Cultura e educação se unem para promover direitos humanos: ONG Ação Educativa lança 4ª edição do Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica

Com foco em práticas pedagógicas inovadoras e interseccionais, a iniciativa busca fortalecer o enfrentamento às desigualdades de gênero, raça e diversidade sexual nas escolas brasileiras

Imagem de matéria "Cultura e educação se unem para promover direitos humanos: ONG Ação Educativa lança 4ª edição do Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica" do site Gênero e Educação. Um grupo de vogue se apresenta animadamente

A Ação Educativa, em parceria com uma ampla rede de organizações e com apoio do Fundo Malala, lança a quarta edição do edital “Igualdade de Gênero nas Escolas: Fortalecendo novas narrativas a partir da cultura”, com inscrições abertas a partir de 28 de abril de 2025. O objetivo é selecionar e valorizar relatos de experiências, planos de atividades, planos de aula e sequências didáticas que promovam a igualdade de gênero na educação básica, em instituições públicas e privadas de ensino.  

A iniciativa busca responder aos crescentes desafios enfrentados por educadoras e educadores que atuam com temas de gênero, raça e diversidade sexual no ambiente escolar, especialmente diante de tentativas de censura, intimidação e disseminação de desinformação por parte de movimentos ultraconservadores.   

“Queremos valorizar a atuação de educadoras, arte-educadoras, artistas e ativistas que têm buscado diferentes formas de promover reflexões sobre as desigualdades sociais, de gênero e de raça”, explica Bárbara Lopes, coordenadora do projeto Gênero e Educação da Ação Educativa. “Acreditamos que a cultura abre um olhar novo para a nossa realidade, ajuda a questionar aspectos que ficam invisibilizados e a imaginar possibilidades de vida em comum.”      

A cultura como resposta à censura e à intolerância

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), o Brasil registrou mais de 2.000 feminicídios nos últimos dois anos, além de uma escalada alarmante de violência contra pessoas LGBTQIAPN+. No campo da educação, estudos do coletivo Professores contra o Escola Sem Partido (PCESP) e da Frente Nacional Escola Sem Mordaça apontam para o aumento de iniciativas legislativas que tentam restringir o debate de gênero nas escolas, em desrespeito à Constituição Federal e a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que reafirmam o direito à abordagem de gênero e sexualidade no ambiente escolar.       

Nesse contexto, o edital representa uma forma concreta de resistência, mobilizando saberes e experiências que unem a arte, a cultura popular e a pedagogia como caminhos para o enfrentamento das desigualdades. Serão especialmente valorizadas propostas que adotem uma abordagem interseccional, articulando gênero, raça, diversidade sexual e questões como saúde mental, racismo ambiental, intolerância religiosa, entre outros temas.

O que será selecionado?

Educadoras(es), coletivos, movimentos sociais, arte-educadoras, universidades e demais interessadas(os) poderão inscrever até duas propostas, que podem ser implementadas em escolas, creches ou outros espaços educativos. As propostas aprovadas integrarão um Banco Público de Planos de Aula (disponível no site www.generoeeducacao.org.br) e as dez mais criativas e engajadoras receberão declaração de reconhecimento público, certificado e um vale-livros no valor de até R$ 600 da Livraria Africanidades.

“A consistência, diversidade e criatividade das propostas pedagógicas que compõem nosso banco mostram o quanto nossas comunidades educativas estão comprometidas com a justiça social”, pontua Bárbara Lopes. “As políticas educacionais precisam estar à altura dessas comunidades, com medidas de proteção à liberdade de ensinar e de aprender e de valorização docente.”

Cultura como ferramenta de transformação social

O edital também visa estimular o uso pedagógico da cultura como ferramenta de transformação social, conforme reforça Bárbara: “O trabalho com obras culturais, quando feito com intencionalidade pedagógica, é muito poderoso para o aprendizado e para a transformação social. Esperamos que o edital inspire novas práticas e crie redes entre quem atua na ponta, de forma criativa e comprometida.”

Além do fortalecimento do campo educacional, o projeto se propõe a combater estereótipos e promover uma educação inclusiva, diversa e plural, em consonância com os marcos legais e os princípios constitucionais da liberdade de cátedra, da pluralidade pedagógica e da promoção dos direitos humanos.

ACESSE O DOCUMENTO DO EDITAL COMPLETO

Inscrições: Entre os dias 28 de abril e 13 de junho

Mais informações e inscrições: https://bit.ly/edital-igualdade-genero2025

Reconhecimento: 10 propostas com maior destaque receberão certificado, vale-livros e reconhecimento público


Sobre a Ação Educativa

Fundada em 1994, a Ação Educativa é uma associação civil sem fins lucrativos que atua nos campos da educação, da cultura, da juventude, da tecnologia e do meio ambiente na perspectiva dos direitos humanos.  

Para tanto, realiza atividades de formação e apoio a grupos de educadoras/es, jovens e agentes culturais. Integra campanhas e outras ações coletivas que visam à garantia desses direitos. Desenvolve pesquisas e metodologias participativas com foco na construção de políticas públicas sintonizadas com as necessidades e interesses da população. 

É sua missão a defesa de direitos educativos, culturais e das juventudes, tendo em vista a promoção da democracia, da justiça social e da sustentabilidade socioambiental no Brasil.

Conheça mais em: https://acaoeducativa.org.br/.

INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA – AGÊNCIA PAUTA SOCIAL

Adriana Souza Silva (11) 98264-2364 | adriana@agenciapautasocial.com.br
Mayara Martins (11) 95982- 8675 | mayara@agenciapautasocial.com.br
Rafaela Eid (65) 99802-1610| rafaela@agenciapautasocial.com.br

Do esporte a ancestralidade: Banco de Planos ganha novas propostas focadas na igualdade de gênero nas escolas

Com a inclusão de novos planos e relatos, o Banco de Planos do site Gênero e Educação já conta com 190 propostas pedagógicas, fortalecendo o direito das comunidades escolares abordarem gênero e sexualidade.

Do esporte a ancestralidade: Banco de Planos ganha novas propostas focadas na igualdade de gênero nas escolas

O projeto Gênero e Educação da Ação Educativa atualizou seu banco de planos, disponibilizando novas propostas pedagógicas em seu site, e convida as comunidades escolares a conhecerem os trabalhos dos educadores selecionados.

Em 2023, o projeto Gênero e Educação lançou a terceira edição do edital, com o tema: “Enfrentando o sexismo, racismo e a LGBTQIAfobia na escola”. Naquele ano, como parte das ações do ciclo comemorativo promovido pela Ação Educativa, pelos 20 anos da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional pela Lei 10.639, a edição teve como objetivo selecionar propostas que dialogassem com a interseccionalidade e o combate às desigualdades de gênero e raça em espaços educacionais.


Sobre o Edital Igualdade de Gênero

A primeira edição do edital aconteceu em 2020, convidando integrantes de comunidades escolares, movimentos sociais e organizações da sociedade civil a participar. O edital recebeu mais de 270 inscrições de diversas partes do país em sua estreia.

Em uma cerimônia de reconhecimento público, o ativista e educador paquistanês Ziauddin Yousafzai – pai da ganhadora do Prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai – participou do evento e parabenizou os participantes. Demonstrando-se inspirado pela iniciativa, afirmou que a igualdade de gênero é um elemento fundamental na educação de estudantes e que sua abordagem protege meninas da violência.

“Como para como pai e professor, quero dizer que a igualdade de gênero é o valor mais importante que precisamos transmitir aos nossos filhos por meio da educação. Costumo dizer que, qualquer sistema educacional que não transmita o valor da igualdade aos nossos filhos, significa que há algo de errado com a qualidade da educação” afirmou o educador.


Novas propostas no Banco de Planos

Após análise da equipe do projeto, novas propostas foram recentemente adicionadas ao Banco de Planos Igualdade de Gênero, disponível gratuitamente no site. As iniciativas incluem desde planos de aula até relatos de experiências, abordando diferentes perspectivas e contextos educacionais.

Do esporte à ancestralidade, em diferentes espaços e contextos, os temas das propostas estabelecem a dimensão de gênero como um campo frutífero para o diálogo, a troca de experiências e a construção de relações e afetos.

As propostas abordam desafios como as desigualdades de gênero e raça na tecnologia e no futebol, além de incentivarem e apresentarem caminhos para discutir temas como racismo e ancestralidade não somente nas disciplinas de humanas, mas também nas aulas de biologia.

Título da propostaAutoria
Trabalhar em redes e teias: Coletivo ERER+T. Angel
Desconstruindo estereótipos: Diálogos sobre igualdade de gênero na escolaJaqueline Batista Cordeiro e Henrique Fernando Peres
Ancestralidade para além dos genesRavenna Horana Alves da Silva
Girls Evolution: Promoção da cultura esportiva feminina negraMarielson Nascimento Alves
Mulheres nas áreas de Ciências e TecnologiaJanaina Martins de oliveira
Galinha Pintadinha e os estigmas sociais: Uma reflexão críticaCarla Santos Pinheiro
Mas só tem curso de menino? Promovendo reflexões de gênero em aulas de inglêsLeonardo da Silva

Vem aí o Edital Igualdade de Gênero 2025

Em abril, a Ação Educativa lançará publicamente a quarta edição do Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica, convidando comunidades escolares, estudantes, profissionais da educação, pesquisadores, arte-educadores, movimentos sociais, coletivos juvenis, artísticos e literários, além de organizações da sociedade civil, a inscreverem suas propostas. Mais informações estão disponíveis no site generoeeducacao.org.br.

Dúvidas e informações:
generoeeducacao@acaoeducativa.org.br

Os impactos do ajuste fiscal na Educação

Congresso aprovou proposta do governo federal autorizando que recursos possam ser retirados do Fundeb

Os impactos do ajuste fiscal na Educação

Às vésperas do recesso parlamentar de 2024, o Governo Federal conseguiu aprovar a PEC do Ajuste Fiscal (54/2024), que estabelece limites de gastos para o governo nos próximos anos. O texto aprovado afeta significativamente a Educação – e poderia afetar ainda mais, não fossem os protestos durante a tramitação da PEC. A principal alteração tem a ver com a destinação dos recursos do Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb), que agora poderá destinar parte de seus recursos exclusivamente para a Educação Integral. 

O que é o Fundeb

O Fundeb é o principal mecanismo de financiamento da educação básica pública brasileira, e é uma contribuição obrigatória de municípios, estados e União. Sua versão atual foi aprovada e constitucionalizada em 2020, após cinco anos de tramitação e debate. 

O Fundo custeia principalmente o pagamento das profissionais do setor e a infraestrutura das escolas e demais recursos que assegurem a qualidade da educação. A grande alteração aprovada em 2020 foi o aumento gradual da complementação da União. Isto é, do repasse de recursos do Governo Federal para os estados e municípios, que possuem menor capacidade de arrecadação de impostos. A estimativa é que em 2025 essa complementação seja de cerca de 56 bilhões de reais. 

Com mais recursos (ou “maior complementação”) da União, aumentou-se o montante a ser investido na educação básica, bem como seu potencial de corrigir desigualdades. Isso porque o ente com mais recursos (a União) passa a contribuir mais do que os que têm menos (estados e municípios), com base em diferentes mecanismos para essa complementação, inclusive um que considera as desigualdades educacionais, o VAAR. 

O que mudou? 

No fim de 2024, o governo federal apresentou ao Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para contenção de gastos obrigatórios, conhecida como a PEC do Ajuste Fiscal. Essa PEC faz parte das medidas de austeridade fiscal da gestão, que incluem o Arcabouço Fiscal. Aprovada em 2024, as alterações já estão em vigor. 

A Educação foi incluída nesse pacote com a flexibilização no uso de recursos do Fundeb: em 2025, até 10% da complementação da União poderá ser usada para o fomento à manutenção de matrículas em tempo integral. Isso significa que o governo federal vai poder usar recursos do Fundeb, que é uma despesa obrigatória em Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE), para investir em educação integral – ao invés de prever recursos específicos para um programa próprio da modalidade. A proposta original apresentada pelo governo propunha o dobro: que até 20% dos recursos da complementação pudessem ser destinados para a Educação Integral, uma economia que o governo estimou em quase 5 bilhões de reais

A vice-presidenta da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca), Nalu Farenzena, explica que o valor que a União vai acrescentar ao Fundeb não muda, mas sim as regras de como ele pode ser utilizado. “O valor da complementação não diminui, mas é como se fosse criado mais um mecanismo, uma modalidade de complementação, além das que já temos (VAAF, VAAT e VAAR). É uma autorização para usar o dinheiro de outra maneira, e nesse sentido altera as regras do Fundeb”, explica. 

