa dos recursos em diálogo com uma política econômica de redistribuição de renda e com as Leis Orçamentárias (LDO e LOA). 
  • Aprimorar na regulamentação do FUNDEB os Fatores de Ponderação para que correspondam ao custo real das diferentes etapas e modalidades da educação básica e possam ser utilizados como mecanismos de ação afirmativa racial e social. 
  • Democratizar o debate econômico nas unidades educacionais, comunidades escolares e territórios, promovendo a compreensão da relação da economia com o cotidiano das escolas e da população.
  • Aprimorar os mecanismos de gestão democrática e controle social do PNE e das políticas educacionais, ampliando a roda e a participação efetiva das comunidades escolares e das juventudes na construção e monitoramento das políticas educacionais. 

Sobre esses aspectos e sua incorporação no PNE, nos planos estaduais e municipais e no planejamento educacional, conversamos com algumas pessoas de referência nas diferentes áreas. Confira: 

Financiamento

Eduardo Januário, Professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), atuando na linha de pesquisa de Políticas Públicas, Financiamento Educacional e Gestão Democrática da Escola Pública, com ênfase nas escolas de periferias. 

Ação Educativa: Como o financiamento do PNE pode ser adequado para diminuir as desigualdades educacionais, especialmente das populações negras?

Eduardo Januário: A única possibilidade de diminuir a desigualdade racial é com investimento. Não conseguimos atingir a meta 20, que é assegurar 10% do PIB para educação. Então claro que sem dinheiro não dá para fazer aquilo que está previsto nas metas 3, 4, 8, enfim, metas que visam combater desigualdades entre negros e brancos. Por quê? Porque as escolas necessitam modificar o seu dia a dia, a sua realidade, as estruturas. Isso precisa de dinheiro. Então ficamos na perspectiva de acreditar que vai haver um aprimoramento de mecanismos, mas não há outra saída enquanto a gente não tiver 10% do PIB na educação. 

Ação Educativa:  Especificamente sobre o Fundeb e os fatores de ponderação, as propostas atuais de regulamentação contemplam esse horizonte? Os valores são suficientes para corrigir as distorções históricas?

Eduardo Januário: Quando falamos em mecanismos de distribuição, vamos lembrar que a Emenda Constitucional 59 já pensa nessas questões de tratar os desiguais conforme as suas desigualdades. E quando a gente pensa em educação quilombola, educação do campo, educação indígena, há uma defasagem de investimento. Por que defasagem de investimento? Porque essas escolas não estão, ao meu ver e ao ver do movimento, adaptadas o suficiente, não têm qualidade suficiente (até em termos de formação de professor, de estrutura). Uma pesquisa recente da Faculdade (FEUSP) mostra que inúmeras escolas de educação quilombola e educação indígena não têm livros didáticos para estudar. Então há uma proposta de educação quilombola, de educação indígena, de educação do campo, mas não há estrutura. Então tem que ter dinheiro, não tem jeito. Sobre os mecanismos de ponderação, 1.4 para educação quilombola e indígena eu acho que é o suficiente no sentido de priorizar essas medidas. Mas como fazer sem dinheiro? Tem que ter um montante maior, porque com o montante que temos vamos continuar com políticas que reparam a desigualdade de maneira superficial. Elas não mudam a estrutura da escola, não garantem livros didáticos, não possibilitam formação de professores que estejam levando em consideração outras epistemologias. Conseguimos, pelos fatores de ponderação, levar um pouco mais de dinheiro, mas a gente não consegue ampliar de fato aquilo que precisaria, que é essa estrutura que eu acabo de citar. Uma outra questão é da discussão do VAAR do Fundeb, que o movimento negro tem disputado. Num determinado momento, o VAAR ficou preso à ideia do resultado, mas nossa conversa é que ele deveria ser um dinheiro específico para reparação, não para resultado. A ideia seria que as escolas que estão nas periferias, que têm uma maior quantidade de pessoas negras, as escolas quilombolas, receberiam uma parte desse dinheiro. Assim, é possível impulsionar a leitura de livros, a formação de professores, modificar a escola. Outras perspectivas poderiam ser incluídas na sala de aula se tivéssemos dinheiro específico para isso. 

Gestão democrática e processos participativos

Juliane Cintra, Coordenadora Institucional (Comunicação, Eventos e TI) da Ação Educativa.

