História dos corpos na arte: disputas de narrativa e a experiência curatorial
Estado: São Paulo (SP)
Etapa de Ensino: Ensino Médio
Modalidade: Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional Tecnológica, Educação Regular
Disciplina: Artes
Formato: Híbrido, Presencial, Remoto
Estudante de Pedagogia pela FEUSP e monitor-bolsista das atividades de leitura dentro do projeto de ensino, pesquisa e extensão “Democracia, Justiça Social e Direito à Educação: políticas e gestão escolar para a pluralidade, a diversidade e o sucesso das camadas populares na Escola Pública” da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Objetivos
• Proporcionar uma experiência curatorial a partir de um processo de análise e seleção de obras de arte.
• Questionar os padrões estabelecidos acerca de aparência dos corpos apontando as arbitrariedades do processo de construção de modelos
A proposição pedagógica desta atividade visa construir metodologias possíveis que permitam promover maior equidade entre os gêneros, os grupos étnico-raciais e permitir uma abordagem inclusiva de qualquer outra minoria política.
Pensar o valor das narrativas artísticas na produção cultural, a construção de discursos sobre corpos ideais e corpos políticos, a representatividade e a diversidade como forma de diminuir as pressões de autoimagem são fatores a serem considerados como aprendizados importantes no estudo crítico das artes, vista por uma perspectiva igualitária, antimachista e laica.
Conteúdo
(MARQUES, 2008)
Torna-se possível então pensar uma proposta de trabalho para tratar dos temas de identidade, gênero, raça, sexualidade e imagens corporais por meio do próprio conteúdo do ensino de artes. Percebe-se então uma possibilidade interdisciplinar no que se apresenta, valorizando a reflexão e análise crítica de todo o material apresentado.
Os conteúdos referentes ao ensino de arte ao qual dispõem essa sequência didática são de:
• Modos de intervenção artística e seus processos de criação em artes visuais.
• Ligação entre arte e vida; Modos de documentar a arte.
• Procedimentos de apreciação, investigação e pesquisa em artes.
O documento da UNESCO “Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro”, publicado em 2004, oferece uma série de tópicos e objetivos de aprendizagem acerca das temáticas em questão, possibilitando o plano de trabalho possuir um norteador dos objetivos que deseja alcançar, dentro de uma grande complexidade enfrentada.
O grupo etário escolhido para a aplicação desse trabalho é o de 15 a 18 anos, enquadrado no ensino médio comum, última etapa da educação básica.
Para este grupo o documento aponta uma série de ideias-chave referentes ao conceito-chave nomeado “Imagem corporal”, que tem por objetivo “discutir a diversidade dos corpos e enfatizar que todos os seres humanos são iguais na diferença” (UNESCO, 2004). As ideias-chave, norteadoras para esta proposta pedagógica são:
• Modelos e padrões irreais sobre aparência física devem ser questionados.
• A autoimagem pode afetar a autoestima, a tomada de decisão e o comportamento das pessoas, em especial de adolescentes e jovens.
• Muitas vezes é necessário entender as limitações do próprio corpo e conviver com elas.
• A imagem corporal é constituída a partir da autoestima, dos sentimentos em relação ao próprio corpo e de elementos da cultura local.
Metodologia
1 – tematização e pesquisa;
2 – discussão e curadoria;
3 – exposição e mediação.
ETAPA 1
Para a execução da atividade as alunas e alunos devem ser organizar em pequenos grupos de trabalho. Cada grupo receberá um conjunto com o título de duas obras de arte, acompanhada de suas representações (impressas ou digitais). A partir das obras os grupos deverão discutir e produzir escritos sobre as primeiras impressões e possíveis descobertas deste olhar sobre cada uma delas, podendo ser orientados por provocações como:
• O corpo apresentado na obra é bonito? Quais características o apontam ser (ou não) considerado assim?
• O corpo apresentado se assemelha ao corpo de uma pessoa comum?
• Quais são as características mais marcantes da obra? Quais partes chamam mais atenção, ou recebem maior destaque?
As provocações buscam ser disparadores da discussão, que deve levar de vinte a trinta minutos para ser realizada (tempo sugerido, a proposta pode ser dilatada em duas ou mais aulas se necessário). No fim desta etapa, cada grupo terá a tarefa de pesquisar mais informações sobre cada uma das obras do conjunto, sobre a autoria, período e outras informações que contextualizem sua realização.
Esta etapa pode ser realizada no tempo deste primeiro encontro, bem como ser estendida como tarefa a ser trazida para o próximo encontro.
Proponho a seguir seis conjuntos possíveis de obras do campo das artes visuais que apresentam contextos que atravessam questões de gênero, raça e sexualidade, com o intuito de provocar uma análise crítica e reflexão acerca de suas temáticas e contexto histórico-social no qual foram criadas, para que surjam debates que contemplem as ideias-chave dos objetivos e conteúdos. Em comum, as obras circundam em uma mesma temática: o corpo e suas representações.