A versão aprovada também amenizou a flexibilização ao determinar que o limite de 10% vale internamente para cada mecanismo de complementação. Ou seja: não é possível tirar de um único mecanismo (dos 3 existentes) todo o valor que se deseja remanejar para a educação integral. Seria uma forma de assegurar que nenhum dos três critérios possa ser particularmente desidratado. 

A proposta do Executivo foi alvo de severas críticas de várias vozes e entidades da Educação, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a Fineduca, que divulgaram notas contrárias à proposta do Executivo. 

A Campanha chamou o texto aprovado de “vitória parcial” por conseguir reduzir a flexibilização de 20 para 10% da complementação da União – e por conseguir conter uma outra emenda surgida durante a tramitação: a permissão de estados e municípios usarem recursos do Fundeb para alimentação escolar, o que não está previsto nas regras do fundo. “A importante vitória impediu um precedente terrível de colocar o Pnae para disputar recursos da Educação”, diz a nota da entidade, que afirma que a mudança aprovada já é suficiente para enfraquecer a capacidade do Fundeb de reduzir desigualdades. 

O que essa mudança significa? 

Com as alterações sofridas na tramitação, a nova regra não vai economizar tanto como o Executivo pretendia inicialmente, mas ainda terá impactos no financiamento da educação básica. Nalu Farenzena, vice-presidenta da Fineduca, explica que, na prática, um recurso da casa de 6 bilhões de reais será retirado da Educação. “A decisão foi manter o programa de escola em tempo integral, mas deixando de alocar recursos específicos e sim usando o do Fundeb, o que é criar uma quarta modalidade de complementação cujos critérios não foram acordados nos 5 anos em que a proposta do Fundeb foi debatida no Congresso”. 

A preocupação em relação à nova regra é potencializada porque o novo Fundeb ainda está em fase de implementação. Segundo o que foi aprovado em 2020, o aumento da complementação de recursos da União cresceria gradualmente até 2026, quando chegaria a 23%. Ou seja: as regras já foram alteradas antes mesmo do Fundo estar plenamente implementado. “Nós batalhamos muito pelo aumento da contribuição do governo federal para estados e municípios, por mais recursos e não por menos. E aí essa medida anularia praticamente todo o percentual conquistado na aprovação do Fundeb”, critica Cleo Manhas, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), que enfatiza a gravidade da proposta original de flexibilizar até 20% da complementação. Ela destaca que mesmo com o aumento gradual de recursos, o Fundeb vem operando num limite em relação ao montante necessário para a educação de qualidade, o que seria “apostar na precarização”. 

O Professor de Direito e Políticas Educacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Salomão Ximenes, na época da apresentação da proposta ao Congresso, enfatizou que “por mais meritório que possa ser o dito programa [de Educação Integral], não elimina o fato de que estarão desviando 20% [depois 10%] do Fundeb em plena etapa de consolidação, (…) sem avaliação de resultados e de impacto, sem dialogar com Estados e Municípios que sairão prejudicados e impondo um improvável retrocesso no financiamento da educação pública em relação ao conquistado durante o governo Bolsonaro”, disse. 

Como a fala de Salomão indica – e movimentos sociais e entidades da Educação concordam -, o problema não é assegurar recursos para a educação integral e sim a manobra para que isso seja feito via Fundeb e não com programas próprios para este fim. A nota técnica da Fineduca lembra que o Fundeb já tem mecanismos que valorizam a educação integral, como os fatores de ponderação, que ainda poderiam ser aprimorados se fosse esse o objetivo. A assessora política do INESC, Cleo Manhas, reforça ainda que mesmo o ganho para educação integral é extremamente limitado se o resto da educação básica continua subfinanciada. “Não adianta dar uma poupança para estudantes [com o programa Pé de Meia] e não melhorar a escola que estão obrigados a estudar e que continua sem condições, com docentes em contratos temporários. Não adianta dizer que vai cumprir a educação em tempo integral dessa maneira tão precarizada. Educação em tempo integral exige escolas com muito mais infraestrutura, não é apenas colocar uma placa, é preciso ter uma escola atraente, com várias atividades, e não é isso que vemos”. 

Cleo critica ainda a falta de estudos sobre os impactos de uma alteração desse porte: “Como estados e municípios vão fazer uma política de educação em tempo integral se não foi feito nenhum estudo de impacto? A proposição não veio acompanhada dos cálculos, da descrição dos objetivos e indicadores afetados, por exemplo, bem como de medidas de compensação para esse corte”. Por isso, entidades como a Fineduca têm afirmado que as novas regras do Fundeb alteram o papel do fundo de combater as desigualdades educacionais. Em nota, a Associação afirma que “o MEC contribui com o corte de gastos demandado pelo mercado financeiro, a pretexto da estabilidade fiscal do país, mas às custas da redução do potencial equalizador do Fundeb”. 

Na mesma linha, a CNTE destacou que o texto aprovado pode comprometer a manutenção e investimentos das políticas em andamento, especialmente o pagamento da folha de pessoal da educação na esfera municipal – cerca de 70% do montante do Fundeb é destinado à valorização de profissionais da Educação. Já a Undime ressaltou que a alteração pode reduzir a autonomia dos entes federados, uma vez que parte da complementação poderá ficar “carimbada” para um uso específico, e que essa imposição desconsidera as especificidades dos municípios. 

Por fim, há ainda dois pontos que preocupam sobre os impactos do ajuste fiscal na Educação: que a nova regra possa de alguma maneira descaracterizar o Fundeb; e a falta de tempo e diálogo com a sociedade em sua proposição. Para Nalu Farenzena, vice-presidenta da Fineduca, a nova redação do Fundeb pode descaracterizar os critérios de redistribuição do Fundeb, pactuados ao longo de anos de debate público. “A questão que se coloca aqui é o precedente que foi aberto, da exigência de que os recursos do Fundeb devam ser direcionados para isto ou aquilo. Durante o processo de tramitação de 2015 a 2020, uma das emendas aprovadas dizia que uma parte dos recursos deve ser aplicada na educação infantil – o que foi, portanto, uma prioridade amplamente discutida. Fora a grande prioridade do Fundeb, que é aplicar 70% dos recursos em remuneração de profissionais. Então colocar agora mais uma prioridade e sem discussão é uma interferência, inclusive sobre a autonomia dos entes federativos, e um precedente”, alerta Nalu. “A sociedade brasileira não teve a oportunidade de discutir essa prioridade nem em que termos ela se daria”. 

Nalu reconhece vários movimentos positivos no financiamento educacional desde o início da atual gestão de Lula, mas pondera suas limitações frente a um cenário mais generalizado de austeridade fiscal com fortes impactos em áreas sociais. “O Brasil não está aproveitando a oportunidade de levar adiante a discussão da implementação do Custo Aluno-Qualidade de educação básica. Isto é, de passarmos a realizar o planejamento da área da educação pensando nos recursos que são necessários para assegurar educação de qualidade, o que levaria inclusive ao cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação. Como realizar todas as metas se não aumentamos o nível do recurso?”, questiona. 

A assessora política do INESC, Cleo Manhas, também é enfática sobre os efeitos das políticas de austeridade na educação e no enfrentamento de desigualdades: “Saúde e educação têm grandes orçamentos, mas dado o tamanho do público-alvo é fácil de ver que é um orçamento muito incipiente. E dessa forma podemos chegar em um ponto inviável para políticas sociais, especialmente porque temos ainda um passivo a ser resolvido que vem desde a pandemia. O arcabouço fiscal está caminhando para uma política recessiva tanto quanto o Teto de Gastos, e com o agravante de que um governo de centro-esquerda é muito mais cobrado do que governos de direita”, pondera. “ O Ministério da Fazenda devia ser um Ministério “meio” e não um Ministério “fim”, mas a economia virou um fim. Estamos reféns desse discurso econômico”. 

Na América Latina, ofensivas antigênero também miram as escolas: educação sexual é um dos principais alvos

Educação é área central nas ofensivas contra gênero, sexualidade e democracia

Na América Latina, ofensivas antigênero também miram as escolas: educação sexual é um dos principais alvos

A tramitação do atual Plano Nacional de Educação (PNE), em 2013, inaugurou uma nova fase nas ofensivas antigênero no Brasil. As forças ultraconservadoras conseguiram com que todas as menções ao gênero fossem suprimidas do texto que norteia as políticas educacionais do país, o que fez aumentar a censura e perseguição nas escolas, só revertidas com muita mobilização. Mas ofensivas como essa não se deram apenas no Brasil. Ao contrário, fazem parte de um contexto mais amplo de ataques que continuam em curso na América Latina. 

Essas investidas assumem diferentes formas e estão conectadas com ataques à democracia e à educação de forma mais ampla. Em países como Nicarágua e Venezuela, que vivem um cenário generalizado de enfraquecimento democrático, os desmontes na educação vão além do gênero. A Argentina também caminha rapidamente para essa direção, com ataques ferozes em políticas já consolidadas. Esse país, assim como o Chile, é um bom exemplo de como as políticas antigênero estão também relacionadas a um pensamento neoliberal, que tem como horizonte a redução do Estado na educação. 

“Os países onde percebemos maiores problemas de liberdade acadêmica são aqueles onde há maior erosão democrática. Essa correlação é possível, o que não quer dizer que o problema não exista nos demais países”, resume Camila Croso, diretora da Coalizão pela Liberdade Acadêmica nas Américas (CAFA, na sigla em inglês). A CAFA documentou 409 ataques a estudantes, docentes ou instituições de ensino em 66 países entre 2022 e 2023. Na América Latina, os destaques negativos são Nicarágua e Venezuela, cujos regimes vêm reduzindo os espaços cívicos, chegando a fechar universidades. “São países onde de fato há um sequestro, uma perda total da autonomia em todas as suas dimensões – financeira, administrativa e pedagógica”, explica Camila.

Em relação a gênero, a diretora da CAFA pontua que os ataques vêm tanto via censura temática (interdição ou sanções por falar do assunto) como via assédio, inclusive sexual, e têm profundos impactos para as denunciantes. “Se as mulheres se posicionam, se mobilizam para defender as vítimas ou se são elas mesmas vítimas, são revitimizadas. E passam a sofrer uma perseguição tão grande que impacta a liberdade acadêmica, pois passam a ser marginalizadas naquele ambiente”, descreve a diretora, enfatizando que esses casos independem do estado geral da democracia. “Isso é o patriarcado instalado em qualquer sistema, sistemas democráticos ou não democráticos”. 

A Argentina tem dado exemplos de ataques e desmontes no campo educacional que também afetam questões de gênero. No último mês, o presidente Javier Milei conseguiu vetar o reajuste no orçamento das universidades públicas, mesmo com protestos massivos nas ruas. Além disso, políticas consolidadas, como a lei de educação sexual integral de 2006, estão sob ataque. “O momento da Argentina lembra muito a era Bolsonaro no Brasil: desfinanciamento radical, desmonte absoluto da educação, da ciência, da pesquisa. Agora não há mais Ministério da Educação e sim Ministério do Capital Humano, o que já diz tudo. É um desmonte do sistema educacional”, alerta Camila Croso.

Essa também é a opinião de Graciela Morgade, doutora em Educação e especialista em educação sexual. Mas as medidas do presidente contra o gênero são igualmente graves. “Na Argentina, as ofensivas antigênero também abarcam o campo da educação, mas não de uma maneira tão visível – como foi, por exemplo, o fim do Ministério das Mulheres. É menos visível porque o tema central [da educação] no debate público é o financiamento, mas o programa de Educação Sexual Integral (ESI) também está sendo atacado”, diz Graciela.

