Sistemas Reprodutores: uma perspectiva antirracista e de combate à LGBTQIAfobia

Estado: Paraná (PR)

Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II

Modalidade: Educação Regular

Disciplina: Biologia, História

Formato: Presencial

Gabriel Godoy é coordenador de projeto no Grupo Dignidade, uma ONG sem fins lucrativos, fundada em 1992 em Curitiba. Esta organização foi reconhecida como a primeira do estado do Paraná a atuar na área da promoção da cidadania e direitos humanos de pessoas LGBTI+. A missão do Grupo Dignidade é atuar na defesa e promoção da livre orientação sexual, identidade e expressão de gênero, bem como dos direitos humanos e da cidadania de pessoas LGBTI+, contribuindo para a construção de uma sociedade mais igualitária.

Maíra Valle é professora do Departamento de Fisiologia da UFPR, vice-coordenadora do projeto de extensão Fisiodivulgando e coordenadora do Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual (NGDS) da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD). A SIPAD foi criada com a missão de promover políticas de promoção de igualdade e da defesa de Direitos Humanos, visando o desenvolvimento de ações afirmativas e o reconhecimento da diferença e da diversidade. A superintendência visa o atendimento aos direitos de mulheres e pessoas LGBTI+, além de outros grupos histórica e socialmente subalternizados, no âmbito da comunidade da UFPR.

Objetivos

Objetivo geral:

 

Apresentar o sistema reprodutor humano a partir de uma perspectiva não-binária e antirracista.

 

Objetivos específicos:

 

Retratar os órgãos genitais e estruturas anatômicas envolvidas na reprodução de maneira que abarque também a intersexualidade e todas as identidades de gênero;

 

Abordar a diversidade presente na sexualidade humana direta e indiretamente, por meio de representações e discursos inclusivos;

 

Elucidar as diferenças entre os conceitos de sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual;

 

Discutir o racismo científico a partir de histórias reais.

Conteúdo


  •  Sistema reprodutor XX e XY: estruturas anatômicas;

  • Intersexualidade: diversidade de corpos;

  • Identidade de gênero: pessoas cis, trans e não-binárias;

  • Racismo científico: a história de Sarah Baartman.

Metodologia

A sequência didática será composta por três aulas, duas delas seguindo a metodologia dos três momentos pedagógicos, conforme exposto por Abreu, Ferreira e Freitas (2017) - ver em Referências Bibliográficas

 

AULA 1 - Sistema Reprodutor e o racismo científico

 

Problematização inicial (10min):

Nos momentos iniciais da aula, faça uma divisão da  turma em grupos, distribuindo para cada um a história de Sarah Baartman, conhecida como Vênus Hotentote. A história de Sarah representa um exemplo real de racismo científico e objetificação do corpo de uma mulher preta:

 

Biografias de Mulheres Africanas | Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (UFRGS): Sara Baartman (1789–1815)

 

Organização do conhecimento (15min): 

Após a leitura, faça algumas perguntas para nortear a discussão, como por exemplo:

 

  • “Quais tipos de violência Sarah sofreu?”;

  • “Isso ainda acontece nos dias de hoje?”

  • “Vocês conhecem outras histórias como a de Sarah?”

  • “O que os órgãos genitais de Sarah tinham de tão diferente para ficarem expostos como um troféu?”. 


 

Busque reconhecer o que a turma sabe sobre o tema, anotando palavras chave no quadro/lousa;

 

Aplicação do conhecimento (25min):

 

A partir dos pontos trazidos por cada grupo de estudantes, apresente o conceito de racismo científico, a fim de aprofundar as discussões. Junto a isso, recomenda-se a utilização da imagem anatômica de uma mulher negra gestante (G1, 2021), fazendo menção à ausência de representações de pessoas negras em livros didáticos e o lugar da mulher negra na ciência. 

 

  • Sugestão: utilizar como atividade lúdica final os livros de passatempos das cientistas negras brasileiras do projeto de extensão "Meninas e mulheres nas Ciências" (LOPES et al., 2020; LOPES et al., 2021).


 

AULAS 2 - Apresentação anatômica do Sistema Reprodutor a partir de uma perspectiva não-binária

 

Problematização inicial (15min):

 

Nos momentos iniciais da aula, a/o docente recordará a história de Sarah com os alunos. Ao recordar que os genitais de Sarah foram mantidos em um museu, pode-se levantar essas questões: 

 

  • O corpo das pessoas é diferente?

  • Como é essa diferença? 


 

Muito provavelmente a turma começará a traçar as diferenças entre corpos considerados "femininos" ou de pessoas XX e corpos considerados "masculinos"ou de pessoas XY. A partir disso deve-se levantar as problemáticas: “Todas as pessoas têm os corpos iguais?;

 

Organização do conhecimento (25min):

 

Recomenda-se a utilização dos vídeos didáticos “Sistema reprodutor XX” e “Sistema reprodutor XY”, que foram produzidos a partir de uma perspectiva não binária, para a conceituação. 

 

  • Vídeo “Sistema Reprodutor XX”: https://youtu.be/oa5d5mavULk

  • Vídeo “Sistema Reprodutor XY”: https://youtu.be/vZRA17T7-tY


 

Além disso, explique as diferenças entre sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual, citando alguns exemplos de pessoas intersexuais e mostrando que esses conceitos são independentes, de modo que ser XX não faz uma pessoa ser mulher, ou ser XY, não faz uma pessoa ser homem.

 

Aplicação do conhecimento (10min):

 

A fim de observar se a turma compreendeu os conteúdos, proponha que cada estudante represente a complexidade dos corpos (cromossomos, órgãos genitais e possíveis identidades de gênero) por meio de um material artístico, seja ele um texto, desenho, pintura, poesia, maquete, colagem, entre outros. 

