O ensino de História através de uma perspectiva de gênero

Estado: São Paulo (SP)

Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II

Modalidade: Educação de Jovens e Adultos

Disciplina: História, Sociologia

Formato: Presencial

Professora de História da Educação Básica. Possui graduação em História (licenciatura e bacharelado) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Mestrado em Ensino de História (UNICAMP). "Minha experiência como professora tem sido plural e diversificada, mas sempre dentro do sistema público de ensino. Tive uma experiência como professora de História na rede estadual de São Paulo e atualmente trabalho com turmas de Educação de Jovens e Adultos – Anos Finais e de Ensino Fundamental – Anos Finais na rede municipal de Campinas/SP."

Objetivos

Objetivo geral


Promover o ensino de História através de uma perspectiva de gênero ao se evidenciar a participação das mulheres enquanto sujeitos históricos.

 

Objetivos específicos



  • Evidenciar a presença das mulheres como agentes históricos no Brasil do século XIX, em especial no que se refere ao processo de abolição da escravidão;

  • Abordar a literatura como uma possibilidade de fonte histórica, a partir do conto - propondo uma reflexão de gênero sobre os aspectos relativos à vida da autora, o período em que ela vivia e elementos de sua obra;

  • Elucidar questões relativas aos direitos das mulheres no século XIX e as suas possibilidades de atuação, ao papel social a elas atribuído no período e às diferenças desse papel através de uma perspectiva de raça e classe social;

  • Abordar com os estudantes sobre metodologia do estudo de História, assim como o trabalho de historiadoras/es;

  • Possibilitar que estudantes possam identificar mudanças e permanências, bem como as relações do passado com o presente, e compreender os conceitos de processo histórico e de sujeito histórico. No caso da proposta, almeja-se observar essas relações e conceitos com maior atenção no que se refere às questões de gênero;

  • Estimular o interesse pelo estudo da História e o desenvolvimento do hábito de leitura, além de fomentar uma ampliação do repertório cultural e pluralizar as concepções e visões de mundo por parte da comunidade escolar como um todo ao se apresentar novos sujeitos e autores, no caso, as mulheres;

  • Almeja-se que as/os/es alunas/os/es percebam quem são os sujeitos comumente apresentados nos conteúdos de História e quais são os silenciados ou meramente inseridos como coadjuvantes. Ressalta-se, nesse âmbito, a invisibilidade conferida às mulheres no processo histórico do período estudado a despeito de sua atuação nos eventos políticos dessa época;

  • Almeja-se, por fim, disponibilizar aos professores diferentes possibilidades de utilização de fonte histórica em sala de aula e de bibliografia que podem auxiliar na construção de novas abordagens nas aulas de História.

Conteúdo


  • Abarcar o conteúdo da abolição da escravidão com uma abordagem de gênero a partir do conto “A Escrava” de autoria de Maria Firmina dos Reis (1887). Devem abordadas as características do movimento abolicionista, quais foram os sujeitos que se envolveram com a causa e as formas de atuação;

  • Nesse contexto, apresenta-se a participação das mulheres como agentes históricos indicando as variadas formas de atuação política no contexto brasileiro do século XIX, revelando como aspectos de raça e classe também interferem na agência política e nas diversas formas encontradas de atuação em contraposição ao sistema patriarcal do período. Nesse âmbito, indica-se ainda a necessidade de se trabalhar a agência dos negros evidenciando formas de resistência utilizadas, como fugas, rebeliões, ações judiciais, entre outras;

  • Propõe-se observar o papel social atribuído a homens e mulheres naquela sociedade, bem como os meios utilizados pelas mulheres para participarem nos debates políticos de seu tempo, estando atendo para aspectos de raça e classe que marcam essa atuação. Aborda-se também o modo como as mulheres foram silenciadas na História discutindo as causas e consequências desse apagamento. Indica-se o trabalho com fonte histórica no intuito de se evidenciar como se faz uma análise crítica das fontes através de um método questionador, assim, são observadas questões como: sua autoria, quando e onde ela foi feita, qual era o público-alvo, que questões da sociedade de seu tempo ela traz

Metodologia

Aula 1 (50 min):


Aula expositiva sobre o contexto político da abolição para a qual o decente pode utilizar o próprio material didático usual e as obras citadas na bibliografia desta sequência didática.

Durante a atividade, o docente deve estimular os alunos para que percebam quais são os sujeitos apresentados como protagonistas e qual foi a sua atuação no contexto da abolição. Nesse âmbito, é preciso destacar que as mulheres também estavam presentes nesse processo e ressaltar a participação da população negra e escravizada como atuante, quebrando assim a visão vastamente difundida de que o fim da escravidão se deu exclusivamente por ação de uma elite masculina branca abolicionista.

 

Aula 2 (50 min):


A aula se inicia com uma apresentação geral sobre conto “A Escrava” de Maria Firmina dos Reis e de informações sobre a autora. Em seguida, passa-se para uma conversa em sala sobre Maria Firmina e aspectos da sua trajetória de vida.

