Graffiti e as artes desintegradas
Estado: Minas Gerais (MG)
Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II
Modalidade: Educação de Jovens e Adultos
Formato: Presencial
Este trabalho teve como objetivo explorar as possibilidades da arte de rua, especialmente o graffiti, no contexto educacional, promovendo uma educação libertadora e considerando as relações de gênero e raça presentes na sociedade brasileira. Durante a produção artística, os alunos expressaram sua identidade cultural, incluindo referências à cultura afro-brasileira, como o SANKOFA, e a artistas brasileiros, como Cartola e Elza Soares. Foram ministradas seis aulas no Centro Pedagógico da UFMG para uma turma do 9º ano do ensino fundamental, permitindo que os alunos experimentassem diferentes técnicas de graffiti e criassem suas próprias obras nas paredes da escola. A abordagem pedagógica utilizada favoreceu o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a autoconfiança e a empatia, além disso, foram abordados temas relevantes para a formação dos estudantes, como a valorização da cultura urbana e da diversidade, bem como as questões de gênero e raça.
Como foi a experiência
Este trabalho teve como objetivo explorar as possibilidades da arte de rua, especialmente o graffiti, no contexto educacional, promovendo uma educação libertadora e considerando as relações de gênero e raça presentes na sociedade brasileira. Durante a produção artística, os alunos expressaram sua identidade cultural, incluindo referências à cultura afro-brasileira, como o Sankofa, e a artistas brasileiros, como Cartola e Elza Soares.
Foram ministradas seis aulas no Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental, permitindo que os alunos experimentassem diferentes técnicas e criassem suas próprias obras nas paredes da escola. A abordagem pedagógica utilizada favoreceu o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a autoconfiança e a empatia, além disso a valorização da cultura urbana e da diversidade, bem como as questões de gênero e raça.
Atores envolvidos
Durante a oficina de Graffiti integrada às aulas de artes do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), participaram duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental, acompanhadas por seus dois professores de artes e por dois monitores de turma e um grafiteiro convidado.
Além desses participantes principais, outras pessoas também se envolveram no projeto, deixando suas Tags nas paredes. Essas Tags, que são assinaturas ou marcas distintivas usadas por grafiteiros e artistas de rua para identificar seu trabalho, demonstram de maneira vívida como a arte de rua pode se traduzir em uma forma de expressão e integração social.
Relato de experiência
A oficina de graffiti ocorreu no Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais durante seis aulas integradas às aulas de artes para as turmas do 9º ano do Ensino Fundamental. Dentro de um contexto educacional, a oficina era considerada uma possibilidade de impulsionar a contribuição da arte de rua, o graffiti, suas potencialidades para promover uma educação libertadora e seus benefícios para o desenvolvimento dos alunos e do ambiente social/escolar. A motivação do projeto foi refletir sobre a importância da arte de rua e sua relação com a cultura afro-brasileira, incentivando a valorização da diversidade.
O ponto fundamental da vertente artista graffiti como escolha central, veio pela necessidade de revisitar o graffiti enquanto parte da cultura afro-brasileira, incentivando que outras iniciativas também o fizessem no espaço de ensino fundamental, criando uma nova conexão geracional das crianças e adolescentes com o espaço originário pertencente dessa arte, que é a rua, revisitar o uso do espaço da rua é também uma forma de promover e remodelar a visão da criança e do adolescente sobre o mesmo, e assim ampliando a visão sobre o tema e combatendo a visão criminaliza que essa vertente muitas vezes carrega.
No início das aulas, foram apresentados vídeos e referências nacionais e internacionais do graffiti ao grupo de estudantes, para que pudessem conhecer e se inspirar nas diferentes formas de expressão.
Alfabeto Grapixo, acessado em 05/04/2023 (https://br.pinterest.com/lebeiramar/letras-grapixo/)
Hope Scape: Berlin, acessado em 29/04/2023 (https://youtu.be/Y9Lm0dkkVAw)
Sofles, acessado em 29/04/2023 (https://youtu.be/Pv-Do30-P8A)
Em folhas de papel, o grupo começou a fazer suas próprias criações e rascunhos , preparando-se para a pintura nos muros da escola. Durante esse processo, as turmas puderam explorar suas identidades culturais, assim como suas referências pessoais e nacionais para criar obras que expressassem sua individualidade.
Os estudantes demarcaram suas tags nos muros e pintaram com tinta latex e pincel. Além das turmas do 9º ano, outras da escola também se interessaram pela oficina e adentraram em meio à imersão cultural, fazendo suas próprias marcas. Durante o processo, estudantes compartilharam suas experiências pessoais e ajudaram no desenvolvimento da arte de colegas, mostrando grande empatia e interesse na atividade.
Foram apresentadas referências como o símbolo Sankofa, que representa a busca pelo conhecimento e o resgate das raízes africanas, e o músico e compositor Cartola, ícone da música popular brasileira e defensor da cultura negra. Alguns alunos escolheram pintar frases empoderadoras nos degraus das escadas, que valorizavam a negritude e incentivavam a luta contra o racismo.
Além disso, a oficina de graffiti também destacou a importância da expressão artística e cultural da cultura de rua, como forma de valorização das diferentes formas de expressão e do resgate da cultura afro-brasileira. A atividade permitiu que os alunos pudessem explorar suas identidades culturais e expressá-las de maneira autêntica e criativa.
