Pipo e Fifi: conhecer para prevenir

Estado: Mato Grosso do Sul (MS)

Etapa de Ensino: Educação Infantil - Pré-Escola

Modalidade:

Disciplina:

Formato: Presencial

A produção acadêmica do grupo centra-se nos resultados das investigações realizadas no Estado de Mato Grosso do Sul, com as seguintes temáticas de estudo: cultura e escolarização das populações indígenas e afro-brasileiras; gênero e homoerotismo.

Como foi a experiência

O objetivo dessa proposta consiste em promover ações que oportunizem às crianças na faixa etária de 4 a 5 anos a compreensão dos conhecimentos sobre o corpo e o cuidado de si, de maneira coerente e integradora, em sua dimensão educativa, psicossocial e sexual. Assim, as atividades de leitura constituíram a prática pedagógica abordando as vivência da sexualidade de forma reflexiva e crítica, a partir do texto literário.

 

Para tanto, elegemos como metodologia a contação de história, a produção de desenhos e as rodas de conversas com as crianças, a fim de debaterem, a partir da leitura a diferença entre toques de amor, de toques abusivos, apontando caminhos para o diálogo, a proteção das infâncias e o apoio de maneira direta e segura.

Atores envolvidos

35 crianças da educação Infantil, 2 professoras da educação básica e 2 pesquisadores.

Relato da experiência

A presente experiência de leitura foi planejada para ser desenvolvida em sala durante 3 horas. Para tanto, convidamos as crianças para se sentarem em posição de roda e perguntamos ao grupo: “qual o lugar que vocês sugerem para ouvir a história de Pipo e Fifi?”. Logo, as crianças nos responderam que poderíamos permanecer em sala. Assim, contextualizamos o assunto e lemos a história para as crianças, mostrando as imagens do livro. Após, a leitura, as crianças foram questionadas:

– vocês conhecem alguém com esses nomes ou apelidos que aprendemos com a história?

– quais são as partes do corpo?

– quais são as partes íntimas?

– por que chamamos partes íntimas?

– de que maneira vocês nomeiam os seus órgãos sexuais?

– vocês gostaram das calcinhas da Fifi e das cuecas do Pipo?

– por que crianças usam calcinhas ou cuecas?

– será que só meninas usam calcinhas e meninos usam cuecas?

– quais são os toques do sim? E quais são os toques do não?

 

Nesses diálogos foi possível identificar pelas vozes das crianças os apelidos e as maneiras que nominam os órgãos genitais, alinhados ao respeito às suas percepções e visões. Nessa perspectiva, as crianças foram levadas a pensarem sobre a história e seus personagens a fim de produzirmos conhecimentos coletivamente, a partir das noções de autoproteção de suas identidades e infâncias.

Essa atividade de leitura mediada foi avaliada positivamente, tanto pela equipe pedagógica, quanto pelos familiares, como, também, pelas crianças. O desafio para organizar esta prática pedagógica, a partir das demandas do contexto da formação, considerou à diversidade dos sujeitos atendidos pela instituição escolar, tendo em vista possibilitar o desenvolvimento da leitura, alinhada à perspectiva de uma educação que respeita, informa e dialoga com as diferenças – valorizando o lugar e as vozes do Outro.

Cabe conceituar que a violência sexual compreende o contato sexual físico: sexo oral, toque ou carícias nos órgãos sexuais, sexo oral ou sexo anal; mas também compreende outras formas que não envolvem contato físico, como: assédio sexual, violência sexual verbal, pornografia, exibicionismo, voyeurismo ou telefonemas obscenos (BRASIL, 2004, 2011).

 

É possível unir os conhecimentos do “cuidar e do educar”, diante da violência sexual – que infelizmente tem atingido crianças desde bem pequenas no Brasil –, tendo em vista que a educação preventiva não repercute no imaginário desses sujeitos quando falamos sobre o abuso sexual em si, mas, também, quando questionamos sobre essa problemática, ao desenvolver mecanismos de proteção na Educação Infantil e, sobretudo de auto-preservação da vida dessas crianças. Assim o esclarecimento sexual pode ser oportunizado às crianças, por meio de atividades interativas que aborde o sentido do respeito em relação ao seu corpo.

