Perceber, refletir e agir: mobilizando a comunidade escolar contra as opressões

Estado: Minas Gerais (MG)

Etapa de Ensino: Ensino Médio

Modalidade: Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional Tecnológica

Disciplina: Sociologia

Formato: Híbrido

Sou licenciada em Sociologia e mestre em Ciência Política pela Unicamp (Campinas/SP) e doutora em Serviço Social pela UFRJ (Rio de Janeiro/RJ). Desde 2017, sou professora de Sociologia do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (COLTEC - UFMG) em Belo Horizonte (MG).

Objetivos

Geral: Desenvolver uma sequência pedagógica com alunos dos três anos do Ensino Médio sobre as opressões interseccionais - gênero, raça e questão LGBT - com o intuito de estimular os estudantes a identificar, conhecer mais, refletir e agir sobre as opressões contemporâneas da sociedade brasileira que afetam principalmente as mulheres, a população negra e LGBT.

Em um primeiro momento, temos como objetivo que os alunos reconheçam em seu cotidiano, nas dimensões privada e pública, manifestações de preconceitos relacionados à condição das mulheres, dos negros e da população LGBT, percebendo suas facetas interseccionais.

Após essa primeira identificação, buscaremos aprofundar essas questões trazendo conteúdos que problematizem social e historicamente os problemas levantados, de forma que os estudantes compreendam as dimensões objetivas e subjetivas que conformam a sociedade brasileira e as condições de vida de sua população.

Por fim, buscaremos desenvolver em conjunto com os alunos uma estratégia de intervenção social que explicite essas opressões cotidianas buscando romper sua invisibilidade, com o intuito de engajar os estudantes como sujeitos de sua própria história, indicando assim a potencialidade de suas percepções e ações.

Conteúdo

Devido à formação sócio-histórica do Brasil, o preconceito contra as populações feminina, negra e LGBT está arraigada na cultura opressiva, a qual se expressa cotidianamente na formas de linguagem dos brasileiros e brasileiras. Nesse sentido, os/as próprios/as estudantes podem identificar esse conteúdo opressivo em expressões que acabaram por ser naturalizadas em seu cotidiano.

Partindo da identificação dessas expressões de forma coletiva, o/a professor/a trará um conjunto de dados que expressam essas desigualdades de forma estrutural, mostrando como essa cultura opressiva interseccional cotidiana sustenta práticas de exclusão e violência. Esses dados estão disponíveis nos materiais que selecionamos. Dentre eles destacamos: assassinato da população negra; números de feminicídio - reflexão sobre a redução de feminicído das mulheres brancas e aumento das mulheres negras; violência doméstica na pandemia; violência contra população LGBT; desigualdade de inserção e remuneração no mercado de trabalho de mulheres, negros e LGBTs; dificuldade de acesso à educação dessas mesmas populações; participação nas instâncias políticas representativas.

Por fim, propomos uma elaboração coletiva de conteúdo crítico às culturas de opressão, com o intuito de intervir na realidade, compreendendo que uma mudança de consciência impacta nas práticas sociais, permitindo uma sociedade mais igualitária e inclusiva.

Metodologia

As atividades propostas aos alunos podem ser realizadas de forma individual ou em grupo, a depender da facilidade ou dificuldade de realização dos trabalhos. Nesse sentido, o/a professor/a poderá adaptar a proposta às condições educacionais objetivas e subjetivas.

Fase 1 - Identificação dos preconceitos

Em um primeiro momento, o/a professor/a pergunta aos/às estudantes se eles identificam preconceitos contra mulheres, negros e LGBTs em seu cotidiano, pedindo assim que apresentem exemplos. Em seguida, o/a professor/a pode utilizar os exemplos dos alunos e acrescentar outros exemplos como: Ex. 1 - Xingar negros de “macacos” / Ex. 2 - Xingar gays de “viados”/ Ex. 3 - Xingar homens de “mulherzinha”.

Em seguida, desenvolve uma breve reflexão sobre o que se insere no imaginário popular como um “xingamento”. Como este é constituído? (pergunta direcionada à turma) Em geral, quando xingamos, temos o intuito de inferiorizar o indivíduo verbalmente agredido, e essa inferiorização está relacionada, em alguns casos, com a animalização das características humanas, como no caso do “macaco” e do “viado”, ou com a associação de determinada característica humana como inferior, como no caso do “ser mulher” ao invés de “ser homem”.

