Combatendo a cultura de estupro
Estado: Rio Grande do Sul (RS)
Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II
Modalidade: Educação Regular
Disciplina: História
Formato: Presencial
Professora de História da rede pública de ensino há 11 anos. Formada em História e Filosofia, especialista em ensino de História e Geografia. Mestra em Ensino de História. Pesquisa a escrita de um currículo antinormativo relacionado às questões de identidade de gênero e sexualidade.
Objetivos
Identificar o estupro como uma arma utilizada contra as mulheres durante as guerras, em especial a Segunda Guerra Mundial, reconhecendo permanências da cultura do estupro na sociedade atual.
Conteúdo
Segunda Guerra Mundial
Violência contra a mulher
Cultura do estupro
Violência contra a mulher
Cultura do estupro
Metodologia
Para analisar os conhecimentos prévios dos/as estudantes sobre o tema, faremos uma roda de conversa direcionada sobre o tema. Os/as alunos/as irão debater se já ouviram de algum/a amigo/a ou familiar algum comentário sobre a roupa que alguma menina estava usando na rua e se já tinham ouvido que poderia sofrer alguma violência por conta da roupa. Ainda, vamos perguntar para as meninas, para continuar o debate, se alguma vez já trocaram de roupa por considerar que poderiam sofrer alguma violência. A partir desse direcionamento, vamos debater sobre as perpetuações das violências sexuais que meninas sofrem no seu dia a dia.
Na aula seguinte a discussão será embasada no filme Agnus Dei, da diretora Anne Fontaine, que mostra freiras polonesas grávidas de soldados soviéticos após uma invasão no Convento onde elas se encontravam. Discutiremos os significados do estupro de mulheres como arma de guerra embasado nas autoras Haula Pereira e Sabrinna Cavalcanti (2015). Essas autoras discutem o estupro como arma de guerra através de vários momentos históricos, abordando desde a Grécia antiga, com os escritos de Eurípides quando relata sobre a Guerra de Tróia até a Guerra da Bósnia em 1992, onde foram criados campos de estupro, “Ali, as mulheres eram sucessivamente forçadas e mantidas pelos soldados sérvios, com o intuito de serem posteriormente torturadas ou mortas” (PEREIRA; CAVALCANTI, 2015, p.9). Esses eventos de guerra serão apresentados aos estudantes, deixando claro que o estupro foi utilizado como arma de guerra em diferentes tempos e espaços ao longo da história. Abordando a segunda guerra mundial a partir da categoria de análise ‘Mulheres’, conforme Joana Pedro e Rachel Soihet, em que afirmam que desde a década de 1960 as mulheres foram alçadas à condição de objeto e sujeito da História.
Para analisar as permanências de violência contra a mulher na sociedade brasileira e como essa violência se manifesta utilizaremos o conceito de cultura de estupro. Conforme as autoras Marcely Santos e Renata Alves
Dessa forma, a cultura de estupro arraigada na sociedade brasileira banaliza a violência contra a mulher em vários momentos do cotidiano, como em músicas, poemas e também na mídia. Para analisarmos essa perpetuação da violência simbólica contra a mulher vamos analisar duas peças publicitárias. A da cerveja Nova Schin e da marca de camisinhas Prudence. As propagandas impressas ou audiovisuais, muitas vezes, auxiliam na perpetuação da cultura do estupro no Brasil, estimulando violências sexuais contra a mulher, como se fosse "brincadeira" e incentivando para que não haja uma mudança comportamental dos homens em relação às mulheres. Conforme Ana Arnt há atitudes que auxiliam para a permanência da cultura de estupro no Brasil, como:
Na primeira propaganda da cerveja Nova Schin, homens ficam invisíveis e passam a abrir biquínis das mulheres, fazer "brincadeirinhas" com homens e entram no banheiro feminino, tentando tirar proveito da sua condição de invisível. Essa propaganda é uma clara apologia à violência sexual contra às mulheres, demonstrando o que homens fariam caso não pudessem ser vistos. Tentativa de ver o corpo das mulheres sem o seu consentimento, como se esse corpo fosse de domínio público. Contudo, na propaganda esse pensamento dos homens, obviamente, não é problematizado como violência e assédio sexual, muito menos como fazendo parte da cultura do estupro. Na segunda propaganda, da marca de camisinhas Prudence, temos o seguinte título "Dieta do sexo", na descrição aparecem frases do tipo: "Tirando a roupa dela...com consentimento 10 cal, sem o consentimento dela 180 cal", entre outras frases que seguem nesse mesmo estilo (a peça publicitária foi retirada da fanpage da Prudence pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária - Conar). Ou seja, para uma "dieta" mais saudável, visando a saúde do homem, seria mais vantajoso que o ato sexual sem o consentimento, pois perderiam mais calorias. Dessa forma, a propaganda corrobora com a violência sexual contra a mulher, onde no ato sexual todas as decisões são tomadas pelo homem e as vontades das mulheres não são levadas em conta, visto que na "dieta" é melhor que seja contra a vontade dela mesmo. Perpetuando a cultura do estupro como algo normal.
