Rede de Ativistas do Fundo Malala no Brasil mobiliza governos a priorizar educação em 2023

Em ano de eleições, a Rede Malala lançou um manifesto liderado por meninas e mobilizou candidaturas a priorizarem o direito à educação nos planos de governo. Confira a retrospectiva da atuação da Rede neste ano.

A Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil (Rede Malala) tem somado esforços para promover o debate sobre as desigualdades educacionais no país e para garantir que o direito à educação de meninas seja prioridade nos planos de governo. 

Formada por 11 ativistas de organizações apoiadas pelo Fundo Malala, a Rede desenvolveu ao longo do ano um projeto coletivo que estimulou adolescentes de 16 e 17 anos a tirar o título de eleitora e culminou com a construção de uma Carta Compromisso pelo Direito à Educação nas Eleições 2022, assinada por mais de 500 candidaturas nacionais e estaduais, e do Manifesto #MeninasDecidem, elaborado por um comitê de jovens de todas as regiões do país. 

“As meninas no Brasil enfrentam múltiplas barreiras para ter acesso a esse direito humano básico que é a educação, como falta de qualidade do ensino, gravidez precoce e condições socioeconômicas. Para estimular melhores resultados, líderes do Brasil devem ouvir as demandas das meninas”, disse a Nobel da Paz Malala Yousafzai em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que fez uma reportagem especial sobre a atuação da Rede Malala no Brasil.

“Nós, do Fundo Malala, acreditamos que é por meio de redes e da colaboração que podemos promover mudanças e pressionar por mudanças em políticas públicas. A Rede Malala elaborou, de forma coletiva, estratégias para colocar a educação como prioridade para os próximos anos, uma educação antirracista, antissexista e que combata as desigualdades e respeite a diversidade das meninas”, diz Maíra Martins, representante do Fundo Malala no Brasil.

A Rede Malala atua em defesa da educação pública de qualidade e com financiamento adequado, com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas. Inspirado pelas raízes de Malala e Ziauddin Yousafzai como ativistas locais no Paquistão, o Fundo Malala estabeleceu em 2017 a Rede de Ativistas pela Educação (Education Champion Network) para investir, apoiar o desenvolvimento profissional e dar visibilidade ao trabalho de mais de 80 educadores de oito países (Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia) que trabalham a nível local, nacional e global em defesa de mais recursos e mudanças políticas necessárias para garantir o direito à educação das meninas.

Em 2023, as #MeninasDecidem

Os esforços da Rede Malala para pautar a educação de meninas nas eleições de 2022 começaram em abril com a campanha #MeninasDecidem, que incentivou garotas de 16 e 17 anos a emitir o título de eleitora e votar. A campanha contou com materiais informativos para as redes sociais e a participação da artista pernambucana Nanny Nagô, que compôs a música “Meninas Decidem”, incentivando jovens a decidir o seu futuro nas urnas. 

Ativistas da Rede Malala também realizaram atividades presenciais em seus territórios para estimular meninas a tirar o título. Por meio do projeto Meninas em Movimento pela Educação, em parceria com a Rádio Mulher, o Centro das Mulheres do Cabo (CMC) mobilizou meninas de Cabo de Santo Agostinho (PE) a se registrarem para o voto. Em Mirandiba, com o projeto EDUCQUILOMBO, o Centro de Cultura Luiz Freire fez um mutirão de inscrição da população jovem para retirada do título de eleitor e organizou diálogos com lideranças quilombolas e famílias sobre a importância do voto. 

+ Ouça entrevista da Rede Malala sobre a Campanha #MeninasDecidem à Rádio CBN 

Carta Compromisso pelo Direito à Educação

Em junho, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, junto com seu Comitê Diretivo, e a Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil, lançaram a Carta Compromisso pelo Direito à Educação nas Eleições de 2022, em evento público na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). O documento propõe um pacto por uma educação pública equitativa e de qualidade nos próximos governos e legislaturas e reúne 40 pontos com ações para garantir financiamento adequado à educação e o combate às desigualdades

A Carta foi assinada por 504 candidatas/os de todas as regiões do país. Das candidaturas que assinaram a Carta Compromisso, 315 (62,5%) foram eleitas no primeiro turno e quatro (0,8%), no segundo.

Desde o fim das eleições, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, junto com seu Comitê Diretivo, e a Rede Malala realizam diálogos regionais com as candidaturas eleitas que assinaram a Carta Compromisso para discutir meios de incorporar a pauta da educação de meninas nos planos de governo. Todos os encontros serão concluídos ainda em dezembro. Em 2023, a Rede dará início ao processo de monitoramento dos primeiros 100 dias de governo para garantir que signatários da Carta cumpram com os 40 pontos descritos no documento. 

“Trazemos um conteúdo bastante transformador, com compromissos de revogação da EC 95, do Teto de Gastos, e da Reforma do Ensino Médio, por exemplo. Ter mais de 500 assinaturas de todo o espectro político demonstra a força nacional e legitimidade pública da nossa Rede, assim como dá sinais de virada do cenário para a retomada de compromissos constitucionais e para com os direitos humanos”, afirmou Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e integrante da Rede Malala.

Manifesto #MeninasDecidem

Em  agosto, no mês da juventude, a Rede lançou o Manifesto #MeninasDecidem pelo Direito à Educação, endossado por Malala. O documento elaborado por um comitê de 20 meninas de diferentes regiões do Brasil traz as demandas para a educação de meninas negras, indígenas, quilombolas, do campo, das periferias, trans, travestis e com deficiência. 

Comitê foi por  meninas de diferentes regiões do Brasil: Lua Quinellato, Maria Clara Silva, Rhaynnara Borges, Carolaine do Nascimento, Mel Kaimbé, Maria Viviane Lima, Julia de França, Vitória Souza,  Bia Diniz, Maria Clara Tumbalalá, Angel Queen, Ana Luiza Roque, Hellen Sharen Pataxó e Atikum, Maria Eduarda Moreira, Shayres Pataxó, Thalita Nogueira,Amanda Andrade, Lorena Bezerra, Glenda Teixeira e Lorrane Macedo – Edição de Imagem: Nina Vieira

“Tudo que queremos é uma educação de qualidade. A gente não quer só ter que sair das favelas, a gente quer que a educação chegue em todos nós, principalmente nós, meninas”, disse Thalita Nogueira, umas das jovens autoras do Manifesto, em entrevista ao Fantástico. 

O lançamento foi realizado na Defensoria Pública da União (DPU) de Recife com a presença de meninas do comitê, integrantes da Rede Malala e a diretora do Programa de Ativistas pela Educação do Fundo Malala, Miriam Kirubel. 

As meninas construíram o documento em encontros formativos, em que compartilharam suas experiências e de outras meninas de seus territórios. Os encontros foram mediados pelas ativistas da Rede Malala, que organizaram os encontros com temáticas sobre direitos humanos, protagonismo juvenil e desigualdades educacionais.

Em  agosto, no mês da juventude, o Manifesto #MeninasDecicem foi lançado Defensoria Pública da União (DPU) de Recife – Créditos: Fundo Malala

 U-Report Brasil e demandas para a educação

Na sequência do lançamento do Manifesto #MeninasDecidem, a Rede Malala convidou adolescentes e jovens a apresentarem suas demandas e prioridades para a educação pelas redes sociais.

Em parceria com a plataforma U-Report Brasil, do UNICEF, a Rede também lançou uma enquete, em outubro. A pesquisa mostra que 84% das meninas concordam que a agenda da educação foi decisiva na escolha de candidatas/os no segundo turno das eleições. Os dados obtidos por meio do chatbot do programa U-Report não possuem precisão estatística para configurar uma pesquisa nacional com critérios de amostra. Desenvolvido pelo escritório de inovação do UNICEF no Quênia e executado no Brasil pela ONG Viração Educomunicação, o programa engaja adolescentes e jovens brasileiros a opinarem sobre diversos assuntos e acessarem conteúdos educativos. 

Para 63% das jovens participantes (779, 99% delas meninas), a escola não possui uma estrutura de qualidade e para 39%, a estrutura é (ou era, para as que já concluíram os estudos) razoável. Para 16% delas, a estrutura escolar é  insuficiente e 7% a consideram péssima. Com relação à diversidade, quando perguntadas se a escola respeitava sua identidade ou cultura, 54% das meninas responderam positivamente. Já 29% consideram que a escola respeitava razoavelmente, 11% poucas vezes e 5% responderam que não. A maioria das respondentes foram meninas negras (73%).