Na Argentina, a lei de educação sexual integral (ESI) é de 2006, sendo desde então obrigatório que o sistema educacional oferte esses conhecimentos a educandas e educandos. Segundo Graciela, da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (UBA), a ESI, embora seja uma política consolidada, sempre teve problemas de implementação. Mas agora sofre uma ameaça de outra natureza. Os novos responsáveis pela área no governo são pessoas ligadas a setores religiosos ultraconservadores, que agora agem para descaracterizar essa lei de referência regional. Em outubro, por exemplo, o Ministério do Capital Humano contratou uma ONG chilena que promove a abstinência sexual como método contraceptivo para dar uma oficina a docentes, gestores e profissionais da educação que implementam a ESI em Buenos Aires. A oficina foi dada na sede da Secretaria (ex Ministério) de Educação. 

“Também está se adotando um discurso muito perigoso de que a educação sexual deve deixar de ser integral para focar somente na prevenção de gravidez e das ISTs e, por outro lado, um discurso relacionado a emoções, no sentido de controlar, esconder e reprimir ‘emoções negativas’”, complementa a professora da UBA. Mas movimentos de defesa da lei e da educação sexual integral seguem ativos e vigilantes para frear os retrocessos, como o Movimiento Federal X Más ESI, um coletivo que enxerga a ESI como um “projeto de justiça e de igualdade para a melhora da qualidade de vida de todas as pessoas”. “Estamos conectados em todo o país e temos o firme propósito de resistir e promover a formação em ESI nas universidades, sindicatos, etc. Vamos multiplicar a resistência”, diz Graciela. 

Educação: alvo prioritário, mas parte de contexto antigênero mais amplo

É consenso entre pesquisadoras e pesquisadores do tema que os ataques às pautas de gênero, sexualidade e diversidade sexual na América Latina podem não se limitar à educação, mas têm nela uma prioridade. Alguns dos maiores e mais influentes movimentos da região nos últimos anos tinham esse foco, como o Escola Sem Partido, no Brasil, e o Con Mis Hijos No Te Metas (Não mexa com meus filhos), que começou no Peru mas atua em vários países. E esses movimentos obtiveram várias vitórias. Por exemplo, em 2017 o Ministério da Educação do Paraguai aprovou uma resolução proibindo materiais que debatessem gênero na escola, acionando a ameaça da “ideologia de gênero”. Um ano depois, inaugurou-se uma campanha com o mesmo objetivo na Argentina, logo após o Congresso do país discutir mudanças na lei do aborto.

Para saber mais sobre políticas antigênero na América Latina, conheça o projeto Gênero e política na América Latina.

Para saber mais sobre os casos de Peru e Paraguai, acesse o estudo “Efeito das ações e estratégias antigênero no Paraguai e no Peru” (em espanhol).

Esses ataques vão além de seus contextos nacionais, já que as principais vozes por trás de ofensivas contra o gênero e a diversidade sexual estão em constante diálogo e articulação. Isso quando não se tratam dos mesmos atores – caso, por exemplo, de setores religiosos ultraconservadores católicos e/ou evangélicos, relevantes em vários países. As pesquisadoras Juliana Martínez, Gabriela Ardila Biela e Valentina Gómez recentemente publicaram uma investigação mostrando como os grupos “restritivos de gênero” baseados na fé estão utilizando a infância e o discurso da proteção infantil para gerar pânico moral e mobilizá-lo contra os direitos humanos, especialmente os relacionados à justiça de gênero. Elas alertam também que, ao mobilizarem principalmente o setor educacional e utilizando uma linguagem de direitos humanos, essas ofensivas se expandem para públicos não religiosos. A educação sexual integral (ESI), por exemplo, é apresentada como uma “ameaça para a integridade e bem estar das famílias, da infância e da adolescência”. 

No Peru, o movimento Con Mis Hijos no Te Metas surgiu depois da aprovação de um currículo de ESI com perspectiva de gênero e de direitos humanos. Ao longo dos anos, embora tenha perdido várias batalhas legais para impedir a implementação desse currículo, o movimento conseguiu preparar terreno para que o gênero fosse visto como ameaça. “[Esses grupos] ganharam um amplo terreno cultural que alcançou objetivos importantes: promoveu a ideia de uma ameaça do currículo à autoridade dos pais, posicionou o debate como uma questão entre pessoas preocupadas com as crianças e com um Estado excessivo, o que ajudou a ampliar a base de apoio para pessoas que não são necessariamente religiosas. (…) O triunfo mais importante foi a instalação no imaginário público da palavra ‘gênero’ como um termo perigoso que, em vez de buscar a equidade, traz consigo riscos para as crianças e para a sociedade em geral”, diz o artigo. Na visão das pesquisadoras, esse ganho no imaginário público foi fundamental para que o Peru não tenha, hoje, aprovado leis como as do casamento igualitário ou de adoção por casais homossexuais. 

Ataques à educação sexual

São vários os países na América Latina onde há ou houve ataques às políticas de educação sexual. Além dos já mencionados Peru e Argentina, o Ministério da Educação do Paraguai publicou, em 2017, a Resolução 29.664, que proíbe materiais que difundam a “ideologia de gênero” nas escolas e compromete-se a revisar os materiais existentes. 

Em 2024, uma nova resolução nesse país sobre o tema está chocando o mundo por sua abordagem a gênero, sexualidade e direitos humanos. Em setembro de 2024, o Ministério da Educação lançou um currículo de educação sexual a ser implementado nas escolas. Intitulado “12 Ciências da Educação em Sexualidade e Afetividade”, o documento, entre outras coisas: defende a abstinência sexual, não faz nenhuma menção à comunidade LGBTQIA+ e à identidade de gênero, defende ideias como as de que a masturbação leva à frustração e isolamento e que camisinhas não são confiáveis, além de perpetuar estereótipos de gênero, dizendo que o cérebro de meninas e meninos é diferente. Isso em um país que registra, há anos, algumas das maiores taxas de gravidez na adolescência da América do Sul. 

Mas, como alerta a advogada e feminista Mirta Moragas, este novo currículo é só a ponta do iceberg de um longo processo de ataques ao gênero no Paraguai. Em 2017, a paradigmática Resolução 29.664 foi aprovada num contexto pré-eleitoral. “É interessante que ela proíbe materiais, mas sem dizer quais são e sem revisá-los. Na época, fiz uma solicitação de acesso a informações públicas para ter essas respostas e a conclusão é que não modificaram de fato nenhum material”, comenta Mirta, enfatizando o caráter ideológico e eleitoreiro desse documento, que ainda segue em vigor no Paraguai apesar de inúmeras recomendações de órgãos internacionais pela sua revogação. “Tudo isso faz parte da manipulação das questões de gênero pela facção majoritária do grupo que está no poder há décadas no Paraguai”, acrescenta. 

A resolução de 2017 “apenas” proibia a temática na escola, sem propor nada novo. Como o Paraguai não tinha e continuou a não ter um currículo ou política de educação sexual, isso gerou um certo limbo legal que permitia que organizações comprometidas com os direitos humanos e com a igualdade de gênero atuassem nas escolas. É nesse contexto que se insere o material aprovado em 2024, também na forma de resolução do Ministério da Educação, para tapar essa lacuna. “O que eles estão fazendo é promover uma alternativa à educação sexual abrangente. A partir dessa resolução conseguem proibir qualquer intervenção de organizações da sociedade civil que trabalhem com foco nos direitos. É uma ferramenta que vai se aperfeiçoando na repressão”, avalia Mirta Moragas, advogada especializada em gênero e direitos humanos. 

Mirta enfatiza que a resolução não é de fato implementada, mas isso não significa que não tenha tido efeitos concretos. “O principal problema dessa resolução é que ela criou um efeito paralisante nos professores. Não importa que nenhum material foi modificado, o que o corpo docente entendeu é que não pode falar de gênero”, diz. “O que me preocupa, além do efeito de censura e perseguição gerado, é que na prática os jovens seguem sem nenhuma informação”. E, segundo a advogada, não há perspectiva de mudança a curto prazo. 

“Igualmente preocupante é que há uma cooptação total de todo o Estado por parte de uma facção do partido do governo, que é uma facção muito antigênero. E essas agendas estão sendo manipuladas para os interesses dos grupos políticos de plantão, ficando muito difícil ter uma conversa séria”, lamenta. 

Famílias, liberdade: ataques ao gênero por uma perspectiva neoliberal

Em outro país da região, no Chile, também há entraves para a implementação de uma política de educação sexual integral baseada em evidências e com perspectiva de direitos humanos. Lá, os medos acionados para vetar essa política em nível nacional estão relacionados a valores neoliberais entranhados na Constituição de 1980: a “liberdade” individual e das famílias decidirem sobre a educação de seus filhos. 

Como descreve a pesquisadora Maria Teresa Rojas em uma investigação recente sobre a emergência dos atores antigênero no debate público da educação chilena, a Carta Magna do país dá o respaldo legal ao conceito neoliberal de “liberdade”. “Em virtude da proteção Constitucional que sustenta a liberdade de ensino, os grupos antigênero empreendem ações de intervenção no sistema escolar, criam redes de associações e defendem a objeção de consciência como parte do direito das famílias a se oporem às políticas educativas”, diz. Teresa, que é doutora em Educação e acadêmica da Universidade Alberto Hurtado, chama a atenção que a Constituição chilena – elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet – protege o direito da família a decidir [sobre a educação], e não o direito da criança a uma boa educação.

No país andino, as escolas estão organizadas dentro de um princípio amplo de liberdade de educação. O sistema educacional compreende tanto escolas públicas como privadas, inclusive religiosas – setor que tem sido protagonista nas recentes investidas conservadoras na educação chilena. A privatização do ensino também é crucial para entender as ofensivas, pois muitas das escolas subvencionadas ou que recebem vouchers do Estado – e que acabaram se consolidando como atores relevantes no debate – são as que se opõem às agendas de gênero e educação sexual. 

A educação, no Chile, tornou-se um campo de batalha ideológica em relação às questões de gênero e sexualidade já nos anos 1990, mas, como no Brasil, essas batalhas se acirraram na última década. Desde 2021, o Chile chegou a votar duas propostas de textos para uma nova Constituição – sendo que a primeira estabelecia que a educação incorporasse permanentemente a perspectiva de gênero e que a população tivesse acesso à educação sexual -, mas ambas foram rejeitadas pela população em plebiscito.

Teresa avalia que no Chile o que se vê é uma mistura entre neoliberalismo econômico e conservadorismo moral de origem religiosa, muito bem sucedida em penetrar no imaginário a ponto de ser entendida como um traço cultural do país, ainda que a sociedade chilena esteja menos religiosa nos últimos anos. “Esse grupo religioso, organizado em rede e politicamente, tornou-se visível para a sociedade chilena em 2017, antes disso parecia algo anedótico e marginal”, avalia. Teresa se refere a um período em que circulou no país um ônibus laranja de uma organização ultraconservadora espanhola, que usava a hashtag #ConMisHijosNoTeMetas – movimento que hoje tem grande influência na política do país. À época, o Chile discutia a reforma em sua lei do aborto e uma nova lei sobre identidade de gênero. Desde então, esses atores ganharam mais espaço na política do país. Tanto é que, para Teresa, o Chile vive o ressurgimento de um discurso conservador sobre a educação, liderado por atores conservadores de extrema-direita e grupos evangélicos que criticam o avanço do debate sobre gênero, sexualidade e diversidade nas escolas.

Essas investidas contra o gênero e a educação sexual se operacionalizam basicamente pela defesa radical do direito das famílias decidirem o tipo de educação sexual que seus filhos vão receber, pela oposição entre Estado e família e por deixar em segundo plano discussões como a de violência de gênero. E são enquadradas em uma linguagem de direitos (“direito a decidir”, “liberdade”, etc), o que aumenta seu alcance. “Por exemplo, não é que não exista homofobia, mas não acho que a sociedade chilena seja contra os homossexuais na escola. O que é muito bem sucedido é mobilizar o discurso para que seja sobre como o Estado não tem direito de fazer com seus filhos algo que você não pode controlar”, avalia Teresa Rojas. “Isso tem muita adesão no Chile”.

