Carta da sociedade civil à equipe de transição apresenta medidas para combater censura na educação

Diante de diversos retrocessos e com o fenômeno da censura estimulado por Bolsonaro, grupo de articulação aponta a urgência do novo governo promover o fortalecimento dos direitos humanos e combater a censura na educação.

A Articulação contra o Ultraconservadorismo na Educação: em defesa do direito à educação e contra a censura nas escolas apresentou à equipe de transição do governo federal uma carta contendo medidas necessárias para enfrentar o fenômeno de censura nas escolas, que se agravou durante o governo Bolsonaro. O documento reforça a defesa de um ambiente educacional democrático, comprometido com os princípios constitucionais de liberdade de ensino, do pluralismo de concepções pedagógicas e com a promoção do direito à educação em direitos humanos e para igualdade de gênero, raça e sexualidade no país.  A Articulação reúne organizações de educação, feministas, LGBTQIA+, instituições acadêmicas, entidades do movimento negro, organizações sindicais e setores religiosos progressistas no combate ao fenômeno ultraconservador.

A carta levanta pontos emergenciais para enfrentar os retrocessos dos últimos anos, como a extinção do Programa de Escolas Cívico-militares, o posicionamento contra os projetos que visam descriminalizar e regulamentar o ensino domiciliar, a retomada da cláusula de exclusão de livros discriminatórios e fim da imposição do método fônico no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o fim do Manual de Taxonomia do Disque 100, que havia criminalizado a abordagem da igualdade de gênero nas escolas.

ACESSE O DOCUMENTO DA CARTA

Entre as agendas positivas demandadas pelas organizações, estão a retomada da Secretaria de Educação continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), com orçamento e condições institucionais efetivas, da institucionalidade participativa na educação e da gestão democrática escolar e educacional, inclusive com a reconfiguração do Conselho Nacional de Educação (CNE). Outro ponto é a necessidade de implementação das diretrizes para a Educação para as Relações Étnico-Raciais, Educação Escolar Indígena e Educação Escolar Quilombola, com o fortalecimento das políticas de ação afirmativas; de programas de formação docente comprometidos com os direitos humanos e a igualdade de gênero, raça e sexualidade e de campanhas em prol de uma cultura democrática.

O documento preparado pela Articulação ainda reforça a necessidade de cumprimento do Plano Nacional de Educação, com financiamento adequado, e a urgência de que o Brasil abandone o Consenso de Genebra, aliança internacional de extrema-direita, e retome os compromissos internacionais do Estado brasileiro com a igualdade de gênero e os direitos sexuais e reprodutivos.

Decisões do STF

Em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou um conjunto de dez ações contra leis que proibiam a abordagem de gênero nas escolas e de leis inspiradas no Escola sem Partido. As decisões reafirmaram a inconstitucionalidade da censura e o dever do Estado em abordar as questões de gênero e sexualidade na Educação Básica como forma de prevenir o abuso sexual de crianças e adolescentes. As decisões reforçaram também que a ideia de neutralidade ideológica é antagônica ao pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, pilar constitucional da legislação educacional brasileira.

Outro aspecto importante referendado pelo STF foi a interpretação a respeito do lugar das famílias na gestão democrática da educação. Na compreensão da Corte, a participação das famílias na vida escolar de crianças e adolescentes é fundamental, mas não pode ser usada como artifício para limitar o direito constitucional de crianças e adolescentes a uma educação que contemple várias visões de mundo, estimule a capacidade de refletir e de pesquisar a realidade e que prepare os e as estudantes para uma sociedade sempre mais complexa e desafiante.

Edital Igualdade de Gênero: confira nova lista de planos disponíveis

Desde 2020, o Edital vem buscando promover experiências de profissionais da educação sobre igualdade de gênero nas escolas. A segunda lista de planos aprovados da última edição segue disponível no site Gênero e Educação.

Ilustração de plano de aula do edital Igualdade de Gênero na Educação Básica. No centro da imagem há uma menina negra sentada em uma cadeira lendo um livro. Na capa do livro, há uma flor e está grafado 'futuro'. Ao fundo, há dois quadros na parede: um com um punho cerrado e outro com o espelho de vênus. Ilustradora: Barbara Quintino.

Em celebração ao Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, o projeto Gênero e Educação disponibiliza 13 novas propostas pedagógicas publicadas em seu Banco de Planos público. Aprovadas durante o Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica 2022, as últimas propostas estavam sob revisão e receberam recomendações do Comitê de Seleção para complementação e ajustes.