Somadas as devolutivas obtidas via chatbot da U-Report e pelas redes sociais da @redemala, a campanha contou com mais de 830 respostas de jovens sobre a educação no Brasil que, em sua maioria, pediam pela melhoria na qualidade de ensino, por escolas com estruturas adequadas, mais inclusivas, que combatam as discriminações e que abordam em seus currículos política, culturas, arte e história.

Governo de transição e agendas para 2023

Com o resultado das urnas definido, Givânia Silva, co-fundadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e integrante da Rede Malala, foi convidada em novembro para integrar o grupo técnico da área de Igualdade Racial da equipe de transição do governo federal. “Compor a equipe de transição é um desafio, mas também é a certeza da responsabilidade do nosso trabalho para que os novos integrantes do governo possam dar sequência, junto com o presidente Lula, às políticas de combate ao racismo e às desigualdades no nosso país”, disse em entrevista à CONAQ

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com a representação de sua coordenadora geral e integrante da Rede Malala Andressa Pellanda, fez sugestões ao gabinete de transição, defendendo a retomada da centralidade do PNE como espinha dorsal das políticas educacionais brasileiras, a aprovação do Sistema Nacional de Educação tendo como parâmetro o CAQ (Custo Aluno-Qualidade) e a implementação de medidas que fortaleçam a educação inclusiva e antidiscriminatória. 

A Campanha articulou contribuições ao GT, feitas por entidades de seu Comitê Diretivo e de articulações das quais a Campanha faz parte, resultando em um documento de 588 páginas. Uma planilha com alertas, sugestões, revogações e medidas prioritárias enviada ao GT por Daniel Cara, professor da FE-USP e dirigente da Campanha que compõe o GT, teve colaborações de Andressa Pellanda e outros pesquisadores da Rede da Campanha, como Catarina de Almeida Santos, Fernando Cássio e Salomão Ximenes, entre outros. Um destaque das contribuições foi o relatório exploratório sobre a extrema-direita e ataques a escolas, que lista estratégias de ação governamental para evitar atentados a escolas no Brasil. O documento foi organizado por Daniel Cara e produzido por outras 12 pesquisadoras, entre elas Andressa Pellanda.

A Rede Malala também entregou uma carta à equipe de transição do governo federal denunciando o fenômeno da censura na educação, estimulado pelo governo atual nos últimos anos através de perseguições de profissionais de educação, estudantes, gestões educacionais e cerceamento de escolas e universidades. O documento  apresenta medidas para o novo governo promover o fortalecimento dos direitos humanos nos ambientes educacionais. A carta pública  endossa a retomada da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), a reconfiguração do Conselho Nacional de Educação (CNE) e a necessidade de implementação das diretrizes para a Educação para as Relações Étnico-Raciais, Educação Escolar Indígena e Educação Escolar Quilombola, além do fortalecimento das políticas de ação afirmativas e de programas de formação docente comprometidos com a igualdade de gênero e aspectos de raça e sexualidade.

Cendhec apresenta recomendações para promoção de igualdade de gênero nas escolas

Adolescentes matriculadas nas redes de ensino do Recife, Igarassu e Camaragibe também participaram da entrega do documento para representantes das Secretarias do Recife, Igarassu e Camaragibe

Cendhec apresenta pesquisa sobre desigualdades de gênero na Educação

Ao lado de estudantes de escolas da rede pública de ensino municipal, integrantes do Centro Dom Helder Camara entregaram um Documento de Recomendações para representantes das Secretarias de Educação do Recife, Igarassu e Camaragibe. Construído após pesquisa desenvolvida pelo Cendhec com apoio do Fundo Malala, o documento foi baseado na escuta de adolescentes dos três municípios sobre os impactos das desigualdades de gênero no cotidiano escolar. As recomendações foram apresentadas durante o seminário “Meninas por uma Educação com Igualdade”, que aconteceu na Unicap, na manhã desta quarta-feira (16).

O Documento de Recomendações, que foi chancelado por 22 entidades e ativistas que atuam na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, oferece uma série de sugestões sobre estratégias e ações que podem ser implementadas pelas gestões escolares para ajudar a diminuir desigualdades no dia a dia escolar. Os pontos foram elencados a partir da experiência do projeto Na Trilha da educação. Gênero e Políticas Públicas para Meninas, em especial a realização de uma pesquisa que ouviu as estudantes do ensino fundamental II de oito escolas públicas. Ao todo, 438 meninas responderam a questionários que foram aplicados entre os meses de março a setembro de 2022. 

Medidas de enfrentamento ao Racismo, LGBTransfobia, Machismo, Gravidez na adolescência, evasão escolar estão entre as recomendações elaboradas com base no que dispõem o Estatuto da Criança e do Adolescente, Constituição Federal, Conselhos de Educação e outros órgãos da rede de defesa. Para Katia Pintor, coordenadora do DCA do Cendhec, o documento é um importante instrumento em defesa de uma educação com equidade. “O documento de recomendação que o Cendhec apresenta tem a importância de trazer à luz informações e orientações para que as gestões de cada município possam implementar projetos e políticas públicas a partir do que o Cendhec identifica e aponta como necessidade de criação e reestruturação de ações voltadas à garantia da igualdade de gênero nas escolas”. 

A mesa de abertura do evento contou com as presenças do advogado, professor coordenador da Cátedra Unesco/Unicap e presidente do conselho diretor do Cendhec, Manoel Moraes; da coordenadora do Programa de Direito da Criança e do Adolescente (DCA) e coordenadora adjunta da instituição, a cientista social Katia Pintor; e Manuella Donato, consultora de projetos do Fundo Malala no Brasil. 

Pedagoga do Cendhec e integrante da Rede de ativistas do Fundo Malala, Paula Ferreira, atuou na mobilização das escolas durante a pesquisa e ressaltou que “a educação precisa ser um espaço de acolhimento, um espaço protetivo, e para isso é necessário estar em constante diálogo com outros atores da rede de garantia de direitos de crianças e adolescentes. Tivemos um desafio com a implementação da pesquisa num contexto de pandemia, mas entendemos que esse elemento também precisava estar inserido neste estudo, porque vai nos mostrar o quanto a educação de meninas foi ainda mais impactada nesse período”, pontuou a pedagoga. 

Paula Ferreira, pedagoga; e Alcione Ferreira, coordenadora do projeto

Alcione Ferreira, jornalista e coordenadora de projeto do Cendhec, apresentou os primeiros dados da pesquisa que merecem atenção das gestões municipais, uma vez que geram efeitos diretos no desenvolvimento das estudantes, e que também foram apontados no documento de recomendações. “Com o lançamento dos primeiros dados da pesquisa já percebemos o quanto o trabalho só começa, entra em nova fase: a de gerar junto aos atores públicos subsídios que contribuam para pensar efetivamente uma educação comprometida com a pauta de gênero. Não é possível pensar educação de qualidade sem pensar em igualdade de gênero”, afirma a coordenadora, que também participou da mobilização das gestões e secretarias durante todo o processo de aplicação da pesquisa. 

Andreika Asseker, Secretária de Educação de Igarassu, pontuou que a atuação do Cendhec ajudou as gestões a repensar formas de contribuir com o fortalecimento do papel da mulher, das meninas e da educação como fonte promotora de direitos. “Ajudou as meninas a se olharem, terem esse pertencimento do que elas podem, do que elas conseguem. Ajudou uma mudança de mentalidade dos professores, na própria comunidade, como também nas políticas públicas do município”. A Rede de Igarassu adotou a lei do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, garantindo a distribuição de absorventes para meninas da rede de ensino.”Também fizemos algumas mudanças estruturais na política de atendimento dos alunos na rede com essa perspectiva do fortalecimento da mulher. É realmente um programa fantástico que veio como uma pesquisa de intervenção em campo mudando as nossas práticas e a gente só tem que agradecer e fortalecer essa parceria com o CENDHEC”, pontuou. 