Resistências múltiplas: estudantes, feministas, juventudes 

Nenhuma dessas ofensivas, no entanto, se dá sem resistências. No Chile, Argentina,  Paraguai ou qualquer outro país da região, os grupos que atuam por uma educação que aprofunda desigualdades também acumulam muitas derrotas. Não fossem grupos feministas, de estudantes, coletivos juvenis ou de profissionais da educação, o cenário seria muito pior. “A mobilização dos estudantes é de tirar o chapéu, inclusive na defesa das professoras perseguidas”, ressalta a diretora da CAFA, Camila Croso. 

Além disso, observatórios e grupos como a Articulação Contra o Conservadorismo na Educação, no Brasil, que conseguiu várias vitórias via Judiciário, seguem vigilantes. Assim como os movimentos feministas, que vão às ruas, denunciam violações e promovem políticas inclusivas em seus contextos. “No Chile, há vários coletivos de professoras feministas que se organizaram em redes e que têm um certo ativismo pedagógico, liderando a conversa sobre educação sexual abrangente. Também há diretoras e professoras feministas muito preocupadas com essas questões nas escolas buscando recursos, convidando para palestras, denunciando”, elenca Teresa Rojas. Além desses movimentos de base, ela destaca lideranças políticas locais progressistas como atores-chave na resistência. “É muito importante quando o município é progressista e há uma administração aberta, que se interessa por essas questões e constrói uma agenda crítica que denuncia os movimentos antigênero”, acrescenta. A pesquisadora também reforça o papel dos estudantes no contexto chileno, enfatizando que pautas de gênero e sexualidade são demandadas pelos próprios jovens. 

Essa é uma conclusão similar às que chegaram as pesquisadoras Juliana Martínez, Gabriela Ardila Biela e Valentina Gómez ao analisar pesquisas no contexto colombiano – e que conversam com dados obtidos no Brasil. Também os pais, mães e responsáveis pelos jovens em idade escolar têm atitudes positivas em relação à educação sexual – desde que não estejam imersos em um contexto de pânicos morais. Ou seja, sem “estímulos” negativos e desinformação. “Esses dados apontam para a importância de continuar mobilizando recursos e estratégias de comunicação não reativas e a longo prazo”, concluem. 

O caso paraguaio também mostra a importância da conjuntura e das alianças estratégicas. Como explicou a advogada feminista Mirta Moragas, o novo currículo em educação sexual aprovado no país é tão absurdo e evidentemente prejudicial que vem aglutinando diferentes setores para questioná-lo e ao governo. Inclusive porque os mesmos grupos que o aprovaram caminham para aprovar medidas que restringem o espaço cívico – por exemplo, criminalizando organizações da sociedade civil. “A vergonha internacional foi e está sendo muito importante. E agora há organizações de direitos humanos, feministas, mas também organizações ambientalistas, de direitos indígenas. Porque o Paraguai está discutindo uma lei anti-ONGs cuja argumentação é sustentada por um discurso antigênero. Agora outros campos começam a perceber que o discurso antigênero não é somente contra as feministas ou o movimento LGBT. Isso é positivo porque tem ajudado a unir um pouco mais a sociedade civil e a construir solidariedade entre os movimentos”, finaliza.


Nana Soares é jornalista pela ECA-USP e mestre em Gênero e Desenvolvimento pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento (IDS – University of Sussex), na Inglaterra

Sociedade civil promove seminário sobre pesquisa que aborda gênero nas políticas educacionais

A pesquisa propõe recomendações para a igualdade de gênero nas políticas educacionais do Brasil. Seminário dos resultados preliminares acontece em novembro.

Questões relacionadas a gênero tem estado no centro das atenções da sociedade nos últimos anos: por um lado, com o crescimento e visibilidade de ativismos feministas e LGBTQIA+, em particular de pessoas trans; por outro lado, com a disseminação do pânico moral e da censura por grupos ultraconservadores. Como esse contexto tem afetado a educação e como as políticas educacionais podem contribuir para a promoção da igualdade de gênero, raça e sexualidade?

Buscando contribuir com esse debate, A Ação Educativa, Geledés – Instituto da Mulher Negra, Fundação Carlos Chagas, Faculdade de Educação da USP (FEUSP) e Professores contra o Escola Sem Partido desenvolveram coletivamente uma pesquisa sobre gênero nas políticas educacionais. Os resultados preliminares serão apresentados em seminário público no Centro MariAntonia da Universidade de São Paulo, no dia 11 de novembro. O estudo conta com apoio do Fundo Malala.

A pesquisa inclui um balanço de produções teóricas acadêmicas e da sociedade civil, um mapeamento de iniciativas legislativas e uma análise de dados quantitativos sobre as desigualdades que atingem o campo da educação. A partir disso, a pesquisa irá construir recomendações para a promoção da igualdade de gênero e raça nas políticas educacionais e no debate com a sociedade civil.

O seminário tem por objetivo apresentar resultados preliminares desses levantamentos, ampliando as análises a partir do debate com educadoras/es, pesquisadoras/es, estudantes e demais interessados. Além disso, o encontro busca promover reflexões sobre os desafios e possibilidades para políticas educacionais comprometidas com a promoção da igualdade de gênero, raça e sexualidade.

Desafios e a descontinuidade de políticas para a igualdade de gênero

As entidades observaram que o Brasil nunca teve um programa integral de promoção da igualdade de gênero e sexualidade nas políticas educacionais, apesar de todos os avanços conquistados pela luta dos movimento negro, feminista e LGBTQIA+. 

Historicamente, a agenda enfrenta uma grande oposição de setores religiosos e conservadores, e adesão tímida de atores políticos do campo progressista. Segundo a coordenadora do projeto Gênero e Educação, da Ação Educativa, Bárbara Lopes, um dos efeitos mais nefastos da perseguição às agendas de gênero é a disseminação da autocensura entre profissionais da educação. “A estridência dos grupos ultraconservadores cria uma percepção de que a população é muito refratária a pautas de gênero. Mas há pesquisas anteriores, realizadas pela Ação Educativa e Cenpec, que mostraram um grande apoio ao papel da escola na promoção da igualdade”, afirmou.

Analisando o fenômeno da censura, Renata Aquino, do coletivo Professores Contra o Escola Sem Partido, reflete que é preciso fortalecer a resistência frente às novas dinâmicas da extrema-direita e do campo conservador. “O tipo de censura que nós, enquanto sociedade civil, começamos a enfrentar em 2014 e 2015, na tramitação do Plano Nacional de Educação, com o ápice dos projetos Escola Sem Partido, mudou de forma. Além de terem surgido outras estratégias no campo legislativo, a censura se capilarizou no chão da escola e, inclusive, em vezes no ensino superior. Então, a resistência precisa continuar”, diz a pesquisadora.

Além disso, os dados buscam reunir evidências para o encerramento de projetos e programas governamentais antigênero, para o combate dos seus impactos no enfrentamento do racismo e para a elaboração e implementação de normativas voltadas para a promoção da igualdade de gênero nas políticas educacionais. Para Suelaine Carneiro, coordenadora do programa de educação do Geledés – Instituto da Mulher Negra, a construção de um diagnóstico, visando a equidade de gênero e raça como forma de enfrentamento das desigualdades educacionais, é um passo fundamental para se pensar a qualidade na educação. 

A pesquisadora reflete sobre o descompromisso com a implementação do ensino da história e cultura afro-brasileira, somado à descontinuidade de processos focados na educação em gênero e à desvalorização docente. Além disso, Suelaine aponta a necessidade da reconstrução da concepção de cidadania e igualdade no espaço escolar e do combate às situações de vigilância e ataques à educação.

“Nós estamos vivendo um momento em que temos que reconstruir a concepção de educação como um dever do Estado, frente aos seis anos de desmonte que ainda impacta todo o sistema educacional brasileiro. É preciso olhar para os impactos da pandemia e para os desafios presentes no cotidiano escolar. A partir do momento em que as desigualdades educacionais são construídas a partir da diminuição do Estado e sua desobrigação, o diagnóstico se faz importante, pois expõe exatamente a violação do direito à educação e o quanto gênero e raça são fundamentais para construir uma educação emancipatória” afirma Carneiro.

Seminário recebe inscrições até o dia 10 de novembro

O seminário acontecerá em parceria com o Centro MariAntonia da USP no dia 11 de novembro, das 9h às 18h e apresentará os resultados preliminares da pesquisa. O evento contará com mesas e painéis de discussão sobre o fenômeno ultraconservador na educação com diferentes especialistas. Pesquisadores, educadores, estudantes, movimentos sociais e organizações da sociedade civil podem se inscrever via formulário (acesse aqui) para participar até um dia antes do evento (10/10). O seminário conta com certificado de participação.

Confira a programação

9h – Boas vindas e apresentação

9h30 – Mesa 1: Ultraconservadorismo: velhas e novas arenas de luta

A partir de diferentes perspectivas, o diálogo busca ampliar a leitura de contexto de ataques ao gênero, situando o fenômeno ultraconservador em sua ofensiva nas políticas educacionais. 

  • Raça e gênero: compreendendo o fenômeno ultraconservador na educação – Suelaine Carneiro (Geledés – Instituto da Mulher Negra)
  • Ataques legislativos – Renata Aquino (Professores Contra o Escola Sem Partido)
  • Produção acadêmica e da sociedade civil – Thais Gava (Fundação Carlos Chagas)

12h30 -Almoço
Participantes do evento podem sair para almoçar e retornar.

14h30 – Mesa 2: Desafios de gênero na educação

  • Desigualdade entre as mulheres: Gênero, raça e interseccionalidade – Bárbara Araújo (CAp-UERJ)
  • Identidade de gênero – Dayanna Louise (ANTRA)
  • Masculinidades – Alexandre Bortolini (ABETH)
  • Segregação nas carreiras – Liliane Bordignon (Fundação Carlos Chagas)

16h – Intervalo 

16h30 – Mesa 3: Anúncios e possibilidades 

  • Indique Gênero e Plano Nacional de Educação – Denise Carreira (FEUSP)
  • Escola, cultura e território – Jéssika Tenório (Ação Educativa)
  • Coletivos juvenis e comunicação comunitária  – Quinn (Poeta e Slammer)
  • Educação sexual na quebrada – Elânia Francisca (Espaço Puberê)

Serviço
Seminário da Pesquisa “Gênero e Políticas Educacionais”
Dia: 11/11 (segunda-feira)
Horário: das 9h às 18h
Local: Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 294. Vila Buarque – São Paulo–SP)
Inscrições: https://forms.gle/WSqLmdrL6w6ySpt56


A educação antirracista diante do novo ensino médio e da militarização das escolas

Políticas têm sido aprovadas sem atender demandas de estudantes e população negra é a mais prejudicada pelas reformas educacionais

A educação antirracista diante do novo ensino médio e da militarização das escolas

Nos últimos anos, estudantes e escolas de todo país foram impactadas/os por várias mudanças em seu dia a dia: a aprovação do Novo Ensino Médio (Lei 13.415/17), a explosão de escolas cívico-militares, o fechamento das escolas com a pandemia de Covid-19 – nem sempre apoiado por ações que assegurassem a continuidade dos estudos de forma remota – e as várias alterações na lei do Novo Ensino Médio, nunca acompanhadas de aumento de investimento financeiro. Essas várias mudanças tiveram ao menos uma característica em comum: foram construídas e implementadas “de cima para baixo”, sem atender as demandas das e dos jovens, especialmente estudantes negras e negros das periferias, população que é a mais prejudicada pelas reformas educacionais em curso. 

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2023 mostram que cerca de sete em cada 10 jovens que abandonam a escola no Ensino Médio são negras e negros, sendo a necessidade de trabalhar o principal motivo. Apesar da aprovação de uma nova Política para o Ensino Médio em 2024, seguem os desafios com relação ao atendimento educacional de jovens que trabalham, principalmente daquelas e daqueles que abandonaram a escola. E os impactos das reformas educacionais para o Ensino Médio ainda afetam de forma negativa esses/as estudantes. 

Para ser bem sincera, depois da reforma eu dei até uma desanimada da escola, principalmente por causa da parte digital. Sinto que não aprendo tanto só com a tela de celular, é diferente de ter professor explicando. (…) Os mais afetados somos nós que moramos na periferia e, em maior escala, pretos e periféricos. A gente olha mais de fora e vê que quem tem condições melhores, tipo as escolas particulares, não tem o Novo Ensino Médio como a gente. Estou tendo que fazer cursinho popular por fora, e vou concorrer à mesma vaga, com as mesmas exigências, mesmo não tendo o mesmo estudo. Estou indo para a escola para terminar o Ensino Médio, mas dizer que realmente estou aprendendo alguma coisa, eu não estou.

