Julian é uma sereia: narrativas biográficas interseccionais na escola

Estado: Santa Catarina (SC)

Etapa de Ensino: Ensino Fundamental I

Modalidade: Educação Regular

Disciplina: Artes

Formato: Presencial

Fernando Nascimento (Nando Nascimento) é professor-artista-pesquisador, qualira afeminada, nordestino, artivista. Graduado no curso de Lic. em Teatro pela Univ. Fed. do MA – UFMA, mestre e doutorando em Teatro pela Univ. do Estado de SC – UDESC. Atualmente, é servidor público municipal em Tijucas - SC, lecionando Arte no Ensino Fundamental. Em 2014, realizou o projeto Arte e Gênero, através do edital de Igualdade de gênero da Fund. de Amparo à Pesq. e ao Desenv. Científico e Tecnológico do MA – FAPEMA. Publicou os livros: Arte, gênero, sexualidade e educação: saberes e práticas de equidade na escola (2020) e Teatro e representatividade Queer: experiências com o método do Drama na escola (2022).

Objetivos

 

Objetivo geral:
Compreender a potência de narrativas de personagens fictícios e reais com recortes interseccionais de raça, gênero e sexualidade, através da proposta artístico-pedagógica “leitura e teatralidade” (VIDOR, 2016), proporcionando uma educação antirracista, antissexista e antiLGBTQIAfóbica na aula de Arte.

Objetivos específicos:
Apreender as narrativas de personagens interseccionais das literaturas Julián é uma sereia e Amoras, bem como dos livros Histórias para ninar garotas rebeldes 2 e Histórias de ninar para garotas rebeldes: 100 brasileiras extraordinárias;

Aproximar os/as alunos/as do 4º ano do Ensino Fundamental da escuta/fruição das histórias de mulheres negras - cis e trans - (Antonieta de Barros, Dandara dos Palmares, Rayssa Leal, Megg Rayara, Mc Sofia, Mercedes Júlia Adão, Helena e Eduarda Ferreira) através da proposta “leitura e teatralidade” (VIDOR, 2016);

Criar cartas-relatos e desenhos para compartilhar com as personagens reais e fictícias que conheceram durante a aula de Arte/teatro.

Conteúdo

Este plano de aula está inserido em uma pesquisa de doutorado conduzida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. O objetivo da pesquisa é desenvolver abordagens artístico-pedagógicas que dialoguem com temáticas interseccionais de raça, gênero e sexualidade (CRENSHAW, 2002; SILVA; MINA; GARCIA; ROMÃO, 2014; FURLANI, 2016; AKOTIRENE, 2018; OLIVEIRA, 2020; COLLINS; BILGE, 2021; NASCIMENTO, 2022) no contexto dos anos iniciais do Ensino Fundamental na Rede Pública Municipal de Tijucas, Santa Catarina.

O plano de aula tem como propósito contribuir para a efetivação da Lei n.º 10.639/2003, através da incorporação de práticas teatrais baseadas em narrativas (tanto reais quanto fictícias) de mulheres negras (cis e trans) e personagens diversas, no contexto do ensino de Arte nas escolas públicas de Tijucas, Santa Catarina. A pesquisa de doutorado busca visibilizar as histórias dessas mulheres (tanto figuras históricas quanto contemporâneas), aproximando suas narrativas de resistência e empoderamento em diálogo com o Artigo 26 da referida lei. Estas discussões se mostram essenciais no Brasil, especialmente na região Sul e em Santa Catarina, devido à longa história de invisibilidade da cultura afro-brasileira nas escolas catarinenses (SILVA; MINA; GARCIA; ROMÃO, 2014).

Metodologia

A proposta busca mediar composições artísticas por meio da abordagem "leitura e teatralidade" (Heloise Vidor, 2016; 2022), utilizando as obras literárias "Julián é uma sereia" (Jéssica Love), "Amoras" (Emicida), "Histórias para Ninar Garotas Rebeldes 2" (Francesca Cavallo e Elena Favilli) e "Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes: 100 brasileiras extraordinárias" (organizado pela editora Planeta do Brasil).

 

Composição artístico-pedagógica do livro "Julián é uma sereia".

 

Proposta de Leitura Coletiva

 

1º momento: os/as estudantes são convidados/as se sentarem em círculo no chão para imergirem nas aventuras de Julián e sua fascinação por sereias. No centro do círculo, há um livro e um tecido florido, chita típica do Maranhão, representando a cauda de uma sereia. Nesse contexto artístico-pedagógico, o livro é compartilhado, e os/as estudantes podem optar por ler, passar a palavra ou descrever as imagens e detalhes da cena/página. Durante a leitura, acompanham a jornada de autoaceitação de Julián com sua avó.