Um dos momentos mais especiais da programação foi protagonizado pelas adolescentes Peróla Canuto, da Escola Costa Porto e Sarah Raquel, da Escola Evangelina Delgado, de Igarassu. As duas meninas representaram as estudantes da rede pública municipal e falaram sobre suas reivindicações e sonhos de futuro. “Eu acho que o projeto me ajudou muito e foi muito revolucionário. Foi gratificante participar porque eu reparei que meu olhar se abriu e algumas coisas na escola mudaram sobre mim, também sobre outras meninas. Era muito difícil incluir meu nome social nas questões da escola e hoje em dia, depois desse projeto, está sendo muito mais fácil”, declarou Pérola. 

Assista o seminário na íntegra, disponível no canal do Geledés – Instituto da Mulher Negra

Pesquisa aborda as desigualdades na escola

A pesquisa desenvolvida pelo Cendhec buscou entender os efeitos das desigualdades de gênero na vida escolar de meninas. Realizada com 438 estudantes do ensino fundamental II das redes de ensino municipal público do Recife, Camaragibe e Igarassu, o levantamento compõe uma das ações do projeto Na Trilha da Educação. Gênero e Políticas Públicas para Meninas e mostrou que  94% das estudantes ouvidas querem que o tema igualdade de gênero seja discutido nas escolas. 

Racismo, assédio, lgbtqia+fobia, trabalho doméstico e falta de incentivo para a prática de atividades esportivas são alguns dos problemas apontados pelas adolescentes. a pesquisa foi dividida em dois métodos: quantitativo – por meio da aplicação de questionários;  e qualitativo – através da formação de grupos focais. As adolescentes consultadas responderam ao questionário no método quantitativo; gestoras/es e professoras/es também foram ouvidos durante o estudo. Já no método qualitativo, um grupo de 71 meninas participou de rodas de discussão sobre desigualdade de gênero e educação, sendo 35 estudantes matriculadas no fundamental II e 36 jovens que estão fora da sala de aula, com até 21 anos. Mães de estudantes também foram entrevistadas. 

Uma educação não sexista orienta-se pelo que dispõe a Resolução 34/180 da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), de 18 de dezembro de 1979, a qual se coloca a favor das “mesmas condições de orientação profissional, de acesso aos estudos e de obtenção de diplomas nos estabelecimentos de ensino de todas as categorias”. O documento propõe também a “eliminação de qualquer concepção estereotipada dos papéis masculino e feminino em todos os níveis”.

Rebecca Andressa, de 14 anos, estudante da rede municipal do Recife, tem a resposta na ponta da língua quando o assunto é a educação que ela quer.  “Uma escola que tenha igualdade para meninos e meninas é uma escola que apoia não só os meninos, mas também as meninas para que elas tenham sua voz ouvida. Tem muitas desigualdades na escola e precisamos de mais respeito, não só na escola como em qualquer lugar”. 

“A pesquisa é uma ferramenta muito importante para conhecer os problemas que as meninas enfrentam nas escolas. A partir desses dados e informações, o poder público pode elaborar estratégias e políticas que garantam a equidade de gênero nas escolas”, diz Maíra Martins, representante de Fundo Malala no Brasil, que atua em 10 países: Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia. No mundo, são 81 ativistas, sendo 11 no Brasil – incluindo Paula Ferreira, do Cendhec -, que integram a Rede Malala para articular ações de incidência política a partir de territórios socialmente vulneráveis. 

45,9% das entrevistadas têm 12 anos, 78% das entrevistadas são negras e pardas, 41% são evangélicas e 19,9% são católicas (60% cristãs).

Principais dados

  • Perfil das estudantes ouvidas: 45,9% das entrevistadas têm 12 anos, 78% das entrevistadas são negras e pardas, 41% são evangélicas e 19,9% são católicas (60% cristãs).
  • Desigualdade de gênero: Das meninas entrevistadas em Igarassu, Recife e Camaragibe, 59,1% responderam não saber o que é desigualdade de gênero, ao mesmo tempo, 66% acham que meninas e meninos não têm os mesmos direitos na escola. Sete em cada dez afirmam que seus professores não discutem o tema, porém 94,1% apontam que debater direitos de meninas e meninos é necessário.
  • Falta de incentivo afasta meninas das atividades esportivas: Aproximadamente 60% das estudantes acreditam que existe preconceito em relação às meninas praticarem esportes. Segundo elas, este preconceito é demonstrado pelos meninos, que foram citados em 91,5% das respostas. Um percentual de 26,5% das estudantes afirmaram se sentirem desconfortáveis com comentários sobre suas roupas
  • Assédio na escola: A pesquisa apresenta que 31,5% (sendo 7,1% muitas vezes + 24,4% algumas vezes) já se sentiu incomodada com atitudes/comentários de meninos. Dessas, 54,4% (sendo 11,9% muitas vezes +  42,5% algumas vezes) sentiu que havia maldade, segundas intenções. 53,8% não contou pra ninguém sobre essas atitudes. 
  • Racismo: Uma a cada 4 meninas sofre preconceito em ambiente escolar. De acordo com o levantamento, 26,9% das meninas entrevistadas dizem terem sido afetadas por algum tipo de prejulgamento/repúdio em suas instituições de ensino. Das vítimas, 38,1% atribui a ação ao racismo: 27,1% por ter cabelo crespo/enrolado; 11,0% por ser negra; 
  • Saúde mental, educação e pandemia: Quase metade das meninas em idade escolar se queixam de ansiedade. A pesquisa apresenta que a maioria (48,9%) das meninas entrevistadas se diz, na maior parte do tempo, ansiosa.

Ao todo, 68,3% das consultadas sentiram que a pandemia afetou sua saúde emocional, 65,9% disseram que a tristeza as abalou no período, outras 27,8% conviviam com o medo de perder alguém.

Sem aulas presenciais, o desenvolvimento delas também sofreu um duro golpe. Os números mostram que 55,5% das meninas relataram ter dificuldades para participar de aulas remotas, 43,2% destas atribuíram à dificuldade de acesso à internet. Ainda segundo o levantamento, 48,2% afirmam ter percebido prejuízos importantes em sua aprendizagem durante a crise sanitária.

Informações para a imprensa

Mariana Moraes (81)  9418-6421 – comunicacao@cendhec.org.br
Lenne Ferreira (81) 99818.9238
Fotos: Marlon Diego

Meninas de todo Brasil lançam manifesto com prioridades para educação

Apoiado pela Nobel da Paz Malala, o Manifesto #MeninasDecidem traz as perspectivas de adolescentes de todo país por uma educação pública de qualidade em ano de eleições. Documento será lançado pela Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil em evento na DPU de Recife em 16 de agosto. “As meninas são o futuro do Brasil. Espero que líderes brasileiros levem esse manifesto a sério”, diz Malala Yousafzai.

O Manifesto #MeninasDecidem pelo Direito à Educação será lançado em evento presencial na Defensoria Pública da União no Recife na próxima terça-feira (16/08), das 9h às 12h, com transmissão ao vivo. O documento é resultado do trabalho conjunto da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala (Rede Malala) e do comitê que reúne 20 meninas de todo o Brasil, incluindo meninas negras, periféricas, indígenas, quilombolas, travestis, trans, trabalhadoras do campo e com deficiência, para delinear as prioridades das meninas para a educação. Entre as demandas específicas estão uma educação pública de qualidade, antirracista, antissexista e que combata as desigualdades sociais e a discriminação baseada em gênero.

Neste ano de eleições, a Rede Malala tem defendido que todas/os candidatas/os priorizem o direito à educação de meninas nos planos de governo. Além de ter liderado uma campanha para incentivar meninas de até 17 anos a tirarem o título de eleitora no prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral, a rede apoiada pelo Fundo Malala lançou em junho uma Carta Compromisso pelo Direito à Educação nas Eleições 2022. A Carta propõe um pacto com 40 pontos para que os próximos governos eleitos coloquem a educação como pauta urgente e prioritária. A Carta Compromisso é resultado de uma parceria com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e seu Comitê Diretivo.

“As meninas no Brasil enfrentam múltiplas barreiras para ter acesso a esse direito humano básico que é a educação, como falta de qualidade do ensino, gravidez precoce e condições socioeconômicas”, diz a Nobel da Paz Malala Yousafzai.

