Entre algumas outras tecnologias

Estado: Paraná (PR)

Etapa de Ensino: Ensino Médio

Modalidade: Educação Escolar Indígena

Disciplina: Artes, Filosofia

Formato: Remoto

Doutora em Tecnologia e Sociedade (UTFPR), mestre em Comunicação Educativa pela Universidade Tecnológica de Pereira (Colômbia). Trabalha com tecnologias ancestrais e digitais em espaços comunitários e periféricos e educação formal e popular.

Professora, graduada em Filosofia (UFPR), especialista em Antropologia Cultural (PUC/PR) e Cinema com ênfase em produção (UNESPAR), mestra em Filosofia (UNICAMP) e doutora em Tecnologia e Sociedade (UTFPR). Pesquisa temas ligados à Arte, Tecnologia e Povos Indígenas.

A experiência

Neste projeto, organizamos o evento “Entre algumas outras tecnologias: o desafio de reafirmar a ancestralidade para transformar a contemporaneidade rumo ao bem viver”, a fim de pensar e construir outras maneiras de compreender as tecnologias para enriquecer o olhar e as discussões sobre elas. Nesta perspectiva, organizamos uma Mostra de Filmes Negros e Indígenas, seguida de uma Roda de Conversa com os/as cineastas destes filmes, que se realizou de forma remota/virtual O público envolveu estudantes do Ensino Médio, professores e estudantes universitários. Para finalização do evento, realizamos duas oficinas, “As histórias nas imagens: uma proposta para produção audiovisual nas salas de aula” e “Cultura Mbya-Guarani e seu modo de olhar o mundo, a sua filosofia na escola”.

Todos os encontros ficaram disponíveis online. No link: https://www.youtube.com/watch?v=jiUeA9wGTNs&list=PLJJ0WYeFS2hhGQBu0WfwZEmBfFHKwx-DQ

Pessoas envolvidas

Participaram do evento os seguintes convidados: Michele Perito Concianza Kaiowá,Maycol Mundoca, Ítalo Mongconãnn , Diego Xukuru, Andréia Lima​, Gilearde Barbosa Pedro, Raquel Kubeo, Pedro Augusto Pereira Gonçalves, Edson Machado de Brito , Camila dos Santos da Silva, Zulu Anápuàka Tupinambá Hã hã hãe, Vanessa Vieira dos Santos, Juliana Kerexu Mirim Mariano.

Relato da experiência.

Ao partir da premissa de que as tecnologias são patrimônio da humanidade, seguindo Vieira Pinto, assumimos que estas não são exclusividade de certas culturas, que vão muito além do instrumental, do maquínico. Suas dimensões epistemológicas, axiológicas, históricas e socioculturais estão necessariamente imbricadas nos manuseios do alcançável pelos seres humanos no mundo. Nesse horizonte, a compreensão das tecnologias se faz ampliada e não só permite, como exige o reconhecimento da alteridade no mundo.

Nesta perspectiva, articulamos neste evento, Entre Algumas Outras Tecnologias: O desafio de reafirmar a ancestralidade para transformar a contemporaneidade rumo ao bem viver, os trabalhos e experiências de diferentes acadêmicos, militantes e comunidades afro e indígenas que buscam integrar, valorizar e retomar os diversos olhares, práticas e conhecimentos que têm se construído no decorrer da história.

Almejamos com nossa proposta também uma compreensão de como, na contemporaneidade, se articulam conhecimentos ancestrais aos ocidentais em fazeres políticos, organizativos e de resistência de comunidades subalternizadas. Acreditamos ser crucial ao fazer tecnológico democrático o respeito à ancestralidade, à liberdade, à solidariedade, à expressividade, à coletividade e à autonomia, pois apenas assim será possível transformar alguns modos de fazer e de pensar em direção a outros, onde imperem formas alternativas de resistência e mobilização, presentes em concepções do bem viver.

