Articulação contra o Ultraconservadorismo se manifesta em apoio aos professores de Goiás e contra a censura
Carta aberta, assinada pelas entidades da Articulação e outras, denuncia que o estado tem sido vitrine da violência e da perseguição contra docentes. Utilizando a imagem de professores, deputados têm utilizado as redes sociais como um espaço lucrar politicamente
A Articulação Contra o Ultraconservadorismo na Educação, por meio de uma carta aberta, manifestou preocupação com ofenômeno da perseguição contra docentes no estado de Goiás. A carta, que recebeu assinaturas de outras entidades de direitos humanos para além da Articulação, se solidariza com a categoria e ressalta que o contexto vem ampliando o adoecimento mental, a autocensura nas escolas e o abandono da profissão.
Segundo a carta, o estado passa por “uma manipulação da atenção capturada nas redes sociais para a perseguição de professores/as […]” e que a situação, dentro dessas mídias, tem refletido potencialmente na promoção da violência no país e nas vidas de docentes. “Além da violência a que professoras e professores vêm sendo submetidos, esse contexto tem um efeito nocivo generalizado para a educação. O medo leva à autocensura, quando os profissionais evitam abordar certos temas e conteúdos, prejudicando o aprendizado de crianças, adolescentes, jovens e adultos”, enfatiza Bárbara Lopes, coordenadora do projeto Gênero e Educação da Ação Educativa
A censura e a perseguição são inconstitucionais
A ofensiva de ataques a docentes desrespeita decisões do Supremo Tribunal Federal de 2020, com relação às iniciativas e projetos de leis inspirados nas ideias do ‘escola sem partido’. Em uma série de julgamentos, a Suprema Corte decidiu pela inconstitucionalidade de projetos de leis que buscavam proibir a abordagem de direitos humanos nas escolas e permitir a censura e perseguição docente. “Ficou garantido que educadoras e educadores têm liberdade de expressão no exercício do seu ofício, porque esta liberdade é condição para que o direito à educação se faça presente. As liberdades de aprender e de ensinar são condições uma da outra”, relata a Articulação no documento.
Em maio, uma professora foi demitida após o deputado Gustavo Gayer a acusar, em suas redes sociais, de doutrinadora devido a uma camiseta da docente com a frase ‘Seja marginal, seja herói’, do artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980) – artista que é citado, também, em questões de vestibulares. Para Renata Aquino, professora de história, pesquisadora da censura na educação e integrante do coletivo Professores Contra o Escola Sem Partido, o fenômeno vem sendo naturalizando no dia-a-dia: “Os casos de perseguição explícitos cometidos por políticos demonstram como foi se tornando normal atacar os profissionais da educação e a escola. Como se tornou algo normal, poucas vezes vira alvo de notícia. E como nem vira notícia, vai virando ainda mais parte do cotidiano”.
Carta aberta em defesa dos educadores e educadoras de Goiás
A carta recebeu 17 assinaturas de entidades e segue disponível na íntegra no site Gênero e Educação, da Ação Educativa (www.generoeeducacao.org.br). Para acessá-la, clique aqui.