“Para estimular melhores resultados, líderes do Brasil devem ouvir as demandas das meninas. Por isso, peço que todas/os as/os candidatas/os endossem o Manifesto #MeninasDecidem e assinem a Carta de Compromisso, da Rede Malala, para, assim, garantir que a educação de meninas seja uma prioridade nos próximos mandatos.”

Malala Yousafzai
Imagem de Malala sentada em uma carteira escolar
Endossado pela Nobel da Paz Malala, o Manifesto #MeninasDecidem pelo Direito à Educação traz as perspectivas de adolescentes de todo país por uma educação pública equitativa e de qualidade em ano de eleições.


Em todo o mundo, mais de 130 milhões de meninas estão fora da escola. Estabelecido em 2013 por Malala e seu pai, Ziauddin Yousafzai, o Fundo Malala atua nos dez países do mundo com algumas das maiores taxas de evasão escolar de meninas, por meio da Rede de Ativistas pela Educação, investindo em ativistas locais da educação, defendendo a responsabilização de governos e amplificando o protagonismo das meninas. No Brasil, a Rede Malala é formada por 11 ativistas e suas organizações e implementa ações em âmbito nacional por financiamento adequado à educação, além de projetos locais em diversos estados que contribuem para garantir o direito à educação de meninas, com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas. A Rede Malala teve um papel fundamental junto ao Congresso para tornar o FUNDEB permanente – um passo importante para garantir que os governos financiem educação gratuita e de qualidade para todes.

Lançamento do Manifesto #MeninasDecidem

O Manifesto #MeninasDecidem pelo Direito à Educação será lançado na terça-feira (16/08) em evento presencial na Defensoria Pública da União (DPU) no Recife com a presença de representantes do Comitê de Meninas que elaborou o documento e das 11 Ativistas pela Educação que integram a Rede Malala no Brasil. A cerimônia irá contar com um painel de discussão liderado por meninas, além de apresentações culturais. O evento será transmitido pelo YouTube do Fundo Malala: youtube.com/malalafund.

Campanha #MeninasDecidem

Para ampliar o engajamento nacional em torno do Manifesto #MeninasDecidem, a Rede Malala lança uma chamada para meninas de todo o Brasil compartilharem suas demandas para a educação, por meio de vídeo, áudio ou texto, pelas redes sociais. Basta marcar a @RedeMalala no Instagram ou Facebook. Os depoimentos serão compilados e divulgados pelos canais digitais globais do Fundo Malala.

Sobre a Rede Malala

Inspirado pelas raízes de Malala e Ziauddin Yousafzai como ativistas locais no Paquistão, o Fundo Malala estabeleceu em 2017 a Rede de Ativistas pela Educação (Education Champion Network) para investir, apoiar o desenvolvimento profissional e dar visibilidade ao trabalho de mais de 80 educadores de dez países (Afeganistão, Bangladesh, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão, Tanzânia e Turquia) que trabalham a nível local, nacional e global em defesa de mais recursos e mudanças políticas necessárias para garantir o direito à educação das meninas.

São Paulo-SP 28 jun 2022 | Evento da Semana de Ação Mundial no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, em prol da Campanha pela Educação. No evento foi apresentada a carta compromisso pela Educação, direcionada a candidatos às eleições 2022. Crédito Joyce Cury


No Brasil, a Rede é formada por 11 ativistas e suas organizações e implementa projetos em diversas regiões do país para quebrar as barreiras que impedem meninas de acessar e permanecer na escola, com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas. A Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil é formada pela seguintes ativistas e suas organizações:

Ana Paula Ferreira De Lima | Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ)
Andréia Martins de Oliveira Santo | Redes da Maré
Andressa Pellanda | Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Benilda Regina Paiva De Brito | Projeto Mandacaru Malala
Cassia Jane Souza | Centro das Mulheres do Cabo (CMC)
Cleo Manhas | Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)
Denise Carreira | Ação Educativa
Givânia Silva | Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ)
Paula Ferreira da Silva| Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (CENDHEC)
Rogério José Barata | Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF)
Suelaine Carneiro | Geledés Instituto da Mulher Negra

Contato para imprensa

Karina Gomes | Comunicação do Fundo Malala no Brasil
karina.gomes@malalafund.org | 11 98849-7361 (WhatsApp)

Malala comemora 25 anos com lista de 25 ações pela educação de meninas

A Nobel da Paz completa 25 anos nesta terça (12/07) com o mesmo desejo que inspirou a sua luta ainda quando criança: que todas as meninas completem 12 anos de educação formal e possam aprender e liderar.

Gênero e Educação - Malala comemora 25 anos com lista de 25 ações pela educação de meninas. Imagem da Malala e sentada em uma sala de aula. Créditos da Imagem: Divulgação/Fundo Malala

A Nobel da Paz Malala Yousafzai completa 25 anos nesta terça-feira (12/07) com um pedido de presente especial: doações para apoiar o trabalho do Fundo Malala e de Ativistas pela Educação em dez países, incluindo o Brasil. Malala ainda preparou uma lista de 25 ações que qualquer pessoa pode tomar para avançar o direito à educação de todas as meninas. 

Além do Brasil, o Fundo Malala atua no Afeganistão, Bangladesh, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão, Tanzânia e Turquia por meio de diversos programas, incluindo a Rede de Ativistas pela Educação. No Brasil, a Rede é formada por 11 ativistas e suas organizações que trabalham a nível local, nacional e global em defesa de mais recursos e mudanças políticas necessárias para garantir educação pública de qualidade a todas as meninas. Mais informações no Instagram da @RedeMalala

Confira a lista de 25 ações pelo direito à educação das meninas elaborada por Malala: 

Hoje, eu completo 25 anos! Eu sei, também não consigo acreditar. Parece que foi ontem que me formei no ensino médio, ansiosa por tudo o que o mundo tinha a oferecer. Mas, no meu aniversário de 25 anos, ainda quero o que eu desejava naquela época: que as meninas de todos os lugares tenham a oportunidade de frequentar a escola, aprender e liderar.

Em homenagem aos meus 25 anos, aqui estão 25 ações que você pode tomar agora para apoiar a educação de meninas:

1. Faça uma doação para o Fundo Malala e ajude-nos a apoiar jovens mulheres e Ativistas pela Educação em todo o mundo

2. Peça aos líderes dos seus países que defendam as meninas fora da escola no Afeganistão

3. Você administra uma empresa? Contrate jovens mulheres

4. Invista no futuro das meninas e doe uma porcentagem de seus lucros para colocar as meninas na escola

5. Se você é uma jovem mulher, ocupe espaços e levante sua voz na sua comunidade ou trabalho

6. Comece um clube do livro e leia histórias centradas nas experiências das meninas

7. Pesquise um país onde as meninas estão fora da escola e ensine a um familiar ou amigo o que você aprendeu

8. Conheça os líderes locais de educação em sua comunidade

9. Leia sobre as ligações entre a educação das meninas e as mudanças climáticas

10. Celebre as conquistas de meninas e mulheres

11. Siga ativistas feministas nas redes sociais

12. Use suas redes sociais para cobrar governantes

13. Conte a crianças histórias de mulheres poderosas ao longo da história

14. Organize uma exibição de filme ou documentário sobre educação de meninas e equidade de gênero

15. Organize um evento de perguntas e respostas em seu trabalho ou escola centrado na educação de meninas – e garanta que elas estejam no painel para falar sobre suas experiência

16. Fale com sua/seu professor favorito, compartilhando como contribuiu positivamente para sua vida. E marque @malala na postagem

17. Amplifique as vozes das garotas encaminhando um artigo do blog @on.assembly para alguém

18. Participe de palestras ou assista a vídeos  de fontes confiáveis ​​sobre a história da discriminação, desigualdade de gênero e econômica ou colonialismo em seu país e em nosso mundo

19. Crie uma história do Instagram ou um vídeo do TikTok dedicado a aumentar a conscientização sobre a educação das meninas

20. Compartilhe sua própria história com a educação e o que a escola fez por você

21. Entre em contato com sua escola ou conselho local de educação e peça que os currículos escolares em sua comunidade sejam inclusivos e favoráveis ​​ao clima

22. Procure informações sobre práticas de advocacy

23. Não se silencie diante de injustiças!

24. Seja um consumidor consciente. Compre de marcas e empresas que trabalham para acelerar o progresso de meninas e mulheres

25. Fale com as garotas, não sobre elas. Eles entendem muito sobre os desafios que nosso mundo enfrenta. Todos nós podemos aprender com suas ideias e experiências

Pré-candidaturas e partidos assinam Carta Compromisso pelo Direito à Educação

Documento elaborado pela Rede Malala e Campanha Nacional pelo Direito à Educação apresenta 40 compromissos para os próximos anos pela educação; evento de lançamento na Faculdade de Direito da USP contou com representações dos partidos PCdoB, PCO, PDT, PRTB, PSDB, PSOL, PT e PV.

