Cartilha: Cidadania e Diversidade

Estado: Minas Gerais (MG)

Etapa de Ensino: Ensino Médio

Modalidade: Educação Regular

Disciplina: Artes, Filosofia, Geografia, História, Língua Portuguesa, Sociologia

Formato: Presencial

Educadora no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais. Mestre em Educação Profissional e Tecnológica, com pesquisa sobre diversidade sexual e de gênero e cidadania na escola. A cartilha "Cidadania e Diversidade: Dialogando com as Transformações" é fruto de seus estudos.

Objetivos

O objetivo da cartilha é subsidiar as práticas educativas na perspectiva de educar com e para a diversidade sexual e de gênero, buscando promover possibilidades para a construção de uma cidadania plena e emancipada de estudantes do ensino médio integrado ao técnico, seu público-alvo, e também de todas as pessoas inseridas nos processos educativos.

Conteúdo

A cartilha contém conceitos, datas simbólicas e propostas educativas para a formação relacionada à diversidade sexual e de gênero, bem como apresenta uma linha do tempo, situando, no recorte de tempo demarcado entre 1909 e 2019, momentos históricos da Rede Federal de Educação Científica e Tecnológica. São destacadas ainda, concomitantes a esse período, conquistas de direitos e histórias do movimento e de pessoas LGBT+, fictícias e reais, que romperam e continuam transpassando as impostas fronteiras sexuais e de gênero produtoras de desigualdades e de violências.

Metodologia

Como recurso didático, a cartilha pretende em seu conteúdo dar visibilidade às múltiplas formas de vivências existentes na escola e na sociedade como um todo para além do binarismo de gênero e das fronteiras das normatividades sexuais e de gênero. A intenção é provocar questionamentos e reflexões quanto às práticas educativas, muitas vezes tidas como corriqueiras, mas que, no entanto, são reflexos de uma sociedade ainda patriarcal, heterossexista e LGBTfóbica que insiste em controlar corpos e mentes normatizados em rígidas demarcações sexuais e de gênero, gerando desigualdades e violências.

Proposta 1: Entendendo a Heteronormatividade e a Cisnormatividade



  1. Percorrer pela escola, fazendo um tour pela biblioteca, banheiros, corredores, quadras e salas, observando e analisando os livros e revistas da biblioteca, as placas de identificação dos banheiros, as atitudes e comportamentos das pessoas (estudantes, pessoal do administrativo, pessoas do serviço terceirizado, pessoal da gestão e docentes). Analisar as demarcações de gênero e sexualidade presente nestes ambientes e materiais e seguir o roteiro do procedimento seguinte.

  2. Roteiro para observação e anotações em papel:
    a) Como as figuras de homens e mulheres são representadas nos livros e revistas da escola? O que leva a compreender que estas figuras são homens e mulheres
    (corpos, vestimentas, nome, comportamentos, etc)?
    b) Você percebe a presença de figuras não cisgêneras nos livros e revistas da escola? É maioria, minoria ou inexistem? Caso afirmativo da presença, como são retratadas?
    São esteriotipadas?
    c) Como são representados os relacionamentos afetivos? Você percebe a presença de relacionamentos não heterossexuais (lésbicas, gays, bissexuais, pansexuais, demais orientações sexuais) nos livros e revistas da escola? É maioria, minoria ou inexistem?
    d) Como os arranjos familiares são representados? Existem outras composições de famílias que não seja formado por um casal heterossexual com filhas (os)? Caso não
    reconheça outras composições, reflita sobre esta ausência nos livros e revistas, bem como nos demais materiais didáticos.
    e) Os textos dos livros e revistas têm linguagem não sexista, ou seja, usam “ser humano” ou “pessoa humana” em vez de “homem”; “As pessoas idosas” em vez de
    “Os idosos”; “A juventude” em vez de “Os jovens”; “O eleitorado” em vez de “Os eleitores”; “A direção” ou “A diretoria” em vez de “Os diretores”; dentre outras
    expressões? Usam o masculino para se referir ao coletivo, mesmo havendo a presença feminina ou de outros gêneros?
    f) No banheiro existem placas indicativas de gênero? Como são representadas as figuras?
    g) Em livros, revistas, internet, filmes, novelas, séries e outras mídias, como são representados os relacionamentos afetivos e sexuais das personagens em geral?
    h) Você se lembra de ter assistido algum filme com personagem LGBT+ em papel de protagonista?
    i) Você considera importante a visibilidade e o reconhecimento de pessoas LGBT+ nas mídias, nos livros, revistas e demais materiais didáticos? Justifique.
    j) Após o passeio pela escola e as reflexões anotadas, o que você entende por heteronormatividade e cisnormatividade?