Rebeca*, estudante do 3º ano do EM

Sendo preta e periférica, acho que muitos alunos da minha cor, a gente tem dificuldade de até mesmo seguir com essas plataformas [digitais]. Tá sendo horrível, porque a gente acaba não tendo tempo pra fazer as lições gerais dentro da sala de aula, os professores acabam tendo que fazer um trabalho que não é deles, e isso dificulta muito o ensino. 

Lara, estudante do 3º ano do EM 

Nós queremos ensino médio de qualidade, que a gente possa passar no vestibular, porque projeto de vida não vai me ajudar a passar na Fuvest. Quero que foque exatamente naquilo que a gente precisa pra gente ocupar o lugar que é nosso por direito, porque essa coisa do [novo] ensino médio só foi pra afastar mais e mais a periferia da faculdade. Porque vem aquela coisa “preciso trabalhar”. E dando demandas que a gente não precisa, como projeto de vida, empreendedorismo, afastando a gente mais e mais de uma faculdade pública, a pessoa trabalha mais e mais pra poder pagar uma faculdade particular. 

Bianca, estudante do 3º ano do EM

* Nomes fictícios para os depoimentos das jovens e dos jovens que contribuíram com a reportagem.

Mas o que há de novo no “Novo Ensino Médio”?

Outro fenômeno em franco crescimento em todo o Brasil, e em especial no estado de São Paulo, é a militarização das escolas. Um processo de caráter racista, machista, LGBTfóbico e excludente com estudantes mais vulneráveis, já que a militarização prega pela obediência e pela padronização – que é baseada em ideais brancos, heteronormativos e que privilegia apenas um tipo de masculinidade e feminilidade. 

Por exemplo: em março de 2022, uma estudante baiana negra foi impedida de entrar em sua escola por conta do cabelo crespo, recebendo a ordem de alisá-lo. No mesmo mês, em Santa Catarina, alunas receberam advertência por levar uma bandeira LGBT para a escola. Como destacou Denise Carreira, professora da Faculdade de Educação da USP e integrante da Articulação contra o Ultraconservadorismo na Educação, a militarização “põe a escola a serviço de uma lógica racista de perseguição, de vigilância permanente e de contenção da juventude negra compreendida como uma ameaça à sociedade”. Isso se dá através da imposição de comportamentos rígidos e do silenciamento dos espaços de crítica ao modelo disciplinar militar, além do esvaziamento da gestão democrática e repressão à atuação de coletivos juvenis.

E os dados mostram a urgência de se debater e combater o racismo nas escolas: segundo a pesquisa Percepções do Racismo no Brasil, esse é o tema mais importante a ser debatido, com 69% das pessoas considerando-o prioritário. E cerca de 2 em cada 3 estudantes apontam justamente a escola como o ambiente onde mais o experienciam.

Um dos discursos utilizados para vender o modelo militarizado é de que essas escolas seriam “melhores”. Mas o que os dados mostram é que elas recebem muito mais investimento e que, na verdade, elas já tinham infraestrutura e nota do Ideb acima da média antes de serem militarizadas. E se a adesão à militarização não mudou substantivamente a “qualidade” do ensino nessas unidades, serviu para deixá-las mais excludentes. Isso porque, para aderir ao Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (PECIM), as escolas tiveram que cumprir requisitos como fechar turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de ensino noturno – caracterizadas por receberem estudantes trabalhadoras e trabalhadores. 

“Em geral, o perfil das escolas muda depois da militarização: embranquecem, atendem pessoas com mais condições financeiras, passam a ter congestionamento de carros”, descreve Catarina Almeida dos Santos, professora da UnB e especialista em militarização. Catarina ainda pontua o paradoxo de, por questões de segurança, se cogitar ou implementar um modelo liderado pelas mesmas forças responsáveis pela repressão à juventude negra: “É contraditório militarizar a escola com o discurso de garantir segurança e colocar dentro dela exatamente quem não garante a segurança do lado de fora, especialmente para quem é pobre e negro. É porque a sociedade está insegura que a escola também está, e não o contrário. Chamar os responsáveis por essa falha para resolvê-la não resolve nada”. A professora da Unifesp e membro da Rede Escola Pública e Universidade (REPU), Débora Goulart, complementa: “o que significa para um estudante negro, que tem medo da polícia na rua, tê-la na escola? Sendo a escola esse ambiente que, com todos seus problemas, em geral é onde os jovens conseguem se expressar, se coletivizar e expressar suas identidades. A figura militarizada na escola enfraquece a possibilidade desses grupos se fortalecerem”.

Na minha escola, em comunidade, não ia dar certo. Os alunos estariam em risco. 

Giovana, estudante do 1º ano do EM. 

A militarização nas escolas afeta o jovem negro acho que não só na parte estudantil, mas também o psicológico. Porque querendo ou não essas escolas querem que nós sejamos moldados ao que eles querem, na vestimenta, no cabelo. Então essas escolas são voltadas para que as pessoas percam a capacidade de pensar contra o sistema, entende? Porque pensando contra o sistema vem a revolução e eles não querem a revolução. Com essas escolas eles moldam os alunos pretos e periféricos pra que eles comecem a pensar exatamente da forma que eles querem que a gente pense. E com toda essa revolta contra a militarização isso pra eles está causando uma revolta do caramba, porque pra eles não deveria ser assim, preto não deveria ter voz. Periférico não tem voz. Como assim você tá indo contra o que eu tô falando?  

Bianca, estudante do 3º ano do EM

Ano passado trabalhei com mais pessoas da minha escola para ela não virar cívico-militar nem PEI, por conta da estrutura dela e da própria comunidade que está. Não seria bom para a escola e nem para os professores. E ficaram insistindo para virar, mandaram alguns alunos para outras unidades ver para como eram. Mas na nossa realidade não funciona. Eu agora no pré-exército já estou vendo que se você prestar atenção percebe que é um ambiente muito controlador, tem que seguir tudo à risca, querem bonequinhos. Ou segue à risca ou é humilhado, tem a voz calada.

Leandro, estudante do 3º ano do EM

Acho que seria difícil [se a escola se militarizasse], porque a gente já tem que seguir regras, às vezes a gente não tem muito a oportunidade de dar nossas opiniões, expressar o que a gente pensa, fala, sente. Acho que isso ficaria muito difícil. Acaba tendo muita regra e são pessoas que deveriam proteger nosso povo, nossa periferia, mas acabam prejudicando muito. Acho que isso não funcionaria muito nas escolas. tanto pra nós como pretos ou como qualquer pessoa em geral, LGBTs…acho que não funcionaria muito bem. 

Lara, estudante do 3º ano do EM 

Apostas e caminhos

As juventudes, especialmente as negras, periféricas e LGBTQIA+, sempre encontraram muitas formas de se expressar e de resistir aos sucessivos desmontes. E seguem resistindo à imposição do Novo Ensino Médio, das escolas militarizadas e de políticas que as afetam diretamente. Seguem lutando por uma educação de qualidade, que abra caminhos e oportunidades para o futuro e que as/os escute – por que uma educação antirracista é uma educação que interrompe e corrige desigualdades históricas, o que também inclui assegurar a gestão democrática e a participação efetiva de estudantes

Vai ser a gente pela gente pra tentar mudar a realidade. Se a gente não fizer nada, pra eles tá bom. Então os próprios estudantes que têm que se mover de alguma forma pra mudar a realidade.

Rebeca, estudante do 3º ano do EM

O adolescente negro tá na base, tentando ainda entender os assuntos. E desde que me entendo por gente não vejo recompensa por debater, muitas vezes as escolas não querem que você pense e conheça seu próprio país. Isso é muito frustrante, ir colocando na cabeça das pessoas que se você é de classe baixa, pobre, negro, não pode ser ouvido. Acho que as pessoas deveriam ter mais compaixão, isso ir escalando para quem tem cargos públicos, porque ninguém é melhor do que ninguém, isso foi colocado para a gente seguir regras e ter medo de mudar, de ter um pingo de esperança.

Leandro, estudante do 3º ano do EM

Acho que a gente deveria se unir mais. Com tudo isso que está acontecendo é mais um direito pra gente se unir e dizer que nós temos vozes, que nós temos direito de fazer o que a gente quer na escola porque nós somos os alunos, temos o direito de expor nossa opinião e falar o que a gente sente.

Lara, estudante do 3º ano do EM

O que a gente pode fazer enquanto estudante periférico é ir pras ruas mesmo. Por que a gente é movimento social né? Pretos e periféricos são movimento social sim, vão pra rua, vão alcançar. Eu e você aqui fazendo reclamação não vai ter voz nenhuma, mas junta um monte de pessoas e vai pra Paulista pra você ver. Vai ter atenção, e quanto mais atenção melhor. Acho que a gente como estudante tem que sim reivindicar nosso direito e ir atrás porque aquela faculdade pública é nossa por direito.  (…) Encontros como o de hoje [dos Projetos SETA e Tô No Rumo] ajudam os jovens a pensar. Todo mundo já pensa nisso, mas ajuda a formular o que tá pensando, sabe? Vai juntando ideias que talvez uma pessoa só não consiga pensar. Todo mundo quer a mesma coisa, uma melhoria, mas só como um todo podemos fazer diferença.

Bianca, estudante do 3º ano do EM

As ameaças ao orçamento da Educação em 2025

Contenção de gastos no orçamento 2025 pode afetar de maneira mais profunda as políticas sociais

Texto: Nana Soares || Edição: Claudia Bandeira 

Ainda não se sabe ao certo como será o Orçamento de 2025 – a votação e aprovação estão atrasadas -, mas é possível dizer que ele não será generoso com as áreas sociais, como saúde, educação e assistência social. Nos últimos meses, o governo federal, especialmente via ministérios da Fazenda e do Planejamento, tem sinalizado cortes, contingenciamentos e outras medidas que podem significar menos recursos para esses setores. E no próximo ano deve ser aprovado o novo Plano Nacional de Educação (PNE), com validade de 10 anos, e que, ao contrário do que vem sinalizando a agenda econômica, prevê um aumento gradual do investimento em Educação.

“Os contingenciamentos que acontecem ao longo do ano atrapalham o cumprimento das metas educacionais, isso quando não há bloqueio de recursos. São componentes que atrapalham muito a gestão e o direito à educação, uma vez que se perde qualquer possibilidade de planejamento”, explica Nelson Amaral, professor da UFG e atual presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca). 

Além disso, um montante significativo do orçamento é hoje distribuído via emendas parlamentares – mecanismo com muito menos controle social e transparência. “O Legislativo atualmente é responsável pela execução de parte do Orçamento, e há uma certa chantagem do Congresso”, alerta Cleo Manhas, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), organização que monitora o orçamento público sob a lente dos direitos humanos. 

Todos os anos, o orçamento do país é definido pela Lei Orçamentária Anual (LOA), cujo projeto é enviado pelo Executivo ao Congresso até dia 31 de agosto. Neste ano, o governo ainda não enviou o projeto referente a 2025 porque o passo anterior está atrasado. Para elaborar a LOA, é preciso que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) já tenha sido votada – o que ainda não aconteceu. A LDO dá as diretrizes para o governo construir a LOA, sinalizando quais serão as prioridades orçamentárias. Ela deve ser aprovada pelo Congresso até julho, mas neste ano a Casa Legislativa entrou em recesso sem votá-la. Por isso ainda não é possível saber com certeza como estará distribuído o Orçamento para 2025. Ele segue em disputa, tendo as áreas sociais como alvos prioritários. 