Uma das alunas trouxe a importância do graffiti em sua vida quando o Prof.Cláudio Emanuel viu seu caderno de desenhos relacionados ao graffiti, servindo também de inspiração para a construção da proposta, outro aluno também trouxe a importância da construção da TAG como fator de reconhecimento pessoal ao entes queridos que já partiram em sua comunidade e como isso serviu de inspiração e homenagem.
Vários alunos também reconheceram a importância de deixarem sua marca pelas paredes escolhidas.
Outro aspecto importante a ser destacado foi a participação espontânea de estudantes da educação especial de outras turmas durante as aulas. A oficina permitiu que esses/as estudantes etivessem um espaço de expressão e criação, promovendo sua inclusão e valorização na comunidade escolar. A atividade também mostrou como a arte pode ser uma ferramenta de inclusão e valorização das diferenças, promovendo um ambiente escolar mais acolhedor e respeitoso com a diversidade.
A oficina permitiu ressignificar a arte de rua, contextualizando-a em suas realidades escolares e abrindo portas para novos caminhos e percepções das realidades brasileiras. A atividade transformou o espaço físico, que outrora era proibitivo, em um espaço acolhedor, criativo e inclusivo. Ao final das aulas, a escola ganhou um novo visual, com as paredes coloridas e repletas de desenhos e tags, que refletiam a criatividade e a identidade dos alunos.
Em resumo, a oficina de graffiti no Centro Pedagógico da UFMG mostrou como a arte pode ser uma ferramenta poderosa de transformação social e educacional, permitindo que estudantes desenvolvam habilidades socioemocionais, aprendam sobre a cultura urbana e a diversidade, e se engajem em questões importantes para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A experiência também ressaltou a importância de se valorizar e incentivar as diferentes formas de expressão cultural, em especial a arte de rua, que pode contribuir para a construção de um ambiente escolar mais acolhedor, criativo e inclusivo.
Estratégias adotadas
Para planejar e executar a experiência, foram adotadas algumas estratégias. Inicialmente, foi realizada uma introdução teórica sobre a história e as técnicas do graffiti, visando fornecer aos participantes um conhecimento prévio sobre o assunto. Além disso, foi criado um ambiente de confiança e respeito mútuo entre os participantes, com o objetivo de garantir uma experiência segura e confortável para todos.
Foi necessário fornecer um espaço supervisionado para que estudantes pudessem experimentar e criar livremente. Para isso, contou-se com a presença de um grafiteiro experiente para orientar e auxiliar os alunos durante todo o processo, dois monitores e dois professores.
Outra estratégia adotada foi dar espaço para a livre expressão, sem imposições estéticas ou temáticas. Isso permitiu que as turmas explorassem sua criatividade de forma autêntica e genuína. A criação de um mural coletivo também foi uma estratégia importante, pois simbolizou a união e a diversidade de suas diferentes criações.
Dificuldades encontradas
Durante a experiência, uma das principais dificuldades foi a de romper as bolhas sociais entre estudantes, uma vez que eles já se conheciam previamente e pertenciam a grupos distintos dentro da escola. Para superar essa dificuldade, foram realizadas diversas atividades de integração e colaboração entre eles, como a criação do mural coletivo, que exigiu a união e a cooperação de todas as pessoas participantes. Também foi incentivada a troca de ideias e de técnicas entre estudantes, de forma a promover a interação e a colaboração.
Para contornar a dificuldade orçamentária dos sprays, foi necessário encontrar alternativas mais acessíveis. Optamos por utilizar tintas látex e pincéis, que são mais econômicos, porém exigem mais habilidade técnica dos participantes. Foi necessário explicar aos estudantes a diferença entre o uso do spray e da tinta látex, bem como as possibilidades e limitações de cada uma das técnicas. Além disso, foi importante trabalhar a conscientização sobre a importância do cuidado com os materiais, para que pudessem ser reutilizados em outras atividades. Com essa adaptação, conseguimos realizar a atividade com um orçamento mais acessível, sem comprometer a qualidade da experiência e o resultado final do mural.
Principais apredizagens
A experiência permitiu que as pessoas envolvidas aprendessem que o grafitti pode ser uma ferramenta efetiva na promoção do senso crítico, da autonomia e da reflexão, bem como na formação de cidadãos questionadores e agentes transformadores da realidade social. A inclusão do grafitti no contexto educacional também pode criar novas formas de interação e relação com o espaço escolar e social, contribuindo para uma educação transformadora. Essa experiência tem o poder de impulsionar uma sociedade mais atenta, crítica e consciente das nuances raciais, enfatizando, assim, a importância da educação antirracista.
Em relação ao que poderia ser feito de diferente, seria interessante pensar em formas de expandir a experiência, envolvendo mais estudantes e docentes, e talvez até mesmo desenvolver um projeto de mural coletivo em parceria com outras escolas ou comunidades. Além disso, seria importante aprofundar a discussão sobre a relação entre a arte urbana e a educação transformadora, buscando entender de que forma essa relação pode ser aprimorada e explorada de forma mais abrangente.
Referências Bibliográficas
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Sofles, acessado em 29/04/2023 (https://youtu.be/Pv-Do30-P8A)