Nesse momento, o/a professor/a pode trazer informações e apresentá-las ou, caso ele disponha de mais aulas para a atividade, pode pedir que as/os/es alunes façam uma pesquisa na internet sobre a biografia da autora. O fundamental é ponderar com a turma que Maria Firmina foi uma mulher negra, nascida no Maranhão no século XIX, escritora e atuante no debate abolicionista em um contexto escravista, patriarcal e, portanto, adverso no qual a escrita pública era uma atividade preponderantemente masculina.

 

Aula 3 (50 min):


Após as discussões feitas nas aulas anteriores, faz-se a leitura do conto “A Escrava”. Essa leitura pode ser feita diretamente de forma coletiva ou pode, primeiro ser de forma individual e, posteriormente, no coletivo caso disponha de mais tempo para a realização da atividade.

Em seguida, faz-se uma conversa sobre o que a turma entendeu da narrativa, sobre os personagens apresentados, suas ações e o que cada um representa no contexto histórico. É importante, nesse momento, destacar com as/os/es estudantes que Maria Firmina dos Reis passava uma mensagem abertamente contrária ao sistema escravista, que a autora buscava, em seu texto, sensibilizar o leitor para o caráter injusto e cruel da escravidão.

 

Aula 4 (50 min):


A partir do que foi visto sobre a vida de Maria Firmina dos Reis, discute-se com a turma o processo de esquecimento ao qual as mulheres do século XIX foram submetidas na História do Brasil, abordando nesse momento as causas e as consequências desse apagamento. Em seguida, aborda-se com os alunos como era a situação das mulheres dentro da sociedade patriarcal brasileira do século XIX e as estratégias por elas utilizadas para serem atuantes nos debates políticos.

No que se refere à abolição, destaca-se que elas atuavam em movimentos coletivos e através de ações individuais, assim, divulgavam e participavam de grupos ou associações abolicionistas e haviam também as mulheres escravizadas que acionavam a justiça para conquistar a liberdade.

 

Aula 5 (50 min):


A proposta para a aula é a realização de um debate em sala sobre as desigualdades de gênero e como a turma enxerga os papéis de gênero na sociedade atual, bem como o modo como essas relações impactam a vida deles.

Pode-se trazer dados atuais sobre as desigualdades de gênero e, em seguida, fazer uma reflexão coletiva sobre em que medida a sociedade brasileira apresentou mudanças positivas desde a época estudada até os dias de hoje, o que foi feito para que essas mudanças ocorressem e o que ainda precisa mudar.

 

Aula 6 (50 min):


A proposta de atividade final consiste em dividir as/es/os alunos/as/es/os em grupos para que eles façam uma pesquisa na sala de informática sobre outras mulheres escritoras como Nísia Floresta, Júlia Lopes de Almeida, dentre outras. Pede-se para que os alunos registrem as informações encontradas para que elas possam serem apresentadas, posteriormente, no coletivo da sala.

 

Aula 7 (50 min):


As/es/os alunas/es/os devem se reunir nos grupos novamente para que possam compartilhar as pesquisas desenvolvidas, trazendo para a sala informações sobre a biografia dessas mulheres e das suas obras literárias. Aproveita-se esse momento final para conversar com os estudantes sobre a atividade como um todo no sentido de fazer uma avaliação coletiva sobre o que foi estudado.

Recursos Necessários


  • Material didático para a preparação das aulas acerca do contexto do século XIX, do sistema escravista e do movimento abolicionista.

  • Acesso à bibliografia sugerida ao final dessa sequência para que a pessoa responsável e docente possa ampliar e aprofundar o entendimento sobre os tópicos abordados.

  • Cópias do conto “A Escrava” para os estudantes e docente.

Duração Prevista

Para o desenvolvimento da atividade proposta são necessários sete encontros (aulas) de 50 minutos cada.

Processo Avaliativo

Através do desenvolvimento das atividades sugeridas, espera-se que as/es/os alunas/es/os sejam capazes de identificar e entender o processo de exclusão pelo qual as mulheres passaram na História. Espera-se, ainda, que estudantes compreendam que, apesar do silenciamento ao qual as mulheres foram submetidas, elas também foram sujeitos participativos nos contextos políticos e sociais em que viviam. Desse modo, deve-se avaliar o interesse e comprometimento da/e/o estudante no decorrer das atividades, bem como a participação nos debates orais, nas pesquisas e na apresentação final.

Destaca-se que na última aula as impressões da turma sobre o próprio trabalho desenvolvido devem ser compartilhadas para que sejam capazes de observar e avaliar o que aprenderam.

Observações

Ressalta-se que no intuito de que a proposta alcance seus objetivos é importante que a pessoa docente acesse a bibliografia indicada ao final da sequência didática.

Destaca-se, também, que por se tratar de turmas de Educação de Jovens e Adultos, a docente pode construir discussões muito ricas em sala de aula com relação às questões de gênero e ao racismo, portanto, sempre que for possível é importante estimular que as/es/os estudantes participem e deem a sua contribuição para o debate.