Dessa forma, os assuntos que serão discutidos em aula serão: de que forma identificamos a cultura do estupro; se nessas propagandas há uma banalização da violência contra a mulher e se nessas propagandas ficam evidentes a subalternidade da mulher em relação aos homens. Segundo Joana Pedro (2011), citando Scott, a “autora salienta que a disciplina História não era apenas o registro, e sim a forma como os sexos se organizavam e dividiam tarefas e funções através do tempo. A história era, ela mesma, responsável pela ‘produção da diferença sexual’” (p. 273). Cabe a nós professores/as trazer para o debate para a sala de aula, dialogando de que as diferenças atribuídas ao sexo fazem parte de um constructo social e não algo natural.
Dessa forma, quando tratamos de uma história das mulheres, estamos na verdade tratando de uma história que se embasa no gênero, ou seja, nas relações entre homens e mulheres no decorrer da história; afinal, é dessa forma que a narrativa histórica deve ser constituída, onde apareça essas relações de gênero o tempo todo.
Após o debate será solicitado que os alunos escrevam uma redação sobre as permanências e rupturas da cultura do estupro, onde serão avaliados se os alunos conseguem operar com os conceitos de cultura de estupro e o estupro como arma de guerra, transversalizando com os conceitos de sexualidade, gênero e mulheres abordados nas aulas, assim como, a coerência na escrita e a capacidade argumentativa.
Na aula seguinte a discussão será embasada no filme Agnus Dei, da diretora Anne Fontaine, que mostra freiras polonesas grávidas de soldados soviéticos após uma invasão no Convento onde elas se encontravam. Discutiremos os significados do estupro de mulheres como arma de guerra embasado nas autoras Haula Pereira e Sabrinna Cavalcanti (2015). Essas autoras discutem o estupro como arma de guerra através de vários momentos históricos, abordando desde a Grécia antiga, com os escritos de Eurípides quando relata sobre a Guerra de Tróia até a Guerra da Bósnia em 1992, onde foram criados campos de estupro, “Ali, as mulheres eram sucessivamente forçadas e mantidas pelos soldados sérvios, com o intuito de serem posteriormente torturadas ou mortas” (PEREIRA; CAVALCANTI, 2015, p.9). Esses eventos de guerra serão apresentados aos estudantes, deixando claro que o estupro foi utilizado como arma de guerra em diferentes tempos e espaços ao longo da história. Abordando a segunda guerra mundial a partir da categoria de análise ‘Mulheres’, conforme Joana Pedro e Rachel Soihet, em que afirmam que desde a década de 1960 as mulheres foram alçadas à condição de objeto e sujeito da História.
Para analisar as permanências de violência contra a mulher na sociedade brasileira e como essa violência se manifesta utilizaremos o conceito de cultura de estupro. Conforme as autoras Marcely Santos e Renata Alves
“[...] a expressão 'cultura do estupro' de forma geral, sucedeu basicamente pela normalização de costumes que banalizam a violência, ao se considerar 'norma' mesmo que informal, não ensinar a não estuprar, e sim a não ser estuprado (SANTOS; ALVES, 2015, p. 52).