Ação Educativa: Como e onde é possível aprimorar os mecanismos de gestão democrática e controle social do PNE e das políticas educacionais, de forma a ampliar a participação efetiva das comunidades escolares e das juventudes na construção e monitoramento das políticas educacionais? 

Juliane Cintra: Há uma dimensão de fortalecer os Fóruns e os Conselhos de Educação, mas também é preciso repensá-los do ponto de vista do quão abertos e preparados estão para receber a diversidade que é constituinte do que são as comunidades escolares e do que são os diferentes grupos que integram o que chamamos de juventude. Esses espaços não são organismos estatais. Na verdade são espaços de abertura, de acolhimento da sociedade, e portanto devem representar e dialogar com a demanda desses grupos e com as suas próprias dinâmicas de funcionamento. Repensá-los metodologicamente é fundamental para assegurar que o descumprimento naturalizado dos planos decenais não seja perpetuado. Então acredito que o foco deveria ser nessas instâncias, mas sobretudo nesse repensar metodologicamente. É importante que a gente olhe para esses espaços também considerando como fundamental que a gente descentralize os processos deliberativos. Os processos decisórios devem ser descentralizados a partir da instância e com uma reformulação metodológica do que compreendemos como participação nessas esferas. Assim, conseguiremos avançar efetivamente para a construção da legitimidade popular e social dos planos de educação, porque é somente a partir da participação social que construímos pertencimento às políticas públicas. É fundamental ir além do nível consultivo. 

Gênero, raça e sexualidade

Suelaine Carneiro, socióloga, mestre em educação, coordenadora de educação e pesquisa de Geledés – Instituto da Mulher Negra e compõe a rede de ativistas do Fundo Malala. 

Ação Educativa: Qual a importância de explicitarmos as agendas de gênero, raça e diversidade sexual no PNE, bem como incorporar a laicidade na educação pública como princípio do PNE e incluir no texto o enfrentamento às desigualdades e discriminações? 

Suelaine Carneiro: Esse PNE tem que não só resgatar a educação com um direito humano, como uma etapa fundamental para a formação da concepção de cidadania, mas retirar o aprender sobre raça e gênero do lugar de “questão menor” na educação. 

Por exemplo, na questão do financiamento: é necessário sempre defender mais recursos para a educação. As escolas mais fragilizadas, com estudantes com mais dificuldades de aprendizado, de conseguir um desempenho razoável em relação a notas e progressão de ensino, essas escolas via de regra têm grande participação de estudantes negras e negros, então é preciso que tenham também um aporte diferenciado no que diz respeito a recursos, a ter um corpo docente completo. É o que temos procurado nesse tempo todo de resistência: pautar gênero e raça em todo o âmbito da educação, dizer que gênero e raça também são questões essenciais na educação – para além daqueles que são considerados “eixos duros” – financiamento, formação de profissionais da educação, livro didático. São temas que possibilitam interferir nos resultados de desempenho, na compreensão, na aprendizagem e principalmente no convívio escolar. Portanto, ter gênero e raça dentro de todos os eixos que forem constituídos no novo PNE é fundamental para que a educação como direito se realize. 

Além disso, temos também o desafio de pensar a laicidade. A Educação hoje está muito contaminada por uma concepção de religiosidade cristã de forma muito fundamentalista que interdita direitos, interdita falar sobre raça, sobre questões raciais, sobre cultura e história afro-brasileira e africana e que reafirma uma concepção de superioridade a partir da cor da pele. Temos que atuar nessas questões de maneira muito explícita, por isso o debate tem que perpassar todos os eixos. Ou seja, são muitos desafios e são esses os compromissos que devem estar em discussão durante o novo PNE. O ano de 2024 será decisivo para podermos recuperar a Educação depois de tantos anos de desmonte.

Combate ao racismo

Catarina de Almeida Santos, professora na Faculdade de Educação da UnB, do comitê da Campanha Nacional pelo Direito à Educação do DF. 

Ação Educativa: Como podemos, na formulação do novo PNE, reafirmar e defender a implementação da LDB alterada pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 como instrumento essencial para a construção de uma educação antirracista? 

