Iniciativa De Olho nos Planos lança edital “Planos de Educação Vivos: vamos contar as suas histórias”

Com inscrições até 06 de agosto, o objetivo é resgatar a memória, valorizar o legado e manter vivo o principal instrumento da política pública educacional brasileira.

Imagem de @master1305 em destaque no site Gênero e Educação. Há uma menina negra alegre soltando um grito

A Iniciativa De Olho nos Planos lança nesta quinta-feira, 24/06, o edital de seleção “PLANOS DE EDUCAÇÃO VIVOS: vamos contar as suas histórias!”, com inscrições abertas até dia 06 de agosto.

Por meio do edital, a Iniciativa De Olho Nos Planos, coordenada pela Ação Educativa em aliança com seu Comitê de Parceiros e com a Oxfam Brasil, convida conselhos, fóruns e secretarias de educação, universidades, movimentos estudantis, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, profissionais da educação, coletivos juvenis e/ou estudantis e ativistas a contarem histórias sobre processos participativos de construção e monitoramento dos Planos de Educação em seus municípios, estados e também a nível federal, bem como histórias sobre a importância dos planos e sua situação atual.

Resgate e valorização

O objetivo do edital é resgatar a memória, valorizar o legado e manter vivo o principal instrumento da política pública educacional brasileira, além de valorizar as iniciativas e acúmulos de comunidades escolares, profissionais, estudantes, fóruns, conselhos, secretarias de educação, organizações estudantis, grupos juvenis e coletivos culturais que participaram de processos de construção e monitoramento de Planos de Educação.

+ Acesse a coleção De Olho nos Planos, com materiais sobre os Planos de Educação,  Processos Participativos e mobilização popular

Aprovado em 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE, Lei n 13.005) reúne metas a serem cumpridas até 2024 para que o país avance na garantia do direito à Educação. Fruto de amplo debate nas Conferências de Educação e de acirrada disputa na tramitação no Congresso Nacional, o PNE sublinha a importância do planejamento educacional, orientando o investimento e a gestão e referenciando o controle social e a participação cidadã. Após sua aprovação, municípios e estados tiveram um ano para elaborar seus Planos decenais de Educação, cujo desafio foi garantir que os mais diversos setores da sociedade participassem e contribuíssem com sua construção. No entanto, desde 2015 o PNE vem sendo esvaziado por sucessivas medidas, como a Emenda Constitucional 95, que  constitucionalizou os cortes por vinte anos e tornou inviável a implementação do PNE. 

Inscrições

Neste edital, serão consideradas as propostas de atividades que contem as histórias em diferentes linguagens (oral, escrita, ilustrada, cantada etc) e suportes (áudio, padlet, vídeo, powerpoint, álbum de fotos etc). As inscrições podem ser individuais ou coletivas. 

Todas as propostas que cumprirem as regras ganharão duas vagas em uma oficina de contação de histórias com Kiara Terra, a ser realizada em agosto, a fim de ter ainda mais insumos para manter vivo esse legado! Kiara Terra é atriz, narradora,escritora,Doutoranda em Estudos da Criança e grande contadora de histórias reconhecida nacionalmente.

Das histórias aprovadas, o Comitê selecionará as dez mais criativas. As autoras e autores receberão uma declaração de reconhecimento público em cerimônia virtual com representantes do Comitê de Parceiros da Iniciativa De Olho Nos Planos e poderão realizar, sem custos e à escolha, uma formação a distância ou presencial da programação 2021 do Centro de Formação Educação Popular e Direitos Humanos da Ação Educativa.