A fim de reunir e divulgar mais propostas focadas no trabalho com crianças e adultos, a segunda edição do Edital convidou profissionais, grupos de pesquisa, coletivos e organizações a construírem e inscrevem planos de aulas, planos de atividade, práticas cotidianas, sequências didáticas ou relatos de experiência sobre atividades comprometidas com a igualdade de gênero na Educação Infantil e na Educação de Jovens e Adultos. 

Confira a lista das novas propostas que  já estão no site Gênero e Educação:

Educação Infantil

  • Construção de gênero: narrativas de crianças dançantes
    Virginia Costa Alves
  • O Cravo brigou com a Rosa: repensando as relações de gênero na cantiga de roda
    Renata Santos Pedreira
  • Beleza, gênero e criança quilombola: infância sem preconceito no Quilombo Catucá – Bacabal/MA
    Vanderlucia Cutrim de sousa
  • Meninas também jogam futebol
    Nathalia Cristina Servadio
  • Pipo e Fifi: conhecer para prevenir
    Cristiane Pereira Lima e Léia Teixeira Lacerda
  • Uma profissão para uma princesa
    Daniela Maria Granja Peixoto
  • Era uma vez… uma pessoa – introdução aos direitos humanos numa perspectiva de gênero
    Glauce Stumpf
  • Arco-Íris, Cores e Afetos
    Luciana Lage de Souza

Educação de Jovens e Adultos

  • A importância das aulas de inglês na desconstrução da desigualdade de gênero
    Jussara Barbosa da Silva Gomes e Larissa de Pinho Cavalcanti
  • Identidade: Quem sou Eu? Quem somos nós
    Severino Alves Reis
  • Desigualdade de Gênero e Teatro do Oprimido: (re) escrevendo narrativas.
    Elisângela Cristina Siqueira de Melo
  • Fanzine como potência educativa no combate à violência doméstica
    Marcielly Cristina Moresco
  • Contracepção: Responsabilidade Compartilhada
    Maíra Mello Rezende Valle e Daiany Assunção de Sá

Sobre o Edital Igualdade de Gênero

O Edital teve seu início em 2020, convidando escolas, universidades, organizações da sociedade civil, coletivos juvenis, movimentos sociais e profissionais de educação de todo o país a enviarem planos de aula, planos de atividade, projetos interdisciplinares e sequências didáticas didáticas. Em seu lançamento, o Gênero e Educação contou com mais de 270 inscrições.

Com inscrições abertas em novembro de 2021, a segunda edição do edital focou na Educação Infantil e na Educação de Jovens e Adultos. Foram recebidas mais 80 propostas, das quais 26 foram aprovadas pelos Comitê de Seleção para integrarem o banco de planos de aula do Gênero e Educação.

Assista a cerimônia de reconhecimento público das propostas criativas do Edital de 2022:

Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica 2022 – Cerimônia de Reconhecimento Público

Vem aí: Edital Igualdade de Gênero 2023

Agora, o Banco de Planos conta com mais de 120 propostas disponíveis para download em PDF gratuito. Em março de 2023, estará aberto o período de inscrições para a terceira edição do Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica. Desta vez,  escolas, universidades, organizações da sociedade civil, coletivos juvenis, movimentos sociais e profissionais da educação de todo o país poderão participar enviando propostas de atividades pedagógicas e relatos de experiência voltados para toda a educação básica – da educação infantil até o ensino médio – e que estejam comprometidas com a igualdade de gênero nas instituições de ensino.

Para mais informações ou dúvidas, acompanhe as redes sociais da Ação Educativa, a página Gênero e Educação ou entre contato com o projeto via e-mail: generoeeducacao@acaoeducativa.org.br 

Catarinas inaugura nova fase com evento cultural em Florianópolis

Portal de jornalismo feminista celebra sua reformulação visual e editorial com apresentações de Anis de Flor e Slam Cruz e Sousa, na Fundação Badesc

Seis anos após o lançamento do Catarinas, a equipe volta à Fundação Badesc, no centro de Florianópolis, para celebrar a nova fase do portal, marcada por uma reformulação visual e editorial. O evento acontece no dia 18 de novembro, sexta-feira, das 18h30 às 22h. A programação terá coquetel e apresentações culturais de Anis de Flor e Slam Cruz e Sousa, com entrada gratuita.

O Slam Cruz e Sousa, cujo nome homenageia um poeta negro de Florianópolis, é um coletivo que promove batalhas de poesias faladas e eventos culturais na capital de Santa Catarina e região, visando acessibilizar a arte de resistência no estado.

