Projeto Calendário Negro

Estado: São Paulo (SP)

Etapa de Ensino: Educação Infantil - Pré-Escola

Modalidade: Educação Regular

Disciplina: Artes, História

Formato: Presencial

Iniciei minha carreira cursando o magistério. Comecei dando aula em escola particular, segui meus estudos e consegui uma bolsa na UniSantAnna, pelo movimento das mulheres sem terra. Consegui me formar e segui dando aula em escola particular e eventual em uma escola estadual como eventual no ensino fundamental, fui para creche conveniada e comecei a trabalhar com educação infantil. Prestei concurso público em 2014 e assumi no inicio de 2015 como professora de ensino fundamental. Realizei uma pós-graduação em Alfabetização e Letramento, retornei para educação infantil em 2015 no CEU EMEI Braz Jaime Romano, conclui minha segunda graduação em Artes Visuais e hoje estou cursando pós-graduação em Ludopegagia. Desde 2019 desenvolvo projetos de ações afirmativas visando desenvolver a auto-estima e identidade de crianças negras.

Objetivos


  • Contribuir para efetivação da Lei 10.639/03, que estabelece a inclusão e valorização dos conteúdos sobre a história e cultura afro brasileira no currículo escolar.

  • Apreciar a leitura de poesias, poemas e histórias.

  • Explorar e se apropriar dos diferentes espaços da EMEI e do CEU.

  • Desenvolver a socialização e a integração entres as crianças da EMEI Braz Jaime Romano e demais U.E. do CEU e entorno.

  • Reconhecer a presença da cultura africana e afro-brasileira dentro da música.

  • Ampliar as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos e diversos ritmos corporais nas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação.

  • Ampliar o vocabulário através da música e rodas de conversa.

  • Conhecer diferentes personalidades negras e suas profissões.

  • Identificar como a cultura africana está presente no nosso cotidiano através das diferentes manifestações culturais (música, comida, língua, dança etc.).

  • Desenvolver a expressão corporal.

  • Conhecer a origem do samba.

  • Identificar alguns músicos e compositores importantes para a legitimação do samba como dança e música brasileira.

  • Conhecer instrumentos musicais que produz o samba.

  • Descobrir a dança como nova possibilidades de linguagem corporal.

  • Elevar a autoestima das crianças negras através da representatividade de personalidades negras em vários contextos e situações.

  • Criar movimentos de dança, exercitar a criatividade e a imaginação através de coreografias elaboradas pelas próprias crianças.

  • Promover reflexões e resgaste da identidade negra.

  • Valorizar a cultura negra e seus afrodescendentes dentro e fora da escola.

  • Apreciar obras de artes referente ao samba e fazer releitura.

Conteúdo

O projeto Calendário Negro começou a ser idealizado anos antes, quando as professoras da EMEI Braz Jaime Romano levantavam propostas de desenvolver projetos ou atividades descontextualizadas próximos dos meses da Consciência Negra. Essas propostas não dialogavam com a realidade da comunidade em que a escola estava inserida, com uma considerável quantidade de crianças negras, e não promovia a reflexão da ancestralidade africana, fundamental para a formação da identidade do nosso país.

Com as inquietações da professora Elizangila, que compartilhava com as demais professoras, sobre suas vivências e experiências que havia adquirido participando de festivais, palestras e eventos sobre a cultura afro-brasileira, levou a discussão para as horas de estudo no coletivo e período de formação, compartilhando ideias e sugestões de projetos com a equipe docente e gestão. Mais do que assinalar o 20 de novembro que marca a luta da comunidade negra por condições de igualdade e respeito, a proposta da professora Elizangila era que essa valorização tivesse um espaço em todos os momentos do ano letivo com ações afirmativas, com o objetivo de alterar o quadro de exclusão e invisibilidade com que a história e a cultura africana e afro-brasileira sempre foram tratadas dentro da escola.

Em períodos de formação os docentes se deparam com dificuldades em encontrar materiais e livros de literatura negra para o desenvolvimento das propostas. Os livros disponíveis na EMEI não apresentavam personagens negros como protagonistas e não havia representatividade em nenhum material disponível para ser trabalhado com as crianças. Essa dificuldade levou a outra reflexão: não bastava apenas ter vontade de desenvolver projetos com essa temática, mas seria preciso também fazer parcerias e elaborar o próprio material de trabalho. Foi quando depois de intensas pesquisas no ano de 2019 a professora Elizangila chegou com o projeto calendário negro que, a princípio, tinha como objetivo apresentar mulheres negras que fizeram história no Brasil. Foi essencial fazer parceria como a biblioteca do CEU para ter acesso a uma diversidade de livros da literatura negra e, outros livros como O Mundo no Black Power de Tayó foram comprados pelas próprias professoras. A professora Elizangila iniciou o projeto apresentando Carolina de Jesus. No decorrer do ano outras turmas foram adentrando e participando do projeto assim como outras U.E do CEU e do entorno.