Após essa reflexão inicial, solicita-se que os/as estudantes (individualmente ou em grupo) reflitam mais demoradamente e identifiquem em seu cotidiano uma lista de palavras, expressões e frases em que podemos perceber alguma forma de preconceito contra mulheres, negros ou LGBT’s. Essa atividade pode ser proposta como um “para casa”.

As expressões de preconceito encontradas pelos estudantes são apresentados durante a aula (presencial ou virtual) pelos/as próprios/as alunos/as ou enviados à/ao professora/- que apresentará (em uma plataforma online ou durante a aula) essas informações para toda a turma.

Fase 2 - Aprofundamento dos conteúdos sócio-históricos

A/O professora/- analisa previamente as expressões identificadas pelos/as estudantes e elabora a partir daí uma relação destas com dados, informações e outros elementos sócio-históricos que tragam uma reflexão sobre o machismo, o racismo e a LGBTfobia na formação da sociedade brasileira e nas suas condições contemporâneas.

Indicamos ser fundamental a/o professora/- oferecer dados e debater com os estudantes sobre a diferença de identidades de gênero, racial e orientação sexual em relação à: inserção no mercado de trabalho; violência; feminicídio de mulheres brancas e negras; violência doméstica e a violência jurídica. (Sugestão de dados nos materiais disponíveis no ANEXO I).

Fase 3 - Intervenção dos estudantes

Apresentar aos estudantes os seguintes materiais de referência:

Cartilha Palavras Racistas - Programa Para Todos - SESC e SENAC 2020
https://cdn-wp.cadena.com.br/clubefm93-itauna/uploads/2020/11/20104855/Cartilha-Palavras-Racistas.pdf
Mapa Mental “Eu não sou machista, mas....” - Quebrando o Tabu
https://www.instagram.com/p/B8zVSqoFq4G/?igshid=krgtyxc3iql7

Propor aos/às estudantes que se inspirem nos formatos dos materiais de referência para desenvolver um material gráfico (infográfico, cartilha, mapa mental, zine, etc) com formato de escolha dos/as estudantes explicitando criticamente os preconceitos identificados na Fase 1, que possa ser veiculado fisicamente na escola e/ou virtualmente nas redes sociais.

Para desenvolver o material gráfico é possível duas divisões de tarefas: 1) Dividir a sala por tarefas (escolha das frases, palavras e expressões; elaboração das imagens; diagramação; divulgação; etc). 2) Dividir a sala em grupos e cada grupo desenvolver um material gráfico próprio organizando as tarefas internamente.

Ao fim propõe-se a realização de uma mostra visual para a comunidade escolar. No caso de aulas presenciais é possível utilizar um espaço físico na escola como um mural em local de ampla circulação para exibição do material. No caso das aulas virtuais, propõe-se a criação de uma conta no Instagram e/ou Facebook para divulgação dos trabalhos. No caso do ensino híbrido ambas as estratégias de exibição podem ser realizadas.

Para desenvolver o material gráfico a/o professora/- pode oferecer sugestões de ferramentas, websites e tutoriais que podem ser encontrados gratuitamente na internet (Sugestões no ANEXO II). Além disso, pode também indicar fontes online para acesso a um material de pesquisa sobre as temáticas em questão. (Sugestões disponíveis no ANEXO III).

Recursos Necessários

A atividade pode ser realizada tanto presencialmente quanto no ensino remoto ou ensino híbrido, sendo que há certamente uma variação de condições para realização da proposta, a depender das condições materiais dos estudantes e docentes, do tempo disponível, etc. Nesse sentido, os recursos envolvem acesso à computador e internet para realizar a pesquisa e desenvolver o material gráfico. No caso do ensino remoto também se faz necessário o acesso a essas estruturas para realização das aulas e debates, os quais também podem ser realizados presencialmente.

Duração Prevista

Pensamos que esta atividade pode ser desenvolvida num total de 6 a 9 aulas de 50 minutos cada, sendo cada fase referente a 2 ou 3 aulas, de acordo com a realidade de cada espaço educacional. Entretanto, ela pode ser adaptada como uma atividade única, desmembrando-se por exemplo a fase 1 ou a fase 2 de toda a sequência didática proposta.