Conjunto 1: Retrato de uma negra, Marie-Guillemine Benoist (1800); Madame X, John Singer Sargent (1883-4)
Conjunto 2: Venus de Willendorf, autoria desconhecida (circa 24000 22000 AEC); Garoto de Kritios, autoria desconhecida (circa 490-480 AEC)
Conjunto 3: Autorretrato, Alice Neel (1980); Uma mulher velha, Quinten Massys (circa 1513)
Conjunto 4: Cadeira, Allen Jones (1969); Salomé, Franz Von Stuck (1906).
Conjunto 5: São Sebastião, Gerrit Van Honthorst (circa 1623); Memórias de Hadrian #8, Lyle Ashton Harris (2002)
Conjunto 6: Nan um mês após ser agredida, Nan Goldin (1984); Sem título (seu corpo é um campo de batalha), Bárbara Kruger (1989)
ETAPA 2
Cada grupo terá a tarefa de escolher uma das obras, justificando os motivos da escolha, a qual irá ser compartilhada e exposta para toda a turma. O grupo responsável pela análise de cada uma assumirá o papel de curadoria das obras e apresentarão para os colegas os pontos de vista que desenvolveram durante o debate.
É necessário que cada integrante registre e apresente argumentos sobre cada uma das obras de seu grupo, especificando sua escolha.
A experiência busca reproduzir o ambiente de uma galeria de arte, onde a exposição é mediada pelos expositores – no caso dessa atividade, as alunas e alunos tornam-se a mediação compartilhando informações com colegas de turma.
Esta etapa é reservada para discussões e preparativos do processo de exposição e compartilhamento com a turma.
ETAPA 3
A terceira e última etapa desta sequência é o momento de expor e compartilhar as escolhas de cada grupo. A exposição das obras, agora acompanhada da mediação enfatizará a representação dos corpos femininos e masculinos, assim como aqueles que apresentam ambiguidades de gênero. Por meio da escolha de uma obra ou outra, entender que os discursos produzidos pelas instituições, tanto quanto as narrativas que são mostradas ou ocultadas dos espaços sociais são resultadas de escolhas arbitrárias de grupos de pessoas que tomam as decisões do que irá ou não ser mostrado aos outros. As representações identitárias passam pelo mesmo processo, quando ideais do que é ser homem ou mulher são transmitidos pela arte, pela publicidade, pelos meios de comunicação e pelas instituições sociais.
O protagonismo é passado às alunas e alunos, que se tornarão responsáveis por instruir colegas sobre os discursos que aquela obra produz.
O intercâmbio de informações, tanto quanto o exercício do diálogo e da escuta serão colocados em prática, já que cada grupo estará responsável por se fazer entender e por também colher informações das outras obras em exposição. A segunda etapa, da exposição das obras, provoca também uma pequena vivência museológica, podendo despertar interesse por exposições de arte sob um novo viés, que não o doutrinador e enfadonho discurso reproduzido pelo senso comum.
Cada obra de arte conta uma série de histórias, carrega símbolos e discursos de uma sociedade e período histórico e deve ser vista para além do resultado final emoldurado nas paredes frias do museu.
Perceber também o potencial provocador da arte contemporânea, que foge dos moldes de representação da arte clássica e que por esse motivo se afasta das expectativas que temos ao olhar um trabalho artístico.
Sua apreciação se torna mais desafiadora, mais complexa, assim como deve ser nosso entendimento sobre as questões de gênero e identidade.
Há muito mais a ser entendido do que o que pode nos oferecer a observação direta sobre os corpos.
Recursos Necessários
Sugere-se também, de forma opcional, que na aplicação presencial da atividade sejam disponibilizadas aos grupos impressões grandes e em alta qualidade das obras dos conjuntos, para uma melhor apreciação dos materiais.
Duração Prevista
As etapas 1 e 2 podem ser realizadas no tempo de um encontro e a etapa 3 em dois encontros.
Recomenda-se um mínimo de 50 minutos para cada encontro, enfatizando que o tempo pode ser ampliado para maior aproveitamento das discussões.
Processo Avaliativo
A atividade prevê também dar abertura para o diálogo, portanto não será avaliado qual obra fora escolhida em detrimento da outra, mas quais foram os aspectos decisivos para escolha, se levaram em conta o contexto social/político na qual aquelas obras foram criadas e também como reconhecem a importância e relevância de obras assim nos dias atuais.
Observações
Referências Bibliográficas
____________________. Currículo, gênero e sexualidade. O “normal”, o “diferente” e o “excêntrico”. In.: Corpo, Gênero e Sexualidade: Um debate contemporâneo na educação. Guacira Lopes Louro, Jane Felipe, Silvana Vildre Goellner (Orgs.). Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
MARQUES, Isabel A. Ensino de dança hoje: textos e contextos. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2008.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. Vol. 20 (2), jul./dez. 1995; pág. 72
UNESCO. Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro: tópicos e objetivos de aprendizagem. Brasília: 2014.