Teto de Gastos, Arcabouço Fiscal: como o governo pode usar o dinheiro que arrecada

Atualmente é o arcabouço fiscal, aprovado em 2023, que diz quais são as regras de gastos do dinheiro público. Ele substituiu a Emenda Constitucional 95 (o Teto de Gastos), promulgada em 2016, e que congelou os gastos públicos. Segundo a EC 95, os gastos em áreas como saúde e educação só podiam subir de acordo com a inflação, não havendo nenhum aumento real no investimento. O governo Bolsonaro descumpriu muitas vezes o Teto de Gastos, mas nunca para investir nas áreas sociais. Essa política de austeridade, sem investimentos reais em Educação, afetou fortemente o planejamento educacional e praticamente inviabilizou o cumprimento do atual Plano Nacional de Educação

O arcabouço fiscal em vigor prevê que as despesas podem aumentar além da inflação, mas que o aumento não pode ultrapassar um certo patamar e deve ser compatível com o aumento da arrecadação. Ou seja, depende bastante da receita e, apesar de mais flexível, ainda impõe um limite. O arcabouço deve cumprir todas as obrigações constitucionais (como os pisos para Educação e Saúde), não se sobrepondo a elas. 

Quase tudo – cerca de 90% – que o governo arrecada já tem destino certo. No caso da Educação, há o Fundeb e o piso constitucional, previsto também para outras áreas. Por conta disso, desde a década de 90 existe um mecanismo que autoriza que parte (20%) dessa receita comprometida seja desvinculada. Ou seja, que possa ser gasta em qualquer área. O mecanismo hoje se chama Desvinculação de Receitas da União (DRU). Criado para ser provisório, acabou sendo prorrogado diversas vezes e está em vigor até dia 31 de dezembro de 2024. No quebra-cabeça do orçamento para 2025, cogita-se prorrogar a DRU para aumentar a receita sem destino pré-determinado. 

Essa manobra é interessante para o governo principalmente porque hoje mais da metade dos recursos discricionários – os não obrigatórios, não “carimbados” – é distribuída pelo Congresso através das emendas parlamentares. Por isso, diz-se que há uma “disputa entre Poderes” quando o assunto é orçamento, com o Executivo tendo que dividir o espaço com o Legislativo. Um ponto importante sobre as emendas parlamentares é que são um mecanismo com menos transparência e controle social do que o recurso via leis e programas já estabelecidos, que passam, por exemplo, por análise de Tribunais de Contas. 

“O que acontece hoje no Brasil é uma situação muito complexa e paradoxal de briga entre poderes pelo controle do orçamento. A pequena parte discricionária, onde estão os investimentos em novos programas e que o governo pode decidir onde alocar, está migrando para as mãos do Congresso, que hoje controla quase 60% desse tipo de recurso. Como a maior parte dos recursos não tem essa flexibilidade, isso significa que o governo tem que disputar a discriccionaridade com o Congresso. E hoje ele está de certa forma rendido nessa disputa, pois há cada vez mais emendas impositivas”, resume a Ursula Peres, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e professora do curso de Gestão de Políticas Públicas na EACH/USP. “E, para abrir espaço no Orçamento, o governo tem caminhado mais para reduzir as despesas obrigatórias do que para brigar com o parlamento pelos recursos de investimentos, que são transformados em emenda e muitas vezes sem qualquer controle sobre sua execução”, diz Cleo Manhas, do Inesc. 

Financiamento da Educação: principais mecanismos 

A Educação pública tem várias fontes de financiamento. Na educação básica, a principal é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O Fundeb é um repasse obrigatório em todas as esferas (União, estados e municípios) e subsidia cerca de 40 milhões de matrículas, com mecanismos concebidos para enfrentar as desigualdades educacionais. Em 2020, ele foi alterado e constitucionalizado, tornando-se permanente. Nessa alteração, mais que dobrou a contribuição da União ao Fundeb. Ou seja, o governo federal é quem mais entra com recursos, repassando-os a estados e municípios – e esse aporte vai aumentar até pelo menos 2026. Além de ser um repasse obrigatório, o Fundeb ficou de fora do novo arcabouço fiscal, o que implica que as regras que limitam os gastos do governo não se aplicam a ele. 

Outro compromisso da União é investir em educação ao menos 18% de tudo que é arrecadado com impostos – é o piso constitucional. Aprovado na Constituição Federal de 1988, é um compromisso orçamentário obrigatório (também há um piso para a Saúde de 15%, mas com origem diferente dos recursos). O piso também ficou limitado ao reajuste da inflação enquanto o Teto de Gastos esteve em vigor (2016-23). 

Além dos gastos obrigatórios, há os chamados recursos discricionários, que são os não obrigatórios – e por isso, em geral são os mais ameaçados quando se fala em corte de gastos e controle de orçamento. Na educação, estão entre os gastos discricionários: transporte e alimentação escolar, livros didáticos, Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), os repasses a universidades federais e recursos de assistência estudantil. 

O atual Plano Nacional de Educação determina que o total investido em Educação corresponda a 10% do PIB brasileiro – meta que nunca foi cumprida, sendo o patamar atual de cerca de 5.5%. O projeto do novo PNE enviado pelo Executivo ao Congresso reproduz essa meta para o próximo decênio. 

Quais as ameaças ao financiamento da Educação 

Muitas leis e programas já asseguram e regulamentam os mecanismos de financiamento da Educação, mas têm sido descumpridos ao longo dos anos sem grandes consequências. Ou impactados por políticas de austeridade fiscal, como o Teto de Gastos, que fez com que a Educação deixasse de receber mais de R$7 bilhões. “O financiamento da educação caiu consideravelmente durante a vigência do Teto de Gastos e no governo Bolsonaro, mas não foi só aí, não podemos nivelar por baixo. Se olharmos o PNE percebemos que ao longo dos 10 anos houve retrocesso. Teve Teto, Bolsonaro e pandemia, mas mesmo em governos democráticos não estamos aplicando o que deveríamos”, reforça Cleo Manhas, do INESC, ressaltando o subfinanciamento histórico da Educação pública brasileira. 

As regras fiscais – como o Teto de Gastos e o Arcabouço Fiscal em vigor – estabelecem limites para os gastos sociais, mas não fazem o mesmo para todos os outros gastos do governo. Fica de fora, por exemplo, o pagamento de juros da dívida pública. “Por que falamos de austeridade fiscal o tempo todo? Em DRU, em acabar com vinculações constitucionais? Porque o tempo todo se sinaliza e se dá satisfações ao ‘mercado’ para garantir que vai haver pagamento dos juros. As políticas de austeridade não mexem na dívida pública, no mercado financeiro”, ressalta Nelson Amaral, presidente da Fineduca. “Austeridade é uma palavra difícil pra dizer que estamos cortando dinheiro das políticas que te alcançam”, resume ele. 

Cleo Manhas, do INESC, reforça essa crítica, ressaltando que, quando o assunto é Orçamento, o governo federal é pressionado de todos os lados. “Por que a crítica é sempre do governo ‘gastar muito’ e sobre a necessidade de uma regra fiscal rígida para conter os gastos? É porque estão falando de gastos sociais. Um dos nossos maiores desafios é mostrar que essa narrativa é uma falácia e que na verdade o governo gasta muito menos do que deveria gastar com sua população, especialmente a mais empobrecida e vulnerabilizada”, diz. 

Com o orçamento tão “pressionado” para os gastos sociais, a tendência é que as despesas discricionárias – não obrigatórias – sejam as mais afetadas. Na avaliação de Ursula Peres, da EACH/USP, o Ensino Superior, especialmente universidades federais, pode estar particularmente vulnerável. “A educação básica tem uma certa proteção por causa do Fundeb, que é obrigatório. Além disso, a maior parte dos recursos de emendas parlamentares tendem a ir para municípios, responsáveis também pela educação básica. São as verbas discricionárias que permitem a compra de equipamentos, a manutenção de laboratórios, condições de infraestrutura nas universidades. Nada disso é obrigatório, no Ensino Superior só são gastos obrigatórios os salários e a manutenção básica” explica. Ou seja, a expansão do ensino superior público fica ainda mais difícil, e há uma tendência a uma precarização dessas instituições – o que afeta majoritariamente as populações já marginalizadas. 

No entanto, até mesmo os repasses obrigatórios para a Educação podem estar ameaçados. Em 2024, falou-se publicamente sobre a possibilidade de alterar as regras do piso constitucional para Saúde e Educação, limitando-os a 2,5% de crescimento acima da inflação.

Isso porque esse é um investimento que está fora do arcabouço fiscal e sob uma regra diferente, podendo crescer mais do que as outras despesas incluídas no arcabouço. Por isso o desejo do governo de limitá-lo, sob argumento de não pressionar ainda mais os gastos em outras áreas e/ou gastos não obrigatório.

A Iniciativa De Olho nos Planos alertou para esse descompasso – e sua potencial ameaça ao financiamento em saúde e educação – ainda em 2023. O advogado e professor da UFABC, Salomão Ximenes, apontou à época que o Novo Arcabouço Fiscal, se aprovado, poderia, como lei complementar, obrigar uma mudança na Constituição com consequências para os pisos constitucionais. O que se mostrou verdadeiro, já que o Ministro da Fazenda e ex-Ministro da Educação, Fernando Haddad, cogitou alterá-los. Segundo o que circulou na imprensa em junho, a ideia só não avançou porque o presidente Lula se opôs. Mas como a LOA ainda não foi aprovada, não é possível saber se o risco foi totalmente descartado. 

Expectativas para o orçamento e financiamento da Educação em 2025

Nem Cleo Manhas, Nelson Amaral ou Ursula Peres acreditam que os pisos constitucionais serão alterados para o próximo ano, mas concordam que as leis orçamentárias e a política econômica de forma mais ampla devem cercear ou limitar ainda mais alguns gastos em Educação. A professora da EACH/USP, Ursula Peres, destaca uma possível nova prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) e acredita que o governo deve propor um orçamento “no limite do limite”. O presidente da Fineduca, Nelson Amaral, vê com preocupação que a defesa do piso constitucional tenha sido feita pelo próprio Presidente da República e não pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. “Acredito que para 2025 o governo deve fazer de tudo para aumentar a receita, mas acho que melhorias só se muito pontuais, não vejo nenhuma grande sinalização em relação à educação e saúde, ao cumprimento do PNE, até porque o arcabouço fiscal não permite”, avalia, enfatizando que a situação das universidades federais deve continuar limítrofe e exigindo mobilização de docentes, entidades estudantis e movimentos sociais. 

Já Cleo Manhas, assessora política do INESC, alerta para movimentos que reduzam as fontes de financiamento para as áreas sociais. Por exemplo, alterações nas cestas de impostos. “Outra possibilidade é alterar o conceito de “receitas correntes líquidas”, que é de onde sai o dinheiro mínimo da saúde. O risco está aí o tempo todo, e educação, saúde, previdência e assistência social são as áreas em maior risco”, diz. 

Para Ursula Peres, a educação pode ser alvo prioritário por receber maior de repasse da União se comparada, por exemplo, à saúde, ainda que os recursos para a educação sejam insuficientes para avançarmos na garantia de uma educação de qualidade e para a implementação das metas e estratégias do PNE. “Não é que a educação tenha financiamento suficiente, mas vem recebendo mais recursos da União, especialmente desde a aprovação do Novo Fundeb”, explica ela. “Mas reduzir os recursos em educação afeta direitos básicos e universais. E considerando, por exemplo, os mecanismos do Fundeb para aportar mais dinheiro para escolas que mais precisam, mexer nesses recursos é colocar em risco toda uma agenda de redução de desigualdades”. A pesquisadora do Centro de Estudos da Métrópole, Ursula Peres, destaca a importância de uma reforma tributária que assegure mais receitas para o governo como possibilidade de conter esses cortes – mas que ainda é incerta. 

Como o novo PNE e o planejamento educacional podem ser afetados

Para quem olha de perto a política econômica atrelada ao direito à educação, um aspecto é consenso: sob a vigência do arcabouço fiscal, vai ser muito difícil aumentar os recursos para Educação segundo o que determina o PNE. “A meta de 10% não pode ser só figurativa, até porque há cálculos que a justificam e que mostram como precisamos desses recursos”, reforça Cleo Manhas, do Inesc. Ela se refere à Nota Técnica da Fineduca divulgada em dezembro de 2023, em que a entidade defende a manutenção dos 10% do PIB no novo PNE, mas sugere metas intermediárias diferentes das propostas pelo governo para facilitar seu cumprimento. O presidente da Fineduca, Nelson Amaral, é categórico ao dizer que a inclusão dessa meta por parte do governo foi positiva, mas que a análise do contexto traz dúvidas se ela realmente vai ser cumprida. “Tudo traz a questão: ela foi colocada para valer ou para satisfazer a base do governo?”. 