2º momento: cada estudante cria um desenho em uma folha de papel, representando parte do seu corpo e outra parte de seres mitológicos com os quais se identifica. Posteriormente, compartilham seus desenhos com a turma, explicando as razões de suas escolhas e o que elas representam. Essa atividade dialoga com a narrativa de Julián e sua fascinação por seres mitológicos, como sereias. Cada aluno/a compartilha suas sensações em relação à história de Julián. Por fim, é explicado aos/às estudantes que no Brasil existem termos pejorativos para identificar pessoas como Julián, como "viado", "bixa", "mariquinha" e "qualira" (esse último em São Luís – MA). Porém, atualmente, muitos homossexuais usam esses termos como empoderamento para lutar por um mundo mais igualitário. Caso as crianças queiram saber mais sobre esses termos, sugere-se explicar que são xingamentos homofóbicos prejudiciais e que no Brasil são considerados crime, assim como o preconceito racial/racismo.

 

Composição artístico-pedagógica dos livros "Amoras" (Emicida), "Histórias para Ninar Garotas Rebeldes 2" (Francesca Cavallo e Elena Favilli) e "Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes: 100 brasileiras extraordinárias" (organizado pela editora Planeta do Brasil).

 

Proposta de Leitura Coletiva

 

1º momento: nessa atividade artístico-pedagógica, a sala de aula é dividida por um fio, simbolizando um varal, onde envelopes coloridos com fotografias e histórias de mulheres negras são fixados com pregadores de roupas coloridos. As histórias são adaptadas para a dramaturgia infantil e abrangem figuras como Mc Sofia, Rayssa Leal (a Fadinha do Skate), Dandara dos Palmares, Mercedes Júlia Adão, Megg Rayara, as irmãs Helena e Eduarda Ferreira (canal do YouTube Pretinhas Leitoras) e Antonieta de Barros.

2º momento: em cada lado do "varal", há um livro. Os/as estudantes escolhem um lado (esquerdo ou direito) para se sentar. A leitura do livro "Amoras" (Emicida) é iniciada, e cada aluno/a desse lado é convidado/a a compartilhar o livro, alternando entre leitura em voz alta e passagem da palavra para um/a colega. Após a leitura, quatro estudantes podem se levantar, escolher envelopes e ler as biografias das mulheres, mostrando as imagens correspondentes. As fotografias das mulheres são novamente pregadas no varal, agora visíveis.

3º momento: A mesma dinâmica é repetida com a leitura da biografia da jogadora de futebol brasileira Marta no livro "Histórias para Ninar Garotas Rebeldes 2" (Francesca Cavallo e Elena Favilli). Em seguida, os/as alunos/as leem as três últimas biografias dos envelopes, sendo que no envelope da MC Sofia, em vez de sua biografia, encontra-se a letra da música "Menina Pretinha", tocada na caixinha de som ou celular para apreciação das crianças. As biografias de Rayssa Leal (a Fadinha do Skate) e Dandara dos Palmares estão no livro "Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes: 100 brasileiras extraordinárias" (organizado pela editora Planeta do Brasil).

 

4º momento: por fim, cada estudante escreve um relato, carta ou desenho para uma das personagens (reais ou fictícias) que conheceram ao longo das práticas nas aulas. Esse processo criativo é registrado em um portfólio coletivo, que pode ser compartilhado posteriormente em uma exposição na escola, exibindo as criações relacionadas às literaturas, biografias e outros materiais.

 

Recursos Necessários


  • 4 livros literários

  • 1 rolo de fio (varal)

  • 7 envelopes (coloridos)

  • 7 biografias/mulheres negras (ver metodologia), adaptadas para dramaturgia infantil, com fotos coloridas

  • 1 tesoura

  • 1 tecido florido

  • Folhas (papel A4) com espaços para a escrita da carta-relato e desenho

  • Folhas (papel A4) com espaços para o desenho

  • Caixas de lápis de cor

  • Pregadores coloridos

  • Caixinha de som

Duração Prevista

As práticas teatrais serão mediadas em 2 aulas de 45 minutos (uma aula-faixa) do componente curricular Arte.

Processo Avaliativo

Critérios de avaliação: Observação do envolvimento dos/as estudantes nas atividades teatrais, na apreciação/escuta e na leitura das literaturas e biografias compartilhadas.

 

Instrumento de avaliação individual: Criação de cartas-relatos e/ou desenhos.

 

Instrumento de avaliação coletiva: Elaboração de um portfólio que documente as experiências do processo e a interação dos/as estudantes com as narrativas de mulheres negras e personagens qualiras, por meio das cartas-relatos e desenhos, para a elaboração de uma exposição futura na escola. A exposição propõe compartilhar o processo criativo com outras turmas da escola, apresentando o portfólio coletivo, as obras literárias, as fotografias e biografias das mulheres homenageadas, além da música de MC Sofia.

Observações

 

Objetivo geral:
Compreender a potência de narrativas de personagens fictícios e reais com recortes interseccionais de raça, gênero e sexualidade, através da proposta artístico-pedagógica “leitura e teatralidade” (VIDOR, 2016), proporcionando uma educação antirracista, antissexista e antiLGBTQIAfóbica na aula de Arte.