  3. Após o tour pela escola, convidar o grupo a se sentar em círculo.

  4. Inicie uma conversa com o grupo que estimule a reflexão sobre o que é biológico ou natural e o que é social e cultural no que diz respeito aos nossos comportamentos.

  5. Em seguida, distribuir uma folha com a pergunta-chave e instruir para que a responda.
    O que poderia ser feito para tornar a escola mais acolhedora para todas as pessoas que não se encaixam nos modelos cisnormativo e heteronormativo presentes na sociedade?

  6. Pedir para cada participante falar sobre as suas observações realizadas na atividade e dizer o que respondeu sobre a pergunta-chave.


Proposta 2: Superando o preconceito e a discriminação



  1. Apresente dados estatísticos sobre a LGBTfobia

  2. Distribuir para cada participante uma folha contendo as seguintes assertivas:
    a) A heterossexualidade é uma opção sexual assim como as demais orientações sexuais que são escolhidas conscientemente.
    b) Creio que nenhuma pessoa deve ser discriminada por motivo algum.
    c) Fazer piadas por meio de gozação, imitação, assovios e chacotas não são consideradas LGBTfobia, mas apenas brincadeiras, mesmo que seja ofensivo a alguém ou grupo de pessoas.
    d) Se as pessoas heterossexuais podem manifestar carinho em público, as não-heterossexuais também podem.
    e) Pessoas trans não deveriam utilizar o banheiro de acordo com a sua identidade de gênero.
    f) Os direitos humanos não incluem direitos relacionados à nossa sexualidade.
    g) Frases como "Não tenho preconceito, tenho até amigas/os que são GLS"; "Tudo bem ser gay, mas não precisa ser afeminado"; "Pode ser lésbica, mas não precisa se
    vestir como homem"; “Homem se depilar é muita viadagem”; “Bissexual é uma pessoa indecisa quanto a sua orientação sexual”; “ Isso é moda, logo vai passar”; “Que desperdício você ser LGTB+”; “Quem é a mulher/homem da relação?”; “Aquela/aquele transexual até parece uma mulher/homem de verdade”. São frases carregadas de preconceito e discriminação direcionadas às pessoas LGBT+ e devem ser eliminadas de nossos discursos.
    h) Existem brincadeiras e esportes apropriados para homens e mulheres. Uma criança que brinca de boneca, por exemplo, ou é menina ou é gay.
    i) Não estranharia ter uma/um professora/or travesti ou transexual. Estas pessoas podem ocupar qualquer profissão que quiserem.
    j) A sexualidade, em geral, assim como a orientação sexual e as identidades de gênero, em particular, não é abordada na escola, a ponto de muitas/os jovens que não se incluem na norma heterossexual sentirem-se isoladas/os, excluídas/os e incompreendidas/os.
    k) O casamento deveria ser somente para casais heterossexuais.
    l) A heteronormatividade contribui para ocorrência da LGBTfobia.
    m) Pessoas LGBT+ devem fazer tratamento para corrigir seus comportamentos e desvios sexuais.
    n) Prefiro uma/um filha/o criminosa/o a uma/um filha/o LGBT+.
    o) O direito à cidadania deve ser ampliado a todas as pessoas, independente da identidade de gênero e orientação sexual.