 

Pode-se distribuir estudos de casos específicos, como por exemplo de estados intersexuais, para que pesquisem e representem à sua maneira. Uma sugestão é a história da atleta sul-africana Caster Semenya. Deve-se orientar a apresentação desses materiais na aula seguinte, preferencialmente na semana posterior.

 

Aula 3 - Apresentação dos materiais artísticos (50min):

 

Com essa aula pretende-se dar voz e vez (FREIRE, 1996) para a turma, permitindo que sejam protagonistas conscientes na resolução de problemas que permeiam a sociedade. Assim, estudantes, de maneira individual ou em grupos, apresentarão seus materiais artísticos no formato de seminário e discutirão sobre suas representações.

Recursos Necessários

Datashow;

Quadro/lousa;

Giz ou caneta de quadro branco;

Cópias impressas do texto/imagem que serão utilizados na problematização inicial;

Vídeo “Sistema Reprodutor XX”: https://youtu.be/oa5d5mavULk

Vídeo “Sistema Reprodutor XY”: https://youtu.be/vZRA17T7-tY

Duração Prevista

3 encontros com 4 aulas de 50 minutos, totalizando 200 minutos.

Processo Avaliativo

A avaliação ocorrerá ao longo do processo de ensino-aprendizado, por meio da participação e contribuição da turma ao longo dos três momentos pedagógicos de cada aula. A pessoa docente deve anotar palavras-chave de assuntos ou conceitos que forem levantados durante a discussão, ou até mesmo as respostas que surgiram para as questões norteadoras da discussão. Ademais, os materiais artísticos podem ser avaliados no formato de seminários, podendo contribuir com a nota de cada estudante além de ajudarem na fixação e entendimento dos conteúdos apresentados

Observações

Recomendamos como material de apoio: 1) o subcapítulo “Estigmas de Raça e de Gênero” de Godoy, Asinelli-Luz e Valle (2021) para aula 1. 2) Para abordar os conceitos de sexo biológico, orientação sexual e identidade de gênero, recomendamos o material apresentado pelo Manual de Educação LGBTI+ (REIS; CAZAL, 2021), podendo utilizar uma das metodologias indicadas na sessão B do livro. 3) Para a intersexualidade sugerimos o site da Associação Brasileira de Intersexos (ABRAI) https://abrai.org.br/.

Referências Bibliográficas

ABREU, J; FERREIRA, D; FREITAS, N. M. da S. Os Três Momentos Pedagógicos como Possibilidade para Inovação Didática. IN XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC – 3 a 6 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.abrapecnet.org.br/enpec/xi-enpec/anais/resumos/R2589-1.pdf>. Acesso em: 13 mai. 2023

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INTERSEXOS (São Paulo). Informações e Recursos. Disponível em: https://abrai.org.br/informacoes-e-recursos/. Acesso em: 08 maio 2023.

 

Sara Baartman (1789–1815). Biografias de Mulheres Africanas. - Rede Multidisciplinar de Estudos Africanos do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: https://www.ufrgs.br/africanas/sara-baartman-1789-1815/. Acesso em 18 ago. 2023

 

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Editora PAZ E TERRA S/A, 25ª edição, p. 21-33, São Paulo, 1996

 

GODOY, G. S. F.; ASINELLI-LUZ, A.; VALLE, M. M. R. Gênero e Sexualidades Dissidentes: ensino de anatomia e fisiologia no Brasil. Monografia (Bacharel em Ciências Biológicas) — Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2021

 

Ilustração de mãe e feto negros viraliza: conheça o estudante de medicina da Nigéria por trás do desenho. G1, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/saude/noticia/2021/12/14/ilustracao-de-mae-e-feto-negros-viraliza-conheca-o-estudante-de-medicina-da-nigeria-por-tras-do-desenho.ghtml>. Acesso em: 15 mai. 2023

 

LOPES, C. V. G.; RAMOS, J. de L.; BRASIL, M. C.; ALMEIDA, R. H. J. de; CAVALHEIRO, L. M.; BARBOSA, A. S. Livro de Passatempos [recurso eletrônico] - Cientistas Negras: Brasileiras. Projeto de Extensão Universitária "Meninas e Mulheres nas Ciências", v. 1, Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2020. Disponível em: <https://meninasemulheresnascienciasufpr.blogspot.com/2020/11/livro-cientistas-negras-brasileiras.html>. Acesso em: 15 mai. 2023

 

LOPES, C. V. G.; BONIFÁCIO, B. C.;SANTOS, M. de F. C.; LOPES, R.; RAMOS, J. de L; BARBOSA, A. S.; SILVEIRA, C. Livro de Passatempos [recurso eletrônico] - Cientistas Negras: Brasileiras. Projeto de Extensão Universitária "Meninas e Mulheres nas Ciências", v. 2, Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2021. Disponível em: <https://meninasemulheresnascienciasufpr.blogspot.com/2021/11/livro-de-passatempos-cientistas-negras.html>. Acesso em: 15 mai. 2023

 

REIS, T.; CAZAL, S. (org). Manual de Educação LGBTI+ [livro eletrônico], Enciclopédia LGBTI+, v. 2, Curitiba: IBDSEX, 2021. Disponível em: <https://cedoc.grupodignidade.org.br/enciclopedia-lgbti/02-manual-de-educacao-lgbti/>. Acesso em: 15 mai. 2023

 

WIKIPÉDIA. Caster Semenya. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caster_Semenya.

Acesso em: 14 maio 2023.

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