2ª Etapa do projeto
O projeto nasceu com a proposta do Calendário Negro que consiste em cada mês homenagear uma mulher negra. Iniciamos conhecendo Carolina de Jesus, sua biografia e seu livro Quarto de Despejo. Cartazes foram confeccionados com as fotos de Carolina de Jesus, trechos do seu livro e fixados no corredor da EMEI, despertando assim o interesse das crianças de outras salas motivando-as a se envolverem no projeto.

3ª Etapa do projeto
No mês de abril foi apresentada para turma do 5A Dona Ivone Lara e ao conhecermos sua biografia as crianças mostraram grande interesse pelo samba, em especial, pela música “Sorriso Negro”. A história de Dona Ivone Lara encantou as crianças: ela começou a compor samba muito jovem e suas músicas eram cantadas em rodas de samba, mas devido ao preconceito da época seus primos cantavam e apresentavam os sambas como sendo seus. Dona Ivone Lara, também conhecida como a rainha do samba, foi a primeira mulher a compor um samba-enredo e seus sambas foram regravados por grandes artistas. Devido o interesse das crianças pelo tema. outra professora se juntou e apresentaram para as turmas outras mulheres que fizeram resistência no samba: Alcione, Beth Carvalho, Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus e Tia Ciata.

Realizamos integração com outras turmas da U.E. para o manuseio de instrumentos musicais em rodas de samba e o ritmista Hugo Silva, que desfila em várias escolas de samba tocando tamborim, chocalho e agogô foi convidado a participar do projeto e, gentilmente, nos presenteou com a apresentação de vários instrumentos musicais referente ao samba e fez a apresentação de alguns instrumentos.

4° Etapa do projeto
No mês de maio continuamos pesquisando e conhecendo sobre o samba e esse tema se estendeu até o fim do semestre devido a curiosidade e interesse das crianças. Através de uma roda de conversa na qual uma criança falou que conhecia Mc Soffia, ela foi escolhida para o mês de maio. Levamos as crianças na UNICEU e acessamos o Youtube com sua música, Minha Rapunzel tem Dread e Menina pretinha. Aproveitando o ritmo da música que era o Rap pesquisamos também sobre esse ritmo musical e suas origens comparando com o samba. Ensaiamos em diversos espaços as músicas coreografadas para festa regional: sala de referência, quadrinha, sala de expressão, espaço atrás do redondo, mezanino e anfiteatro.

5ª Etapa do projeto
No mês de junho conhecemos Elza Soares e suas músicas, porém continuamos a explorar o samba e o rap. Conhecemos também Mariana Per e a música “Neguinha Sim”; os vídeos da Mariana Per são cheios de representatividade. Em especial, os cabelos e turbantes chamavam muito a atenção. A partir daí começamos uma nova pesquisa sobre turbantes e cabelos Black Power. Realizamos uma oficina de turbantes com retalhos de TNT e tiras de tecidos que sobraram da confecção das saias para a festa regional, onde as crianças iriam dançar samba.

2° SEMESTRE

6° Etapa do projeto
O projeto calendário negro que iniciou com apresentação de mulheres negras, ao longo do seu desenvolvimento, foi ganhando nova configuração conforme o interesse das crianças. A partir de uma aluna, iniciamos uma outra parte do projeto pesquisando com as famílias sobre as tranças nagô e suas origens. Vieram muitas imagens e pesquisas que se transformaram em painéis fixados pelos corredores da EMEI. Nessa mesma sequência, contamos a história O mundo no black power de Tayó, que relata a história de uma menina que carrega toda sua ancestralidade em seu cabelo Black Power.

No mês de agosto tivemos também nossa mostra cultural, as atividades foram expostas no espaço do Céu para apreciação da comunidade e outras Unidades Escolares. As atividades que foram expostas foram desenvolvidas durante o projeto.

7ª Etapa do projeto
No mês de setembro participamos do prêmio Paulo Freire com as propostas desenvolvidas até o fim do primeiro semestre, sem imaginar que o projeto teria essa continuidade com a participação tão ativa das crianças e suas famílias. Seguimos com o projeto tendo uma escuta atenta às preferências das crianças e o jongo foi apresentado na UNICEU. Pesquisamos sobre a dança e as crianças assistiram vídeos e puderam explorar os movimentos livremente em espaços externos do CEU.

