Por uma educação antirracista: discutindo o racismo linguístico
Estado: Rio Grande do Sul (RS)
Etapa de Ensino: Ensino Médio
Modalidade: Educação Regular
Disciplina: História, Língua Portuguesa
Formato:
Doutoranda em Educação pela UNISC e membro do Grupo de Pesquisa CNPq/UNISC Identidade e Diferença na Educação. Mestre em Letras - Estudos Linguísticos UFSM (2008) e Licenciada em Letras pela mesma instituição (2005). Investiga as relações entre educação e a racionalidade neoliberal, buscando discutir os processos de educabilidade e de subjetivação da família no contexto neoliberal conservador. Também discute questões relativas a racismo e aos estudos de gênero.
Objetivos
Discutir formas de enfrentamento do ‘racismo linguístico’, a partir da problematização do uso de palavras ou expressões que ferem e/ou excluem pessoas negras e da estigmatização dos falares populares que carregam as marcas das línguas africanas no Português do Brasil.
Objetivos específicos
Abordar a relação entre linguagem e racismo visando discutir como as coisas ditas e escritas podem contribuir para a perpetuação do racismo em nossa sociedade.
Reconhecer, no uso cotidiano da linguagem, as três formas de racismo linguístico: racismo na, pela e através da língua.
Instigar os estudantes a significarem a língua como um espaço de poder que não é neutro, mas que, ao contrário, carrega as marcas das lutas e das resistências dos sujeitos, buscando estabelecer formas de enfrentamento do racismo a partir da utilização da língua de modo menos preconceituoso e discriminatório.
Conteúdo
- As diferentes formas de racismo e a relação entre racismo e linguagem;
- Racismo na língua;
- Racismo pela língua;
- Racismo através da língua.
Metodologia
Aula 1
• Abordar o racismo na sociedade brasileira e as formas em que ele se manifesta na sociedade.
• Discutir com os estudantes o que eles imaginam se tratar de racismo linguístico.
• Caracterizar o racismo linguístico (ver material de apoio).
• Propor aos estudantes a identificação de palavras ou expressões que podem ser consideradas racistas. Ex: “nega maluca”, “preto de alma branca”, “a coisa tá preta”, “negro safado”, etc.
• Atividade para a Aula 2 – solicitar aos estudantes que pesquisem expressões ou palavras discriminatórias e apresentem no próximo encontro.
Aula 2
• Apresentar o conceito de racismo linguístico como toda forma de racialização que ocorre em três dimensões: NA língua, PELA língua e ATRAVÉS DA língua (NASCIMENTO, 2021). (Ver material de apoio e complementar)
• Apresentar a primeira forma de racismo linguístico, o racismo NA língua.
O racismo NA LÍNGUA diz respeito ao uso de palavras ou expressões que associam o ‘negro’, o ‘preto’, a algo ‘negativo’, ‘ruim’, errado’. Exemplos: ‘mercado negro = mercado clandestino’, ‘lista negra = lista proibida’, ‘ovelha negra = pessoa rebelde’, ‘a coisa tá preta = situação ruim’, etc.
• Discussão sobre a segunda forma de racismo linguístico, o racismo PELA língua.
O racismo PELA língua ocorre quando as pessoas usam a língua para serem racistas, isto é, quando palavras ou expressões que tem o intuito de agredir, de ofender uma pessoa negra, são proferidas em metáforas ou com o uso da própria palavra ‘negro’. Exemplos: a) Utilização de expressões como ‘serviço de preto’, ‘só podia ser preto’, para relacionar algo mal feito às pessoas negras; b) Chamar uma pessoa negra de ‘macaco’, de modo a identificá-la como tal; c) Proferir o termo ‘negro’ como forma de insulto a alguém. Ex: ‘saia daqui, negro’.
• Atividade para a próxima aula: a partir do levantamento de palavras ou expressões discriminatórias, propor a apresentação, para cada uma dessas expressões, de formas linguísticas alternativas na Aula 3.
Aula 3
• Retomar a Aula 2 e questionar se a mera substituição de uma forma linguística por outra é suficiente para diminuir o racismo linguístico.
• Apresentar aos estudantes a terceira forma de racismo, que diz respeito à estigmatização das marcas da fala popular usada por mais de dois terços da população brasileira de baixa renda (faixa em que se concentram, majoritariamente, negros e indígenas), chamada de racismo através da língua.
O Racismo ATRAVÉS da língua é resultado de políticas linguísticas que selecionam os falares dos povos brancos como mais adequados e dignos de serem falados e ensinados na escola.
• Abordar que fenômenos como a ampla variação na aplicação das regras de concordância nominal e verbal, o emprego de pronomes sem flexão de caso (como em “eu vi tu na feira ontem”) e o reduzido uso do pronome reflexivo (“eu machuquei no trabalho ontem”), por exemplo, resultado da influência das línguas africanas, por desviarem da norma culta, são considerados errados e ‘frutos da ignorância’.
Aula 4
• Promover discussão em torno das 3 formas de racismo linguístico.
• Retomar a atividade da aula anterior e explorar o enriquecimento da língua portuguesa falada no Brasil a partir de pesquisa relativa às contribuições das línguas africanas.
Material de apoio:
Artigo “Racismo e Linguagem: abordagens possíveis”, de Larissa Scotta, publicado na obra “21 textos para discutir racismo em sala de aula”.
Material complementar:
Livro "21 textos para discutir racismo em sala de aula", organizado por Mozart Linhares da Silva e Luzia Franco Dias. Disponível em: https://pedroejoaoeditores.com.br/2022/wp-content/uploads/2022/09/EBOOK_21-Textos-para-discutir-racismo-em-sala-de-aula.pdf
Recursos Necessários
Duração Prevista
Processo Avaliativo
Referências Bibliográficas
NASCIMENTO, Gabriel. Racismo Linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.
NASCIMENTO, Gabriel. Racismo linguístico é sobre palavras? Um prefácio. Revista Virtual Lingu@ Nostr@, v. 8, n. 1, p. 3–15, 2021. Disponível em: https://linguanostra.net/index.php/Linguanostra/article/view/253. Acesso em: 01 set. 2022.
SCOTTA, Larissa. Racismo e Linguagem: abordagens possíveis. In: SILVA, Mozart Linhares; DIAS, Luiza Franco. (Orgs.). 21 textos para discutir racismo em sala de aula. São Carlos: Pedro & João Editores, 2022.