O cotidiano de trabalhadores negros em Natal

Estado: Rio Grande do Norte (RN)

Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II

Modalidade: Educação de Jovens e Adultos

Disciplina: Sociologia

Formato: Presencial

Professor de História da Educação básica, atuante desde 2005 e concursado desde 2014, é estatutário das redes estadual do RN e do município de São Gonçalo do Amarante–RN. Atualmente, encontra-se em fase de conclusão de seu Bacharelado em Direito pela UFRN, MBA em Gestão Escolar pela USP e Mestrado em Ensino de História pela UFRN/UFRJ. Tem interesses em pautas que visam conferir cidadania aos grupos historicamente marginalizados na sociedade brasileira, como pessoas negras, indígenas, trabalhadores, LGBTs e mulheres.

Observações

A proposta de trabalho em questão é muito gratificante, pois envolve várias linguagens e dialoga com outros componentes curriculares. Assim, pretendo realizá-lo novamente com estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade de Natal–RN, em bairro da periferia, bem como com alunos da Escola do Ensino Fundamental II na comunidade de Bela Vista na Zona Rural de São Gonçalo do Amarante, buscando ampliar o repertório deles e da comunidade para lidar com conteúdos da Lei 10.639/2003.

Principais aprendizagens

As pessoas, tanto os estudantes, quanto os demais participantes da comunidade escolar, acabam por entender a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira. E mais que isso: passam a se ver como protagonistas nesse processo. Não se trata basicamente de mudar o foco etnocêntrico europeu por outro africano ou mesmo indígena, mas da ampliação curricular, tendo a escola condições de ampliar seu repertório em matéria de diversidade cultural, social, econômica, racial. Imagino que o que eu teria feito de diferente seria ter entrado em contato com a secretaria de educação e tornado a exposição itinerante, passando por várias escolas.

Dificuldades encontradas

A dificuldade foi de ordem material. Ou seja, imprimir as fotografias, adquirir os demais materiais para tornar a exposição fotográfica uma realidade (Importante lembrar que estou falando de uma escola na zona rural, de população majoritariamente vulnerável socialmente. Talvez outro desafio tenha sido lidar com a timidez dos alunos no momento de preparação para esclarecer suas escolhas de cenário e sujeitos contidos nas imagens expostas.

Estratégias adotadas

Contei com o apoio da coordenação pedagógica e da gestão. Com a quantidade de estudantes, não seria possível realizar a exposição sozinho, nem mesmo orientá-los quanto às dúvidas que surgiam no processo. Coloquei meu telefone a disposição dos estudantes para dúvidas e para execução do trabalho. Usei a estratégia de aula, sim, aula não, destinar a ouvir as angústias, as ideias e as expectativas dos alunos sobre o trabalho. Adotar essa postura acabou por construir mais segurança nos alunos; sem contar que eles sentiam que o trabalho tinha um fim social coletivo, não era apenas sobre eles e, sim, sobre a comunidade. Eles percebiam que, ao seu modo, contribuíam para melhorar a sociedade, eram protagonistas.

Relato da experiência

Foram realizados vários momentos em sala de aula e em outros lugares da escola, buscando construir consciência nos alunos sobre a importância das contribuições do povo negro e dos povos indígenas; das mulheres negras e indígenas. É importante ressaltar que essa busca por fortalecer o lugar do povo negro na cultura brasileira acontece de forma transversal e durante muitos momentos do ano letivo, em uma lógica curricular, e buscando cumprir o que determina a legislação da Base Curricular Nacional, dentre outras legislações voltadas a educação. Assim, trabalhamos com documentário; com imagens; com fragmentos de textos, dentre outras fontes. Construímos um repertório com os alunos, de modo que a exposição fotográfica seja mais um ponto de chegada dessa construção complexa sobre conteúdo da Lei 10.639/2003. No dia da exposição, compareceram responsáveis, familiares, vizinhos e também as pessoas que serviram de referência para compor a exposição de fotos. Houve uma grande empolgação: não apenas os estudantes se sentiram protagonistas e empoderados, mas a comunidade em geral compartilhou do mesmo sentimento de pertencimento e identificação com o conteúdo trabalhado.
A justificativa para escolher a exposição fotográfica se deu pelo fato de que a maioria dos estudantes tem um celular com câmera. Vivemos em uma sociedade muito pautada na visualidade, os estudantes fazem fotos o tempo todo, e, assim, estariam confortáveis na elaboração da atividade, que se tornou prazerosa. Além dos interesses atrelados ao currículo e legislações, há um componente particular: demandas de reparação e busca por uma educação mais democrática e acessível, sobretudo, pelo fato de que a maioria dos alunos são de origem afro-ameríndia.

Pessoas envolvidas

Os atores envolvidos foram os estudantes de todo o Ensino Fundamental II na Escola Rural Professora Jéssica Débora Bezerra. Pretende-se replicá-la no Ensino Médio (Modalidade EJA) no CEJA Professora Lia Campos, além de envolver a gestão e coordenação e toda a comunidade escolar, uma vez que os alunos realizaram uma pesquisa prévia para escolher o cenário e as pessoas que seriam fotografadas para compor a exposição dentro da comunidade de Guanduba.

A experiência

Trata-se de uma exposição fotográfica sobre as pessoas comuns da comunidade de Guanduba em São Gonçalo do Amarante no Estado do RN. A atividade foi desenvolvida para atender os objetivos da Lei 10.639/2003 para trabalhar conteúdos relacionados à autoestima dos estudantes, bem como para mostrar a importância das personalidades locais: as mulheres e trabalhadoras da comunidade que majoritariamente são afrodescendentes. Assim, o trabalho valoriza o lugar dessas pessoas, desconstruindo a ideia de que apenas pessoas afamadas servem de referência para a luta das mulheres e pessoas negras. O empoderamento de gênero; o fortalecimento da identidade racial e mesmo o protagonismo juvenil são resgatados e fortalecidos. Além disso, inserimos a fotografia como uma fonte histórica e despertamos o interesse dos alunos por essa técnica e arte.

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