Prazo para inscrições: 06 de agosto de 2021
Divulgação do resultado: 27 de agosto de 2021 

ACESSE O EDITAL COMPLETO E O FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO AQUI

Falta de recursos para higienização menstrual nas escolas afeta 4 milhões de estudantes no Brasil

Desinformação, estigmas, discriminação, faltas e evasão escolar são algumas das consequências

Imagem de absorventes e coletores para a matéria Falta de recursos para higienização menstrual nas escolas afeta 4 milhões de estudantes no Brasil

A higiene menstrual é um direito básico, mas só é possível quando se tem acesso a absorventes e coletores adequados, assim como instalações seguras e convenientes para o descarte de materiais. No entanto, este direito não é garantido para todas as pessoas que menstruam, conforme reforça a pesquisa Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violações de Direitos, realizada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), lançada no fim de maio de 2021.

A pobreza menstrual resulta da combinação de fatores socioculturais, políticos e econômicos como, por exemplo: a desinformação sobre a menstruação que gera dúvidas, preconceitos e vergonha; a pobreza que impede a compra de materiais necessários para a higiene pessoal; a falta de acesso à água encanada e saneamento básico; a ausência de infraestrutura nas escolas; a ausência de políticas públicas relacionadas ao tema.

O problema afeta milhares de pessoas (cis, trans e não binárias) desde a primeira menstruação (menarca),cuja autonomia e dignidade menstrual são violadas pelas históricas desigualdades de gênero, raça e classe social existentes no país, que se agravaram com a chegada da pandemia da covid-19.

Segundo a pesquisa do UNFPA e do UNICEF, cerca de 6,5 milhões de meninas vivem em casas sem ligação à rede de esgoto, 3 milhões moram em locais sem coleta de lixo e 900 mil não têm acesso a água canalizada em seus domicílios. 

O estudo aponta que uma família com baixa renda e em situação de vulnerabilidade social dedica uma fração menor de seu orçamento para itens de higiene menstrual, uma vez que a prioridade dela é a alimentação. Os dados mostram que 50% das pessoas estão em lares com algum nível de insegurança alimentar, e que as meninas pretas e pardas têm 29% mais chances de serem afetadas por falta de acesso a serviços quando comparadas às meninas brancas. 

De acordo com a oficial de Juventude do UNFPA, Gabriela Monteiro, “o problema é maior nas regiões onde o acesso a serviços já é comumente mais prejudicado. A chance de uma menina do Nordeste, por exemplo, não ter um banheiro com chuveiro e vaso sanitário em casa é 17% maior do que uma menina vivendo no Sudeste”.

Menstruação na escola

A menarca ocorre entre 8 e 12 anos para cerca de 42% das pessoas. Se estiverem cursando a série adequada para a idade, quase 90% delas passarão entre 3 a 7 anos da sua vida escolar menstruando. Esta informação é fundamental para que a comunidade e a gestão escolar priorizem ações que respeitem esta condição e garantam o direito básico à higiene menstrual. 

Todas as escolas do ensino fundamental e médio deveriam estar equipadas com banheiros – reservados e separados por sexo -, com pias e lavatórios em condições de uso, ter produtos como papel higiênico e sabonetes disponíveis.

No entanto, a pesquisa revela que mais de 4 milhões de brasileiras não têm acesso a condições mínimas para gerenciarem a própria menstruação nas escolas. Para a oficial de Juventude do UNFPA, Gabriela Monteiro, isso “significa que elas não têm acesso a banheiros nas escolas e sabonetes, por exemplo. A falta de recursos pode ser fator de discriminação, levando muitas vezes à evasão escolar.”

Além da infraestrutura inadequada que provoca evasão ou absenteísmo escolar, durante o ciclo menstrual, estudantes também podem sofrer com diferentes tipos de mal estar como cólicas intensas, dores de cabeça, enjoos etc. o que pode afetar a atenção e as condições para realização de determinadas atividades. Sem contar com o medo permanente de se exporem com o sangramento.

A entrevistada do UNFPA afirma que uma das soluções para mitigar os efeitos negativos da desinformação e dos estigmas em torno do tema é a “educação menstrual”, isto é, a promoção do debate escolar sobre o ciclo menstrual, nossa fisiologia e os cuidados necessários durante a menstruação.