Gênero e Educação - Pré-candidaturas e partidos assinam Carta Compromisso pelo Direito à Educação. Na imagem está a Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala Brasil

A Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação com seu Comitê Diretivo lançaram na última terça, 28/06, a Carta Compromisso pelo Direito à Educação nas Eleições 2022com o objetivo de garantir um financiamento adequado à educação nos próximos governos e legislaturas eleitas. 

O documento contém 40 compromissos por uma educação pública, equitativa e de qualidade e é destinado a candidaturas à presidência, legislativos federais e estaduais e a governos. 

“O evento foi importante especialmente por causa da diversidade de movimentos sociais e partidos com suas pré-candidaturas, já mostrando a relevância dessa Carta. Muitos estados já estão trabalhando nos próximos passos de enraizamento dos compromissos nos territórios, tornando essa carta viva nas comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, no campo, nos centros urbanos, de todo o país”, afirma Andressa Pellanda,  coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e ativista pela Educação da Rede Malala.

LEIA A CARTA COMPROMISSO

A Carta Compromisso, elaborada por 11 ativistas apoiadas pelo Fundo Malala no Brasil e pelo Comitê Diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, foi assinada por representantes de pré-candidaturas em cerimônia presencial na manhã da última terça-feira (28/06) no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), como parte da Semana de Ação Mundial 2022 (SAM), a maior iniciativa global de mobilização pelo direito humano à educação, realizada simultaneamente em 100 países desde 2003.

O lançamento contou com a presença de autoridades públicas e movimentos sociais ligados à defesa dos direitos humanos. Os partidos PCO, PDT, PRTB, PV, PSDB, PSOL, PCdoB e PT comprometeram-se em incorporar os pontos da Carta Compromisso nos  programas das suas candidaturas.

No evento, estiveram entre os presentes Sônia Guajajara, líder indígena maranhense e pré-candidata a Deputada Federal; Ana Mielke, pré-candidata a Deputada Estadual (PSOL-SP); Carina Vitral, pré-candidata a Deputada Estadual (PCdoB-SP) e Felício Ramuth, pré-candidato ao Governo de São Paulo (PSD).

“Esse é um momento de repactuar, de tornar a agenda da educação prioritária para que os direitos conquistados ao longo de tantos anos sejam de fato implementados. A pandemia mostrou que a educação é central para a garantia desses direitos e que a dificuldade de acesso à educação devido ao isolamento social afetou desproporcionalmente as meninas negras, indígenas, quilombolas e de periferia”, disse Maíra Martins, representante do Fundo Malala no Brasil.

A leitura do documento foi feita pela jovem indígena Maria Clara da Cruz, do povo Tumbalalá, do município de Abaré, no norte da Bahia. Em um discurso emocionado, ao declamar um poema, Maria destacou as dificuldades enfrentadas por sua comunidade escolar. “Eu confio e acredito no poder da educação. Venho pedir aqui que esse direito [à educação] não seja apenas algo pendurado na estante, mas que venha ser espalhado para trazer esperança. Que seja como chuva em meio a seca e traga frutos em abundância”, disse a ativista indígena e estudante de Direito, que é integrante do projeto Meninas na Luta (Cunhataí Ikhã), apoiado pelo Fundo Malala.

Entre os destaques da Carta Compromisso estão:

● Revogação do “Teto de Gastos” (EC 95/2016)

● Plena regulamentação e implementação do novo e permanente Fundeb (Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação)

● Aprovação e implementação de um Sistema Nacional de Educação, tendo como referência o Custo Aluno-Qualidade (CAQ) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb)

● Cumprimento integral da Lei 13.005/2014, do Plano Nacional de Educação (PNE), e construção de um novo Plano com ampla participação social

● Revogação da Reforma do Ensino Médio

● Implementação plena da Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) e defesa intransigente do princípio da gratuidade no ensino superior público

●     Garantia de educação de qualidade para as populações quilombolas, indígenas, ribeirinhas e do campo, conforme suas especificidades e com financiamento adequado para a implementação das respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais

Como assinar a Carta Compromisso – ações de julho a outubro de 2022

As Redes irão acompanhar de perto as/os pré-candidatas/os ao longo das eleições até o fim dos primeiros 100 dias de mandato com o objetivo de verificar se estão engajadas/os e cumprindo com os pontos assumidos por meio da assinatura da Carta Compromisso.

Pellanda explica que a Carta Compromisso será promovida junto a dezenas de movimentos sociais ligados à articulação, bem como aos Comitês Regionais da Rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Ativistas são incentivados a entregar a carta a políticos de seus territórios. 

Candidaturas que queiram assinar a Carta Compromisso poderão realizar reuniões ou eventos, com registro fotográfico do ato, e envio digital do documento assinado para o e-mail mobilizacao@campanha.org.br

Leia a Carta Compromisso na íntegra. 

Contato para imprensa

Renan Simão | Coordenador de Comunicação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
WhatsApp: (11) 95857-0824 E-mail: comunicacao@campanhaeducacao.org.br

Karina Gomes | Comunicação da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala
WhatsApp: (11) 98849-7361 E-mail: karina.gomes@malalafund.org 

Sobre a Semana de Ação Mundial

A Semana de Ação Mundial (SAM) é uma iniciativa realizada simultaneamente em mais de 100 países, desde 2003, com o objetivo de informar e engajar a população em prol do direito à educação. A SAM já mobilizou mais de 90 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo cerca de 2 milhões de pessoas apenas no Brasil. Com o tema “Compromisso para a eleição: não corte da educação!”, a SAM 2022 vai promover a participação democrática de todas e todos, em especial das meninas, nas eleições deste ano.

Sobre a Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala

Com apoio do Fundo Malala e inspiradas pela trajetória da Nobel da Paz Malala Yousafzai, 11 Ativistas pela Educação e seus organizações lutam para garantir o direito à educação de todas as meninas. A Rede Malala implementa projetos em diversas regiões do país para quebrar as barreiras que impedem meninas de acessar e permanecer na escola, com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas. Entre ativistas e organizações da Rede estão:

Ana Paula Ferreira De Lima | Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ)
Andréia Martins de Oliveira Santo | Redes da Maré   
Andressa Pellanda | Campanha Nacional pelo Direito à Educação                            
Benilda Regina Paiva De Brito | Projeto Mandacaru
Cassia Jane Souza | Centro das Mulheres do Cabo (CMC)
Cleo Manhas | Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)
Denise Carreira | Ação Educativa
Givânia Silva | Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ)
Paula Ferreira da Silva| Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (CENDHEC)
Rogério José Barata | Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF)
Suelaine Carneiro | Geledés Instituto da Mulher Negra

Sobre o Comitê Diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (Campanha) é considerada a articulação mais ampla e plural no campo da educação no Brasil, constituindo-se como uma rede que articula centenas de grupos e entidades distribuídas por todo o país, incluindo comunidades escolares; movimentos sociais; sindicatos; organizações não-governamentais nacionais e internacionais; grupos universitários, estudantis, juvenis e comunitários; além de milhares de cidadãos que acreditam na construção de um país justo, democrático e sustentável por meio da oferta de uma educação pública de qualidade. A missão da Campanha é atuar pela efetivação e ampliação das políticas educacionais para que todas as pessoas tenham garantido seu direito a uma educação pública, gratuita, inclusiva, laica, e de qualidade no Brasil. O Comitê Diretivo da Campanha é formado pelas seguintes organizações:

Ação Educativa
ActionAid Brasil
Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação – Fineduca
Centro de Cultura Luiz Freire – CCLF
Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará – CEDECA/CE
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE
Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil – Mieib
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Rede Escola Pública e Universidade – REPU
União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação – UNCME
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME

#MeninasDecidem: campanha incentiva meninas quilombolas, indígenas e periféricas a tirar o título de eleitora

Iniciativa segue presente nas redes sociais, incentivando jovens de 16 a 17 anos a tirarem o título de eleitora para as eleições de 2022.

