Girls Evolution: Promoção da cultura esportiva feminina negra
Estado: Bahia (BA)
Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II
Modalidade: Educação Regular
Disciplina: Educação Física
Formato: Presencial
Estudante de escola pública e ex-aluno de projeto social. Professor de educação física em todos os níveis da educação básica. Graduado em Educação Física, pós-graduado em Educação Física, Desporto Escolar e Políticas Públicas para Infância, Adolescência, Juventude e Diversidade. Sensei de judô e representante estadual no Jogos Escolares da Juventude, com equipes de basquete feminino desde 2017. Criador do Projeto Social Basquete Girls Evolution. Redator do Documento Curricular da Bahia.
A experiência
O Projeto Girls Evolution apoia e fortalece as lutas históricas das mulheres negras das camadas populares que conquistam espaços antes negados a elas. A iniciativa proporciona experiências esportivas e educacionais para meninas adolescentes dos anos finais do ensino fundamental, matriculadas em escolas públicas da comunidade de São Caetano. A experiência envolveu, principalmente, alunas do Colégio Estadual Professor Edison Carneiro.
Com uma abordagem metodológica centrada na estudante, a intervenção foi desenvolvida em São Caetano (Salvador, BA) por meio da prática do basquete. A iniciativa surgiu a partir da análise interseccional do contexto escolar e comunitário, que evidenciou a ausência de meninas – especialmente meninas negras – nos espaços esportivos. Esse cenário motivou a criação do Basquete Girls Evolution.
Pessoas envolvidas
Adolescentes meninas, estudantes de escolas públicas, principalmente as matriculadas no Colégio Estadual Professor Edson Carneiro, com idades entre 11 a 18 anos.
Relato da experiência
Durante minhas vivências esportivas em escolas, clubes e praças públicas, foi perceptível que havia poucos avanços a respeito da participação das adolescentes meninas nesses espaços, sobretudo as meninas negras das camadas populares.
Dessa forma, a iniciativa parte do questionamento e da observação dessa ausência, constatando que as meninas também desejam praticar esportes, mas, inicialmente, carecem de um espaço acolhedor e voltado para o público feminino, onde possam se sentir mais à vontade, ganhar confiança e assumir o protagonismo.
Essa constatação reforça os dados da pesquisa encomendada pela Always em 2018, que revelou que, no Brasil, 53% das meninas abandonam o esporte até o fim da puberdade e 74% sentem que a sociedade não as incentiva a praticá-lo. Além disso, evidencia a interação de fatores que impactam as dimensões de gênero e raça, influenciando suas relações sociais e o acesso a direitos.
Dessa forma, iniciei um projeto piloto. A partir dele, surgiu o projeto Basquete Girls Evolution, que permitia a percepção da interseccionalidade no desenvolvimento desta intervenção.
Alinhado a uma proposta metodológica centrada nas alunas, valorizamos as reflexões críticas acerca dos contextos que envolviam o grupo, considerando as sequências didáticas direcionadas aos fundamentos esportivos, mantendo a presença do lúdico e a constante busca por estratégias para a promoção da Educação Antirracista e da Educação das Relações Étnico-Raciais, por meio do desenvolvimento da linguagem corporal e do estímulo às leituras da realidade, provocando a reflexão sobre o que seria a inserção de adolescentes meninas em espaços que lhes eram negados.
Desenvolvido em São Caetano, bairro populoso de Salvador, esse projeto contemplou a oportunização de experiências esportivas e educacionais às meninas adolescentes dos anos finais do ensino fundamental matriculadas em escolas públicas da comunidade de São Caetano, principalmente as do Colégio Estadual Professor Edison Carneiro. O público alvo apresentou como característica a exposição em contextos de vulnerabilidade social, carência de vivências que trabalhassem sua auto estima e as relações interpessoais.
Nesse contexto, o Projeto Girls Evolution ganha relevância, pois oportuniza vivências às estudantes em espaços de leituras e esportivos da e na escola, e começa a preencher lacunas existentes no cenário formativos e esportivo-educacional da rede pública de ensino em Salvador e em outros contextos, além de contribuir para a formação integral e antirracista dessas adolescentes, favorecer a cultura esportiva feminina e promover, na medida do possível, condições para equidade de gênero e racial através das vivências esportivas.
Isso comprova e reafirma a importância do esporte e seu potencial transformador na vida das pessoas e, especialmente, de adolescentes meninas negras, impactando decisivamente em comportamentos, elevando a auto estima, ampliando a visão de mundo por meio de suas vivências e possibilitando uma melhor percepção sobre determinadas discriminações em sua totalidade.
Estratégias adotadas
Observei o contexto e fiz um diagnóstico sobre os interesses das meninas da escola. Busquei orientação com pessoas experientes no basquete feminino e participei de cursos de formação. Dialoguei com a gestão escolar e verifiquei as condições estruturais e de equipamentos para a realização do projeto. Em seguida, sistematizei as ideias, abri inscrições para as interessadas e elaborei o planejamento das aulas, valorizando aspectos técnicos do esporte, a ludicidade, a elevação da autoestima e a criação de rodas de conversa sobre temáticas relevantes. Nessas conversas, destacamos os marcadores sociais que envolviam o grupo e analisamos suas interseccionalidades.
Além disso, desenvolvemos aulas que incluíram leituras e exercícios de basquetebol, realizamos e participamos de atividades externas, assistimos a palestras, fizemos visitações e competimos. Também mantivemos um diálogo constante com as famílias das participantes.
Dificuldades encontradas
Dificuldade de meninas mais novas participarem com frequência das atividades, porque não tinha um responsável para levá-las. Além de pouco recurso material, dificuldade em conseguir fazer atividades externas por não conseguir transporte, suspensão de aulas por conta de condições climáticas, pois a quadra é pequena e aberta, necessidade constante de motivar as meninas que, em sua maioria, apresentava baixa auto estima e muitas começavam a querer desistir diante de adversidades, o preconceito de familiares em julgar que o esporte é um espaço masculino, a solidão frente às responsabilidades demandadas em diferentes etapas do projeto.
Principais aprendizagens
Proporcionar vivências por meio do esporte na escola cria um espaço aberto para as adolescentes, assim como devem ser os espaços públicos de esporte e lazer.
Essas experiências oferecem às estudantes a oportunidade de aprimorar suas relações interpessoais, analisar criticamente a inserção de pessoas negras nos espaços esportivos e, principalmente, reconhecer discriminações de forma ampla.
Para isso, é fundamental desenvolver intervenções que impactem a realidade da comunidade escolar. No entanto, contar com parceiros na gestão e execução do projeto, além de apoio institucional, pode ampliar significativamente os resultados.
Referências bibliográficas
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