Anis de Flor é uma cantora contemporânea e da nova MPB naturalizada em Florianópolis. Apaixonada pela potência revolucionária-social da música, lançou recentemente seu primeiro álbum, FÉRTIL, que traz sua narrativa como mulher afro-indigena que vive no Sul do Brasil – obra que será apresentada no evento.

O novo Catarinas

Para a reformulação, o Catarinas criou um grupo de trabalho multidisciplinar composto pelo designer Lyn Jannuzzi e três profissionais da casa: a diretora executiva Paula Guimarães, a editora e estrategista digital Jess Carvalho, e Mariana Fraga, presidenta da Associação Catarinas. Ao longo de quatro meses, a equipe se dedicou a estudar o segmento, o público, os rumos do portal e suas demandas de segurança, a fim de propor novas soluções para a marca, o site e a linha editorial. 

“A reformulação da identidade visual e da linha editorial vem para demarcar as mudanças que ocorreram no Catarinas nos seis anos de existência, acompanhando as transformações no jornalismo, nos movimentos sociais, feministas e antirracistas, na produção científica e na sociedade como um todo. Ao mesmo tempo que é uma maneira de reforçar ainda mais nosso jornalismo posicionado e combativo, que mira nas garantias dos direitos fundamentais e humanos, e no fomento ao exercício da cidadania plena em que caibam todas as pessoas”, diz Paula Guimarães.

Hoje o Catarinas se posiciona como um veículo independente, transafirmativo, anticapacitista e anticapitalista que reporta os fatos de maneira crítica, por meio da lente do feminismo interseccional. “O portal segue vivo porque se mantém em diálogo com a sociedade, e a nova logomarca traduz muito bem essa nossa busca diária. Já as cores que agora compõem a paleta remetem à diversidade que pauta cada vez mais o nosso jornalismo, com destaque para o roxo que representa o feminismo, e o verde, que é muito usado pelos movimentos feministas latinoamericanos de luta pela descriminalização do aborto”, comenta Jess Carvalho. O resultado está disponível no site do portal.

Serviço

Lançamento do novo Portal Catarinas
Data: 18 de novembro, sexta-feira
Horário: 18h30 às 22h
Local: Fundação Cultural Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216 – Centro de Florianópolis)
Entrada franca

Cendhec apresenta recomendações para promoção de igualdade de gênero nas escolas

Adolescentes matriculadas nas redes de ensino do Recife, Igarassu e Camaragibe também participaram da entrega do documento para representantes das Secretarias do Recife, Igarassu e Camaragibe

Cendhec apresenta pesquisa sobre desigualdades de gênero na Educação

Ao lado de estudantes de escolas da rede pública de ensino municipal, integrantes do Centro Dom Helder Camara entregaram um Documento de Recomendações para representantes das Secretarias de Educação do Recife, Igarassu e Camaragibe. Construído após pesquisa desenvolvida pelo Cendhec com apoio do Fundo Malala, o documento foi baseado na escuta de adolescentes dos três municípios sobre os impactos das desigualdades de gênero no cotidiano escolar. As recomendações foram apresentadas durante o seminário “Meninas por uma Educação com Igualdade”, que aconteceu na Unicap, na manhã desta quarta-feira (16).

O Documento de Recomendações, que foi chancelado por 22 entidades e ativistas que atuam na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, oferece uma série de sugestões sobre estratégias e ações que podem ser implementadas pelas gestões escolares para ajudar a diminuir desigualdades no dia a dia escolar. Os pontos foram elencados a partir da experiência do projeto Na Trilha da educação. Gênero e Políticas Públicas para Meninas, em especial a realização de uma pesquisa que ouviu as estudantes do ensino fundamental II de oito escolas públicas. Ao todo, 438 meninas responderam a questionários que foram aplicados entre os meses de março a setembro de 2022. 

Medidas de enfrentamento ao Racismo, LGBTransfobia, Machismo, Gravidez na adolescência, evasão escolar estão entre as recomendações elaboradas com base no que dispõem o Estatuto da Criança e do Adolescente, Constituição Federal, Conselhos de Educação e outros órgãos da rede de defesa. Para Katia Pintor, coordenadora do DCA do Cendhec, o documento é um importante instrumento em defesa de uma educação com equidade. “O documento de recomendação que o Cendhec apresenta tem a importância de trazer à luz informações e orientações para que as gestões de cada município possam implementar projetos e políticas públicas a partir do que o Cendhec identifica e aponta como necessidade de criação e reestruturação de ações voltadas à garantia da igualdade de gênero nas escolas”. 

