O Teatro do Oprimido no combate às desigualdades de gênero
Estado: Goiás (GO)
Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II, Ensino Médio
Modalidade: Educação de Jovens e Adultos, Educação Regular
Disciplina: Artes
Formato: Presencial
Doutorando em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu; mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás; especialista em Educação Física Escolar pela Faculdade de Educação São Luís; especialista em Gênero e Diversidade na Escola pela Universidade Federal de Goiás; graduando em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás; graduado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Goiás; graduado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Realizou curso de aperfeiçoamento em Educação Básica por meio do Programa de Formação de Professores da Educação Básica no Canadá com financiamento da CAPES. Atualmente faz parte do quadro permanente de professores da Seduc Goiás; e desenvolve atividades docentes no curso de Pedagogia e Educação Física da FacCidade - Faculdade Cidade de Aparecida de Goiânia.
Objetivos
Conteúdo
Metodologia
Escolher um local arejado e aberto da escola. Convidar os alunos/as para se deslocarem até este espaço. Sentados na cadeira, formar um círculo com os alunos/as. Realizar um jogo de aquecimento utilizando a bolinha para dinâmicas de grupo. O professor/a deverá elaborar algumas perguntas questionadoras aos alunos/as como por exemplo “O que é ser homem nessa sociedade? O que é ser mulher? O que é ser LGBTQI+? Existem diferenças? Onde? Como?”.
Então, o professor deverá escolher aleatoriamente um aluno ou aluna e entregar a bolinha e fazer-lhe a pergunta. Após respondida, este deverá passar a bolinha para outro aluno ou aluna e assim consecutivamente. Durante essa etapa, o professor/a deverá mediar uma breve discussão.
Em continuidade a aula, o professor/a dialogará com os estudantes sobre o dramaturgo Augusto Boal e o Teatro do Oprimido, estabelecendo relações de seu trabalho com o as questões sociais de modo que os alunos/as percebam situações de opressão manifestadas durante a dinâmica da bolinha.
Finalizando a aula, o professor/a aplicará um jogo teatral de Augusto Boal à sua escolha, presente no livro disponível para download no link: https://pt.scribd.com/document/366922866/LIVRO-200-EXERCICIOS-E-JOGOS-PARA-O-ATOR-E-NAO-ATOR-AUGUSTO-BOAL-pdf iniciando-se na página 58.
Aula 3 e 4:
Em sala de aula, organizar um círculo e montar o projetor de mídia. O professor/a iniciará a aula relembrando os conteúdos trabalhados nas aulas anteriores. Em seguida, dialogará com os alunos/as sobre o que é o Teatro-Fórum e suas possibilidades de formação humana.
Após a exposição verbal, o professor distribuirá cópias do texto dramático construído para esta sequência didática e escolherá alguns alunos/as aleatoriamente para assumir alguns personagens e realizar uma leitura dramática do texto. A turma irá discutir a situação e, se possível, realizar adaptações no texto de forma a adequar a realidade dos alunos/as.
Após isso, os alunos devem se organizar para a montagem cênica da peça, com definições de papéis, figurinos, maquiagem, trilha sonora, dentre outros.
Aula 5 e 6:
Com o texto adaptado e os papéis definidos nas aulas anteriores, o professor/a deverá iniciar a montagem das cenas, marcação das personagens, construção de cenários, organização do espaço para a apresentação e ensaios. Após os ensaios e com o espaço organizado para a apresentação, iniciar a apresentação.
Vale ressaltar que o papel do professor/a nesse processo consistirá em mediar as intervenções da plateia na cena “final”, de forma a construir força política para o enfrentamento e transformação social.
Recursos Necessários
Duração Prevista
Processo Avaliativo
Observações
A CULPA É SEMPRE DOS INOCENTES
Personagens
ANINHA / CRISTINHA / JEFER / NARRADOR /PEDRO /TIELLY
PRÓLOGO: A cena se passa em um colégio público de uma cidade do interior de Goiás com pouco mais de oito mil habitantes. Novos na pequena cidade, Aninha e Jefer, personagens principais dessa trama, são impedidos pela escola de realizarem certas atividades pedagógicas por serem considerados 'diferentes' pela comunidade escolar.
CORO: Entra as personagens batendo palmas, dançando e cantando a paródia da música 'Xote da alegria' do grupo Falamansa.
Se um dia alguém falou / Para negar o que eu sou
Não sei se vão me aceitar / Pois não aprenderam o que é respeitar
E se acaso você diz / Que temos que seguir a matriz
Vê se fala sério / Pra que negar sua alma?
É só vivermos em harmonia / E deixe reinar a calma
Dance o xote da minoria ha he he / Um dê run dê run dê
NARRADOR/A (em tons de mistério, o narrador/a interrompe a apresentação, retirando todos/as da cena e começa a discursar): Caras pessoas grandes e caras pessoas pequenas. Esta é uma história que aconteceu há muitos anos, mas também é uma história que continua acontecendo todos os dias. A história daqueles que são vítimas e daqueles que são praticantes. Prestem atenção, bastante atenção, pois você pode ser a próxima vítima ou quem sabe é o praticante e nem sabe. Essa história aconteceu em uma escola onde nem todos viviam felizes para sempre. Vou deixar que as personagens contem essa surpreendente história. Se ajeitem nas cadeiras... respirem fundo e guardem os celulares que a cena vai começar.