Ursula Peres, da EACH/USP, enfatiza ainda o papel crucial de coordenação entre as esferas de poder para fazer valer o PNE e todas as políticas educacionais. Tema que ressalta a urgência do Sistema Nacional de Educação, que ainda não foi regulamentado. “O PNE depende das três esferas colocando e organizando recursos. Para um direito de fato ser garantido, não basta estar na Constituição, tem que estar no orçamento, e das três esferas. O direito à educação depende de uma ação coordenada e ajustada de União, estados e municípios remando para o mesmo lado”. 

Mas em um contexto de cerceamento progressivo aos gastos sociais, a assessora política do INESC, Cleo Manhas, lembra da importância do campo progressista manter e sustentar um posicionamento crítico com relação aos cortes para as políticas sociais. “Sempre temos o ‘medo’ de fortalecer a extrema direita, mas o que de fato a fortalece é não falar. Eles nunca vão cobrar mais gastos sociais. Nós precisamos disputar essa narrativa e lembrar que a política econômica não é um fim em si mesmo, ela é um meio. O que de fato é um fim é saúde e educação pública e de qualidade para todas e todos”.

Prorrogar a vigência do Plano Nacional de Educação pode enfraquecer suas metas e estratégias

Proposta aprovada pelo Senado prorroga a vigência da lei 13.005/2014 até dezembro de 2025, o que pode abrir perigoso precedente de descumprimento e ter efeito cascata em estados e municípios.

Gênero e Educação - Prorrogar a vigência do Plano Nacional de Educação pode enfraquecer suas metas e estratégias

O atual Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela lei 13.005, de 2014, completa 10 anos de vigência com cerca de 90% de descumprimento de seus dispositivos, 13% em retrocesso e 30% com lacuna de dados segundo o último balanço da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação. Sob a justificativa de não haver vácuo até a aprovação do novo plano, ele pode ter sua vigência prorrogada, o que abriria um sério precedente de descumprimento de políticas públicas e pode enfraquecer suas metas e estratégias. Outra preocupação se refere aos prejuízos com relação à articulação federativa, já que estados e municípios devem elaborar seus planos seguindo as diretrizes nacionais.  

O projeto de lei 5.665/2023 de autoria da senadora Professora Dorinha Seabra (União/TO), foi votado e aprovado em maio pelo Senado e enviado à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, presidida pelo bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG). Originalmente, o projeto de lei previa a prorrogação da vigência do atual PNE até 2028, mas o texto acabou mudando após negociação política, incorporando emenda do senador Cid Gomes (PSB-CE) que limita a extensão até dezembro de 2025. A argumentação da autora do PL é que a prorrogação do PNE permite manter o foco na direção anteriormente traçada até que o novo plano – cuja tramitação está atrasada – entre em vigor. Outro argumento corrente é que o novo texto precisa ser discutido com calma, sem estar pressionado pelo fim da vigência da atual lei. 

Heleno Araújo, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e presidente do Fórum Nacional de Educação (FNE), critica a falta de diálogo com a sociedade na tramitação deste PL, dizendo que não houve estímulo nem de Dorinha e nem do relator (senador Espiridião Amin, do Progressistas-SC) de convocar debates sobre a matéria. “Oficializamos nosso posicionamento contrário e aproveitamos uma sessão sobre Ensino Médio para entregar essa posição por escrito para ela”, diz.  

Segundo a Agência Senado, o Poder Executivo comprometeu-se, por meio do Ministério da Educação (MEC), a trabalhar pela rápida análise da matéria na Câmara. O MEC foi perguntado pela Ação Educativa sobre esse projeto e como se posiciona frente à prorrogação, mas não respondeu até o fechamento da matéria.

Em que passo está o novo PNE? 

A lei do atual PNE completa 10 anos, e portanto termina sua vigência, no dia 25 de junho de 2024. De acordo com a legislação, o Poder Executivo deveria ter enviado um novo texto para análise do Congresso no nono ano de vigência do PNE, o que não ocorreu. Nenhum texto foi enviado até o momento. 

A etapa nacional da CONAE foi realizada em janeiro de 2024, precedida das etapas municipais, regionais e estaduais em 2023. O texto base que saiu da CONAE foi validado pelo Fórum Nacional de Educação (FNE), que o entregou ao MEC em março. Depois disso, não houve movimentação pública sobre a matéria. 
No entanto, segundo uma matéria do Estadão publicada em junho de 2024, o MEC enviou minuta aos ministérios da Fazenda e do Planejamento e aguarda aval para encaminhar à Casa Civil. Só depois deve ser encaminhado ao Congresso para iniciar sua análise e tramitação.

A matéria do Estadão também revelou problemas graves no texto do novo Plano: ele não aborda questões sobre a população LGBTQIA+, e a pauta da “Diversidade” é trabalhada em termos vagos – o oposto do que foi deliberado na CONAE por estudantes, profissionais da educação, entidades e movimentos sociais do campo educacional.

Os riscos de prorrogar a Lei do PNE

À primeira vista, pode fazer sentido prorrogar a lei 13.005/2014 para assegurar que o novo Plano seja discutido da forma adequada. No entanto, como afirma Salomão Ximenes, Professor de Direito e Políticas Educacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e coordenador do Observatório Regional de Políticas Educacionais do ABC, esse objetivo poderia ser alcançado de outras formas, sem necessidade da extensão do prazo.

“O final da vigência da lei do PNE e o final da validade do PNE são coisas diferentes. As metas e estratégias não perdem a validade do ponto de vista jurídico do direito à educação. Um parecer técnico de órgãos como Advocacia Geral da União, MEC, Conselho Nacional de Educação ou Tribunal de Contas da União poderia resolver isso do ponto de vista formal. É que parece que essa não é a opção política, que não há interesse no fortalecimento do peso jurídico das metas do PNE”, diz. 

Salomão reforça que contraditório seria se, passados 10 anos, as metas – um esforço de planejamento que mobiliza diversos órgãos de controle – parassem de valer e os municípios estivessem autorizados a, por exemplo, diminuir números de matrículas ao invés de aumentar. Como resumiu ele em artigo publicado em parceria com Lucas Junqueira Carneiro, “a premissa de uma lacuna jurídica com o final da vigência decenal do PNE é um equívoco”. 

A prorrogação inclusive fere a Constituição Federal, uma vez que o artigo 214 diz explicitamente que o plano nacional de educação deve ter caráter decenal. E esse é um dos motivos pelos quais o PL 5665/23, se aprovado, pode acabar enfraquecendo – e não fortalecendo – a mais importante política educacional brasileira. “O caráter decenal foi inscrito na Constituição justamente pensando na necessidade de um parâmetro fixo para pensar a médio e longo prazo”, destaca o professor da UFABC. Para Heleno Araújo, do FNE, a prorrogação é também uma ideia “delicada e inconveniente” e que gera uma acomodação na obrigação dos poderes Executivo e Legislativo de encaminharem um novo plano. 

Prorrogar a atual lei do PNE, ainda que “só” por um ano, também pode abrir um precedente para outras prorrogações. Ou seja, pode fazer com que os prazos percam sua força. “Nada impede que o prazo 2025 seja prorrogado de novo. Ao abrir esse precedente, ele passa a ser uma possibilidade sempre que um gestor público perceber que o plano não vai ser cumprido”, explica o professor Salomão Ximenes. 

E se o Plano de Educação não foi cumprido ou se o processo de elaboração de seu substituto também não foi feito no prazo adequado, significa que gestores e parlamentares falharam com suas obrigações. E aí entram – ou deveriam entrar – os órgãos de fiscalização  e controle para responsabilizá-los pelo descumprimento de uma política pública constitucionalizada. Mas a prorrogação, ao ampliar esses prazos, também pode afetar esse aspecto. Em artigo publicado no Conjur, a procuradora do Ministério Público de Contas de São Paulo, Élida Graziane, diz que a prorrogação da vigência do PNE equivale a uma  “anistia estratégica” e que “adia o debate do PNE 2024-2034, sem abrir qualquer responsabilização pelo diagnóstico de fracasso do plano educacional vigente”. Nessa mesma linha, Heleno Araújo também cobra os órgãos de monitoramento do PNE. “Temos 4 relatórios [do Inep] prontos, o quinto está prestes a sair. Mas não podemos ficar só no diagnóstico do não cumprimento. Qual o redimensionamento de políticas e as medidas que serão tomadas a partir do diagnóstico?”, questiona. 

Além de todos esses fatores, a prorrogação do Plano Nacional de Educação pode ter efeitos desastrosos para estados e municípios. Tanto porque abre o precedente para a prorrogação nos outros níveis – e essas prorrogações não têm salvaguarda constitucional -, quanto porque impacta a elaboração dos planos estaduais, distrital e municipais, em geral construídos após o nacional para que suas metas e estratégias estejam em consonância com o PNE. É o que Salomão Ximenes chamou de “descoordenação federativa”. “Os planos estaduais e municipais também serão prorrogados? Se não, qual será o efeito? O atual sistema já é muito falho em termos de coordenação, e em vez de enfrentar o problema daríamos vários passos atrás ao criar temporalidades diferentes no processo”. 

Mas o Brasil ficaria sem um PNE vigente?

Segundo explica Salomão Ximenes, coordenador do Observatório Regional de Políticas Educacionais do ABC, ainda que a vigência da lei 13.005/14 termine, o Brasil não entraria em um vácuo legislativo. Isto é, as metas e estratégias pactuadas não desaparecem e deixam de valer no dia 26 de junho de 2024. Na verdade, ficam ainda mais urgentes. “O PNE estabelece um padrão para estabelecimento do direito à educação. Passados 10 anos, esse padrão é obrigatório, e quem não cumpriu está indo contra essa norma”, resume ele. Por isso, na avaliação das pessoas ouvidas na reportagem o efeito prático da aprovação do PL 5665/23 seria normalizar uma situação gravíssima de descumprimento dos prazos estabelecidos. “É uma banalização do processo de planejamento vinculante, cujo efeito é muito desproporcional à preocupação levantada”, complementa Salomão. 

O Fórum Nacional de Educação também se pronunciou nesse sentido. Em nota pública contrária à prorrogação, o órgão defende que o projeto de lei tem “potencial de desorganizar o planejamento comum articulado no país”, tanto por ferir a periodicidade prevista na Constituição como por interferir no alinhamento com estados e municípios. 

A procuradora do MP-SP Élida Graziane também é categórica ao dizer que “todas as propostas de prorrogação da vigência da Lei 13.005/2014 em tramitação no Congresso Nacional tendem a perdoar o descumprimento das metas e estratégias do PNE em curso”, contextualizando que “como tem sido muito fácil ignorar e descumprir os comandos do PNE 2014-2024, nunca foi necessário alterá-lo. Pelo mesmo motivo, agora tende a ser igualmente fácil prorrogá-lo nominalmente”.  

Participação e gestão democrática

Um outro argumento contrário à prorrogação da lei do atual PNE destaca os esforços já realizados no sentido da construção do novo Plano. Por exemplo, o Grupo de Trabalho do Novo PNE (GTPNE) do MEC, que buscou analisar os problemas da educação nacional como subsídio ao Projeto de Lei para o PNE 2024-2034. Mas, principalmente, os esforços e recursos mobilizados para a realização de debates, audiências e a CONAE. Nesse contexto, vale destacar a Conferência Livre “Gênero nos Planos já!”, realizada em outubro de 2023 pela Ação Educativa que contou com jovens estudantes da região metropolitana de São Paulo e do interior debatendo a importância de garantir equidade de gênero e raça no Plano Nacional de Educação.

Esses esforços já resultaram num documento final – entregue pelo FNE ao Ministério da Educação e sob análise do Executivo. Para Salomão Ximenes, a prorrogação colocaria em risco todo o processo participativo da CONAE 2024. “Especificamente porque a depender do prazo e da mudança de conjuntura, esse ciclo pode perder relevância e sentido. E tudo isso pode ser transportado para os níveis estaduais e municipais”, diz. 