Catarina de Almeida Santos: Fazer com que esse país conheça e respeite a cultura afro-brasileira, africana e indígena não é algo que dê pra fazer com um ou outro programa, é preciso que seja uma ação sistêmica na escola, da educação infantil à pós graduação e isso significa passar pela formação inicial e continuada dos nossos professores e professoras, dos processos de gestão. Precisa estar presente em todas as metas e estratégias do PNE como ação sistêmica nos programas implementados, nas políticas desenhadas para o alcance dessas metas e objetivos. Do contrário, a gente não vai fazer funcionar. Se a cultura, história e força dos povos originários e dos povos que vieram pra cá escravizados não estiverem em cada uma das ações que desenvolvermos, a gente não reverte essa situação e não vamos conseguir fazer uma escola antirracista. 

São precisos mecanismos políticos, jurídicos e legais que permitam que as escolas e suas professoras e professores não sejam punidos por trabalharem essas questões, que isso esteja na literatura, no livro didático, na história das diferentes áreas do conhecimento. Mas também precisamos ter mecanismos de proteção pra reverter a demonização que se faz da cultura desses grupos. Isso significa metas e estratégias no PNE voltadas para o combate à intolerância religiosa e a todas as formas de violência. Isso também vale para questões de gênero, homolesbotransfobia, capacitismo, todos os elementos que são marcadores de diversidade nos corpos que compõem as diferenças nesse país. 

Ação Educativa: Qual a importância de garantir a manutenção de escolas quilombolas e indígenas em seus territórios? 

Manter as escolas quilombolas e indígenas em seus territórios não é questão de ser importante, é uma questão de sobrevivência. É uma questão de direito essencial, fundamental à manutenção dessas escolas. Pela sua existência, pela sua identidade, porque é direito desses grupos. Ou de sobrevivência da sociedade brasileira,  se um dia ela se quer civilizada, capaz de fazer as pazes com a sua história. A sobrevivência da população negra dependeu da sua organização em Quilombos, e até hoje os aquilombamentos são fundamentais para a nossa sobrevivência. Se não os aquilombamentos na perspectiva territorial, os aquilombamentos de nós enquanto povo preto, enquanto cultura. É de fundamental sobrevivência para nossa vida física e para nossa existência histórica e cultural. E isso serve também para os povos indígenas, que eram os povos originários desse país e que foram dizimados. A sobrevivência dessa cultura depende de nós mantermos as escolas nos territórios, e não a partir da lógica brancocêntrica e eurocêntrica, mas a partir da lógica dos povos dos territórios. Quem vai transmitir essa cultura e quem vai ensinar esses saberes senão aqueles que são detentores dos saberes tradicionais?

“Pequeno Dicionário” atualiza novos termos do debate político brasileiro

Segunda edição da publicação produzida por linguistas explica como “identitarismo”, “linguagem neutra”, “cidadão de bem” e “liberdade” foram cooptados pelas forças políticas brasileiras.

O que é “identitarismo” e por que é uma acusação? A “linguagem neutra” é um atentado à língua portuguesa? E a “família” tradicional é uma realidade ou um ideal brasileiro? Essas são algumas perguntas que a segunda edição da publicação “Termos ambíguos do debate político atual: pequeno dicionário que você não sabia que existia” pretende responder. 

A publicação, disponível no site do projeto, reúne alguns termos mais frequentes do atual debate político brasileiro – como “patriotismo”, “ideologia de gênero” e “politicamente correto” – e detalha os percursos que fizeram com que virassem presença quase obrigatória em nosso vocabulário político da última década. A primeira versão foi lançada em 2022 com oito verbetes, e a segunda edição traz seis adições: “globalismo”, “identitarismo”, “linguagem neutra”, “cidadão de bem”, “liberdade” e “família”. 

“O Pequeno Dicionário é um trabalho em constante construção, dado o dinamismo do próprio debate político e de novos termos que vão paulatinamente sendo inseridos no senso comum”, enfatiza Rodrigo Borba, professor de Linguística Aplicada na UFRJ e co-coordenador do projeto. 

Novos termos

Esta segunda edição traz, por exemplo, verbetes acionados nas duas campanhas presidenciais do ex-presidente Jair Bolsonaro: em 2018, “cidadão de bem”, e em 2022, “liberdade”. “O termo “cidadão de bem” se popularizou num contexto de programas policiais, servindo desde sempre como um demarcador de condutas entre supostos bandidos e a população geral. O acionamento e popularização desse termo foram parte fundamental do processo que levou a extrema-direita ao poder”, destaca Isabela Kalil, Coordenadora de Pós-Graduação em Antropologia da FESPSP e autora desse capítulo.