A mesa de abertura do evento contou com as presenças do advogado, professor coordenador da Cátedra Unesco/Unicap e presidente do conselho diretor do Cendhec, Manoel Moraes; da coordenadora do Programa de Direito da Criança e do Adolescente (DCA) e coordenadora adjunta da instituição, a cientista social Katia Pintor; e Manuella Donato, consultora de projetos do Fundo Malala no Brasil. 

Pedagoga do Cendhec e integrante da Rede de ativistas do Fundo Malala, Paula Ferreira, atuou na mobilização das escolas durante a pesquisa e ressaltou que “a educação precisa ser um espaço de acolhimento, um espaço protetivo, e para isso é necessário estar em constante diálogo com outros atores da rede de garantia de direitos de crianças e adolescentes. Tivemos um desafio com a implementação da pesquisa num contexto de pandemia, mas entendemos que esse elemento também precisava estar inserido neste estudo, porque vai nos mostrar o quanto a educação de meninas foi ainda mais impactada nesse período”, pontuou a pedagoga. 

Paula Ferreira, pedagoga; e Alcione Ferreira, coordenadora do projeto

Alcione Ferreira, jornalista e coordenadora de projeto do Cendhec, apresentou os primeiros dados da pesquisa que merecem atenção das gestões municipais, uma vez que geram efeitos diretos no desenvolvimento das estudantes, e que também foram apontados no documento de recomendações. “Com o lançamento dos primeiros dados da pesquisa já percebemos o quanto o trabalho só começa, entra em nova fase: a de gerar junto aos atores públicos subsídios que contribuam para pensar efetivamente uma educação comprometida com a pauta de gênero. Não é possível pensar educação de qualidade sem pensar em igualdade de gênero”, afirma a coordenadora, que também participou da mobilização das gestões e secretarias durante todo o processo de aplicação da pesquisa. 

Andreika Asseker, Secretária de Educação de Igarassu, pontuou que a atuação do Cendhec ajudou as gestões a repensar formas de contribuir com o fortalecimento do papel da mulher, das meninas e da educação como fonte promotora de direitos. “Ajudou as meninas a se olharem, terem esse pertencimento do que elas podem, do que elas conseguem. Ajudou uma mudança de mentalidade dos professores, na própria comunidade, como também nas políticas públicas do município”. A Rede de Igarassu adotou a lei do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, garantindo a distribuição de absorventes para meninas da rede de ensino.”Também fizemos algumas mudanças estruturais na política de atendimento dos alunos na rede com essa perspectiva do fortalecimento da mulher. É realmente um programa fantástico que veio como uma pesquisa de intervenção em campo mudando as nossas práticas e a gente só tem que agradecer e fortalecer essa parceria com o CENDHEC”, pontuou. 

Um dos momentos mais especiais da programação foi protagonizado pelas adolescentes Peróla Canuto, da Escola Costa Porto e Sarah Raquel, da Escola Evangelina Delgado, de Igarassu. As duas meninas representaram as estudantes da rede pública municipal e falaram sobre suas reivindicações e sonhos de futuro. “Eu acho que o projeto me ajudou muito e foi muito revolucionário. Foi gratificante participar porque eu reparei que meu olhar se abriu e algumas coisas na escola mudaram sobre mim, também sobre outras meninas. Era muito difícil incluir meu nome social nas questões da escola e hoje em dia, depois desse projeto, está sendo muito mais fácil”, declarou Pérola. 

Assista o seminário na íntegra, disponível no canal do Geledés – Instituto da Mulher Negra

Pesquisa aborda as desigualdades na escola

A pesquisa desenvolvida pelo Cendhec buscou entender os efeitos das desigualdades de gênero na vida escolar de meninas. Realizada com 438 estudantes do ensino fundamental II das redes de ensino municipal público do Recife, Camaragibe e Igarassu, o levantamento compõe uma das ações do projeto Na Trilha da Educação. Gênero e Políticas Públicas para Meninas e mostrou que  94% das estudantes ouvidas querem que o tema igualdade de gênero seja discutido nas escolas. 

Racismo, assédio, lgbtqia+fobia, trabalho doméstico e falta de incentivo para a prática de atividades esportivas são alguns dos problemas apontados pelas adolescentes. a pesquisa foi dividida em dois métodos: quantitativo – por meio da aplicação de questionários;  e qualitativo – através da formação de grupos focais. As adolescentes consultadas responderam ao questionário no método quantitativo; gestoras/es e professoras/es também foram ouvidos durante o estudo. Já no método qualitativo, um grupo de 71 meninas participou de rodas de discussão sobre desigualdade de gênero e educação, sendo 35 estudantes matriculadas no fundamental II e 36 jovens que estão fora da sala de aula, com até 21 anos. Mães de estudantes também foram entrevistadas. 