Tal iniciativa poderia desconstruir preconceitos enraizados na sociedade que ainda usa do eufemismos para se referir à menstruação, pois quando falamos em “regras”, “estar de chico”, “estar naqueles dias” estamos inviabilizando algo que é fisiológico e criando mitos infundados. 

O relatório aborda ainda outra questão delicada que são as situações constrangedoras banalizadas socialmente desde a menarca quando atribuímos à menstruação a condição de “se tornar mulher” ou “mocinha”. De acordo com o estudo este tipo de conduta ignora a condição infantil dessas pessoas e as expõem a crenças limitadoras, restritivas, assim tabus e sentimentos de vergonha.

Outras soluções possíveis contra a pobreza menstrual

Segundo Gabriela Monteiro, além do investimento em questões estruturais como saneamento básico, uma medida que tem sido cada vez mais comum em todo o mundo é a distribuição gratuita de absorventes em unidades de saúde e nas escolas.

Nos últimos anos, projetos de lei (PL) têm sido criados nas diferentes esferas governamentais para mitigar o problema:

  • Na cidade do Rio de Janeiro, foi aprovada a lei nº 6603/2019 que prevê o fornecimento gratuito de absorventes nas escolas públicas da rede municipal de ensino
  • Em 14 de setembro, foi aprovado pelo Senado Federal o PL 4968/2019 proposto pela deputada Marília Arraes (PT-PE) que prevê a distribuição gratuita de absorventes nas escolas públicas. Em outubro, o a lei foi vetada pelo presidente Bolsonaro.

    O governo sancionou a criação de um Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual (Lei nº 14.214 de 06/10/2021). No entanto, o presidente vetou os artigos da lei que previam a distribuição gratuita de absorventes a estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública; mulheres em situação de vulnerabilidade social; mulheres apreendidas e presidiárias, recolhidas em unidades do sistema penal; e mulheres internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.

    Cinco meses depois, O Congresso Nacional derrubou o veto, permitindo que todos os trechos vetados fossem incorporados à lei.
  • O PL 428/2020 de Tabata Amaral (PDT-SP) que, além das escolas, propunha a distribuição em outros espaços públicos, como já acontece com os preservativos masculinos, segue arquivado na Câmara Federal.

De acordo com a pesquisa sobre pobreza menstrual, entre as famílias brasileiras mais pobres, com pelo menos uma menina entre 10 e 19 anos, o gasto médio mensal com o consumo de absorvente é de R$ 3,75. Nas famílias mais abastadas, o gasto sobe para R$ 28,44. Esta disparidade pode ser mitigada também com a redução dos impostos sobre este produto de higiene. Este debate tem ganhado cada vez mais força no Brasil. Em 2020, jovens ativistas pela igualdade de gênero do Girl Up Brasil lideraram a campanha #LivreParaMenstruar e conseguiram a aprovação do PL 2.004/2020 que reduziu a tributação estadual sobre os absorventes.

Sequência didátia: Como seria o mundo se os homens cisgêneros também menstruassem?

Você tem dúvidas sobre como abordar o tema menstruação na sua escola? Sugerimos a leitura deste material educativo com um exemplo aplicado para o ensino de ciências e biologia, com argumentação, metodologia, recursos e referências bibliográficas. Boa aula!

Carta-compromisso pelo direito à educação das meninas negras.

Pesquisa realizada por Geledés Instituto da Mulher Negra revela que meninas negras são as mais atingidas pelas desigualdades educacionais.

Destaque em Notícias Gênero e Educação. Em arte de colagem, é possível ver uma foto de uma criança negra olhando acenando

É notório que o direito à educação nunca foi realidade para todas as crianças e adolescentes no Brasil. Contudo, a pandemia de COVID-19 tem agravado ainda mais um cenário já bastante comprometido, causando impactos irreversíveis à educação no Brasil, onde a maioria das escolas não conta com o suporte necessário para o oferecimento do ensino remoto ou a distância. No que diz respeito às meninas negras, a pesquisa A educação de meninas negras em tempos de pandemia: o aprofundamento das desigualdades, realizada por Geledés Instituto da Mulher Negra no município de São Paulo, revela que elas são as mais atingidas pelas desigualdades educacionais.