PRIMEIRA CENA - A TRISTEZA
ANINHA: Misericórdia, nem jogar bola com os mano eu posso. Tudo nessa escola só posso fazer o que esse povo diz. (Imitando alguém) Isso não é coisa de menina... Você é mocinha e não pode... (Irritada) Háaaaaaaa eu estou cheia disso viu.
JEFER: O que foi Aninha, você está tão pra baixo hoje. Alguém te maltratou?
ANINHA: É isso não Jefer, eu tô cansada das pessoas dessa escola. Nunca me aceitam do jeito que eu sou. E o pior é que nem me deixam fazer o que eu gosto. Nem jogar futebol com os meninos eu posso.
JEFER: É isso não Aninha, é que eles não querem que você saia correndo pela quadra da escola e acabe caindo e se machucando.
ANINHA: Deixa de lero-lero, Jefer. Se fosse assim, os meninos nem poderiam jogar também porque iriam se machucar. Eu queria estar na sua pele pra poder jogar e ser feliz sem ninguém ficar me criticando ou me impedindo de fazer as coisas. Mas sei lá! Também não seria feliz porque com a cor da sua pele é difícil vencer na vida aqui nessa terra.
JEFER: Eu sei disso, Aninha. Sou seu amigo e nós sabemos perfeitamente como é difícil ser diferente num lugar onde nem tudo é aceito. Quem sabe um dia encontraremos um lugar onde possamos ser aceitos do jeito que somos?
ANINHA: Éh, quem sabe?!
SEGUNDA CENA - ARMANDO A BATALHA
CRISTINHA: Ai que raiva daquela Aninha. Ela é toda machona... e ainda se acha a tal. Olhem lá pra ela gente. É um horror!
PEDRO: Não é só ela não, Cristinha. É ela e aquele tal de Jefer. Olha lá, o cara consegue ser mais mulher que a Aninha... Já não basta ser negro e ainda fica com feiúra (Fazendo caras e bocas) 'Cê tá doido!’.
TIELLY: Eu vou lá tirar satisfação com eles agora. Eles são a vergonha da nossa escola. Já estão até falando em mandar eles embora da cidade. Minha prima é filha do pastor João, o vereador que mora lá perto da sua casa Pedro.
PEDRO: Háaaa o João, eu sei quem é.
TIELLY: Então, ele falou que esses dois aí são coisas do demônio e que estão dando um jeito de tirá-los da nossa cidade porque já tem gente até mudando daqui com medo deles influenciarem outras pessoas.
CRISTINHA: Não, gente, calma. Vamos ficar quietos. O recreio já está acabando e a chata da coordenadora está nos observando e pode nos dar advertência. Ela já não está muito boa com a gente tem dias... Já sei, vamos deixar para o final da aula. Aí, a gente cerca eles lá na esquina perto do bar do seu Zé. Aí, aproveitamos e ensinamos pra eles o que é ser homem e o que é ser mulher de verdade.
PEDRO: É isso aí galera. Boto fé que hoje esses dois viram gente ou vão morrer de apanhar. Eu vou chamar toda a galera lá da minha sala pra ir também.
TIELLY: Fechou então, eu também vou chamar umas pessoas fortinhas para nos ajudar. (Risos de maldade).
TERCEIRA CENA - O CONFRONTO
NARRADOR: Embaixo de uma árvore, próximo do bar do seu Zé, a turma de Tielly esperam ansiosos por Aninha e Jefer. Os dois caminham conversando desatentos sem perceber o que estaria por acontecer. Quando menos esperavam: bummmmmmmm!
TIELLY: Onde os esquisitinhos pensam que vão?
CRISTINHA: (Passando a mão no cabelo de Aninha). Um esquisito de cabelo grande. (Passando a mão no cabelo de Jefer). E uma esquisita de cabelo duro.
PEDRO: (Com um cassetete na mão). Eu tô achando que eles estão indo encontrar o pai deles.... o tinhosooo.
ANINHA: O que vocês querem? Nos deixem em paz.
TIELLY: Em paz nós ficaremos quando vocês dois... as aberrações da cidade desaparecerem. E nós estamos aqui para dar uma ajudinha nesse processo.
TODOS DO GRUPO DE TIELLY: (Risos sarcásticos e maléficos).
JEFER: Mas pra que isso gente? Nunca fizemos nada com vocês, nem mesmo conversamos. Somos inocentes de qualquer acusação, seja ela qual for.
TIELLY: Inocentes uuuuuuuuuuuu, pois bem, sabiam que A CULPA É SEMPRE DOS INOCENTES?
FINALIZAÇÃO/INÍCIO DO DEBATE: O narrador(a)/mediador(a) congela a cena e convida os espectadores para intervir nela assumindo o papel das personagens oprimidas. A partir daí, o narrador(a)/mediador(a) segue o trabalho de discussão e orientação à partir da interação da plateia/público.
Referências Bibliográficas
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