Dessa forma, a cultura de estupro arraigada na sociedade brasileira banaliza a violência contra a mulher em vários momentos do cotidiano, como em músicas, poemas e também na mídia. Para analisarmos essa perpetuação da violência simbólica contra a mulher vamos analisar duas peças publicitárias. A da cerveja Nova Schin e da marca de camisinhas Prudence. As propagandas impressas ou audiovisuais, muitas vezes, auxiliam na perpetuação da cultura do estupro no Brasil, estimulando violências sexuais contra a mulher, como se fosse "brincadeira" e incentivando para que não haja uma mudança comportamental dos homens em relação às mulheres. Conforme Ana Arnt há atitudes que auxiliam para a permanência da cultura de estupro no Brasil, como:
Música, poesias, literatura [...] que mesmo sem usar a palavra estupro descrevem os atos como se não fossem uma violência física e psicológica. Piadas e conversas que legitimam que existem sujeitos que merecem a violência sexual, em função do seu comportamento social [...] (ARNT, 2018).
Na primeira propaganda da cerveja Nova Schin, homens ficam invisíveis e passam a abrir biquínis das mulheres, fazer "brincadeirinhas" com homens e entram no banheiro feminino, tentando tirar proveito da sua condição de invisível. Essa propaganda é uma clara apologia à violência sexual contra às mulheres, demonstrando o que homens fariam caso não pudessem ser vistos. Tentativa de ver o corpo das mulheres sem o seu consentimento, como se esse corpo fosse de domínio público. Contudo, na propaganda esse pensamento dos homens, obviamente, não é problematizado como violência e assédio sexual, muito menos como fazendo parte da cultura do estupro. Na segunda propaganda, da marca de camisinhas Prudence, temos o seguinte título "Dieta do sexo", na descrição aparecem frases do tipo: "Tirando a roupa dela...com consentimento 10 cal, sem o consentimento dela 180 cal", entre outras frases que seguem nesse mesmo estilo (a peça publicitária foi retirada da fanpage da Prudence pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária - Conar). Ou seja, para uma "dieta" mais saudável, visando a saúde do homem, seria mais vantajoso que o ato sexual sem o consentimento, pois perderiam mais calorias. Dessa forma, a propaganda corrobora com a violência sexual contra a mulher, onde no ato sexual todas as decisões são tomadas pelo homem e as vontades das mulheres não são levadas em conta, visto que na "dieta" é melhor que seja contra a vontade dela mesmo. Perpetuando a cultura do estupro como algo normal.
Dessa forma, os assuntos que serão discutidos em aula serão: de que forma identificamos a cultura do estupro; se nessas propagandas há uma banalização da violência contra a mulher e se nessas propagandas ficam evidentes a subalternidade da mulher em relação aos homens. Segundo Joana Pedro (2011), citando Scott, a “autora salienta que a disciplina História não era apenas o registro, e sim a forma como os sexos se organizavam e dividiam tarefas e funções através do tempo. A história era, ela mesma, responsável pela ‘produção da diferença sexual’” (p. 273). Cabe a nós professores/as trazer para o debate para a sala de aula, dialogando de que as diferenças atribuídas ao sexo fazem parte de um constructo social e não algo natural.
[...]uma narrativa histórica nunca é neutra e, quando apenas relata fatos em que homens estiveram envolvidos, constrói, no presente, o gênero. A história, nesse caso, é uma narrativa sobre o sexo masculino e constitui o gênero ao definir que somente, ou principalmente, os homens fazem história. Além disso, falar de gênero significava deixar de focalizar a “mulher” ou as “mulheres”; tratava-se de relações entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e entre homens. Nessas relações, o gênero se constituiria (Pedro, 2011, p. 273).
Dessa forma, quando tratamos de uma história das mulheres, estamos na verdade tratando de uma história que se embasa no gênero, ou seja, nas relações entre homens e mulheres no decorrer da história; afinal, é dessa forma que a narrativa histórica deve ser constituída, onde apareça essas relações de gênero o tempo todo.