Processo Avaliativo

A avaliação pode se dar em dois momentos: 1) Expressões de preconceito identificadas pelos alunos no seu cotidiano (fase 1) ; 2) Material gráfico final (fase 3).

Referências Bibliográficas

ANEXO I - MATERIAL PARA A PROFESSORA

Agência Brasil - Homicídios de mulheres negras aumentam 54% em 10 anos, mostra estudo
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-11/homicidios-contra-mulheres-negras-aumenta-54-em-10-anos-aponta-estudo

Brasil de Fato - Uma mulher é morta a cada nove horas durante a pandemia no Brasil
https://www.brasildefato.com.br/2020/10/10/uma-mulher-e-morta-a-cada-nove-horas-durante-a-pandemia-no-brasil

Um vírus e duas guerras - Mulheres enfrentam em casa a violência doméstica e a pandemia da Covid-19
https://projetocolabora.com.br/especial/um-virus-e-duas-guerras/

Agência Brasil - Ipea: homicídios de mulheres cresceram acima da média nacional
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-06/ipea-homicidios-de-mulheres-cresceram-acima-da-media-nacional

Esquerda Diário - O trabalho doméstico vale 10,8 trilhões de dólares não pagos às mulheres anualmente
http://www.esquerdadiario.com.br/O-trabalho-domestico-vale-10-8-trilhoes-de-dolares-nao-pagos-as-mulheres-anualmente

Violência Jurídica

O jornal de todos os Brasis - Caso Mariana Ferrer: uma violência contra todas as mulheres brasileiras
https://jornalggn.com.br/noticia/caso-mariana-ferrer-uma-violencia-contra-todas-as-mulheres-brasileiras/

Metrópolis - “Mariana Ferrer passou por tortura psicológica”, diz jurista
https://www.metropoles.com/ponto-de-vista/mariana-ferrer-passou-por-tortura-psicologica-diz-jurista

BBC news - De Ângela Diniz a Mariana Ferrer, como a Justiça põe mulheres no "banco dos réus" em casos de violência.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54826363

ANEXO II - FERRAMENTAS E TUTORIAIS PARA OS ESTUDANTES

Elaboração de infográficos - https://piktochart.com/
Elaboração de mapa mental - https://www.mindmeister.com/pt
Elaboração de gráficos animados (necessita de conhecimentos básicos de programação) - https://scratch.mit.edu/
Design Gráfico - https://www.canva.com/
Elaboração de apresentações interativas - https://www.prezi.com

ANEXO III - MATERIAIS DE PESQUISA PARA ESTUDANTES E PROFESSORAS/ES

Questão Racial

TEXTOS
O que é racismo. Primeiros Passos.
https://www.passeidireto.com/arquivo/23085120/o-que-e-racismo-joel-rufino-dos-santos-1pdf

FERNANDES, Florestan. O significado do protesto negro. https://ayrtonbecalle.files.wordpress.com/2015/07/florestan-fernandes-o-significado-do-protesto-negro.pdf

ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. - http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000245.pdf

RIBEIRO, Djamila - Pequeno Manual Antirracista - http://www.stiueg.org.br/Documentos/7/582.pdf

FILMES
Besouro, o filme. https://www.youtube.com/watch?v=7JjFbIRVtB8

Lilia Schwarcz comenta os reflexos do racismo histórico na exclusão social atual no Brasil. https://www.geledes.org.br/lilia-schwarcz-e-os-reflexos-do-racismo-historico/

Mi gritaron negra: https://www.youtube.com/watch?v=RljSb7AyPc0

Panteras negras, o filme - https://www.youtube.com/watch?v=sKuyDdoo3NI

Quando os pobres vão à praia - https://www.youtube.com/watch?v=kOzGFJZZVe8

Quanto vale ou é por quilo – https://www.youtube.com/watch?v=400bCOiM3TY

Negacao do brasil - https://www.youtube.com/watch?v=PrrR2jgSf9M

12 Anos de Escravidão - https://www.youtube.com/watch?v=qDCa_yh_t-E

Histórias Cruzadas - https://www.youtube.com/watch?v=-r7zqsAEIfE

Preciosa: Uma História de Esperança - https://www.youtube.com/watch?v=WO-ynovfRis