Já o autor de “Liberdade”, o sociólogo José Szwako, destaca a centralidade do termo nas mobilizações conservadoras do Brasil atual. “Hoje é difícil imaginar algum tópico ou objeto de relevância para o conservadorismo que não tenha a evocação da “liberdade” como central. E nessa evocação a liberdade é muitas coisas: liberdade para não se vacinar, para ofender, liberdade para linchar. Nesse contexto, o verbete discute as concepções sobre liberdade, os limites e, sobretudo, esse uso contemporâneo onde a liberdade passa a ter usos autoritários”, destaca. 

O “Pequeno Dicionário” é uma iniciativa do Observatório de Sexualidade e Política (SPW) em parceria com pesquisadores da área de linguística aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A publicação resgata a história das expressões selecionadas, destacando os momentos em que estas passam a ser usadas como acusação no debate público. O objetivo do projeto é que os leitores, conhecendo a história e o percurso desses termos, possam decidir de maneira informada se faz sentido manter ou incorporar essas expressões em seu vocabulário. 

“Os termos tratados neste pequeno dicionário foram sendo sorrateiramente absorvidos pelo senso comum desde o final dos anos 1990 e hoje fazem parte do vocabulário político  comum e corrente. É como se esses bordões sempre tivessem existido. Ninguém se pergunta de onde vieram, como foram criados e  a que se destinam. Recuperar essas trajetórias foi uma de nossas motivações, porque isso é vital para saber como melhor contestá-los”, diz Sonia Corrêa, ativista e pesquisadora feminista e co-coordenadora do SPW.  

Linguagem acessível e diferentes formatos

Uma das grandes preocupações dos realizadores do projeto é manter uma linguagem acessível, capaz de alcançar públicos fora da academia. Por isso, a publicação chega em duas versões: uma para leitoras e leitores com escolaridade de nível superior e outra dedicada a quem está no Ensino Médio. Todos os textos foram construídos sob conceitos de Línguística aplicada. “Na edição jovem, todos os verbetes ficaram ainda mais curtos e descomplicados, em um processo de condensação e simplificação textual realizado através de uma ferramenta que avalia o nível de dificuldade de um texto. Este é um processo chamado de ‘tradução intralinguística’, isto é, a tradução de um texto dentro da mesma língua, orientada por metas e públicos diferentes”, diz Janine Pimentel, associada ao Núcleo de Estudos da Tradução da UFRJ.

Além disso, todos os verbetes dos “Pequenos Dicionários” se iniciam com uma ilustração que sintetiza as ideias nele contidas. Carol Ito, jornalista, quadrinista e vencedora do Troféu Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos é quem assina os quadrinhos e a capa das publicações.

Siga o Pequeno Dicionário no Instagram: https://www.instagram.com/opequenodicionario/

Educação domiciliar volta à pauta da Comissão de Educação do Senado

Ciclo de audiências públicas que discutirá Projeto de Lei terá participação de representante da ONG Ação Educativa e ativistas contra a educação domiciliar

Um novo ciclo de audiências públicas, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, promete reacender o debate acerca do Projeto de Lei 1.338/2022, que aborda a viabilidade da educação domiciliar no Brasil. Um dos encontros contará com a presença da coordenadora do projeto Gênero e Educação, iniciativa da ONG Ação Educativa, apoiada pelo Fundo Malala, que defende a promoção da igualdade de gênero, raça e sexualidade na educação.

A ONG Ação Educativa posiciona-se firmemente contra o ensino domiciliar. Segundo Bárbara Lopes, coordenadora do projeto Gênero e Educação, o projeto não considera a relevância da escola como local de sociabilização e um direito essencial de crianças e adolescentes. “A escola é a porta de entrada para uma série de direitos, que vão além da educação. É na escola que muitas crianças e adolescentes encontram segurança alimentar, prevenção e identificação contra abuso sexual e um espaço de convivência, tão necessário para a saúde mental e para a vida democrática”, afirma Bárbara Lopes. Dados do Ministério da Saúde apontam que 68% dos casos de violência sexual contra menores ocorrem em ambiente doméstico.

A pesquisa Educação, Valores e Direitos, lançada em 2022, realizada pela Ação Educativa e pelo CENPEC, identificou que oito em cada dez brasileiros rejeitam o ensino domiciliar. O levantamento também revelou que nove em cada dez pessoas concordam que as crianças devem ter o direito de frequentar a escola mesmo que seus pais não queiram, ou seja, 78% acreditam que os pais não têm o direito de tirar seus filhos da escola para ensiná-los em casa.

