Direito à Cidade Afro-Periférico em uma Perspectiva de Gênero e Raça
Estado: São Paulo (SP)
Etapa de Ensino: Ensino Médio
Modalidade:
Disciplina: Artes, Língua Portuguesa, Sociologia
Formato: Presencial
Mayana Vieira é formada em Letras pela UNISA - Universidade Santo Amaro e pós-graduanda em Educação em Direitos Humanos pela UFABC - Universidade Federal do ABC. Educadora popular desde 2015, quando uniu seu trabalho literário à educação e foi Agente Comunitária de Cultura pela Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, ministrando oficinas que tinham como principal objetivo discutir gênero e suas intersecções por meio de produções literárias femininas negras e periféricas em escolas da rede pública. Foi também oficineira no Projeto EDUC na BRASCRI - Associação Suiço-Brasileira de Ajuda à Criança, atuando na Escola Estadual Maria Juvenal Homem de Melo, no Grajaú, onde desenvolveu junto com as crianças e os adolescentes o projeto Sarau do Juvenal, além de oficinas e debates com temas diversos. Atuou como educadora nas exposições Rios.Des.cobertos e Living Theatre, presente!, no SESC Pinheiros e SESC Consolação, respectivamente. Entre 2018 e 2019 foi educadora das oficinas Expressões Urbanas e Primeiro Livro no CCA - Centro da Criança e do Adolescente do Instituto Ana Rosa, onde realizou um trabalho conjunto com a educadora Louise Marinho, responsável pelas oficinas de Cidadania e Projeto de Vida, cujos principais objetivos foram: o fortalecimento das identidades sociais, promoção do multiletramento e garantia de direitos das crianças e dos adolescentes; objetivos esses, alcançados por meio de um projeto integrador sobre direito à cidade sobre uma perspectiva afro periférica. É integrante do coletivo Slam do Grajaú desde 2017, que promove batalhas de poesias faladas, oficinas de escrita e rodas de conversas no extremo sul da cidade, e da Brejo Produções, produtora voltada à fomentação da produção cultural e intelectual lésbica e bissexual.
Objetivos
- Refletir sobre direito à cidade numa perspectiva de território, gênero e raça;
- Realizar um estudo do meio com mulheres que atuam na cultura dentro do território;
- Promover ações que efetivem o multiletramento em uma perspectiva dos direitos humanos.
Conteúdo
Conteúdo específico:
Encontro 1 - Corpo Ocupa
Neste encontro será utilizado um método de investigação para nos aproximarmos do que os adolescentes entendem por Corpo, Ocupação e Poesia. Para afinar essas noções, refletindo sobre singularidades e diferenças de corpos a partir da perspectiva de espaços em que eles ocupam será analisada as poesias "Teu Corpo" de Ferreira Gullar e “Meu nome é Dandara Maria” de Dandara Maria. A intenção é que os adolescentes observem como o lugar ocupado por esses corpos se relacionam com suas produções literárias. Ao final do encontro será construído um mural de referências com os adolescentes, a fim de que registrem suas impressões sobre as questões discutidas bem como os conceitos criados coletivamente. Esse mural será usado como ferramentas de inspiração, articulação e revisão nos próximos encontros.
Encontro 2 - Margem
Neste encontro os adolescentes serão convidados a refletirem sobre a palavra "Marginal". Será criado um mapa mental com as definições dadas por cada grupo. Essas definições serão comparadas com a definição contida no dicionário. Pensando que marginal, segundo o dicionário significa "da margem; que diz respeito à margem" a turma deverá pensar quais seriam as margens da cidade de São Paulo e porque as definições do imaginário comum à palavra "marginal" são comumente ligadas, de forma pejorativa, às pessoas que moram às margens. Após a ressignificação do termo "marginal" a turma terá contato com a poesia "Paulistana Periférica" da poeta Midria e com "Da Ponte Pra Cá" dos Racionais MC's. A intenção é que se reflita como o corpo afro-periférico vivencia o direito à cidade e como esse tema é explorado na poesia cantada e na poesia de Slam.
Espera-se que a partir das discussões, os adolescentes consigam identificar a urgência do recorte de território quando pensamos em direito à cidade, e em grupos, definam o que entendem por um direito afro-periférico.
Encontro 3 - Doc Deus
Neste encontro será exibido o média metragem DEUS, um filme híbrido entre ficção e documentário no qual aborda a força de uma mãe negra da periferia de São Paulo e sua a influência sobre o filho.
Após assistirem ao material audiovisual, as educadora mediarão uma conversa com a turma, a partir das seguintes provocações:
- O que vocês acharam do média metragem?
- Como é o dia-a-dia de Roseli?
- A história de Roseli se assemelha a história de alguém que você conhece? Quem?
- Descreva o corpo da Roseli. Quais são as marcas desse corpo? O que esse corpo simboliza? Qual o efeito desses símbolos na ocupação de um espaço urbano?
- Agora, fazendo contraponto com o corpo masculino, como a figura do pai do Breno aparece no média metragem? Existe diferença de ocupação de um corpo masculino para um corpa não masculino?