  3. Instruir, anotando no quadro, que para cada frase a/o participante deverá se posicionar, de acordo a sua opinião, escrevendo “Concordo”, “Discordo” e “Não sei”. Dar um tempo para que as pessoas reflitam e preencham a folha.

  4. Dividir a turma em pequenos grupos e solicitá-los para que façam uma discussão sobre as respostas e o que consideram ser LGBTfobia para que cada grupo construa uma definição para o termo.

  5. Reunir as/os participantes em círculo e solicitar que cada representante de grupo apresente a definição elaborada e escreva no quadro.

  6. Em seguida, pedir que cada pessoa comente como se sentiu com a atividade, se foi fácil ou não decidir em qual posição ficar, se conseguiram perceber seus níveis de
    preconceito e discriminação e como foi o debate em grupo para a definição de LGBTfobia.

  7. Para finalizar, solicitar que discutam o papel da escola para a transformação de uma sociedade mais justa e combativa as manifestações LGBTfóbicas.


Obs.: Coloque o clipe da música “Flutua” de Johnny Hooker e Liniker. É interessante que se distribua a letra da música para o grupo acompanhar

Proposta 3: Vamos nos movimentar?



  1. Converse com a turma sobre movimentos sociais ligados às questões de gênero e sexualidade e sua importância histórica.

  2. Divida a turma em grupos estabelecendo as seguintes temáticas para cada um: movimentos feministas; movimentos LGBT+ internacional; movimentos LGBT+ no Brasil.

  3. Instrua para que cada equipe pesquise sobre os principais fatos e conquistas da história de cada movimento.

  4. Em seguida, deverão produzir cartazes com textos e figuras referentes aos contextos pesquisados.

  5. Solicitar que cada grupo apresente o seu cartaz e relate sobre a pesquisa.

  6. Ao final das apresentações, abrir uma discussão, perguntando: Qual a importância dos movimentos sociais para a população LGBT+ e para a sociedade como um todo Como a escola pode contribuir nestas lutas?

  7. Os cartazes poderão ser afixados no mural da escola como um dos resultados da dinâmica.


Proposta 4: Existências e Vivências



  1. Solicitar para que formem um círculo para discussão sobre os significados de termos relacionados às orientações sexuais e identidade de gênero presentes na sigla LGBT+.

  2. Em seguida, informar, antes da exibição, qual filme/vídeo/programa que irão assistir/ouvir, qual o tema, quem o fez, por que será exibido/ouvido, duração, etc.

  3. Exibir o documentário Amiel. Disponível em: https://globosatplay.globo.com/assistir/canal/curtas/v/7468453.

  4. Após a exibição, pedir às/aos ouvintes/espectadoras/es que anotem sua opinião sobre a obra (conteúdo, linguagem), respondendo as perguntas: quais os temas abordados, o que chamou mais sua atenção, qual o sentimento diante o relato; como podemos relacionar o conteúdo apresentado com as questões de gênero, sexualidade, mundo do trabalho, raça/etnia, cidadania.

  5. Fazer, depois, uma plenária para extrair as conclusões individuais e coletivas.

  6. Sugestão para atividades com materiais audiovisuais: Solicitar aos participantes para que façam um “Caderno de memória das atividades e discussões” de cada filme, curta-metragem, documentário, vídeo de internet, etc, que forem levados para a discussão coletiva. Os resultados desse levantamento podem ser apresentados para a classe ou escola na forma de painéis ou jornal mural e ser desdobrados em redações e desenhos que representem o ponto de vista de cada pessoa em relação às vivências LGBT+.

  7. Na cartilha, podemos encontrar vários filmes, documentários, séries, canais de youtube, podcast que podem ser trabalhados como o vídeo sugerido nesta atividade.

Recursos Necessários

Duração Prevista

4 semanas.

Processo Avaliativo

Reflexivo.

Referências Bibliográficas

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