Oque é a Cultura do Estupro? - https://qgfeminista.org/o-que-e-cultura-do-estupro/ -

A Culpa envenena as mulheres - https://qgfeminista.org/a-culpa-envenena-as-mulheres-2/

PODCAST
Praia dos Ossos - https://www.radionovelo.com.br/praiadosossos/

MÚSICAS
Clara Nunes - Canto das três raças / Jogo de Angola
Paulo Cesar Pinheiro - Toque de São Bento Grande
Racionais MC’s – Negro Drama
Racionais MC’s - Capítulo 4, versículo 3 (albúm Sobrevivendo no Inferno)

Questão das mulheres

TEXTOS
O que é feminismo - https://pt.scribd.com/doc/113816280/O-que-e-Feminismo-Branca-Moreira-Alves-e-Jacqueline-Pitanguy-Colecao-Primeiros-Passos

Primo Jonas. Aborto, movimento de massas e feminismo na Argentina. Site Passa Palavra - http://passapalavra.info/2018/07/120833

Suellen. Reflexão acerca das nossas lutas pelo feminismo. Site Passa Palavra - http://passapalavra.info/2014/12/101210

Passa Palavra. Dossiê: Feminismo - http://passapalavra.info/2014/07/97829

PISCITELLI, Adriana. Genero, a historia de um conceito. - https://www.passeidireto.com/arquivo/17022872/piscitelli-adriana-genero-a-historia-de-um-conceito-1

A mulher brasileira nos espaços público e privado. Fundaçao perseu Abramo. Introdução. http://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05629-introd.pdf

Passa Palavra. “Outro feminismo: que vem de cima, do centro à periferia” – breve história zapatista. http://passapalavra.info/2013/08/82928

Uso do Tempo e Gênero - https://brasildebate.com.br/mais-tempo-gasto-com-o-trabalho-domestico-reduz-participacao-da-mulher-em-outras-esferas-da-sociedade/

FILMES
O silencio das inocentes - https://www.youtube.com/watch?v=uxXKiSli9KY

Jout Jout – Tira o batom vermelho (relações abusivas) - https://www.youtube.com/watch?v=I-3ocjJTPHg&t=450s

As sufragistas (Netflix)

A cor purpura

Acorda Raimundo Acorda! https://www.youtube.com/watch?v=HvQaqcYQyxU

Decriminalização do aborto – discurso de Debora Diniz - https://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-pesquisadora-debora-diniz-defende-a-descriminalizacao-do-aborto-em-audiencia-no-stf/

MÚSICAS
Elza Soares – Maria da Vila Matilde
Obirin Trio - Elas por elas
Francisco el Hombre - Triste, Louca ou Má
Emicida - Boa Esperança

Questão LGBT

TEXTOS
FRY, Peter & MCRAE, Edward. O que é homossexualidade. Coleção Primeiros Passos. http://www.giesp.ffch.ufba.br/Textos%20Edward%20Digitalizados/4.pdf

PISCITELLI, Adriana. Genero, a historia de um conceito. - https://www.passeidireto.com/arquivo/17022872/piscitelli-adriana-genero-a-historia-de-um-conceito-1

FILMES
O que é ideologia de gênero - https://www.youtube.com/watch?v=2zjP28XpkSE

Milk, a voz da igualdade

Encruzilhadas, Pedro bomba - https://www.youtube.com/watch?v=oIC6ugD8ktE

Carlinhos, o machista gay - https://www.youtube.com/watch?v=1II-IzM_Yro

Jout Jout – Cade o direito dos robôs - https://www.youtube.com/watch?v=HxzFJlQ_dww

Documentario: Movimento LGBT - https://www.youtube.com/watch?v=DGtc64bQEXk

Pride

A garota dinamarquesa (Netflix)

Alice Júnior (Netflix)

Moonlight - https://www.youtube.com/watch?v=uPYMXmmlLAI

MÚSICAS
Mclinn da quebrada – Bixa Preta
Chico Buarque - Geni e o Zepelin

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