Dois encontros. Um para assistir ao filme e debater a crônica, associando o que ambos têm em comum.

O segundo encontro servirá para os alunos apresentarem as respostas que encontraram e para o/a docente explicar as razões da discriminação de gênero e da diversidade sexual na nossa sociedade.

Não é necessário uma avaliação formal sobre o que foi debatido, mas o/a docente poderá verificar, ao longo do tempo, os reflexos das discussões no comportamento do alunado com relação às questões de gênero e da diversidade sexual.

Redijo aqui o desenvolvimento da atividade. Ela foi aplicada por mim, em turmas de 8° e 9° anos. Assistimos juntos ao filme Race, de 2016. O filme relata a história de Jesse Owens, atleta negro, dos Estados Unidos, que participou das Olimpíadas de Berlim, de 1936, sob o regime nazista, ganhando quatro medalhas de ouro. O filme aborda o racismo presente não somente na Alemanha hitlerista, mas também na sociedade estadunidense, o que provocou enormes desafios na vida de Owens. De imediato, os alunos fizeram comparações com a situação dos negros nos Estados Unidos da atualidade e no Brasil. Chegaram à constatação de que o racismo ainda persiste. Em seguida, debatemos a crônica Dos muros, escrita por Luís Fernando Veríssimo e publicada no jornal O Globo, de 05 de fevereiro de 2017. Nela, o autor comenta os muros famosos que a humanidade construiu ao longo da História, como a Muralha da China, as Muralhas de Jericó e o Muro de Berlim. Ele finaliza criticando a intenção do presidente norte-americano, Donald Trump, de construir um muro na fronteira entre seu país e o México, levando o leitor a refletir sobre as barreiras ideológicas e sociais existentes na sociedade. Concluído o debate sobre a crônica, fizemos as possíveis associações com o filme exibido e perguntei: “Quais muros temos em nossa sociedade?”. A turma compreendeu perfeitamente o sentido metafórico da pergunta e começou a citar as diversas discriminações praticadas pelas pessoas, entre elas, a discriminação sexual. Dividi a turma em grupos e para cada um pedi que elencasse o que leva as pessoas a praticarem discriminações contra negros, deficientes, pobres, pessoas LGBT, entre outros citados. A atividade foi interessante porque, entre outras razões, possibilitou aos alunos perceberem o que podemos chamar de “historicização da discriminação”, ou seja, em que momento da História essa discriminação começou. Obviamente não houve profundidade nos resultados e nem era meu objetivo esperar isso de alunos do 8° e do 9º ano. No entanto, tais resultados serviram como elemento provocador para que eu debatesse com eles a temática da diversidade sexual, comentando os fatores que levaram à perseguição daquelas pessoas que não estavam conformadas ao padrão sexual considerado correto, na sociedade ocidental (essas informações estão no capítulo 3 do material criado por mim). Os alunos participaram ativamente, compartilharam experiências, compreenderam a dificuldade de acabar com a discriminação e assumiram o compromisso de eles próprios terem mais respeito com pessoas LGBT. Nessa turma, havia um aluno homossexual e percebi o alívio que aquela aula lhe provocou. Não fiz qualquer pregação moral sobre o respeito aos que são diferentes da maioria. Fiz, pelo contrário, os alunos refletirem sobre a questão, a partir de recursos como um filme e uma crônica Essa atividade fomentou a discussão sem incitar ofensas, possibilitando descobertas que favorecem a compreensão de por que existe discriminação sexual e também o entendimento de que a sexualidade é uma construção social, portanto histórica, assim como a discriminação. Se ela é construída pelas sociedades, também pode ser desconstruída, permitindo o surgimento e a manutenção de relações amistosas pautadas no respeito e na aceitação.

GOMES, Fábio da Silva. Material Didático de Apoio Docente. Proposta pedagógica elaborada como resultado da pesquisa de mestrado intitulada Livro didático de História como lugar de memória: uma proposta de ensino da diversidade sexual. Ainda não se encontra na Plataforma Sucupira, mas posso disponibilizar pelo email fabylic@gmail.com.