No ano de 2021, propomos a realização do encontro do Entre algumas outras tecnologias, no formato remoto/virtual, partindo de um recorte específico no campo do debate sobre tecnologias, que corresponde ao debate em torno da utilização das tecnologias audiovisuais nos contextos afro e indígenas. Propomos colocar em discussão como essas tecnologias são apropriadas – nas suas mais diversas interpretações do apropriar – tendo em vista que partimos de uma concepção de tecnologia como construção social implicada nos contextos históricos e culturais de um determinado povo, o que significa que seus usos e transformações variam conforme o contexto em que esses usos se realizam.

Estratégias adotadas

Para a realização do evento construímos uma rede de contatos com pesquisadores indígenas e negros que nos permitiram fazer a curadoria dos filmes presentes na mostra. Realizamos parcerias para poder disponibilizar uma bolsa internet para os/as cineastas, tendo em vista que eles participaram de diversos lugares do Brasil, que ainda enfrentam desafios com o acesso à internet. Divulgamos o evento em parceria com professores de escolas municipais e estaduais, fomentando o intercâmbio de conhecimentos.

Dificuldades encontradas

As dificuldades que encontramos foi o acesso à internet. Isso porque, mesmo com a bolsa-auxílio, muitos convidados tiveram dificuldades para acessar à internet, devido a chuvas intensas. Nos organizamos também para alcançar a presença online dos estudantes ao evento, mas, também, devido ao acesso à internet, nem todos conseguiram participar durante as Lives. Contudo, o material ficou disponível para assistir online em outro momento.

Principais aprendizagens

Com essa experiência ampliamos o campo de discussão sobre Arte, percebendo a quantidade de produções cinematográficas existentes no Brasil produzidas por comunidades quilombolas e indígenas. Essa experiência também amplia o conceito de tecnologia, para além de uma compreensão hegemônica deste conceito que o vincula às culturas ocidentais, percebendo as contribuições dos povos afros e indígenas para a discussão sobre tecnologia. Com nossa proposta, fortalecemos as relações de trocas de saberes entre a academia e a sociedade de forma dialógica e humanizada, criando espaços de compartilhamento de saberes.
Entendemos que a realização do evento de forma presencial enriqueceria ainda mais essa experiência. Contudo, devido à pandemia e a ausência de um auxílio financeiro, se tornou inviável o deslocamento e manutenção dos/as cineastas indígenas em nossa cidade, Curitiba, para a realização do evento.

Referências bibliográficas

CUNHA JUNIOR, Henrique. Tecnologia africana na formação brasileira. Rio de janeiro: CEAP, 2010.

FANON, Frantz. Os condenados da Terra. Civilização Brasileira, 1979.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

VIEIRA PINTO, Álvaro. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. v 1.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: LANDER, Edgardo (Comp.) La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas, CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires, jul. p. 246., 2000. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lander/quijano.rtf. Acesso em: 05 set. 2019.

______. ColoniaIidad y modemidad/racionalidad. Disponível em: https://problematicasculturales.files.wordpress.com/2015/04/quijano-colonialidad-y-modernidad-racionalidad.pdf. Acesso em: 05 set. 2019.

VIEIRA PINTO, Álvaro. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. v. 2.

______. Ideologia e Desenvolvimento Nacional. Rio de Janeiro: ISEB, 1956.

WASSILOWSKY, Alexander Herrera. La recuperación de tecnologías indígenas: arqueología, tecnología y desarrollo en los Andes. Instituto de Estudios Peruanos, 2011.

Filmes exibidos na Mostra:

30/09
Jeroky Guasu – O grande Canto (Direção: Michele Perito Concianza Kaiowá)

As contas do Rosário (Direção: Maycol Mundoca)

07/10
Resistir, vários povos uma só luta (Direção: Ítalo Mongconãn)
No espelho do outro (Direção: Kariny Martins)

14/10
Minissérie A trajetória do Cacique Marcos
Podcast – Saúde Favela

21/10
Websérie Nativas Narrativas – (Direção: ASCURI)
Ehu tuã Kualü – (Direção: Takumã Kuikuro)
Jacá do Quilombo – (Direção: TV Quilombo Rampa)

DOWNLOAD