Os impactos da pandemia na trajetória educacional das estudantes negras evidenciam que o encontro das opressões de gênero e raça determinam lugares e possibilidades distintas na vida em sociedade, limitam sua trajetória escolar e impactam negativamente suas perspectivas de futuro. Ao falarmos de crianças e adolescentes negros, estamos abordando sujeitos que enfrentam privações ainda mais densas no acesso à alimentação adequada, à moradia segura, à permanência na escola, dentre outras violações de direitos que assolam suas vidas.

Destacar a situação das meninas negras não é ignorar as violações que atingem as demais parcelas vulneráveis da sociedade brasileira, mas sim reconhecer que são elas as maiores vítimas do trabalho infantil doméstico, da exploração sexual infantil, da gravidez na adolescência, do casamento infantil, todas estas violações que se agravaram durante a pandemia.

Este cenário indica que quando todas as crianças estiverem preparadas para voltar à escola pós pandemia, as meninas negras não estarão lá, ou estarão em números ainda menores. Por isso, as entidades que subscrevem a presente “Carta-compromisso pelo direito à educação das meninas negras reconhecem a necessidade de olhar para a situação deste grupo específico a partir das suas especificidades e subjetividades, para que nenhuma menina negra fique ainda mais para trás nesta sociedade, já tão desigual onde as crianças e adolescentes negras são as últimas da fila depois de ninguém.

Mais vulnerabilidade, menos acesso

A pesquisa também revelou um efeito dominó causado pela pandemia: a ausência de um tipo de serviço na vida das pessoas ocasiona diversas outros tipos de violações, demonstrando que os direitos fundamentais são indivisíveis e interdependentes até mesmo na ausência – não é apenas na garantia dos direitos que eles se somam, mas a ausência de um dos direitos subtrai inclusive aquilo que estiver funcionando. Neste sentido, a criança sem acesso à escola está menos visível e mais vulnerável às situações de violência, têm menos refeições por dia a depender das condições de sua família e seus direitos de aprendizagem estão sendo violados.

As meninas negras, como grupo mais vulnerável, ao tomar medidas específicas para proteger seus direitos, em especial à educação, todas as outras crianças também serão protegidas, contudo, o contrário não garante a proteção de seus direitos. Desta forma, são urgentes as seguintes ações para a garantia e efetivação do direito à educação das meninas negras, e consequentemente de todas as crianças:

1 – Políticas de redistribuição de renda que garantam condições financeiras e segurança para que as famílias em contexto de vulnerabilidade possam cumprir o período de isolamento social;

2 – Acompanhamento e orientação das famílias para a realização das atividades escolares e garantia de outros direitos durante o período de isolamento social;

3 – Disponibilizar equipamentos e o acesso universal à Internet gratuito para estudantes da educação básica e profissionais da educação durante o período de ensino remoto;

4 – Busca ativa de estudantes que evadiram durante o período do ensino remoto, com recorte de raça e gênero, com a realização de pesquisa sobre as condições para o cumprimento das atividades escolares e elaboração de políticas públicas para a permanência desses grupos nas escolas;

5 – Criação de políticas e programas de ações afirmativas na educação voltados aos estudantes negros e às meninas negras, com metas de equalização para a redução das desigualdades educacionais;

6 – Formação de profissionais da educação em raça e gênero;

7 – Implementação de propostas pedagógicas que contemplem raça e gênero;

8 – Monitoramento das condições de vida das crianças e adolescentes nos territórios mais vulneráveis, e acompanhamento da aprendizagem.

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Fonte: Portal Geledés