Herstory: Mulheres que fazem a História

Estado: Rio de Janeiro (RJ)

Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II, Ensino Médio

Modalidade: Educação de Jovens e Adultos, Educação Regular

Disciplina: História, Inglês, Língua Portuguesa, Sociologia

Formato: Híbrido

Sou uma professora de inglês que atua em um instituto federal no Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II. Junto com estudantes e colegas docentes, construo minha prática docente como luta diária por uma educação pública de qualidade, que seja, antes de tudo, antissexista, antirracista, anticapacitista, anti-LGBTfóbica, laica e democrática. No colégio há 12 anos, trabalho com o 2º segmento do ensino fundamental e já fui orientadora da Residência Docente, um programa de formação de docentes em nível de pós-graduação lato-sensu. Há cinco anos, fundei com colegas um coletivo interdisciplinar que desenvolve projetos junto à comunidade escolar, educadores/as e o público em geral, discutindo temas relacionados a gênero, sexualidade, raça, entre outros marcadores sociais da diferença. Anteriormente ao Pedro II, atuei como professora de inglês e português em escolas estaduais, trabalhei como professora substituta no curso de Letras da UFF, e fui professora de inglês de cursos livres. Sou doutora em Letras pela PUC-RJ e militante feminista, membro do GT Mulheres do meu sindicato.

Objetivos


  • Compreender os conceitos de ‘gênero’, ‘raça’ e ‘classe’ a partir da perspectiva das ciências sociais;

  • Relacionar as lutas feministas a seus respectivos contextos históricos;

  • Valorizar a luta das mulheres negras por uma sociedade mais justa e igualitária;

  • Debater temas como: violência de gênero, racismo, afetos, memória, silenciamento, direito ao trabalho, à cidade, à liberdade e ao próprio corpo;

  • Construir diálogos com a comunidade escolar que possam levar à construção de entendimentos sobre o racismo, o machismo e outras formas de opressão;

  • Refletir sobre o apagamento das mulheres nos currículos escolares, na historiografia, nas ciências e em outros campos do saber;

  • Discutir estratégias de intervenção e resistência contra o assédio e outras formas de violência física e simbólica contra mulheres e meninas negras na escola.

Conteúdo

A violência sofrida pelas mulheres extrapola o ambiente doméstico, manifestando-se na rua, no local de trabalho e lazer e também na escola, ou seja, em todos os lugares onde a mulher exerça suas atividades.

Essa violência – que está tão enraizada na cultura de nosso país – atinge, principalmente, mulheres negras e pobres e precisa ser denunciada e combatida.

Na verdade, para se combater a violência de gênero, há que se combater o racismo e o machismo cultural em todas as suas frentes e, para tanto, não bastam apenas tratados e leis que versem sobre a questão. É necessário perceber como a violência contra as mulheres é produzida e reproduzida através de relações sociais hierarquizadas, bem como através de mecanismos das relações de trabalho que continuam relegando às mulheres posições de menor remuneração, sujeitas ao assédio sexual. É preciso perceber, sobretudo, que as mulheres continuam ocupando nichos profissionais menos remunerados, que programas de saúde para as mulheres ainda são iniciativas incipientes e que a falta de dados estatísticos mais precisos sobre a violência que atinge as mulheres é um claro sintoma da posição subalterna ocupada pela população feminina.

O enfrentamento dessa cultura de violência contra a mulher deve se dar em frentes diversas e de modo transversal, ou seja, que se entrecruze em diversas áreas como, por exemplo, na criação de políticas públicas que combatam a discriminação à qual as mulheres são submetidas e que demonstrem que os direitos das mulheres são direitos humanos. Por fim, no âmbito escolar, é urgente e necessário incluir os estudos de gênero e raça em todos os níveis, a fim de mostrar como a subordinação da mulher pelo homem, juntamente com o racismo cotidiano, trazem efeitos nefastos, incrementando a violência.

O importante conceito de Letramento Racial Crítico será o fio condutor deste projeto. Segundo, Neide Almeida, no Portal Geledés, o Letramento Racial é “um conceito potente que convoca à reflexão e exige posicionamento teórico e prático”. Ainda segundo Aparecida de Jesus Ferreira (2015), “para termos uma sociedade mais justa e igualitária, temos que mobilizar todas as identidades, ou seja, a identidade racial branca e a identidade racial negra para refletir sobre raça, racismo e possíveis formas de letramento racial crítico e fazer um trabalho crítico no contexto escolar em todas as disciplinas do currículo escolar.” Portanto, apresentamos esse projeto que visa discutir as conquistas, desafios e impasses do movimento feminista negro, mostrando que a dominação das mulheres e o racismo são produto da colonização e das relações sociais de gênero, raça e classe. É um projeto voltado para estudantes do 8º e 9º anos do ensino básico e os três anos do ensino médio.

Metodologia

Haverá dois encontros semanais com as/os estudantes [presenciais ou virtuais; a depender das condições sanitárias], no contraturno. As/Os estudantes serão encorajadas/os a produzir cartazes ou nuvens de palavras [caso a opção seja pela modalidade virtual], a fim de compartilharem seus conhecimentos acerca dos termos que compõem o debate sobre o apagamento da produção intelectual das mulheres, notadamente mulheres negras, nos ambientes escolares e acadêmicos.