Referências Bibliográficas

ABREU, Martha. “Mães escravas e filhos libertos: novas perspectivas em torno da Lei do Ventre Livre. Rio de Janeiro, 1871”. In: RIZZINI, Irene (org.), Olhares sobre a criança no Brasil – séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: USU, 1997.

ALBUQUERQUE, Wlamyra e FRAGA FILHO, Walter. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais, Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.

AZEVEDO, Celia Maria M. Onda Negra, Medo Branco: O Negro no Imaginário das Elites Século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

BARMAN, Roderick J. A Princesa Isabel do Brasil – gênero e poder no século XIX. São Paulo/SP: Editora da UNESP, 2015.

CASTILHO, Celso; COWLING, Camillia. “Bancando a liberdade, popularizando a política: abolicionismo e fundos locais de emancipação na década de 1880 no Brasil”. Trad. Marília Bueno de Araújo Ariza. Afro-Ásia, 47, p.161-197, 2013CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

COLLING, A. M.; TEDESCHI, L. A. O ensino da história e os estudos de gênero na historiografia brasileira. Revista História & Perspectivas, v. 28, n. 53, 5 jan. 2016.

CORREIA, Janaína dos Santos. O uso de fontes em sala de aula: A obra de Maria Firmina dos Reis. 2013. Dissertação (Mestrado em História Social)- Universidade Estadual de Londrina, Centro de Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História Social.

COWLING, Camillia. Concebendo a liberdade: mulheres de cor, gênero e a abolição da escravidão nas cidades de Havana e Rio de Janeiro. Tradução: Patrícia Ramos Geremias, Clemente Penna. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2018.

DUARTE, Eduardo de Assis. Maria Firmina dos Reis e os primórdios da ficção afrobrasileira. Posfácio. In: REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Florianópolis: Editora Mulheres, PUC Minas, 2004, p. 265-81.

GRINBERG, K. Liberata - a lei da ambiguidade: as ações de liberdade da Corte de Apelação do Rio de Janeiro no século XIX. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

HAHNER, June. Emancipação do sexo feminino. A luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850 – 1940. Florianópolis: EDUNISC, 2003.

LUZ, Giselle. “A escrevência de Maria Firmina dos Reis no conto A escrava”. Travessias, Cascavel, v. 12, n. 1, p. 193 – 204, jan./abr. 2018, p. 197-198.

LYRA, Maria de Lourdes Viana. “A atuação da mulher na cena pública: diversidade de atores e de manifestações políticas no Brasil imperial”. Almanack braziliense n. 03, p.105-122, 2006.

MARTINS, Ricardo André Ferreira. “Breve panorama histórico da imprensa literária no maranhão oitocentista”. Animus - revista interamericana de comunicação midiática, Santa Maria – RG, v.18, jul-dezembro 2010, p. 107-129.

MORAIS FILHO, José Nascimento. Maria Firmina: fragmentos de uma vida. São Luís: COCSN, 1975.

MOTT, Maria Lúcia de Barros. Escritoras negras: resgatando a nossa história. Papéis Avulsos. Rio de Janeiro: CIEC - Centro Interdisciplinar de Estudos Contemporâneos/UFRJ, 1989.

MOTT, Maria Lúcia de Barros. Submissão e resistência. A mulher na luta contra a escravidão. São Paulo: Contexto, 1988.

MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). “Maria Firmina dos Reis”. Em: Escritoras brasileiras do século XIX. Florianópolis: Mulheres, 2000.

OLIVEIRA, Adriana Barbosa de. Gênero e etnicidade no romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. ANAIS DO SETA, Número 1, 2007.

PENNA, Eduardo Spiller. Pajens da Casa Imperial: jurisconsultos, escravidão e a lei de 1871. Campinas: Editora da UNICAMP, 2001PINTO-BAILEY. Cristina Ferreira. Na contramão: a narrativa abolicionista de Maria Firmina dos Reis. Washington and Lee University: Virginia, Estados Unidos, 2012.

REIS, Maria Firmina dos. “A Escrava”. Em: Úrsula e outras obras. Brasília: Edições Câmara, 2018.

SILVA, Régia Agostinho da. A mente, essa ninguém pode escravizar. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História – Fortaleza, 2009, p. 2.

SILVA, Wladimir Barbosa; BARRETO, Maria Renilda N. “Mulheres e abolição: protagonismo e ação”. Revista da ABPN, v. 6, n. 14, jul. – out. 2014

SILVA, Wladimir Barbosa. Escravidão, imprensa e sociedade: o protagonismo feminino na campanha abolicionista. 2014. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação stricto sensu em Relações Etnicorraciais, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, 2014.

TEIJEIRO, Tarsila Tonsig Garcia. A presença das mulheres no ensino de história na educação de jovens e adultos. 2020. Dissertação de mestrado profissional- Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP, 2020.

TELLES, Norma. Rebeldes, escritoras, abolicionistas. Revista de história 120, 1989: p. 73-83.

ZIN, Rafael Balseiro. “Maria Firmina dos Reis e a imprensa literária no Maranhão do século XIX”. Revista Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (RICS), São Luís, v. 4, n. especial - dossiê temático. 2018, p. 15-27.

DOWNLOAD