Imagem de duas meninas segurando o título de eleitor. Gênero e Educação: #MeninasDecidem: campanha incentiva meninas quilombolas, indígenas e periféricas a tirar o título de eleitor

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 1,1 milhão de jovens tiraram o título de eleitor nos primeiros três meses de 2022. Até o dia 4 de maio, esse número pode aumentar ainda mais, graças a iniciativas de campanhas nas redes sociais, como a #MeninasDecidem, iniciativa promovida pela Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil, que reúne ONGs, coletivo e educadores, para mobilizar e incentivar meninas de 16 e 17 anos a tirar o título de eleitora, para exercer o direito ao voto, participar de discussões sobre políticas públicas e diversificar o debate sobre questões de gênero.

Para entender como essas iniciativas chegam para a juventude, conversamos com  Jéssica Almeida, 16, moradora do bairro Jardim Carolina, bairro localizado no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo. Ela é estudante do segundo ano do ensino médio em tempo integral de uma escola pública e mora com os pais.

Incentivada por um grupo de educadores que valorizam a participação da juventude no exercício da cidadania, a jovem tirou o título de eleitora recentemente na escola em que estuda. Fruto da iniciativa dos professores, Jéssica está empolgada com o primeiro voto e relata que alguns colegas de classe também decidiram fazer o registro do título, para votar nas eleições de outubro.

“Eu acredito que o meu voto é importante, eu sempre tive essa vontade de votar. E agora me sinto incluída, não tanto quanto eu gostaria, mas eu tenho que lutar pelos meus direitos, e a política vai me ajudar”, afirma a estudante de 16 anos.

A jovem enfatiza que a decisão de tirar o título de eleitora é importante não só pela ação do voto em si, mas para ela se entender como mulher na sociedade e as formas como ela poderá contribuir daqui em diante.

“Acredito que o maior impacto que senti foi o peso de ser mulher preta, mas de forma positiva né, porque a mulher preta não tem tanta visibilidade na sociedade, mas a mulher preta é necessária”, aponta Jéssica.

Com o apoio da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAI), organização social que integra a Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala, a campanha #MeninasDecidem atravessou barreiras sociais e geográficas e chegou a lugares importantes na luta por direitos sociais no Brasil, como no município de Pau Brasil, localizado no sul da Bahia, onde reside a jovem indígena Clarisse Alves, 18, da comunidade da Aldeia Caramuru do povo Pataxó Hãhãhãe. 

Ela atuou como ativista e mobilizadora na campanha #MeninasDecidem, incentivando outras meninas de 16 e 17 anos a tirar o título de eleitora e exercer o direito ao voto.

Clarisse ressalta a importância da participação política dos povos indígenas e da presença de meninas nesse cenário. “A minha relação com a política se dá através da cobrança dos políticos da minha região, para que realizem as promessas das campanhas, e também através do meu ativismo. Desde os 16 anos, eu faço várias ações em defesa da educação de meninas indígenas”, relata a jovem.

Ela complementa, afirmando que somente unidas as meninas poderão promover alguma mudança no cenário político. “Juntas somos mais fortes e lutar por uma educação melhor na base da política é fundamental para garantir nossos direitos.”

Clarisse tirou o título de eleitora em 2020, quando tinha 17 anos. Portanto, as eleições de 2022 ficarão marcadas na sua trajetória de ativismo, por ser a primeira vez que ela irá votar em eleições nacionais. Consciente do seu papel como eleitora, ela espera que as suas ações sirvam para que outras meninas e adultos lembrem da educação, saúde, questões de gênero, das melhorias para os territórios indígenas e para o mundo antes de decidirem o seu candidato.

Além da comunidade indígena no sul da Bahia, a campanha também atingiu o estado de Pernambuco, onde Bianca Maria, 20, jovem moradora do Quilombo Feijão e Posse, reside junto com seus familiares no município de Mirandiba, território onde promovem a ancestralidade afro-brasileira, a partir da preservação do modo de vida quilombola.

Atualmente, Bianca mora com seus pais e está cursando o segundo módulo da licenciatura em Geografia. Como parte da sua contribuição para as meninas que vivem no Quilombo Feijão e Posse, a estudante gosta de participar de reuniões e palestras sobre direitos humanos na universidade onde estuda, para se apropriar cada vez mais da importância da mulher na política.

“As meninas não têm oportunidade de fazerem o que querem, só pelo fato de serem meninas, então é importante que elas participem da política, porque nós vamos se sentir mais livres para poder falar”, acredita.

Com o título de eleitora em mãos, Bianca afirma que vai votar esse ano, pois acredita ser parte de muitas mudanças que podem e precisam acontecer. “Nessa eleição estou bastante animada, e minha expectativa é que tenha muitos jovens, porque pra mim é eles que vão fazer a diferença, e espero que seja para melhor”, afirma.

A jovem relata que está participando do projeto EduQuilombo, processo formativo que discute as melhorias na educação escolar quilombola de Mirandiba e de todo o entorno.

“A gente fala da falta de transporte, da falta de professores capacitados nas escolas, da falta de merenda de qualidade para os alunos. Então essa é a oportunidade de falar dos nossos direitos que não estão sendo atendidos”, finaliza Bianca.

Educação para mudar a política

Engajada na luta dos povos indígenas pelo direito à educação, a historiadora Ana Paula Ferreira de Lima, acompanha de perto o cotidiano de meninas adolescentes que participam do projeto Cunhataí Ikhã, iniciativa de promoção da educação escolar indígena, direitos humanos e igualdade de gênero, onde ela atua na coordenação pela ANAI, que tem apoio do Fundo Malala.

Para Ana Paula, os projetos, formações e campanhas que estimulam o contato de meninas com a política desde cedo, podem gerar a oportunidade para elas entenderem processos, importância e o impacto da política na vida delas de maneira mais qualificada.

“O objetivo é fazer elas perceberem que política não é distante e que as escolhas impactam diretamente na vida delas. Existe uma construção forte que política é só corrupção e está longe das nossas vidas e do nosso entendimento. Então é importante mostrar que quanto mais pessoas parecidas com elas estiverem ocupando os cargos políticos, mais chance tem de a realidade delas mudar”, avalia a historiadora.

Ela também ressalta que essas iniciativas despertam o interesse das meninas pela política institucional e isso faz muita diferença no cenário político em que vivemos. “Na medida que elas perceberem que representatividade importa em todos os espaços que elas circulam, elas se tornam multiplicadoras em suas comunidades e incentivam outras meninas a se interessarem pelo tema”, finaliza.

Edital Igualdade de Gênero 2022: confira a primeira lista das propostas aprovadas

Primeira lista do edital 2022 conta com 26 propostas aprovadas e que visam a promoção da igualdade de gênero nas escolas.

Ilustração de plano de aula do edital Igualdade de Gênero na Educação Básica. Ao centro da imagem há um homem de cabelo roxo segurando uma flor rosa. Ao fundo, há flores de diferentes tipos. Ilustradora: Barbara Quintino.

Nesta terça-feira (05), às 17h, foi celebrada em cerimônia de reconhecimento publico das propostas mais criativas e o resultado da segunda edição do Edital Igualdade de Gênero na Educação Básica.

Com foco na Educação Infantil e na Educação de Jovens e Adultos, foram selecionados 26 propostas que promovem a igualdade de gênero nas escolas. O edital é uma iniciativa da Ação Educativa, com apoio do Fundo Malala, com a promoção de mais 50 entidades comprometidas com a luta pelo direito humano à educação de qualidade.

80 propostas foram inscritas entre novembro e dezembro de 2021. Um comitê formado por especialistas em educação infantil e educação de jovens e adultos selecionou as propostas aprovadas e as mais criativas, considerando as especificidades da educação para crianças de 0 a 5 anos e para pessoas jovens, adultas e idosas.