Uma educação não sexista orienta-se pelo que dispõe a Resolução 34/180 da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), de 18 de dezembro de 1979, a qual se coloca a favor das “mesmas condições de orientação profissional, de acesso aos estudos e de obtenção de diplomas nos estabelecimentos de ensino de todas as categorias”. O documento propõe também a “eliminação de qualquer concepção estereotipada dos papéis masculino e feminino em todos os níveis”.

Rebecca Andressa, de 14 anos, estudante da rede municipal do Recife, tem a resposta na ponta da língua quando o assunto é a educação que ela quer.  “Uma escola que tenha igualdade para meninos e meninas é uma escola que apoia não só os meninos, mas também as meninas para que elas tenham sua voz ouvida. Tem muitas desigualdades na escola e precisamos de mais respeito, não só na escola como em qualquer lugar”. 

“A pesquisa é uma ferramenta muito importante para conhecer os problemas que as meninas enfrentam nas escolas. A partir desses dados e informações, o poder público pode elaborar estratégias e políticas que garantam a equidade de gênero nas escolas”, diz Maíra Martins, representante de Fundo Malala no Brasil, que atua em 10 países: Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia. No mundo, são 81 ativistas, sendo 11 no Brasil – incluindo Paula Ferreira, do Cendhec -, que integram a Rede Malala para articular ações de incidência política a partir de territórios socialmente vulneráveis. 

45,9% das entrevistadas têm 12 anos, 78% das entrevistadas são negras e pardas, 41% são evangélicas e 19,9% são católicas (60% cristãs).

Principais dados

  • Perfil das estudantes ouvidas: 45,9% das entrevistadas têm 12 anos, 78% das entrevistadas são negras e pardas, 41% são evangélicas e 19,9% são católicas (60% cristãs).
  • Desigualdade de gênero: Das meninas entrevistadas em Igarassu, Recife e Camaragibe, 59,1% responderam não saber o que é desigualdade de gênero, ao mesmo tempo, 66% acham que meninas e meninos não têm os mesmos direitos na escola. Sete em cada dez afirmam que seus professores não discutem o tema, porém 94,1% apontam que debater direitos de meninas e meninos é necessário.
  • Falta de incentivo afasta meninas das atividades esportivas: Aproximadamente 60% das estudantes acreditam que existe preconceito em relação às meninas praticarem esportes. Segundo elas, este preconceito é demonstrado pelos meninos, que foram citados em 91,5% das respostas. Um percentual de 26,5% das estudantes afirmaram se sentirem desconfortáveis com comentários sobre suas roupas
  • Assédio na escola: A pesquisa apresenta que 31,5% (sendo 7,1% muitas vezes + 24,4% algumas vezes) já se sentiu incomodada com atitudes/comentários de meninos. Dessas, 54,4% (sendo 11,9% muitas vezes +  42,5% algumas vezes) sentiu que havia maldade, segundas intenções. 53,8% não contou pra ninguém sobre essas atitudes. 
  • Racismo: Uma a cada 4 meninas sofre preconceito em ambiente escolar. De acordo com o levantamento, 26,9% das meninas entrevistadas dizem terem sido afetadas por algum tipo de prejulgamento/repúdio em suas instituições de ensino. Das vítimas, 38,1% atribui a ação ao racismo: 27,1% por ter cabelo crespo/enrolado; 11,0% por ser negra; 
  • Saúde mental, educação e pandemia: Quase metade das meninas em idade escolar se queixam de ansiedade. A pesquisa apresenta que a maioria (48,9%) das meninas entrevistadas se diz, na maior parte do tempo, ansiosa.

Ao todo, 68,3% das consultadas sentiram que a pandemia afetou sua saúde emocional, 65,9% disseram que a tristeza as abalou no período, outras 27,8% conviviam com o medo de perder alguém.

Sem aulas presenciais, o desenvolvimento delas também sofreu um duro golpe. Os números mostram que 55,5% das meninas relataram ter dificuldades para participar de aulas remotas, 43,2% destas atribuíram à dificuldade de acesso à internet. Ainda segundo o levantamento, 48,2% afirmam ter percebido prejuízos importantes em sua aprendizagem durante a crise sanitária.

Informações para a imprensa

Mariana Moraes (81)  9418-6421 – comunicacao@cendhec.org.br
Lenne Ferreira (81) 99818.9238
Fotos: Marlon Diego