A educação domiciliar ameaça os esforços históricos do Brasil em ampliar a escolarização da população desde os anos 1930, ao prejudicar a identificação e enfrentamento à evasão escolar e desresponsabilizar os entes federativos pela oferta educacional. Além disso, cria gastos públicos extras com a fiscalização e adequação de suas estruturas e corpo funcional para acompanhar as atividades.

Manifesto contra a educação domiciliar

Em maio, mais de 400 entidades, incluindo organizações civis, entidades sindicais, de ciência e pesquisa e de defesa de direitos de crianças e adolescentes, lançaram um manifesto contra a regulamentação da educação domiciliar, enfatizando a necessidade de investimentos nas escolas públicas. Hoje, o Manifesto totaliza mais de mil assinaturas.

Das assinaturas, estão entidades como a Articulação Contra o Ultraconservadorismo na Educação, Professores Contra a Escola Sem Partido, Geledés – Instituto da Mulher Negra, e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Segundo essas organizações, é crucial aprimorar a educação escolar regular para superar os desafios impostos pela pandemia, em vez de regulamentar uma modalidade que contraria as finalidades educacionais previstas na Constituição Federal.

+ Saiba mais: Manifesto Contra a Regulamentação da Educação Domiciliar e em Defesa do Investimento nas Escolas Públicas

Tramitação

Serão realizadas três audiências públicas para discutir o PL 1338/2022, que “altera as Leis nos 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e 8.069, de 13 de julho de 1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente), para dispor sobre a possibilidade de oferta domiciliar da educação básica”. A primeira será realizada no dia 1º de dezembro; a segunda ocorre no dia 4 de dezembro e a terceira no dia 12 de dezembro. 


Pesquisa Educação, Valores e Direitos:

A pesquisa analisou a percepção da população sobre educação sexual, cotas raciais, ensino domiciliar e outros temas considerados polêmicos no campo da Educação. Os resultados revelam a falta de adesão ao discurso ultraconservador. Acesse a pesquisa.

Assessoria de Imprensa:

Agência Pauta Social
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Para combater a violência, gênero nos Planos já: conferência livre de juventude é realizada para discutir o novo PNE

Em outubro, a Ação Educativa realizou uma conferência livre convidando jovens a discutirem suas percepções sobre a educação, políticas públicas, gênero, raça e debaterem propostas para os Planos de educação.

No mês de outubro, jovens estudantes e trabalhadores da região metropolitana de São Paulo e do interior se reuniram para debater sobre a importância das políticas de gênero no Plano Nacional de Educação, que será implementado em 2024, com perspectiva de execução nos próximos 10 anos.

A conferência livre “Gênero nos Planos já!” aconteceu no dia 21 de outubro, no prédio da Ação Educativa. A programação incluiu uma roda de conversa com Denise Carreira, educadora popular, mestre e doutora em educação pela Universidade de São Paulo, Marcelle Matias, educomunicadora e integrante da equipe de Gênero e Educação da Ação Educativa, Vick Vih, artista independente de Guarulhos, e Josué Correia, jovem estudante que participou do edital Em Luta, do Projeto Tô No Rumo.

Após o bate-papo, os jovens construíram diagnósticos e propostas para a melhoria da qualidade da educação, os quais foram encaminhados para a etapa municipal de São Paulo da Conferência Nacional Extraordinária de Educação (CONAEE) e subsidiarão o novo Plano Nacional de Educação (PNE) de 2024 a 2034.

Por fim, o evento encerrou com o show da banda PAMKA, formada pelos MCs Flóki e Mlk de Mel, jovens transmasculinos de São Paulo. A apresentação artística animou todas as pessoas que participaram da Conferência  com suas letras e batidas de rap e funk.

Em outubro, também foi publicado o podcast sobre a abordagem de gênero na  educação.  A estudante Day Machado, estudante que participou do podcast, reafirmou a importância do papel da educação em fortalecer o debate e o respeito. “Se as escolas discutissem a questão desde a primeira fase até a maioridade, pessoas diversas teriam respeito e a representatividade seria maior, porque assim, então, as pessoas deixariam de ser preconceituosas e entenderiam de verdade o conceito e que todos nós temos direito de escolha e de viver livre como se sentisse e identificasse melhor”, relata a estudante.

“Uma educação de qualidade considera as desigualdades, aborda direitos e promove espaços onde estudantes se sintam pertencentes, respeitando suas identidades e culturas!”