Tivemos também nossa leitura simultânea, proposta na qual são eleitos livros um por sala e as crianças tem autonomia de escolher a história de sua preferência independente da sala ou da professora. Para a leitura simultânea do segundo semestre escolhemos literaturas que falassem da cultura afro-brasileira: O mundo no Black Power de Tayo, Obax, as tranças de Bintou, O cabelo de Lelê, Flávia e o bolo de chocolate, O meu Crespo é de rainha, Betina e Roubaram a trança da Princesa Aixa.

8ª Etapa do projeto
No mês da consciência Negra foi agendando um passeio ao museu Afro Brasil. Os monitores traçaram um roteiro de visitação e as crianças iam identificando o que já conheciam. No final do passeio tivemos uma roda de dança africana com um monitor africano.

Seguimos com nosso projeto, mas agora com foco nas brincadeiras africanas. Ensinamos a amarelinha africana onde sempre de duas em duas turmas jogávamos e brincávamos. As crianças de divertiam em ver também as professoras pulando amarelinha.

No mês de novembro, fizemos um intercâmbio com  professores do primeiro e segundo ano da EMEF Professor João Franzolin Neto, com apresentação de instrumentos musicais, dança e brincadeiras.

Metodologia


  • Averiguação dos conhecimentos prévios das crianças através de rodas de conversas em cada tema a ser desenvolvido;

  • Exploração de diferentes instrumentos musicais;

  • Releituras de obras de artes;

  • Explorar diferentes materiais e linguagens na confecção de painéis, desenhos e registros de marcas;

  • Utilizar diferentes mídias, através de parceria com a UNICEU (Sala com recursos mediáticos do CEU) para apresentação das biografias, músicas e histórias;

  • Explorar os diversos espaços do CEU no desenvolvimento das atividades;

  • Fazer parceria com a biblioteca do CEU para contar histórias e realizar pesquisas;

  • Realizar pesquisas com a participação das famílias sobre os temas desenvolvidos;

  • Visita do ritmista Hugo Silva apresentação de instrumentos musicais do samba;

  • Visita do professor Eleiton da EMEF Prof. Rosangela Rodirgues Vieira apresentação de instrumentos musicais;

  • Parceria com U.E do entorno e do CEU Quinta do Sol;

  • Confecção de cartazes coletivos e indivudais;

  • Exploração do Globo Terrestre e Mapa Mundi;

  • Apresentação de personalidades negras até o fim do projeto.

Recursos Necessários

Aparelhos de Som, pen drives, datashow, instrumentos musicais, lápis de cor, canetinhas, tintas, pincéis, papéis diversos, TVs.

Duração Prevista

O projeto calendário negro foi desenvolvido ao longo do ano de 2019 e resgatado em 2020 através de aulas online.

Processo Avaliativo

Como todo processo avaliativo na educação, acreditamos que o professor deva considerar o desenvolvimento de cada aluno durante todo o processo de aprendizagem, realizando uma avaliação diária através de suas preferências, interesse e participação durante o desenvolvimento das propostas pedagógicas. Observamos que mesmo as crianças mais reservadas passaram a interagir e a se socializar melhor com os amigos através da música e rodas de conversa, promovendo uma ampliação do vocabulário. Algumas crianças mostraram conhecimento prévio sobre alguns temas abordados e dividiram suas experiências com as demais relatando suas vivências. Muitos fatores contribuíram para a formação da autoestima, a partir de olhares do outro e de si e das experiências vividas , produzimos muitos registros de falas, fotos, vídeos, produções artísticas, dentre outras, que retratam o envolvimento positivo das crianças e valorização de si .As famílias mostraram-se envolvidas em todo o processo participando ativamente através de pesquisa, nas festas e acompanhando as postagens que são feitas diariamente na página do Facebook. Notamos que muitas famílias de afrodescendentes se sentiram representadas através de seus depoimentos nas agendas, pessoalmente na hora da entrega da criança e compartilhando as atividades desenvolvidas do projeto em suas redes sociais. A exposição de cartazes confeccionados pelas crianças e expostos em áreas comuns e o ritmo das músicas apresentadas contagiou e despertou o interesse pelo tema englobando todas as turmas do infantil I no projeto, principalmente em relação ao samba. Os resultados também são avaliados continuamente em horários coletivos de estudo com professores e gestão escolar, sendo registrados em atas, portifólios, reunião de conselho e no Projeto Político Pedagógico.

Referências Bibliográficas

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