Espera-se que ao final do encontro os adolescentes consigam identificar como somente o território não dá conta de discutir o direito à cidade afro-periférico, pois cada corpo carrega uma marca que influencia na forma como essa ocupação acontece, chamando atenção nesse momento, para o recorte de gênero e raça. Como atividade os adolescentes deverão produzir um material de sua escolha (colagem, ilustração, poema, texto, quadrinho, dentre outros) que enfatize a necessidade de se pensar os recortes de gênero e raça para efetivação dos direitos afro-periféricos.
Encontro 4 - Ressignificando Territórios
Fomentar a discussão de ressignificação do território a partir de práticas de ocupação. Neste encontro será exibido o documentário Visionários da Quebrada.
Estratégias: Será mostrado o cartaz do curta-metragem Visionários da Quebrada. Os jovens deverão dizer o que entendem por “Visionário” e “Quebrada”. Após construírem significados para os termos destacados, irão assistir ao documentário Visionários da Quebrada (disponível em: http://www.taturanamobi.com.br/film/visionarios-da-quebrada). Após assistir ao documentário, serão orientados a formar grupos. Cada grupo deverá produzir um cartaz sobre o que entendeu/refletiu sobre a frase que lhe foi dada. As frases serão as seguintes (todas elas foram retiradas do documentário):
“Pensando no que tá invisível, pensando que o tio que abriu a porta pra gente durante todo nosso ensino médio tá invisível. Tô pensando que o cobrador e o motorista quando a gente entra no ônibus tá invisível. Eu tô pensando que o porteiro do nosso prédio tá invisível. Eu tô pensando que a faxineira tá invisível e eu tô pensando que todas essas pessoas são os meus pais. Acho que uma coisa que a gente ainda não aprendeu é que quando essas pessoas deixarem de ser invisíveis, os nossos pais também deixam de ser invisíveis”; “Favela e sucesso são palavras que nem existiam na mesma frase”; “Não me vejo, não pertenço, não sou. Todo mundo tem uma vida pra contar e aqui começa essa trajetória”; “Você vai ser o que você quiser ser e não o que a sociedade quer que você seja”; “A universidade é um templo e quem não tem diploma não tem saber”; “A periferia é um pedaço da África”.
Os cartazes serão expostos na lousa. Cada grupo deverá apresentar seu cartaz e falar um pouco sobre o que produziram. A partir desta produção os jovens deverão formar equipes investigativas e promover um estudo do meio sobre mulheres atuantes na cultura, apontando como suas ações promovem a ressignificação do território e contribuem na promoção de direitos sociais ao que diz respeito, sobretudo, a gênero e raça.
Encontro 5 - Mural Avaliativo
Neste encontro os adolescentes deverão apresentar os resultados do estudo do meio e a partir da escuta e reflexão das experiências apontar cinco ações, medidas e/ou práticas que sejam importantes para a garantia do direito à cidade afro-periférico numa perspectiva de gênero e raça. Como resultado, será produzida uma cartilha digital contendo essas ações, medidas e/ou práticas que ficará disponível para download a quem possa interessar.
Metodologia
Pensando na problematização desta universalidade propomos um recorte de território, gênero e raça que valoriza e promove a potência de transformações de ocupações de espaços por meio de diálog e da diversidade, expressando assim os direitos dos sujeitos periféricos e negros .
Como perspectiva pedagógica partimos das contribuições de Paulo Freire para aplicarmos uma educação popular e transformadora em espaços de educação formal e disciplinante. E das contribuições de Bakhtin para efetivarmos o multiletramento, pois a linguagem numa perspectiva Bakhtiniana, é uma ferramenta sócio-histórica-dialógica, na qual os sujeitos são seres sociais e históricos, portanto a linguagem é e deve ser construída, pensada e realizada, na interação. Consideramos necessário salientar a junção desta com a visão freiriana para comunicação. Na qual a troca de palavras para a produção e transformação das relações sociais também é um ato político. Nas palavras do autor: “o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, pra pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu” (FREIRE, 1987, p.78).
Recursos Necessários
Duração Prevista
Processo Avaliativo
- Habilidade de identificação das demandas do território realizadas no estudo do meio;
- Habilidade de análise e reflexão dos conteúdos trabalhados ao longo dos encontros;
- Habilidade de síntese e produção textual;
- Habilidades criativas.
- Competências de multiletramentos.
Observações
Referências Bibliográficas
Poesia “Paulistana Periférica”. Poeta Midria https://www.youtube.com/watch?v=M5aMP0dl-Oc&t=5s
Música “Da ponte pra Cá” , Racionais Mc’s https://www.youtube .com/watch?v=CDkUyy7IRTw
Documentário: Visionário da Quebrada. Direção Ana Carolina Martins Disponível em: http://www.taturanamobi.com.br/film/visionarios-da-quebrada
Filme: Deus. Direção:Vinícius Silva, Vinicius Silva. Disponível em:https://vimeo.com/214680258
FREIRE, P. (1997). Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: Leitura do mundo, leitura da palavra. Tradução de: OLIVEIRA, Lólio Lourenço de. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo Martins Fontes, 2013.
SOUZA, Ana Lúcia Silva. Letramento da reexistência. Poesia, grafite, música, dança: hip-hop. São Paulo: Parábola, 2011.