Era uma vez… uma Pessoa – Introdução aos Direitos Humanos numa Perspectiva de Gênero

Estado: Rio Grande do Sul (RS)

Etapa de Ensino: Educação Infantil - Pré-Escola

Modalidade:

Disciplina:

Formato: Presencial

Professora anos iniciais da rede pública de Sapucaia do Sul. Graduada, especialista e mestre em História pela Unisinos e doutoranda em Educação pela UniLasalle, pesquisadora do Grupo de Pesquisa ComGênero.

Objetivos

Objetivo geral:

Introduzir crianças de 5 anos em momentos de reflexão sobre lugares de gênero e formas de transcendê-los por meio do diálogo.

Objetivos específicos:

• Questionar sobre as pequenas escolhas diárias como roupas, acessórios, brincadeiras, entre outras, que podem ser determinadas por nosso interesse e não simplesmente por nosso gênero;

• Introduzir a ideia de respeitar as escolhas diferentes da nossa;

• Problematizar a sensação de estranhamento para que não surja como um possível julgamento.

Conteúdo


  • Narrativa oral e suas características;

  • Escuta atenta e participativa;

  • Interação interpessoal;

  • Noções espaciais e de desenvolvimento do eu e do outro;

  • Construção de um ambiente de paz por meio de uma educação igualitária.

Metodologia

A proposta ocorrerá em momento diferentes, em cinco etapas de 30 minutos a 1 hora, sugere-se que sejam realizadas em dias consecutivos, ou seja, no decorrer de uma semana.

Etapa 1 - Contação de uma história

O título da história (de criação da autora) “Era uma vez... uma Pessoa Humana” será iniciada com uma roda com as crianças e apresentado um desenho de um boneco simples, grande, de papel pardo, sem nenhuma característica física para as crianças e será chamado pela/o docente de Pessoa Humana. Inicialmente será dado espaço para a conversa e escuta das crianças a partir da apresentação do boneco (sem comentário da/o docente).

A história será conduzida em conjunto com as falas das crianças, respeitando suas ideias e agregando alguns aspectos à narrativa, dessa forma, a história pode mudar (fato que é relevante e pode fazer emergir ideias diversas oportunizando momentos ricos para esclarecimentos). A/O docente trará consigo alguns objetos em papel pardo (ou outro) simples (sempre apenas o formato sem detalhes) para vivenciar a história. Importante destacar o uso da linguagem neutra, deixando a ideia de escolha de gênero o mais livre possível para as crianças.

Narrativa: Pessoa vivia em sua casa, com sua família e tinha um sonho: ser astronauta. Pessoa estudava muito e queria saber mais sobre as estrelas. Todos os professores e professoras da escola que Pessoa estudava adoravam a sua participação, Pessoa estudava muito.

Até que ganhou uma bolsa de estudos (observação: explicar o que é) e foi para outro país

  • Para esse momento usar um mapa gigante e pedir que todos e todas façam a viagem carregando um avião – que pode ser de papel ou de brinquedo – mostrar o local de partida e de chegada). Encerrar a primeira etapa da história contando que Pessoa se formou e virou astronauta (colocar no boneco roupas de astronauta).

  • Ao longo da história serão realizadas mediações e problematizações caso alguma criança questione sobre características do personagem.

  • Ao final será pedido que todos desenhem como acham que é Pessoa Humana (os desenhos serão expostos para que todos e todas contemplem e se inspirem). A exposição dos desenhos será um momento de retomada e síntese da atividade em que podem ser trazido as opiniões e a importância de ver a produção do outro (estranhamento) respeitando as escolhas de cada um/uma.


Etapa 2 - Brincar de boneca

Em uma sala serão dispostos bonecas e bonecos de diversas cores e estilos. É relevante que haja bonecas representativas: negras, brancas, indígenas, além de diversos tipos de texturas e muitos objetos do mundo idealizado como feminino (coisas de casinha, roupas, acessórios, etc). Leve as crianças para uma sala já preparada (observação: pode ser a própria sala da turma, mas é interessante um outro espaço) e deixá-los brincar, sem falar nada sobre os brinquedos. Durante uns 30 minutos deixe as crianças explorarem todos os objetos, fazendo mediações quando houver a necessidade porém, quanto mais à vontade as crianças estiverem, mais rico será o momento.

Ao final, após a organização do ambiente, fazer uma roda e conversa sobre a atividade deixando as crianças trazerem suas opiniões. Neste momento, é importante que a/o docente esteja preparada/o e embasada/o para que o diálogo possa fluir e, caso haja algumas falas que reproduzam estereótipos, mediar o diálogo problematizando-as de forma concreta para as crianças.

Etapa 3 - Brincar de carrinho

Em uma sala serão dispostos carrinhos, pistas e blocos de montar. Deixe que as crianças explorem os brinquedos livremente. Durante 30 minutos permita que as crianças explorarem todos os objetos e, quando houver a necessidade, faça mediações, lembrando-se que, quanto mais à vontade as crianças estiverem, mais rico será o momento.

Ao final, após a organização do ambiente, fazer uma roda e conversar sobre a atividade deixando as crianças trazerem suas opiniões. Novamente, é importante que a/o docente esteja preparado e embasado para que o diálogo possa fluir e mediar o diálogo, caso haja algumas falas que reproduzam os estereótipos de gênero – problematizando-as de forma concreta para as crianças. Nesta etapa, solicitar que as crianças tragam o seu brinquedo favorito para a próxima aula.