Saiba quais são as propostas selecionadas pelo comitê como mais criativas e engajadoras:

As pessoas serão contempladas com a publicação no banco de planos do site Gênero e Educação e um leitor digital.

Propostas da Educação de Jovens e Adultos

  • Ariany Cavalcante Lobo
    Dandaras que aquilombam a EJA com o uso da gamificação
  • Marcela Boni Evangelista
    Projeto Fala, Mulher
  • Robson Ferreira Fernandes
    Mais do que uma hashtag, vidas negras importam
  • Tarsila Tonsig Garcia Teijeiro
    O ensino de História através de uma perspectiva de gênero
  • Verônica Toste Daflon, Luna Ribeiro Campos, Raquel Simas
    Mulheres na sociologia do século XIX: gênero e os temas clássicos da disciplina

Propostas da Educação Infantil

  • Andréa Juliana Costa
    Brincadeiras infantis: possibilidades de tecer diálogos com as famílias e crianças sobre as relações de gênero
  • Paula Teixeira Araujo
    Conhecendo uma astronauta negra: representatividade, histórias e brincadeiras
  • Tânia Maria Lima, Mila Nayane da Silva, Sandra Maria Gadelha de Carvalho, Claudiana Nogueira de Alencar
    Quem dança, os preconceitos espanta: o balé como uma dança de todas e todos

Conheça a 1ª lista de aprovadas

As pessoas proponentes serão contempladas com a publicação das propostas no banco de planos do site Gênero e Educação.

Propostas da Educação de Jovens e Adultos

  • Elisângela Cristina Siqueira de Melo
    Igualdade, gênero intergênero.
  • Jussara Barbosa da Silva Gomes, Larissa de Pinho Cavalcanti
    Sempre é tempo de desconstruir o eurocentrismo.
  • Letícia de Cássia Oliveira, Rosemary Rodrigues de Oliveira
    Uso de linguagem fílmica e jogos, para a reflexão das desigualdades.
  • Maíra Mello Rezende Valle, Daiany Assunção de Sá
    Contracepção: Responsabilidade Compartilhada
  • Marcielly Cristina Moresco
    Fanzine como potência educativa no combate à violência doméstica
  • Maria Carolina Almeida de Azevedo
    Espaços reais: por nossas vozes e afetos: protagonismo discente na EJA
  • Mayara Amaral dos Santos, Otavio Gomes dos Santos, Evelin Purcini, Andre Lopes dos Santos
    Flor do asfalto: Uma nova oportunidade a partir de letramentos múltiplos
  • Roni de Mello Peronio, Ana Paula Cocco Bastos, Fabio Rossi, Marcela Ravasio
    Uma abordagem dialógica sobre a divisão sexual do trabalho
  • Severino Alves Reis
    IDENTIDADE: Quem sou Eu? Quem somos nós.

Propostas da Educação Infantil

  • Cristiane Pereira Lima, Léia Teixeira Lacerda
    PIPO E FIFI: CONHECER PARA PREVENIR
  • Daniela Maria Granja Peixoto
    Pensando sobre a igualdade no trabalho
  • Elisângela Cristina Siqueira de Melo
    (re)Contando as histórias dos avós pretos
  • Glauce Stumpf
    Pessoa – introdução aos direitos humanos numa perspectiva de gênero
  • Luciana Lage de Souza, Juliana Hui Min Wu
    Arco-Íris da Alegria e Diversidade
  • Nathalia Cristina Servadio
    Meninas também jogam futebol
  • Renata Santos Pedreira
    O cravo brigou com a rosa: repensando as relações de gênero na cantiga de roda
  • Vanderlucia Cutrim de Sousa
    Identidade e Educação Escolar Quilombola: O empoderamento Infantil Quilombola.
  • Virginia Costa Alves, Daiana Scherer Correa Tavares
    Sonhos são bem vindos, e possíveis – Pintando o 7, 8, 9, 10 na ed. Infantil

Observações gerais: a publicação das propostas aprovadas será realizada após a revisão feita a partir de recomendações do Comitê de Seleção entre abril e maio. Proponentes poderão receber solicitações de modificações dos projetos para atender aos critérios de seleção do Edital. Para mais informações: generoeeducacao@acaoeducativa.org.br

Centro das Mulheres do Cabo, com apoio do Fundo Malala, lança pesquisa evasão escolar de meninas e jovens mulheres

O diagnóstico conduzido e protagonizado por meninas e adolescentes traça o perfil das alunas que estão fora da escola no município de Cabo de Santo Agostinho (PE) e identifica o impacto da evasão escolar na vida das estudantes.

Imagem de "Centro das Mulheres do Cabo, com apoio do Fundo Malala, lança pesquisa evasão escolar de meninas e jovens mulheres", matéria no site Gênero e Educação. Duas garotas aparecem estudando

Nesta terça-feira, 29 de março, às 14h, será realizado, no Centro Administrativo Municipal (Cam1), na Torrinha, o lançamento do Diagnóstico Participativo sobre a Evasão Escolar das Meninas e Jovens Mulheres do Cabo de Santo Agostinho (PE), que traça o perfil das adolescentes e jovens mulheres fora da escola, mostrando as causas e os impactos da evasão escolar.

O estudo apresenta ainda recomendações para prevenir a evasão escolar e orientar a busca ativa para o retorno dessas meninas e jovens mulheres à sala de aula, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, considerando, o contexto da pandemia de Covid-19.

Segundo a pesquisa, um dos principais motivos do abandono escolar foi o impacto direto da Covid-19, 37,5% das entrevistadas deixaram de estudar devido à falta de celular com internet, o que as impediu de acompanhar as aulas virtualmente.

A gravidez precoce, também aparece entre as principais causas de abandono escolar. Das meninas entrevistadas, 14,6% tiveram que trabalhar para gerar renda para a própria subsistência e de suas famílias. A interrupção das aulas presenciais foi avaliada como muita negativa pelas meninas: 95,2% delas desejam voltar às aulas presenciais. Para 40% das entrevistadas, as escolas não ofereceram a estrutura necessária para garantir segurança sanitária no contexto de pandemia.

“As meninas e jovens mulheres sofreram mais do que os meninos e rapazes jovens na pandemia, porque o trabalho doméstico, de cuidar da casa e das pessoas idosas, com deficiência ou doentes, recai sobretudo sobre as mulheres que estavam em casa. Ou seja, a pressão em cima dessas meninas e jovens mulheres foi muito maior, impactando negativamente o seu desempenho escolar e levando muitas delas a abandonarem a escola”, explica a integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil, Cássia Jane, que coordenou a pesquisa aplicada nos diversos bairros do município de Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana de Recife.

O diagnóstico, protagonizado e conduzido por meninas e jovens mulheres cabenses, é parte do projeto “Meninas em Movimento pela Educação”, realizado pelo Centro das Mulheres do Cabo com o apoio do Fundo Malala e a cooperação técnica da Prefeitura do Cabo. O projeto dá suporte a cerca de 90 meninas para atuarem como ativistas por melhores condições nas escolas públicas em que estudam e a se engajarem na promoção da igualdade de gênero no ambiente escolar. Entre os objetivos do projeto estão identificar as causas e combater a evasão escolar, além de implementar um plano para aprimorar as políticas públicas relacionadas à promoção do direito à educação de meninas e jovens mulheres do município, com foco em igualdade de gênero e raça.

Pesquisas globais do Fundo Malalala mostram que o aumento das taxas de pobreza, responsabilidades domésticas, trabalho infantil e gravidez na adolescência afetaram desproporcionalmente a capacidade das meninas de aprender durante a pandemia, impedindo o retorno delas à escola.


Saiba mais: Os desafios de estudantes do ensino médio na volta às aulas presenciais


Depoimento de menina

Das 96 meninas e jovens entrevistadas, 72,9% residem em oito bairros e comunidades de Cabo de Santo Agostinho: Vila Claudete, Bairro São Francisco, Nova Tatuoca, Gaibu, Engenho Mercês, Enseadas do Corais, Alto da Bela Vista e Cidade Garapu. A pesquisa também foi realizada com os/as gestores/as das escolas públicas, profissionais de saúde e conselheiros/as tutelares.