 

Este processo pode iniciar, no momento do banho, quando a pessoa adulta que a auxilia, deve solicitar a permissão da criança para tocá-la, nomeando as partes do corpo que serão tocadas, ensinando-a também nomear essas partes de modo que não se sinta envergonhada e/ou constrangida. Além disso, é necessário orientá-la que nenhum adulto, independente de quem seja, pode tocá-la, com exceção se for para ajudá-la em alguma situação que não consegue resolver sozinha. Nesse processo podemos usar palavras positivas sobre os corpos, estabelecendo uma relação adequada com os adultos da família e dos diferentes espaços sociais, no que se refere às vivências da sexualidade.

Estratégias adotadas

A literatura infantil permite que às crianças passem a refletirem e se posicionarem em relação aos seus sentimentos e emoções, tendo em vista que a obra literária abordada pode promover o diálogo e oportunizar problematizações sobre as temáticas da educação sexual, da prevenção do abuso e da violência sexual. O potencial pedagógico da literatura infantil pode ser um instrumento de prevenção da violência sexual, tendo em vista que se traduz na possibilidade de preparar a criança para despertá-la para os novos conhecimentos, ao estabelecer conexões com diferentes sentimentos, pois cria condições para a compreensão de conceitos de proteção, consentimento, privacidade, identificação de situações de violência sexual, bem como a diferenciação entre toques afetivos e abusivos, durante as relações estabelecidas entre adultos e crianças.

Principais aprendizagens

Com o desenvolvimento desta experiência foi possível identificar a importância de estabelecer regras ao falar de prazer, assim como refletir sobre a concepção de prazer nesta etapa da aprendizagem e do desenvolvimento humano. Assim, é possível orientar a criança que manipula seus genitais, resguardando a sua inocência e sua capacidade cognitiva, evidenciando que esse ato lhe dá prazer, por ser uma parte íntima do corpo e também orientá-la sobre os cuidados de si e com a higiene intima.

 

Podemos comunicar de maneira adequada que o toque em sua parte intima não pode ser feito por pessoas adultas do seu convívio social e/ou estranhas em ambientes externos. Assim, cabe aos pais, às mães, aos responsáveis, aos/às educadores/as estabelecerem com as crianças uma relação dialógica ao abordarem às vivências da sexualidade, tendo em vista que oportunizarão apresentar-lhes orientações para se auto-preservarem diante de eventuais intenções de pessoas que se aproximam delas no cotidiano.

Observações

Essas obras literárias indicam orientações à criança, como deve buscar ajuda, mostrando os caminhos para sua segurança sexual. Em sala de aula, é preciso que o/a professora planeje esses conteúdos quando for abordar este assunto, pois podem ter crianças que estão vivenciando ou já vivenciaram situações de violência doméstica e de abuso sexual. Para tanto, é fundamental que o/a professor/a esteja preparado teoricamente, a fim de perceber as manifestações gestuais, comportamentais e verbais para lidar com complexidade dessa situação e se ampare nas redes de apoio dos órgãos oficias do estado e do município, a fim de garantir a integridade da criança.

Referências Bibliográficas

ARCARI, C. Pipo e Fifi: Ensinado Proteção Contra a Violência Sexual na Infância. Rio Vede, Go: Instituto Cores. 2018

Brasil, Ministério da Educação. Guia escolar: Métodos para identificação de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Brasília, DF: 2004.

BRASIL, Ministério da Educação. Guia escolar: Identificação de sinais de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Brasília, DF: 2011.

FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Educação Sexual: retomando uma proposta, um desafio. 2 ed.-Londrina: Ed. UEL, 2001.FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Educação Sexual: retomando uma proposta, um desafio. 2 ed.-Londrina: Ed. UEL, 2001.

SOMA, Sheila MAria Prado; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. Livros infantis para prevenção do abuso sexual infantil: uma revisão de estudos. Temas em Psicologia, vol. 22, n. 2, p. 353-361, 2014.

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