Serão incentivados a buscar autoras que tratem do feminismo negro e a pesquisarem nomes de mulheres, como Maria Firmina dos Reis, Beatriz Nascimento e Virgínia Bicudo, por exemplo, intelectuais cujas produções sofreram apagamentos nos seus campos de atuação.

Serão sugeridos capítulos de livros, artigos e textos da internet para leitura, discussão e reflexão. As/Os estudantes participarão da apresentação de mini-seminários e elaboração de textos argumentativos. Após essa fase inicial de reflexão, elas/eles irão elaborar atividades de intervenção na comunidade escolar, conduzidas por elas/eles, com orientação da/o docente.

As atividades poderão ser rodas de conversa, oficinas e exposições [que podem ser virtuais, usando murais como o Padlet] cujo foco sejam o movimento feminista negro, o combate ao racismo em todas as suas modalidades, mas principalmente o epistêmico, e o combate à violência física e simbólica contra as mulheres.

Para fins deste projeto, serão selecionados trechos e capítulos das obras das pensadoras Angela Davis (Mulheres, raça e classe), bell hooks (O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras), Djamila Ribeiro (O que é lugar de fala?; Pequeno manual antirracista), Lélia Gonzalez (Primavera para as rosas negras) e da escritora Chimamanda Adichie (Sejamos todos feministas; Para educar crianças feministas). Outros textos poderão ser selecionados, a depender do interesse das/os estudantes e o nível dos conhecimentos prévios de cada grupo de discentes.

Cronograma: 1 ano letivo (aproximadamente, 9 meses).

  • Leitura e discussão de textos selecionados;

  • Produção de pôsteres [modalidade presencial], nuvens de palavras ou pequenos textos em murais virtuais [como o Padlet, na modalidade virtual], conjugando linguagem verbal e não-verbal, a fim de expressar os entendimentos co-construídos;

  • Produção de pequenos textos de caráter argumentativo sobre a temática do projeto pra divulgação nas redes sociais do projeto;

  • Criação de vídeos curtos sobre a temática do projeto [com autorização dos responsáveis];

  • Elaboração de rodas de conversa e oficinas com a comunidade escolar [docentes, discentes, funcionários e responsáveis] sobre o movimento feminista negro, a contribuição intelectual das mulheres negras brasileiras, o combate ao racismo e a opressão das mulheres;

  • Caso as condições sanitárias sejam favoráveis, intervenções no espaço escolar, com a produção de cartazes com a temática do projeto, e que serão distribuídos nos espaços comuns, como teasers.

Recursos Necessários


  • • Celulares, tablets ou notebooks, com conexão à internet;

  • Textos para a leitura;

  • Cartolinas, canetinhas, cola, tesoura, revistas e tintas [para confecção de pôsteres e cartazes].

Duração Prevista

Serão necessários dois encontros semanais [presenciais ou virtuais], de 1h30 cada um. O projeto todo terá a duração de um ano letivo, ou aproximadamente nove meses.

Processo Avaliativo

A avaliação será processual e levará em conta os seguintes aspectos:

  • Avaliação diagnóstica em forma de roda de conversa para aferir os conhecimentos prévios das/os estudantes em relação aos temas tratados no projeto;

  • Engajamento das/os estudantes nas atividades: participação nas discussões, qualidade dos textos produzidos, clareza nas formulações e sugestões de atividades com a comunidade escolar;

  • Autoavaliação final, considerando suas próprias produções e avaliação do projeto como um todo, com sugestões para sua melhoria e implementação.

Observações

Essa proposta foi elaborada no Laboratório de Estudos em Educação e Diversidade do Colégio Pedro II, no RJ.

Referências Bibliográficas

ADICHIE, Chimamanda, Ngozi. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

_________________________. Para educar crianças feministas. São Paulo: Companhia das Letras: 2017.

ANDRADE, Fernando Cézar Bezerra de &

RECHEMBACH, Fabiana (Orgs). Educação em direitos humanos: construindo políticas públicas.

BLAY, Eva Alterman. Assassinato de mulheres e direitos humanos. São Paulo: USP/Editora 34, 2008.

COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. Letramento racial crítico através de narrativas autobiográficas: com atividades reflexivas. Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2015.

GONZALEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa. Editora Diáspora Africana, 2018.

HAHNER, June E. Emancipating the female sex: the struggle for women’s rights in Brazil, 1850-1940. Duke University Press, 1990.

HANNAM, June. Feminism. London: Routledge, 2007.

HIRATA, Helena et ali (Orgs). Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

HOOKS, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 2019.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala. Belo Horizonte (MG: Letramento: Justificando, Coleção Feminismos Plurais, 2017.

______________. Pequeno manual antirracista. São Paulo:Companhia das Letras, 2019.

WERNECK, Jurema; MENDONÇA, Maisa; WHITE, Evelyn C. (orgs.). O Livro da Saúde das Mulheres Negras: nossos passos vêm de longe. Rio de Janeiro: Pallas/Criola, 2006 (1994).

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