Objetivos específicos:
Apreender as narrativas de personagens interseccionais das literaturas Julián é uma sereia e Amoras, bem como dos livros Histórias para ninar garotas rebeldes 2 e Histórias de ninar para garotas rebeldes: 100 brasileiras extraordinárias;

Aproximar os/as alunos/as do 4º ano do Ensino Fundamental da escuta/fruição das histórias de mulheres negras - cis e trans - (Antonieta de Barros, Dandara dos Palmares, Rayssa Leal, Megg Rayara, Mc Sofia, Mercedes Júlia Adão, Helena e Eduarda Ferreira) através da proposta “leitura e teatralidade” (VIDOR, 2016);

Criar cartas-relatos e desenhos para compartilhar com as personagens reais e fictícias que conheceram durante a aula de Arte/teatro.

Referências Bibliográficas

AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Coor. Djamila Ribeiro. Belo Horizonte – MG: Letramento: Justificando, 2018.

 

ALMEIDA, Alderico Segundo Santos; SÁ-SILVA, Jackson Ronie. Homossexualidade, homofobia e educação [recurso eletrônico]. São Luís: EDUEMA, 2022.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (2020). Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 22 jan. 2023.

 

BRASIL. Lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Dispõe sobre as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2003.

 

COLLINS, Patrícia Hill. Interseccionalidade. Patrícia Hill Collins, Sirma Bilge; tradução Rane Souza. – 1. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2021.

 

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, [s.l.], v. 10, n. 1, p.171-188, jan. 2002. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-026x2002000100011. Acesso em: 22 jan, 2023.

 

EMICIDA. Amoras. Ilustrações: Aldo Fabrini. 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2018.

 

FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. 1.ed. 1º.reimp – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

 

FAVILLI, Elena. Histórias de ninar para garotas rebeldes 2. Elena Favilli, Francesca Cavallo; traduzido por Carla Bitelli, Flávia Yacubian, Zé Oliboni. 1. ed. São Paulo: VR Editora, 2018.

 

HISTÓRIAS DE NINAR PARA GAROTAS REBELDES: 100 brasileiras extraordinárias. São Paulo: Planeta do Brasil, 2023.

 

LINS, Beatriz Accioly; MACHADO, Bernardo Fonseca; ESCOURA, Michele. Diferentes, não desiguais: a questão de gênero na escola. 1. ed. São Paulo: Editora Reviravolta, 2016.

 

LOVE, Jessica. Julián é uma sereia. Tradução: Bruna Beber. 1. ed. São Paulo: Boitatá, 2021.

 

NASCIMENTO, Fernando Augusto do. Teatro e representatividade Queer: experiências com o método do drama na escola. 1. ed. São Paulo: Hucitec, 2022.

 

NASCIMENTO, Fernando Augusto do; RIBEIRO, Tânia Cristina Costa; OLIVEIRA, Fernanda Areias de. Arte, Gênero, Sexualidade e Educação: saberes e práticas de equidade na escola. São Luís: EDUFMA, 2020.

 

NASCIMENTO, Fernando Augusto do. CONCILIO, Vicente. Narrativas qualiras e teatralidades: possibilidades artístico-pedagógicas na formação docente. Revista Rascunhos, Uberlândia - MG, 2023 (no prelo).

 

MATTAR, Sumaya; Suzuki, Clarissa: Pinheiro, Maria. A lei 11.645/08 nas artes e na educação: perspectivas indígenas e afro-brasileiras / organização Sumaya Mattar, Clarissa Suzuki, Maria Pinheiro. – São Paulo: ECA-USP, 2020.

 

OLIVEIRA, Megg Rayara de. O diabo em forma de gente: (re)existência de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação. 1 ed. Curitiba: Devires, 2020.

 

PRECIADO, Paul Beatriz. Quem defende a criança Queer? Tradução Cícero Oliveira. Revista Geni, 2013. Disponível em: http://revistageni.org/10/quem-defende-a-crianca-queer/. Acesso em: 22 jan. 2023.

 

SÁ-SILVA, Jackson Ronie. “Homossexuais são...”: revisitando livros de medicina, psicologia e educação a partir da perspectiva queer. 2012. 400 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, 2012.

 

Santa Catarina. Governo do Estado. Secretaria de Estado da Educação. Currículo base da educação infantil e do ensino fundamental do território catarinense / Estado de Santa Catarina, Secretaria de Estado da Educação. – Florianópolis: Secretaria de Estado da Educação, 2019.

 

SILVA, José Bento Rosa da. Africanidades catarinenses: história e cultura afro-brasileira. José Bento Rosa da Silva, Maria de Lourdes Mina, Fábio Garcia, Jeruse Maria Romão (coordenação). João Pessoa – PB: Editora Grafset, 2014.

 

VIDOR, Heloise Baurich. Leitura e Teatro: aproximação e apropriação do texto literário. São Paulo: Hucitec, 2016.

 

VIDOR, Heloise Baurich. A poesia do texto na (po)ética do encontro: experiências artístico-pedagógicas com a literatura, a leitura e o teatro. Florianópolis: UDESC, 2020

DOWNLOAD