Etapa 4 - Qual o meu brinquedo favorito?

Em uma roda, as crianças serão convidadas a apresentar seus brinquedos favoritos. Após, conduzi-las (de uma forma amorosa e não autoritária) a observar as características dos brinquedos, fazer um pequeno gráfico e expor os resultados e brinquedos. A exposição será num formato de retomada da atividade, trazendo os conhecimentos formais (dados do gráfico) e, também, as falas e as ideias das crianças. Desde o início desta etapa, é fundamental que a/o docente compreenda os estudos de gênero, e a pedagogia dialógica de Freire, para mediar as falas que muitas vezes reproduzem aspectos que as crianças vivenciam. Com amorosidade, cabe à docente realizar problematizações destas cristalizações estereotipadas.

Etapa 5 - Pessoa Humana retorna!

Em uma roda, relembrar a história de Pessoa (observação: trazer a imagem de Pessoa) e recontar a partir da memória das crianças. Ao final da síntese, a/o docente contará uma nova história, com o mesmo personagem, porém ela será diferente.

Narrativa: Era uma vez, uma criança que brincava muito, tinha uma família muito boa, que a cuidava e a amava muito. Pessoa estudou, cursou o ensino médio (observação: explicar que é fase final dos estudo básico por lei, num formato concreto para as crianças) aos 17 anos e começou a trabalhar (observação: pode ser perguntado para as crianças: onde vocês acham que Pessoa foi trabalhar?).

Pessoa Humana não quis estudar tanto, nessa realidade, Pessoa quis formar uma família e se dedicar a ela (observação: a ideia aqui é criar uma relação com a etapa 1 e perceber que são escolhas diferentes sem julgamento de valor). Hoje em dia, Pessoa trabalha, cuida de sua casa e, como está frio, vai às compras! Precisa de roupas novas, vamos ajudar Pessoa a escolher as suas novas roupas?

  • Conduzir (de forma amorosa) as crianças para seus lugares rotineiros da sala e entregar para cada uma delas uma pequena versão da Pessoa (um boneco de papel pardo) e pedir que cada uma dê as características que imaginou para ela.

  • Serão disponibilizados desenhos de roupas diversas para que cada criança escolha qual roupa irá vestir seu boneco. Também, é relevante que as crianças tenham a liberdade de desenhar e de pintar com seus materiais de uso comum.


Sugere-se que a/o docente, também, monte o seu modelo num formato masculino (caso nas demais etapas a turma não demonstrar muitas falas estereotipadas, aqui podemos misturar peças de roupas tidas como "masculinas" e "femininas", trazendo o aspecto neutro da roupa que serve para proteger do frio e não simplesmente estético relacionada ao gênero).

Ao final desta etapa, será realizada uma exposição dos personagens criados. As exposições podem ser realizadas em formatos diversos: colar no quadro, por num varal, colocar em mesas. Após, a organização pedir que as crianças observem todos e que o estranhamento seja problematizado sempre que possível.

É muito comum surgir nesta etapa falas como: “que desenho feio”. A mediação da/o docente pode ser extremamente rica, desde que haja um embasamento teórico, para que as crianças percebam que o feio e o bonito faz parte de um olhar individual e que as escolhas diversas produzem resultados diferenciados.

  • Como um/a docente pode fazer isso na prática? Ao levar as crianças a se inspirarem nas exposições e provocá-los a perceber os usos diferentes de cada um sem produzir juízos de valor (observação: deixar evidente que não é uma forma de copiar o que a/o colega fez e sim um momento de descobertas).

Recursos Necessários

Moldes de papel pardo (1 boneco grande, roupa de astronauta e objetos de papel pardo, 30 bonecos pequenos – de acordo com o número de crianças, brinquedos e moldes de roupa de papel comum pequenos, mapa gigante de papel e plastificado, brinquedos conforme as atividades (a quantidade será de acordo com a possibilidade da escola, sugere-se que quanto maior o número melhor de bonecas e de carrinhos), materiais de uso comum.

Duração Prevista

Cada um dos 5 momentos terá uma duração de 30 minutos a 1 hora, sugere-se que ocorra num período de uma semana corrida.

Processo Avaliativo

A avaliação ocorrerá de forma processual e será acompanhada por mediações constantes e, quando necessário, haverá modificações no percurso para poder atender as reais necessidades das crianças.

Observações

Para a aplicação deste planejamento é imprescindível que a/o docente possua um embasamento prévio. Nas referências citaremos alguns (FREIRE, FAUNDEZ, 1985; QUARESMA DA SILVA, BERTUOL, 2014) para iniciar a trajetória da/o docente pesquisador.

Referências Bibliográficas

BRASIL, Lei nº 14.164, de 10 de junho de 2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n- 14.164-de-10-de-junho-de-2021-325357131 Acesso em: 18 nov. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e Brincadeiras nas creches: Manual de orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEB, 2012.

FREIRE, Paulo, FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

LOURO, Guacira Lopes (org.). O Corpo Educado: Pedagogias da Sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

MANTOAN, Maria Teresa (org). O Desafio das diferenças nas escolas. RJ: Editora Vozes, 2011.

QUARESMA DA SILVA, Denise Regina; BERTUOL, Bruna. Novos olhares para as pedagogias de gênero na Educação Infantil. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 14 - n. 3 - set-dez 2014. P. 448-463.

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