Ancestralidade para além dos genes

Estado: Distrito Federal (DF)

Etapa de Ensino: Ensino Médio

Modalidade: Educação Regular

Disciplina: Biologia, História, Sociologia

Formato: Presencial

É professora de ciências e biologia na rede particular do Distrito Federal. Formada pela UnB e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciência - Instituto de Química da UnB. Pesquisa sobre Educação Antirracista no ensino de ciências naturais, a fim de contribuir com a formação de professores para a aplicação da lei 10.639/03 e 11.645/08. É uma mulher, negra e candomblecista que acredita que a educação é um dos meios pelos quais é possível combater o racismo.

A experiência

Durante a eletiva de Biotecnologia e Genética, discutimos sobre o teste de ancestralidade, suas falhas e consequências. Trabalhamos o conceito de ancestralidade para além do que está determinado nos genes, mas também como a ancestralidade é vista dentro do contexto social e cultural. O objetivo era que os alunos compreendessem que o biológico não determina tudo que nós somos e não nos diz completamente de onde viemos. Ele conta parte da nossa história, mas nós somos muito mais do que está determinado no nosso DNA.

Pessoas envolvidas

Alunos do 1º e 2º ano do ensino médio de uma escola particular no Distrito Federal

Relato de experiência

Durante o ano de 2022 eu fui responsável por um Itinerário sobre Genética e ética. Um dos assuntos escolhidos pelos alunos para ser trabalhado foi o teste de ancestralidade. Para além dos conceitos básicos de genética – genes, alelos, hereditariedade –, conversamos sobre como são feitos esses testes de ancestralidade e suas falhas.

 

Após toda essa explanação, questionei aos alunos se a ancestralidade está ligada apenas ao que é lido nos nossos genes. Diante desse questionamento, conversamos sobre a influência social e cultural da ancestralidade e os entendimentos de ancestralidade a partir de religiões e modos de vida não-brancos.
Como atividade, propus que os alunos apresentassem a sua ancestralidade. Eles tiveram que apresentar uma colagem que representasse a história de sua família. A proposta tinha como objetivo fazer com que os alunos entendessem que a ancestralidade está para além do que é determinado no nosso DNA, além de incentivar a conversa dentro de casa com os mais velhos e a conhecer a história da própria família.

 

Durante a apresentação dos alunos foi possível perceber a empolgação de alguns com as descobertas que tinham feito sobre a própria família. No entanto, notei que muitos alunos, quando foram representar a parte indígena e africana da família, os representou com fotos de pessoas sendo escravizadas. O que abriu uma brecha para que debatessemos sobre a imagem inconsciente (ou até consciente) de pessoas negras e indígenas. Afinal, elas não são escravas, mas, sim, foram escravizadas.

Para uma intersecção com o gênero, é possível adicionar as descobertas da pesquisa feita pelo projeto DNA do Brasil, uma iniciativa que pode notar que a maior parte do material genético mitocondrial encontrado nos voluntários eram de mulheres indígenas e africanas, enquanto os genes do Y vieram de homens europeus. Esses dados ajudam a contribuir com as pesquisas que visam apontar as violências sofridas por mulheres negras e indígenas no brasil durante o período colonial.

Estretégia adotada

A temática foi escolhida pelos alunos e eu achei interessante por ser um assunto que estava muito em alta na época. O assunto ganhou notoriedade entre as pessoas fora da academia devido à promessa de que seria possível mostrar os traços ancestrais no DNA das pessoas. Porém, era necessário destacar alguns pontos que poderiam ser negativos. Na época havia vários cientistas e pesquisadores de tecnologia e biotecnologia salientando como esses testes eram falhos e que não passavam a informação correta, já que a informação é dada de acordo com o banco de dados de cada laboratório. Além de salientar a problemática de doar informações genéticas para grandes empresas. Quando construí essa proposta, queria mostrar o outro lado da história, já que muitas vezes eles só vêem as vantagens. Quanto a ancestralidade como algo ligado à cultura africana, afro-brasileira e indígena veio por eu ser uma mulher candomblecista e aprender dentro do meu terreiro a importância da minha ancestralidade pra minha vida.

Dificuldades encontradas

Foi um pouco difícil achar referências sobre ancestralidade para além do biológico na literatura. No entanto, eu perguntei para o meu pai de Santo. Por isso que parte das referências não estão presentes, já que o conhecimento foi transmitido a mim dentro do meu terreiro de forma oral.

Principais aprendizagens

Eles aprenderam mais sobre a própria história e foram capazes de compreender que somos a nossa informação genética, mas também temos influência do meio social e cultural que vivemos. No que diz respeito a essa atividade, eu não mudaria nada, ela funcionou bem.

Refências Bibliográficas

Site da Gênera: https://www.genera.com.br/teste-de-ancestralidade/

Santos, Ricardo Ventura, Maria Cátira Bortolini, and Marcos Chor Maio. “No fio da navalha: raça, genética e identidades.” Revista USP 68 (2006): 22-35.

UZUNIAN, Armênio; BIRNER, Ernesto. Biologia: volume único. 2. ed. São Paulo: Harbra, 2004. 887 p.
Krenak, Ailton. A vida não é útil. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020

Krenak, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020
Sollitto, André. Com amostras de DNA, pesquisadores traçam variedade da população do Brasil. Veja, 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/ciencia/com-amostras-de-dna-pesquisadores-tracam-variedade-da-populacao-do-brasil. Acesso em 11 de fev. 2025

Vídeos:
“Teste de ancestralidade”. Disponível em: https://youtu.be/8viz8TGuqUY. Acesso em 11 de fev. 2025

“Qual é a verdadeira lógica dos testes de ancestralidade?”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Rk6-MPfLaug&ab_channel=genomaUSP. Acesso em 11 de fev. 2025

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