Mulheres negras na escola-quilombo feminino
Estado: São Paulo (SP)
Etapa de Ensino: Educação Infantil - Pré-Escola
Modalidade: Educação Regular
Disciplina:
Formato: Híbrido
Tenho 44 anos, casado, pai de três filhos, um sobrevivente que luta por igualdade de direitos. Doutorando em Educação pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), Licenciado em Pedagogia e Mestre em Educação (PUC-SP). Fui presidente do NEAFRO-PUC (Núcleo de Estudos Afro- brasileiros da PUC-SP), coordenador de Projetos no Instituto Paulo Freire e atualmente Diretor da Associação de Formação de Educadores: Instituto EducAnderson. Diretor de Escola Pública Municipal em São Paulo na região do Capão Redondo, professor universitário e um apaixonado pela vida, pelo trabalho, pela educação, em especial, a pública.
Objetivos
- Trabalhar a identidade feminina, num processo de empoderamento;
- Envolver crianças, mães, pais e meninos para compreenderem o fundamental papel da mulher (em especial a mulher negra) na construção da sociedade brasileira.
Conteúdo
Neste sentido, a educação é o alicerce para o exercício pleno da cidadania e ela se dá a partir de experiências que vão ajudar na constituição do sujeito. Mais que empoderamento ou representatividade, precisamos incluir as mães numa rota de ações que as leve a compreender seu papel fundamental nesta sociedade.
Ao mesmo tempo, buscamos que as meninas e os meninos compreendam essa formação como base de respeito ao papel da mulher na sociedade, para além da representatividade, para que ela seja o poder que ela emana, unindo esses componentes para sermos uma escola inclusiva em todos os sentidos.
A Base de todo conteúdo é o livro de Chimamanda Adichie: Para Educar Crianças Feministas. Ele foi utilizado com a finalidade de debater passo a passo a desigualdade de gênero, lembrando sempre que há a necessidade de transpor para as linguagens infantis determinadas passagens a fim de problematizar e sensibilizar a partir do olhar infantil das crianças.
Metodologia
Momento 1
Trabalhar o Livro de Chimamanda Adichie: Para Educar Crianças Feministas para formação das professoras.
Momento 2
Envolvimento das mães.
Momento 3
Envolvimento das famílias, em especial os pais.
Momento 4
Trabalho com as crianças a partir de histórias infantis. Troca de ideias a respeito. Realização de pequenas assembleias. Construção de relatos de experiência que reconstituam o que acontece nas famílias a partir do olhar infantil.
Momento 5
Condução de reflexão conjunta dos processos e inclusão de outros itens, como por exemplo a Lei Maria da Penha.
Recursos Necessários
- Tempo para formação
- Livros de Chimamanda Adichie (digital ou impresso)
- Livros infantis envolvendo as temáticas trabalhadas
- Formação-extra com profissionais que compreendem mais amplamente a temática
Duração Prevista
Processo Avaliativo
Mensalmente: nas reuniões com todo o grupo da escola.
Bimestralmente: com as mães nas reuniões previstas do conselho escolar, com reorientação de temas e ideias advindas do caminho.
Observações
Pelo Autor - Relato de Prática
O projeto interdisciplinar aqui proposto está em sendo desenvolvido por uma escola no município de São Paulo. Em decorrência do isolamento social imposto pela pandemia, com a educação a distância, e a execução está mais lenta porém em ação.
Ao mesmo tempo que eu, Anderson Severiano Gomes, diretor, como homem apenas aprendo a desconstruir meu machismo e meu lugar de privilégio na sociedade machista, sendo a ação toda desenvolvida a partir do lugar de fala feminino.
Partimos da importância do papel feminino na construção da sociedade brasileira, em especial olhando o papel da mulher negra, num país onde uma mulher morre a cada duas horas, e a cada quatro minutos uma é agredida, em ambos os casos por seus companheiros. Por isso, precisamos trabalhar aspectos que fundamentem um papel da mulher como protagonista, desde a primeira infância, numa sociedade machista como a nossa a fim de transformá-la.
Assim, temos feito uma gestão participativa, envolvendo especialmente as mães, pois somos uma escola de educação infantil, e buscando revelar o quão machista é a sociedade e a forma como ela se estrutura.
Para isso, temos conversado sobre os nossos sonhos e anseios para este espaço de Educação Infantil e agido nas concepções e práticas pedagógicas que nos possibilitarão construir uma escola pública de qualidade, que respeite a diversidade e que tenha como principal objetivo a construção de um país mais justo e igualitário.
Compreendemos educação como um espaço que integra vida, cultura, cidade e escola,
experiência e aprendizagem, mundos distintos e complementares como a razão e a fantasia, a arte e a ciência, o corpo em movimento e o pensamento, adultos e crianças em uma experiência inteira e socialmente relevante para a educação das infâncias e que estas precisam refletir sobre os problemas que a sociedade vive.
Em nossa escola, compreendemos que essa é uma temática fundamental, então para além da proposta, a temática foi incluída no Projeto Político Pedagógico (PPP). Além disso, uma das ações aprovadas no Conselho Escola foi a adoção do nome de uma mulher feminista para nossa escola: Raquel Trindade.
Referências Bibliográficas
Companhia das Letras, 2014.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo – volume único. Rio de Janeiro,
Editora Nova Fronteira, 2009. [1949].
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da
identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003.
BAIRROS, Luiza. “Lembrando Lelia Gonzalez”. Em WERNECK, Jurema; MENDONÇA, Maisa e WHITE, Evelyn C.O livro da saúde das mulheres negras – nossos passos vêm
de longe. Rio de Janeiro, Criola/Pallas, 2000.
CARNEIRO. Sueli e SANTOS, Tereza. Mulher negra. São Paulo, Conselho Estadual da
Condição Feminina/Nobel, 1985.