Sobre a Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala

Inspirado pelas raízes de Malala e Ziauddin Yousafzai como ativistas locais no Paquistão, o Fundo Malala estabeleceu em 2017 a Rede de Ativistas pela Educação (Education Champion Network) para investir, apoiar o desenvolvimento profissional e dar visibilidade ao trabalho de mais de 80 educadores de oito países que trabalham a nível local, nacional e global em defesa de mais recursos e mudanças políticas necessárias para garantir educação secundária a todas as meninas. O Fundo Malala apoia educadores no Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia. No Brasil, a Rede é formada por 11 educadoras e educadores dedicados a construir esforços coletivos pela educação escolar de qualidade nas regiões do país onde a maioria das meninas não frequenta o ensino secundário, com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas.

Serviço:

O quê: Lançamento do Diagnóstico Participativo sobre a Evasão Escolar das Meninas e Jovens Mulheres do Cabo de Santo Agostinho

Local: Centro Administrativo Municipal CAM 1, Torrinha Centro do Cabo

Quando: 29 de março, às 14h

Mais informações:

Cássia Jane – Integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil
(81) 98883.3584

Assessor de Comunicação do Centro das Mulheres do Cabo
(81) 99511.1987

Malala comanda editoria de opinião da The Economist no Mês da Mulher

Nobel da Paz é a primeira especialista já convidada a comandar a seção de opinião da revista. No Dia Internacional da Mulher, Malala publica artigo com críticas a líderes globais e abre espaço para jovens mulheres ativistas analisarem a situação de emergência da educação de meninas no mundo.

Imagem de Malala, Nobel da Paz, de Agnès Ricart

FUNDO MALALA, 8 de março de 2022 – O artigo de Malala Yousafzai publicado nesta terça-feira (08/03) na seção de opinião “By-Invitation”, da revista britânica The Economist, elogia a determinação de meninas ativistas no Brasil e critica a forma como governantes ignoram o direito à educação.

“Todas as meninas sabem muito bem como o mundo falha com elas. De escolas na Nigéria a campos de refugiados no Iraque ou oficinas de arte no Brasil, as meninas que eu encontro ao redor do mundo sempre compartilham histórias pessoais inspiradoras e críticas inteligentes sobre o poder, que informam e influenciam minha campanha pela educação de meninas por meio do Fundo Malala”, escreve.

O Fundo Malala, co-fundado em 2013 por Malala e seu pai, Ziauddin Yousafzai, inspirados na trajetória de ambos como ativistas locais no Paquistão, apoia programas, educadores e organizações que atuam nos países com os piores índices educacionais para garantir educação pública de qualidade a crianças e adolescentes e o retorno à sala de aula de cerca de 130 milhões de meninas no mundo que estão fora da escola.

Como editora convidada da The Economist, a Nobel da Paz abriu espaço para quatro jovens ativistas – amigas e também conselheiras do Fundo Malala –, para analisar temas profundamente conectados com a educação de meninas no mundo: conflito, clima, inclusão digital e discriminação.

Educação de meninas

Kiara Nirghin, inventora e cientista da África do Sul, é colaboradora frequente do blog Assembly, publicação digital do Fundo Malala feita por meninas e para meninas com base na experiência de Malala, aos 11 anos no Paquistão, quando escrevia um blog para a BBC sobre as ameaças do talibã. A ativista pelos direitos das mulheres Freshta Karim escreve sobre a experiência de fugir do Afeganistão. TK Saccoh, de Serra Leoa, reflete sobre como o racismo e a discriminação baseada em gênero afetam o aprendizado das meninas e como professores podem ajudar. Vanessa Nakate, ativista pelo clima no Uganda, pede uma abordagem inclusiva nos debates e leis sobre questões ambientais globais.

“Acredito que o mundo deveria ouvir mais as meninas e jovens mulheres e dar a elas plataformas mais amplas para falarem”, complementa Malala no artigo. “Espero que eles [os artigos das ativistas convidadas] lembrem vocês sobre como as meninas e mulheres podem contribuir quando recebem ferramentas para terem sucesso – e por que devemos encontrar uma maneira de garantir que todas as meninas possam completar 12 anos de educação gratuita, segura e de qualidade.”A Nobel da Paz ainda aponta dados alarmantes. Desde o início da pandemia de Covid-19, dois terços dos países de baixa e média renda cortaram os gastos com educação. Em 2020, o Fundo Malala estimou que a pandemia poderia forçar quase 20 milhões de meninas com idades entre 11 e 18 a abandonarem a escola. “A pandemia, as mudanças climáticas, o racismo e as desigualdades têm exacerbado os problemas que as meninas enfrentam”, destaca a co-fundadora do Fundo Malala.

Projeto Mandacaru Malala promove seminário com foco na educação de meninas e saberes ancestrais

Lançamento ao vivo acontece nesta quinta-feira (11) e contará com a presença da educadora e Rainha da ciranda Lia de Itamaracá

Em celebração ao lançamento do Projeto Mandacaru Malala, nesta quinta-feira (11) acontecerá o seminário “Flores do Mandacaru na Ciranda de Saberes”, uma ação do projeto Mandacaru Malala, coordenado por Benilda Brito, Ativista pela Educação da Rede Fundo Malala, Pedagoga, Mestre em Gestão Social/UFBA e militante do Movimento de Mulheres Negras e Diretos Humanos.

O evento será transmitido ao vivo pelo Youtube e Facebook as 10h e conta com a parceria da Ação Educativa. O encontro irá reunir educadoras/es, famílias, estudantes, quilombolas, indígenas, ativistas e tem como propósito abordar valores afrodispóricos, pretagogias, afrocentrismo e denunciar o epistemicídio. Certificados também serão disponibilizados.

Além disso, o primeiro seminário contará com a presença da compositora e cirandeira Lia de Itamaracá, fazendo as honras da abertura junto com a idealizadora e coordenadora do projeto Benilda Brito. A seguir, O seminário é dividido em duas rodas. Confira a programação completa:

1ª roda – Saberes Afro/Indígena, com:

  • Eduarda Moreira Estudante, integrante da associação as Karolinas e fundadora do Coletivo Jovem localizado em Exú/PE.
  • Mazer Souza – Quilombola da comunidade Feijão, professora especializada em Neuropsicopedagogia e líder comunitária.
  • Melrilly Gonçalves – Indígena da comunidade Kaimbé, estudante do ensino médio e integrante do Projeto Cunhataí Ikhã.
  • Joaninha Dias Professora, poeta, escritora, candomblecista e juremeira.
  • Ayanny Diniz – Quilombola da comunidade Serra do Talhado, estudante do ensino médio.
  • Cirila Kaimbé – Indígena da comunidade Kaimbé é professora e coordenadora Estadual de Educação Escolar Indígena NTE 17 Ribeira do Pombal e apoiadora do Projeto Cunhataí Ikhã.

2ª roda – Pretagogias, Afrocentrismo. Basta de Epistemicídio, com:

  • Iyalorixá Denise Botelho – Drª em Educação e Relações Étnico-Raciais, com ênfase em interseccionalidades de raça e gênero, Docente Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades (PPGECI-UFRPE/FUNDAJ). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Raça, Gênero e Sexualidades “Audre Lorde” e Membro do Coletivo de Acadêmicas Negras Luiza Bairros.
  • Maria Aparecida de Matos – Doutora em Educação Literária, Docente da UFT, desenvolve projetos de letramento afro literário em comunidades quilombolas no Sudeste do Tocantins, em especial no Território Kalunga.
  • Pablo Soares – Mestre em Cultura e Sociedade/UFBA, cordelista, performance e pesquisador. Recentemente criou o selo FolkQueer de cordéis.

Sobre o Projeto Mandacaru Malala

Coordenado pela ativista Benilda Brito e patrocinado pelo Fundo Malala, o projeto tem como foco visibilizar as violências, desigualdades e ausências de políticas públicas focalizadas na educação das meninas do ensino fundamental das escolas públicas do nordeste brasileiro. Em seminário de lançamento (11), a iniciativa irá ligar saberes afro/indígenas e apontar resistências das comunidades tradicionais diante da pandemia do Covid-19. O evento também propõe elaborar um conjunto de ações que contribuam para o enfrentamento aos racismos e para a efetivação dos direitos educacionais das meninas, como garantem as Convenções Internacionais de Beijim e Durban, das quais o Brasil é signatário.