Após o debate será solicitado que os alunos escrevam uma redação sobre as permanências e rupturas da cultura do estupro, onde serão avaliados se os alunos conseguem operar com os conceitos de cultura de estupro e o estupro como arma de guerra, transversalizando com os conceitos de sexualidade, gênero e mulheres abordados nas aulas, assim como, a coerência na escrita e a capacidade argumentativa.
Recursos Necessários
Retroprojetor, computador, papel e caneta.
Duração Prevista
A proposta será desenvolvida em 6 horas/aula ou períodos, levando em consideração que cada período tem 55 minutos.
Processo Avaliativo
Após o debate será solicitado que os alunos escrevam uma redação sobre as permanências e rupturas da cultura do estupro, onde serão avaliados se os alunos conseguem operar com os conceitos de cultura de estupro e o estupro como arma de guerra, transversalizando com os conceitos de sexualidade, gênero e mulheres abordados nas aulas, assim como a coerência na escrita e a capacidade argumentativa.
Referências Bibliográficas
ARNT, Ana. Sobre a Cultura do Estupro: senta aqui, vamos conversar…Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/pemcie/2018/01/19/cultura-do-estupro-1/
MISKOLCI, Richard. A teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Revista Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p. 150-182. http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf.
PEDRO, Joana. Relações de gênero como categoria transversal na historiografia contemporânea. Revista Topoi, v. 12, n. 22, jan.-jun. 2011, p. 270-283. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/topoi/v12n22/1518-3319-topoi-12-22-00270.pdf
PEREIRA Haula H. T. F. P.; CAVALCANTI, Sabrinna Correia Medeiros. A prática do estupro de mulheres como estratégia de guerra sob o viés do direito internacional. Revista On-line do CESED – Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento, v. 16, n. 24/25, janeiro a dezembro de 2015. Disponível em: http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/view/232
SANTOS, Marcely Marques Honório; ALVES Renata Farche. A cultura do estupro: banalização e visibilidade de mudanças através dos tempos. Revista Ciência et Praxis v. 8, n. 16, (2015). Disponível em: http://revista.uemg.br/index.php/praxys/article/view/2223/1209
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n° 2, p. 71-99, jul/dez, 1995.
SEFFNER, Fernando; PICCHETTI, Yara. A quem tudo quer saber, nada se lhe diz, uma educação sem gênero e sem sexualidade é desejável? Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 24, n. 1, p. 61 - 81, Jan./Abr. 2016. Disponível em: http://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/index
SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações de gênero. Rev. Bras. Hist., v. 27, n. 54, p. 281-300, 2007.
MISKOLCI, Richard. A teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Revista Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p. 150-182. http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf.
PEDRO, Joana. Relações de gênero como categoria transversal na historiografia contemporânea. Revista Topoi, v. 12, n. 22, jan.-jun. 2011, p. 270-283. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/topoi/v12n22/1518-3319-topoi-12-22-00270.pdf
PEREIRA Haula H. T. F. P.; CAVALCANTI, Sabrinna Correia Medeiros. A prática do estupro de mulheres como estratégia de guerra sob o viés do direito internacional. Revista On-line do CESED – Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento, v. 16, n. 24/25, janeiro a dezembro de 2015. Disponível em: http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/view/232
SANTOS, Marcely Marques Honório; ALVES Renata Farche. A cultura do estupro: banalização e visibilidade de mudanças através dos tempos. Revista Ciência et Praxis v. 8, n. 16, (2015). Disponível em: http://revista.uemg.br/index.php/praxys/article/view/2223/1209
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n° 2, p. 71-99, jul/dez, 1995.
SEFFNER, Fernando; PICCHETTI, Yara. A quem tudo quer saber, nada se lhe diz, uma educação sem gênero e sem sexualidade é desejável? Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 24, n. 1, p. 61 - 81, Jan./Abr. 2016. Disponível em: http://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/index
SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações de gênero. Rev. Bras. Hist., v. 27, n. 54, p. 281-300, 2007.