Diferenciando carinho de abuso
Estado: Rio Grande do Sul (RS)
Etapa de Ensino: Educação Infantil - Pré-Escola
Modalidade: Educação do Campo, Educação Regular
Disciplina:
Formato: Presencial
Doutoranda e Mestra em Educação pela UFRGS, na linha de pesquisa Educação, Sexualidade e Relações de Gênero. Professora da Educação Infantil da Rede Pública de Novo Hamburgo/RS e de São Leopoldo/RS. Integra o GEERGE - Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero -(UFRGS) e o GEIN - Grupo de Estudos em Educação Infantil e Infâncias (UFRGS). Ganhou o 5° Prêmio RBS de Educação na categoria gênero no ano de 2017. Atualmente, foca sua prática docente e como pesquisadora nas discussões e problematizações sobre gênero, sexualidade, infâncias, violências e participação infantil.
Objetivos
- Conhecer o significado de consentimento;
- Identificar diferenças entre situações de carinho e de abuso;
- Expressar sentimentos, pensamentos e situações vividas;
- Relacionar situações vivenciadas em casa ou na escola com as discussões sobre consentimento, carinho e abuso.
Conteúdo
- O eu, o outro e o nós;
- Traços, sons, cores e formas;
- Escuta, fala, pensamento e imaginação.
Metodologia
Reúna-se com as crianças em roda e conte a história “Pipo e Fifi: prevenção de violência sexual na infância” (Caroline Arcari).
Sinopse da história: “O livro explica às crianças, a partir dos 3 anos de idade, conceitos básicos sobre o corpo, sentimentos, convivência e trocas afetivas. Ensina a diferenciar toques de amor de toques abusivos, apontando caminhos para o diálogo e a proteção”.
Para contar essa história é ideal que você divida as crianças em pequenos grupos, por se tratar de um tema sensível. E, para realizar a narrativa, além do livro, você deve utilizar um cartão verde e um vermelho, para representar os alertas de “sim” e não”, respectivamente, que a narrativa traz para sinalizar os toques que podem ou não ser permitidos em relação aos corpos infantis. Além disso, dependendo da realidade da escola, é possível adquirir ou fazer artesanalmente os bonecos personagens da história e, antes de contá-la, apresentar esses personagens às crianças e dizer que eles vão contar uma história que mostrará para as crianças o que são partes íntimas e o que é carinho e abuso. Antes de contá-la, pode-se indagar às crianças sobre o que elas acham o que são partes íntimas e o que, na concepção delas é carinho ou abuso. Para esta etapa, é importante que o/a professor/a registre as falas das crianças, seja por meio de gravação ou de forma escrita. Este registro pode servir para retomar o assunto em outros momentos.
Passo 2:
Após a narrativa, é ideal que você retome com as crianças partes da história que falam sobre o que elas podem e o que não podem permitir que outras pessoas façam em seu corpo, falando sobre consentimento. “O que é consentimento?” é uma pergunta que pode ser lançada às crianças para elas falarem de suas interpretações e o/a professor/a vai fazendo a mediação. Logo após, as crianças podem ser convidadas a falarem de suas impressões, fazendo relatos a partir da história contada. Para tanto, enquanto o/a docente vai passando novamente as páginas do livro, pode-se perguntar às crianças se elas já viram ou viveram algo parecido, tanto quando aparecerem as situações de carinho, quando aparecem as situações de abuso.
Importante: Se você notar que alguma criança ficou desconfortável quando estiver interagindo com o grupo depois da contação da história, não a force a falar no grande grupo e, em outro momento, retome a história e a conversa com ela de maneira privada. Caso você queira tratar de alguma situação específica, você pode contar a história individualmente para uma criança e, conforme as situações vão aparecendo na história, você pode ir questionando com quais daquelas situações ela se identifica.
Além disso, você pode elaborar um cartaz com a turma sinalizando as diferenças entre carinho e abuso, em uma linguagem apropriada. Por exemplo: “É carinho quando um amigo me dá a mão para me ajudar a subir no brinquedo. É abuso quando alguém mexe no nosso corpo e pede para não contar a ninguém”, dentre outras sinalizações das crianças a partir da sua mediação. O/a docente registra as frases e as crianças realizam ilustrações no cartaz acerca delas, utilizando os materiais gráficos que preferirem: giz, canetas, tintas, lápis, carvão, nanquim, dentre outros que estiver à disposição.
Passo 3:
Propor que cada criança faça uma ilustração de uma pessoa na qual confiam, enfatizando que, sempre que elas identificarem alguma situação de abuso, devem contar para uma pessoa adulta da sua confiança. Após, faz-se uma roda de conversa para as crianças compartilharem suas ilustrações e contarem por que escolheram ilustrar tal pessoa.
Ainda, para que docentes se sintam mais seguros/as e preparados/as para abordar essa temática com as crianças pequenas, destaco alguns pontos que precisamos levar em consideração para respaldar a inserção deste debate na Educação Infantil:
- Para proteger as crianças, a primeira coisa que a pessoas adultas necessitam fazer é buscar informações;
- Não falar sobre estes temas com as crianças, desde a mais tenra infância, fortalece a pessoa que abusa, pois ela se aproveita da desinformação das crianças;
- Entre os anos de 2011 a 2017, as notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes cresceu mais de 83%. Crianças de até 5 anos de idade são as vítimas em mais da metade dos casos;
- Temos que ter o cuidado para não confundir abusadores com pedófilos. Atualmente, a pedofilia é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno mental que leva ao desejo sexual por crianças. Já o abusador é uma pessoa que pode abusar de crianças e adolescentes, mas nem sempre sofre de patologia. Assim como quem sofre da patologia (pedofilia) pode tratá-la e, embora tenha o desejo por crianças, nunca ter abusado de uma;
- Por fim, sublinho que não é esta prática isolada, realizada apenas uma vez, que dará conta de docentes informarem as crianças sobre as diferenças de carinho e de abuso.
Esta é uma proposta que envolve continuidade, por isso, as ideias sugeridas neste plano podem ser realizadas de maneira fragmentada (em dias diferentes) e, até mesmo, mais de uma vez.
Para que docentes possa se instrumentalizar teórica e tecnicamente, há uma lista de leituras recomendadas sobre o tema nas referências.
Recursos Necessários
Cartolinas ou papel pardo; cartões de papel nas cores verde e vermelho; canetas; lápis; giz de cera, carvão, tintas, nanquim, folhas de papel.
Duração Prevista
Processo Avaliativo
Referências Bibliográficas
FURLANI, Jimena. Educação sexual: possibilidades didáticas. In: LOURO, G. L.; FELIPE, J.; GOELLNER, S. V. (Org.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. p. 66-81.
FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
GAVA, Thais; VILLELA, Wilza Vieira. Educação em sexualidade: desafios políticos e práticos para a escola. Sexualidad, Salud y Sociedad-Revista Latinoamericana, Rio de Janeiro, n. 24, p. 157-171, 2016.
IPEA. Atlas da violência 2020. Disponível em <https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020>.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-posições, Campinas, v. 19, n. 2, p. 17-23, 2008.
MOURA, Ana Flora Müller; PACHECO, Ana Paula; DIETRICH, Cauê Fantin; ZANELLA, Andréa Vieira. Possíveis contribuições da psicologia para a educação sexual em contexto escolar. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 29, n. 67, p. 437-446, 2011.