A nota do Fórum Nacional de Educação também toca nesse ponto, ressaltando que o projeto de lei 5665/23 não considera as deliberações dos processos participativos e que “se mostra inoportuno e macula o processo participativo e dialogado em curso que, ademais, está protegido pela Lei, que consagra conferências e instâncias de monitoramento e avaliação do PNE com legítimos papéis propositivos em relação à Política Nacional de Educação”. 

O coordenador do FNE, Heleno Araújo, ressalta justamente o respeito ao esforço que envolveu mais de 4 mil municípios. “Política educacional tem que ser feita com participação e colaboração da sociedade. Por isso a CONAE cumpriu seu papel e entregou seu produto final”, diz. Para Heleno, é estratégico debater fortemente não apenas o novo PNE mas também o financiamento adequado para de fato implementar e cumprir o PNE. “Já aprendemos que lei do PNE sem financiamento adequado não adianta, então temos que enfrentar esse debate de forma séria e manter a pressão sobre as ausências de políticas e leis que prejudicaram o atual plano, como lei do Sistema Nacional de Educação e do Custo Aluno-Qualidade”, diz. 

O professor Sérgio Stocco, do Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) e do FNE, vai ainda mais além, ressaltando os efeitos do controle social e gestão democrática – contemplados no atual PNE através da meta 19 –  ainda insuficientes. Em seminário na Ação Educativa sobre os 10 anos do PNE, ele reforçou: “Seria fundamental que essa meta tivesse sido implementada como está disposto, mas o caminho da gestão democrática não foi assentado para gerar o processo de mobilização social que exatamente geraria uma disposição da sociedade para cumprir as outras 19 metas”. Ele elenca os bloqueios e restrições à formação de conselhos escolares, grêmios estudantis e outros processos no sentido de assegurar a autonomia da escola. “Sem isso não conseguiremos a base social necessária para fazer o que tem que fazer. Só haverá formação política permanente com a autonomia das escolas”.

Lançamento SAM 2024: Ação Educativa e Campanha Nacional Pelo Direito à Educação realizam seminário para discutir os 10 anos do atual Plano Nacional de Educação

O objetivo é fazer um balanço do PNE de 2014 a 2024, os ataques à educação e os cenários preocupantes que emergem diante das metas não cumpridas pelo poder público.

Na próxima segunda-feira, dia 17 de junho, a Ação Educativa e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, em parceria com entidades que compõem o Observatório Regional de Políticas Educacionais do Grande ABC, organizam um seminário sobre os dez anos do atual Plano Nacional de Educação (PNE), como lançamento da Semana de Ação Mundial 2024. 

O objetivo do encontro é discutir os desafios no cenário educacional em torno do cumprimento das diretrizes, metas e estratégias do PNE 2014/2024 e as condições que precisam ser garantidas para a construção de um novo PNE que reflita as reais necessidades de profissionais da educação, estudantes e comunidades escolares e para avançar na redução das desigualdades educacionais do país. 

Convidados do seminário também irão abordar a problemática tentativa de prorrogação do atual PNE, acenada pela Comissão de Educação do Senado no final de maio a partir de um projeto de lei que visa o aumento do tempo de sua vigência para 31 de dezembro de 2025.

Data do evento: 17 de junho
Horário: 18h30 às 21h
Local: Ação Educativa (Rua General Jardim, 660 – Vila Buarque, São Paulo–SP)

Convidados:

Andressa Pellanda –  Coordenadora Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e FNE
José Adão – Co-fundador do Movimento Negro Unificado (MNU).
Salomão XImenes – Professor da Universidade Federal do ABC (UFABC). Sérgio Stocco – CEDES e membro do Fórum Nacional de Educação (FNE). Ana Paula Brandão – Gestora estratégica do Projeto SETA.

Mediação: Marcelle Matias – Projeto Gênero e Educação da Ação Educativa

Plano Nacional de Educação 2014/2024: quais são os desafios?

Segundo o último balanço da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, de 2023, o Plano Nacional de Educação atual teve 85% das metas não cumpridas e 65% estão em retrocesso, um quadro alarmante para a educação brasileira que intensifica as desigualdades sociais e dificulta o acesso universal à educação de qualidade.

O prazo final de vigência decenal do Plano Nacional de Educação se aproxima: a Lei n.º 13.005 foi sancionada no dia 25 de junho de 2014. No entanto, com a aprovação do Projeto de Lei 5665/23 pelo Senado, que estabelece a prorrogação do prazo até o ano 2025, entidades e organizações da sociedade civil se preocupam com a possibilidade da abertura de um precedente arriscado e perigoso para as políticas educacionais do país, que causará grande impacto na articulação federativa, já que estados e municípios devem elaborar seus planos seguindo as diretrizes nacionais.

O projeto é inconstitucional, pois a Emenda Constitucional 59/2009 estabelece a vigência decenal. Além disso, como argumenta Salomão Ximenes, professor da Universidade Federal do ABC, em artigo, o PL 5665/23 não é uma solução para um eventual lapso temporal até o novo plano e aumenta o problema, ao criar ausência de obrigações dos poderes públicos e dos órgãos de controle, e de deslegitimar a participação social e todo o processo de planejamento das conferências de educação para a construção de um novo Plano.

“[…] Não se pode concluir que o eventual vácuo de vigência entre os PNE seria algo positivo ou defensável. Pelo contrário, denota grave omissão diante do comando constitucional previsto no artigo 214 da Constituição, inclusive, a depender do transcorrer do processo de formulação e deliberação nos próximos meses, passível de ação direta de inconstitucionalidade por omissão.”, descreve o professor no texto.

O próximo Plano Nacional de Educação já deveria ter sido encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso em 2022, no entanto, o processo foi impactado devido às negligências com as políticas educacionais promovidas pelo governo Temer e, posteriormente, pelo governo Bolsonaro, que resultaram no desmonte do Fórum Nacional de Educação em 2017, na descontinuidade da Conferência Nacional de Educação (CONAE) em 2018, na extinção da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE) em 2022 e em outras adversidades para a educação brasileira. 


Semana de Ação Mundial 2024 (SAM)

A SAM (Semana de Ação Mundial) é uma iniciativa realizada simultaneamente em mais de 100 países, desde 2003, tem o objetivo de informar e engajar a população em prol do direito à educação.

Na edição da Semana de Ação Mundial (SAM) 2024, haverá forte mobilização em defesa do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2024-2034)!

Para saber mais acesse: https://semanadeacaomundial.org/

Campanha #FiqueDeOlho: Gênero nos Planos Já!

Após a retomada do Fórum Nacional de Educação em 2023, a CONAE 2024 foi realizada com o objetivo de construir o novo PNE. A Ação Educativa participou das etapas municipal e estadual de São Paulo e da etapa nacional, que ocorreu em janeiro em Brasília. 

Os projetos Gênero e Educação, Tô no Rumo e a iniciativa De Olho nos Planos promoveram, ao longo do processo da Conferência, a campanha “#FiqueDeOlho: para combater a violência, gênero nos Planos Já!”, realizando mobilização, debates sobre as demandas da juventude e produzindo materiais sobre participação popular, melhoria da qualidade da educação a partir da abordagem de gênero e raça nas escolas. 

+ Saiba mais sobre a Ação Educativa na CONAE 2024 e campanha #FiqueDeOlho: Gênero nos Planos Já


Como participar do evento?

O evento é gratuito, realizado presencialmente na sede da Ação Educativa, localizada na Rua General Jardim, 660, Bela Vista – São Paulo, e conta com transmissão ao vivo no canal do YouTube da Ação Educativa.

Inscrições: https://bit.ly/10anosPNE


Programação:

  • Apresentação do novo Balanço do Plano Nacional de Educação, realizado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação
  • Discussão do contexto: quais são os riscos do Projeto de Lei 5665/23
  • CONAE e participação social: desafios e próximos passos
  • Gênero e Raça como central da qualidade na educação

Ação Educativa realiza formação sobre interseccionalidade com participação de Patrícia Hill Collins

Organizado em três dias, ciclo formativo debate práticas educativas em diálogo com o conceito de interseccionalidade; a socióloga Patricia Hill Collins participará do encerramento

Em julho, a Ação Educativa promove o ciclo formativo “Interseccionalidade em Ação”. A iniciativa é uma realização das áreas de Gênero e Educação e Relações Raciais na Educação, em parceria com o Centro de Formação: Educação Popular, Cultura e Direitos Humanos. A programação do ciclo conta com a participação da socióloga Patricia Hill Collins, uma das mais influentes teóricas do pensamento feminista negro.

A partir de um edital de seleção, a iniciativa irá convidar até 20 pessoas para participarem da formação que acontece em três dias: 4, 11 e 12 de julho. As inscrições para o edital serão recebidas exclusivamente por meio de formulário online. O público-alvo são mulheres negras ou indígenas, cis, trans ou travestis, que atuem como professoras na educação básica pública ou em espaços não escolares e que já realizem experiências educativas que abordem dimensões de gênero, raça e classe de forma interseccional. Acesse o edital completo e saiba como se inscrever

Acesse o formulário de inscrição: bit.ly/interseccionalidade-em-acao-formulario

Sobre o Ciclo Formativo

Com o objetivo de fortalecer a abordagem interseccional em processos educativos, o ciclo consiste em facilitar, a partir dos encontros, trocas de experiências entre educadoras/es e promover um diálogo sobre intereccionalidade, feminismo negro brasileiro contemporâneo e o pensamento de Patricia Hill Collins.

Toda a formação será gratuita. Os encontros serão realizados em dois formatos*: presencialmente e, também, pela plataforma Moodle do Centro de Formação da Ação Educativa, com encontros síncronos via Zoom. Confira:

  • Encontros online: quintas-feiras, dias 4 e 11 de julho, das 19h às 21h, via Zoom.
  • Encontro presencial (com Patricia Hill Collins): sexta-feira, dia 12 de julho, das 9h às 18h na Ocupação 9 de Julho e na sede da Ação Educativa, com percurso cultural pelo centro de São Paulo.

* A programação detalhada de cada encontro será enviada para as(os) selecionadas(os).

Sobre Patricia Hill Collins

Professora emérita da Universidade de Maryland, Patricia Hill Collins é uma das mais importantes teóricas do feminismo negro. Em seus trabalhos, ela combina o rigor teórico com o esforço de produzir textos acessíveis. Sua obra dialoga com o trabalho de outras teóricas na sistematização do conceito de interseccionalidade como a construção mútua de diversas categorias de opressão, como classe, raça, etnia, gênero, sexualidade, nação, entre outras. A posição das mulheres negras nesse cruzamento de opressões fez com que elas desenvolvessem a interseccionalidade tanto como ferramenta de análise como de intervenção política na luta por justiça social.

Dúvidas e respostas:

Não sou educador(a), posso me inscrever? 

Pode! O ciclo formativo priorizará a participação de educadoras/es que atuem em escolas de educação básica públicas ou em espaços formativos não escolares. No entanto, você é livre para se inscrever! Confira os critérios estabelecidos pelo edital

Quando as inscrições estarão abertas?

O formulário de inscrição estará disponível aqui, nessa mesma página, a partir das 10h do dia 10 de junho. No entanto, para saber o que se pede na inscrição, acesse o anexo do edital

Caso eu seja selecionada(o), vou receber certificado?

O ciclo formativo conta, sim, com certificado! Para recebê-lo é indispensável participar dos três encontros (dia 4/7, 11/7 e 12/7).

Pessoas não selecionadas poderão participar do encontro presencial na Ação Educativa no dia 12 de julho?

Por uma questão de logística e tamanho disponível no nosso espaço, infelizmente, não.

Os encontros serão transmitidos ao vivo?

Não.

Eu ainda não sei se terei disponibilidade para participar de um dos encontros. Como será a programação de cada dia?

A programação detalhada de cada dia do ciclo formativo será encaminhada para as pessoas selecionadas. Sugerimos que cheque sua agenda considerando que: 

I) O curso conta com atividades assíncronas e encontros síncronos;

II) Os encontros via Zoom acontecem dias 4 e 11 de julho, das 19h às 22; 

III) O encontro presencial será realizado dia 12 de julho, das 9h às 18h.

Gostaria de tirar uma dúvida com a equipe da formação, como faço?

Se ficou com alguma dúvida durante o processo, entre em contato com a equipe pelo e-mail generoeeducacao@acaoeducativa.org.br.